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drama

  • Só eu senti

    Eu me apaixonei

    Foi como uma flecha atingindo meu peito

    Não tinha vivido nada igual

    Nenhum sentimento desse jeito

     

    Meu coração reconheceu

    Aquele sentimento veio com um só suspiro

    Foi a primeira vez que me senti assim

    Me atingiu mais rápido que um tiro

     

    Como se te conhecesse de outras vidas

    Tudo se encaixou perfeitamente

    Eu te queria, estava bem resolvida

    Foi tão intenso, muito diferente

     

    Eu sabia que era você,

    quando te vi pela primeira vez

    Mas tinha medo, de gostar demais,

    não ser correspondida e sofrer

     

    Você chegou abalando tudo

    Não tinha espaço pra mais ninguém 

    Revirou todo o meu mundo

    Eu só quis você meu bem

     

    Eu iria com você pra qualquer lugar

    Uma praia, deserto, ou só na sua cama

    Se me quisesse era só me chamar

    Paris, Canadá ou até a Espanha 

     

    Você nunca entendeu, nunca entenderá 

    O que sentimos é diferente, me apaixonei de verdade

    O que significa pra mim, jamais você sentirá.


    DudahM

  • Só o tempo - Sinopse

    Era mais um dia de aula exaustivo Jônatas vivia a famosa crise dos 40 anos, apesar de ainda ter 36 anos, não tinha mais certeza se a profissão que escolhera era realmente o seu sonho.
    Casado pai de dois filhos que já estavam no final da adolescência, vivia uma rotina, que era bem chata, amava sua esposa Alice, eram casados a quase 18 anos, e desde muito jovens os dois trabalharam e batalharam por uma vida confortável.
    Num dia normal dentro da sala de coordenação, conversando com seus colegas, começo a notar que naquele colégio lecionava a cerca de 12 anos, que tudo era sempre a mesma coisa.
    Conversas, reclamações, e ninguém ali se movia para mudar ou melhorar aquela situação tediosa.
    Percebera que sua vida era medíocre, e todos ali também estavam tendo uma vida medíocre, estavam na mesma rotina anos e anos.
    Nada mudava, nada era legal, nada era mais prazerosa, em casa passou a reclamar do perfume da mulher, que a mais de 10 anos usava o mesmo.
    Seus filhos, estavam cada vez mais distantes, cada vez mais rebeldes, a mais velha era sua aluna do 3º ano do ensino médio, o caçula, estava concluindo o ensino fundamental II.
     Alessandra sua filha de 17 anos estava com sérios problemas, se envolvendo com os piores alunos da escola, e Jônatas percebera que ela estava chegando alcoolizada até mesmo durante a semana, e estava indo cada vez pior na escola.
    Seu filho mais novo João Benício, não dava trabalho, mas a cada dia ficava mais afastado da família, uma vez que as atenções sempre eram para sua irmã.
    Jônatas e Alice apesar do amor que sentiam um pelo outro, estavam se acusando pelos problemas que Alessandra estava causando.
    Jônatas queria, e iria se dedicar a escrever seus romances, e Alice era completamente contra, já não dormiam juntos alguns meses, vez por outra o desejo sexual explodia.
    O divórcio era algo que já estava sendo cogitado em seus pensamentos, quando Alice começa a ter desmaios, ele acaba se vendo preso, em um ciclo de infelicidade.
    Com a doença da esposa, seus sonhos parecem ser algo muito distante e longos sonhos as noites solitárias.
    Com a doença de Alice  e uma súbita melhora, ele começa a perceber que sua esposa que tanto ama, não é a mulher fantástica e perfeita, como ele imaginava.
    Insatisfeito com sua profissão, a doença da sua esposa, os problemas de Alessandra cada vez piores, e o namoro de seu filho mais novo que parecia estar ficando íntimo demais para a idade.
    Fazem Jônatas entrar num estado de tristeza e desespero, onde se afunda na bebida e começa a ter surtos de violência.
    Sem ninguém para o ajudar a sair daquela situação, ele encontra um apoio de onde ele menos esperava.
    E que acabaria sendo o seu maior problema, e a grande transformação em sua vida medíocre.
  • Sobre mim

    Sobre mim....


    A história de uma garota perturbada.













    “Há muita escuridão há minha volta. Tanto que não conseguia ver, mas agora sei que posso encaixar as peças do quebra-cabeça que é minha vida, e que as respostas irão interferir em muitas outras histórias.” Thaís M.


    Essa história é baseada em fatos reais.


    Se não está preparado para mergulhar no mundo, de uma

    mente insana, pare agora, ou

    certamente irá se arrepender.





    Introdução 




    Tudo começou quando era muito nova...Como toda criança vivia dentro do meu mundo mágico, mas diferente do sentimento que muitos tem, acreditava mesmo que a magia era real, e estava disposta a lutar para achar algo que provasse isso. Aos 11 anos , estava na 5° série, e após viver uma das histórias mais bizarras de minha infância, precisava de respostas. Certo dia quando estava a fazer um de meus rabiscos, coisa em que era viciada, percebi que sempre pegava, o mesmo livro azul para servir de apoio para os meus papéis. Como se houvesse um imã poderoso, que me puxava para ele, em vez de os outros livros que haviam na biblioteca de minha avó. E então me perguntei por quê, e resolvi me aventurar na leitura do mesmo. Minha avó disse que era muito jovem, para entender seu conteúdo tão “pesado”, e me proibiu de voltar a pegá-lo. É claro que como todo bom curioso, não me contive, e as escondidas o li. Não foi difícil, pois minha família vivia ocupada com os negócios, e por uma tarde inteira, ficava fora de suas vistas. O conteúdo era bastante sombrio, haviam : feitiços de São Cipriano para o bem ou o mal,  profecias de Nostradamus, rituais sanguinários, como criar a própria varinha mágica, ver o futuro com a conhecida bola de cristal, vodoo, e superstições Seu nome? Era Ciências Ocultas da Iavisa, e o volume que tanto me fascinava era o IV da coletânea. Haviam outros que tratavam de: Cartomancia, quiromancia, grafologia, significado dos sonhos, hipnose...Enfim diversos assuntos de interesse ocultista. Mas por alguma razão, desde que nem me entendia por gente, era levada para o quê se aprofundava em magia negra. Após ler toda a história da magia, e seus segredos obscuros, me interessei por hipnose. No entanto o volume II desapareceu antes mesmo que pudesse ver a sua capa. No começo, fiquei fascinada pelo poder, e ainda mais pelas possibilidades de pertencer a uma família de bruxos, e no ano seguinte me joguei de cabeça na ideia de me tornar uma bruxa. Naquela época não era tão simples quanto é hoje, era necessário ter o verdadeiro poder de mudar o mundo a sua vontade. E pelo que li, todos precisavam de um mestre, e este chegaria se você fosse o escolhido para fazer parte deste mundo. O meu nunca chegou, mas não desisti, e aprendi tudo o quê pude por conta própria. No ano seguinte, estava na 6°, havia acabado de perder alguém que eu gostava, para uma suposta amiga que sempre conseguia tirar de mim, tudo com o quê me importava. Ninguém respeitava meu sofrimento, pelo contrário todos riam, e ainda fofocavam sobre o meu fracasso. Já cansada de sempre ser tratada como fraca, resolvi usar meus recursos para mostrar que o melhor a se fazer, era "não se meterem comigo", e então peguei o meu livro, e espalhei seu conteúdo em sala de aula. Criando a minha frase de efeito que só viria usar no ano seguinte: É melhor não fazer nada contra mim, se não vou te fazer ficar doente, e nem os melhores médicos poderão encontrar a cura. O engraçado é que ninguém ficou com medo, estavam curiosos demais por verem um livro de magia real, para o temerem, e por um tempo todos seguiram a risca seu conteúdo, quando se tratava de evitar malefícios. Mas apesar de ser divertido no começo, depois isso me trouxe revolta, porquê meus coleguinhas sempre me viam como uma santa, incapaz de praticar os ritos de Cipriano, e ser uma garota boa, para mim se tratava de pura fraqueza. Detestava esta imagem, pois meus segredos obscuros, provavam o contrário. Era hora de lhes mostrar o meu verdadeiro eu, e assim o fiz. Com 13 anos...abandonei os cachos naturais, e alisei o cabelo para me tornar um digno fantasma. O batom rosa, foi substituído pelo preto, algo que caiu bem para minha pele anêmica, e fiquei conhecida como a aluna mais vaidosa da classe, aquela que jamais saia da frente do espelho. Ainda não era o suficiente, e devido a acontecimentos que só serão revelados no devido momento, criei gostos estranhos, e me entreguei as trevas. Num dia era apenas a aluna que dormia em sala de aula, no outro era uma automutiladora, que desenhava cruzes na pele, com cacos de vidro, e batia fotos, assustando a maioria das pessoas ao meu redor. Era divertido, não sentia dor, apenas prazer, e o sabor do sangue, me fazia sentir viva. É claro que para os professores e orientadores, minhas práticas eram abomináveis. Por isso muitas vezes ia para diretoria, e lá mentia sobre ter um acompanhamento psicológico,  lhe entregando números falsos, quando tentavam entrar em contato com meus pais. Minha mãe até tentou me levar ao psicólogo naquela época, mas fui uma vez e decidi não voltar, pois não queria ir parar na camisa de força, se no fundo não me sentia tão anormal, quanto queriam que eu acreditasse. Só que me aprofundarei mais nisso, quando chegar a hora. Aprontei bastante, e não são apenas dois ou três parágrafos que poderão servir para elucidar esta biografia.













    Capítulo I 

    Meu mundo


    Queria dizer que minha vida é feliz, e só possuo coisas mágicas e maravilhosas para compartilhar, mas seria mentira. Isso aqui não é um conto de ninar, mas sim uma história repleta de lições, que por hora nem eu mesma consigo compreender.


     A criatura que aqui escreve, sempre foi estranhamente diferente, como? É o quê mostrarei agora...Toda criança tem um amigo imaginário certo? Mas eu não tive, bom pelo menos não apenas um. No seu lugar criei um mundo, cheio de criaturas bizarras de bom coração, e seres belos com almas sujas. Não me leve a mal, tinha 6 anos, e vivia trancada num terreno com um muro gigante, precisava de amigos, só que não podia sair de casa, pois minha mãe temia os perigos que a rua podia oferecer. Mal sabia ela que estas coisas terríveis se encontravam na minha escola, e até mesmo dentro de casa. No entanto, ainda não é hora de falar deste assunto. Bem, retomando...Sem amigos, e com uma família sempre ocupada, usei minha criatividade, e não fiquei sozinha. Toda tarde depois da escolinha, ia para o fundo do enorme quintal da casa da minha avó, e lá me comunicava com minha amiga Layla. Uma moça ruiva de pele clara, que carregava uma coroa de flores no topo da cabeça, e vivia de branco. Só eu a via, mas ela me levava para um reino, onde seres aparentemente malignos como: o bicho papão, lobisomens, morcegos, e sapos me protegiam, dos ataques da elite, contra quem lutava bravamente para salvar meus amigos da morte. Eram inúmeras batalhas, só que o foco permanecia sendo o mesmo: Nem todos que são belos são bons, e nem todos os que por fora parecem monstros, o são. Não sei ao certo, quando abandonei este universo em particular, mas me recordo perfeitamente das tantas vezes que mencionei a Layla. Eu nem sabia se este era o seu verdadeiro nome, todavia sabia que quando algo é sua criação, tem o direito, ou o dever de lhe nomear. Layla, era o nome da minha segunda Winx favorita, a primeira era a Bloom, com quem me identifiquei desde o primeiro episódio, por ser uma humana que ia estudar no colégio das fadas, e minha personalidade era bastante parecida na época. Só que por alguma razão, preferi lhe chamar de Layla, mesmo sem minha criação se parecer com a personagem. Com o tempo, fui me desvinculando deste mundo, e passei a desenhar enquanto vivenciava as aventuras de minhas novas criações, inspiradas em outros desenhos de fantasia e ficção. Ficava sentada no sofá, e após desenhar algo, mergulhava na página, e dava voz aos meus personagens. Muitas vezes fui pega por meus familiares paternos, que me olhavam com repulsa, e fingiam não ter visto nada, como se quisessem dizer “Não, não temos uma aberração entre nós, e se for o contrário vamos ignorar o fato”, e pela minha avó materna, que dizia que estava me comunicando com demônios. Eu não me importava, era feliz sendo solitária, e aqueles olhares não me serviam para nada mesmo. Só que de alguma forma, esse mundo interferia no meu, e por isso acabei vivenciando meus primeiros momentos sobrenaturais. Sempre que ia aprontar algo, saia ilesa do local antes que me percebessem, pois conseguia ouvir passos a uma distância tão grande, que antes mesmo do barulho chegar a dimensão física, eu já havia saído dali. Até hoje não consigo explicar, mas creio que há  teorias científicas, que possam fazê-lo, ao descrever a audição infantil. Tudo seria muito lindo e perfeito, se minha infância se resumisse apenas a esta parte, porém infelizmente não termina aqui, e é agora que meu mundo se torna sombrio. Como já mencionei antes, passava muito tempo sozinha, e apesar de não ser tão bela, este era um prato cheio para os predadores... Algumas vezes quando ia para o fundo do quintal, meu avô me fazia companhia, me carregando de um lado para o outro pelo nosso galinheiro, e quando ninguém estava olhando, o quê ocorria com frequência, colocava seus dedos de unhas grandes, por dentro de minha calcinha, pegando em minhas partes íntimas, e mais tarde me entregava algumas notas de dinheiro, como se o papel compensasse seu crime. Não que me machucasse, mas dentro de mim, sabia que algo estava errado, só não tinha ideia do quê, já que na idade em que isso aconteceu tinha 3 para 5 anos. Hoje há estudos que supostamente comprovam, que nossas memórias antes dos 6 anos são falsas, então não sei se estou certa ao culpar meu avô de abuso, mas minha lembrança do fato é muito nítida para duvidar, talvez seja porquê não sou normal. Infelizmente não para por aí, e desta lembrança me recordo com exatidão. Era de tarde, como sempre meu pai tinha esquecido me buscar na escola, e já ia da 1 hora. Foi quando resolvi ir para sala de TV escola, onde as outras crianças estavam vendo desenho, e me sentei perto do meu amável professor de balé, em quem minha mãe após muito vigiar, agora confiava. Quando me sentei com as pernas cruzadas, na frente dele, este colocou uma pasta cor de rosa de plástico, diante da minha coxa, cobrindo-a, e ali no meio de tanta gente, este sussurrou em meu ouvido: “Pensa numa coisa bem boa” e então colocou sua mão dentro da minha calcinha, e começou a massagear meu pequeno grelinho. Não me recordo de quando parou, contudo assim que o fez me levantei, e sai correndo. Nunca mais quis ir ao balé, pouco a pouco fui inventando desculpas, até que deixei de comparecer aos ensaios. Pra ser sincera, nunca gostei das aulas de dança, sempre fui fã de luta, mas meus pais nunca quiseram me colocar numa academia, porquê achavam que : 1-Não era para meninas e 2-Não tinha mente para ser lutadora. Pelos argumentos nem preciso dizer que o primeiro vinha de minha mãe, e o segundo do meu pai. Poderia ter sido pior, hoje tenho a consciência disso, mas dentro de mim, preferia que não tivesse acontecido, pois isso liberou minha sexualidade e maturidade cedo demais, e não pude ser criança. No maternal, já tinha tido experiências de masturbação em grupo, e beijo homossexual, até hoje me pergunto com quem foi meu primeiro beijo, porquê esse momento que devia ser importante, não teve significado algum. E pior, como se já deve saber, o agredido repete os atos do agressor, por isso fui responsável por diversas iniciações sexuais de garotos e garotas mais jovens, quando tinha apenas 9 anos. Na época me sentia bem ao praticar o mal, roubando de inocentes o mesmo que me foi roubado, seus primeiros beijos, sua ingenuidade, e até a virgindade das  meninas. Antes de praticar certos atos, ia para frente de qualquer espelho, e sorria para mim mesma, com gosto. Aqui sim, admito que fui um monstro, tão cruel, quanto os que me fizeram assim, e hoje de certa forma me arrependo, pois tenho ciência, de que aquelas crianças não tinham culpa, e não mereciam esse destino. Por conta de meu sofrimento, criei uma dupla face: Uma que apresentava para os que queriam me conhecer, e outra que só as vítimas de minha perversão conheciam.  Isso associado ao fato de que tinha um pai, quase ausente, que pouco tinha apreço por mim, uma mãe sempre presa no trabalho, que lutava para estar comigo, e me dar o quê não teve, e amigos que só estavam por perto, por causa da minha mesada proibida, e outros bens materiais. Fez de mim, uma pessoa amargurada, sem simpatia pelo próximo, e quando vieram me forçar a ir para a igreja, eu simplesmente disse não. Pois apesar de errar constantemente, e cometer muitos pecados, sempre pedi perdão com o coração pesado, mas Deus nunca me ouviu, e me abandonou quando mais precisei de proteção. É claro que como bons católicos, meus pais não entenderam, e por isso me obrigaram a estudar a bíblia, todo sábado com uma testemunha de jeová. O cômico é que antes de fazer tais estudos, era temente ao Diabo, e só o chamava por seus diversos nomes, em momentos de raiva, mas depois de descobrir o significado do nome, e estudar sobre as origens do mais famoso anjo caído, passei a ficar fascinada por ele, sentindo-me como se fosse a encarnação do mesmo, por sermos parecidos. E é aí que minhas outras antigas experiências paranormais, se tornam mais significativas. Enquanto sofria com a falsidade humana, e o trauma do abuso que suportei calada, evitando o agressor de todas as maneiras possíveis, também vivi duas experiências magníficas, que jamais poderei esquecer. A primeira ocorreu na escola que se localizava no canto do cemitério do centro, e a segunda no pátio da casa de minha avó. Era uma tarde como qualquer outra, e como em todo canto próximo as lápides, falava-se de um fantasma no banheiro feminino.  Como todo bom estudioso, preferia não crer em tais ladainhas, todavia no fundo queria saber se o fato era verídico, e por isso fui desvendá-lo. Certo dia, fui ao banheiro, apenas para averiguar, e provar que aquele medo era bobagem. Peguei minha coragem e entrei no local assombrado, para lavar as mãos, e foi quando fui surpreendida. Todas as torneiras giraram juntas, como se minhas mãos as controlassem. Tomada pela adrenalina, fui até o vaso sanitário para ver se o mesmo agora continha a água da cor do sangue, só que isso sim era falso, e quando sai a luz se apagou. Não ficou tudo escuro, ainda podia se ver algumas coisas, devido ao reflexo da luz solar, e por esta razão fui capaz de vê-lo. Um ser, todo coberto por uma mortalha negra, que não tocava os pés chão, estava parado no fundo, e antes que fizesse algo para me ferir, eu sai as pressas do seu caminho. Se pensa que fiquei conhecida como a “louca que via vultos”, por ter gritado de medo, está muito enganado, eu corri sem olhar pra trás, mas quando me aproximei da sala, respirei fundo e fingi que nada tinha acontecido. Cheguei a comentar com alguns coleguinhas, sem muito entusiasmo, e terminou aí. A escola era estranha, sempre se ouvia vozes detrás dela, que não se sabia de onde vinham, então o fato de existir um fantasma ali não era nada incomum. Essa experiência paranormal, foi a mais marcante de  minha vida, só que não foi a primeira. Quando menor, não me recordo da idade, via as sombras tomarem formas de pessoas, antes de dormir, e dormia pensando em quem eram aqueles homens e mulheres nas paredes. Além disso tinha sonhos que previam o futuro, não de forma significante, mas que me servia de maneira útil, ao tentar achar objetos perdidos, era realmente fascinante. E por falar em sonhos, há um do qual não conseguirei esquecer, o muro dos mortos. Não sei quando aconteceu, só me lembro do quê houve, em alguma noite, tive acesso ao terreno dos meus avós , de forma onírica, e vi que atrás do pequeno muro, que nos separava do vasto mato, tinham várias lápides. Não me assustei, naquela época tinha uma coragem de ferro, apenas achei esquisito, e quando fiz 15 anos se tornou ainda mais, pois minha mãe me disse que o nosso antigo lar, era um cemitério de índios. Talvez por isso Layla, fosse tão parecida com os índios norte- americanos, pensei, contudo este era um mistério que só viria a ser resolvido mais tarde. O segundo grande e inacreditável fato sobrenatural, não foi tão obscuro. Na verdade, eu diria que é mais digno de uma ficção-científica, do quê do terror. Mas para me aprofundar nisso teremos que falar de uma das motivações, para ter determinado, que há mais chances de encontrar um ser humano ruim, do quê alguém que me queira bem, e parte de minha desconfiança se resume a uma pessoa, uma garota que claramente tinha problemas de personalidade, pois adorava imitar minhas frases e projetos criativos, e tal coisa seria adorável, se ela não agisse como se o quê inventei era seu. Seu nome é Elly, e os que são próximos de mim, saberão a quem me refiro. É, querida, não me esqueci do quanto foi oportunista, assim como também me recordo, que mesmo te conhecendo bem, preferi que não se afastasse. Porquê meus familiares gostavam de você, e bem era a minha primeira amiga, após uma amiguinha do maternal ter se juntado a detestável Ivana, me levando a me misturar com os meninos, e as promiscuas mirins que iniciaram minha descoberta da  sexualidade. Não queria te perder, apesar de você sempre competir comigo sem razão alguma, roubar os meus pretendentes, só porquê o seu cabelo era melhor, era mais magra, e todos me achavam baranga, e ainda sim mesmo me detonando, no fim eu era a vencedora desta batalha mortal. Porquê com o meu jeito de ser, tinha muito do quê você queria: Pais liberais, para quem apresentei o meu novo namorado, coisa com a qual você nem podia sonhar, senão sua mãe te esganava. Poder contar de verdade sobre o meu dia, tinha uma mesada, que esta altura era apenas a forma do meu avô se desculpar, por sua doença. Sair, pra onde eu quisesse. E sobre o namorado, ainda que eu fosse pior que você, ele te largou para ficar comigo, e eu o larguei porquê me apaixonei por outro garoto, então isso fala por si só. Você lembra que não quis ir para a mesma escola no último ano? Bem foi por isso, por isso, e ter dito a todos que o tema “Água” era ideia sua. Sendo que nós duas sabemos a quem pertencia, pois ao contrário de você, quando se tratava de salvar o mundo, as aulas tinham toda a minha atenção. Porém apesar de tudo, foi com você que esse episódio aconteceu, e a nossa competição, se tornou a chave para destrancar a porta dos limites físicos. Num final de semana, resolvemos colocar as roupas de banho, e fomos brincar com o balão cheio d’água. O jogo era simples, quem o deixasse cair perdia, e de tanto ser derrotada por ti, não iria entregar a vitória de bandeja. A luta se iniciou, cada uma dando o seu melhor para não perder. Logo atiramos com mais velocidade que o normal, e quase nos tornamos vultos, dentro dos limites do possível. Só que algo fugiu do controle, e o tempo ficou tão lento, que quase parecia está se congelando. A bexiga rasgou no ar, e vimos a água cair como se fosse uma cachoeira, como se cada momento tivesse sido cronometrado. Falamos muito daquele momento, e ambas achamos fantástico, foi um dos poucos momentos em houve amizade verdadeira entre nós, e já se dizia o velho ditado: Tudo que é bom dura pouco. Naquele mesmo ano, uma de nossas colegas deu uma festa do pijama, para qual todos foram convidados, e a maioria ficou, infelizmente meu pai não deixou, e fez pior disse que da próxima vez diria sim. Por quê ele usou aqueles termos? Por quê?! É o quê me pergunto hoje. Houve sim a tão esperada chance, mas preferia não ter que não tivesse acontecido, pois apenas eu fui, e isso se fez o momento perfeito, para ser pega numa armadilha. Numa tarde de sexta-feira, a mãe dessa colega veio buscar a filha, então conversou com meu pai, que ligou para minha mãe, e todos acertaram que eu poderia ir dormir na casa dela. Meu pai proprôs que fôssemos a Top Game, a minha locadora favorita, para pegarmos as fitas, mas eu disse não, insistir para ir, porquê todos ficaram naquele dia, e eu não, e então fui para a casa da menina. No caminho a mãe desta fez uma pausa no supermercado do bairro, e falou que não tinha dinheiro para mais nada além do necessário. Eu entendi a mensagem, só que a filha não, e foi assim que o desastre aconteceu. Ao entrar no lugar, Estela (A minha colega de classe) teve a brilhante ideia de roubar a barra de chocolate, e assim o fez, passou pelo caixa na frente do guarda, pegou uma barrinha de chocolate, de marca pouco popular, e me puxou pelo pulso ao correr para o banheiro. O vigia bateu na porta em poucos segundos, e nos levou para fora. A menina me implorou para não dizer que tinha culpa, e como toda idiota, tomei a responsabilidade para mim. As pessoas me olhavam com repulsa, como se eu tivesse matado alguém. Eu chorei, disse que pagaria depois, porquê dinheiro não me faltava, e ninguém acreditou em mim, porquê andava sempre como uma mendiga, já que grifes e sapatos bonitos não me atraiam, era como a Hanover do filme Meninas Malvadas 2. Ao chegar na casa dela, sua mãe, uma mulher que parecia viver de drogas e álcool, me deu vários sermões, como se eu fosse a má influência. Entrei em desespero, e cheguei ao ponto de dizer que sofria de cleptomania, por causa da novela das 9, só para proteger aquela garota. Alguns dias se passaram, e a mãe da menina que descobrir se chamar de Eldora, foi falar tudo ao meu pai, que é claro não duvidou dela nem por um minuto. Afinal de contas vivia pegando as coisas de minha avó sem permissão, quebrava objetos, e era a maior fofoqueira, uma cobra como ele mesmo dizia, então só podia ter roubado mesmo. Ouvi muito naquele dia, até meu pai se calar, e agir com frieza, só que foi a noite que não pude suportar a mentira, não quando ele falou a minha mãe, que fazia de tudo por mim. Contei-lhes a verdade, e logo o drácula (apelido que dei ao papai, por ter o cabelo igual ao do vampiro) mudou sua postura, e tudo teria acabado bem se Estela, não continuasse com sua versão falsária, e falasse a todos da escola. Discutimos muito sobre isso, e os outros apenas riram, dizendo que aquilo era uma verdadeira novela. Novamente, ninguém acreditou em mim, e talvez por isso tenha perdido a cabeça. Numa tarde qualquer, as meninas foram para a casa de minha avó, e todas ficaram do lado inimigo na hora de outra discussão. Me enfureci tanto, que fui ao fundo do terreno, e soltei os cachorros para devorarem-nas. Não senti pena de seus gritos, nem tive compaixão, só desejei destruí-las, meu pai veio socorrê-las, e me deu aquele olhar de “Você é uma aberração”. Mas não me senti como errada, só tive a sensação de mostrar minha força. Este não foi o primeiro episódio de traços psicopatas, acho que a solidão me fez monstruosa, pois nem minha prima escapou. Só que para retratar melhor essa história, teremos que esclarecer como era a minha relação com os parentes. Antes de minha prima nascer, achava que era hábito da família de meu pai serem tão frios, e pouco afetuosos, interessados apenas no quê se podia ganhar, e sempre negarem a derrota, e os sentimentos mais profundos.  Frases como “Você tem que colocar o dinheiro na frente do amor” e a “Família e a amizade acima de seu companheiro” eram bastante repetidas por minha família de sangue. Então achava compreensível, que sempre exigissem muito de mim, e não houvesse uma gota de reconhecimento, por tudo que alcançava. Até que um nascimento, mudou a minha opinião a respeito deles. Das migalhas que recebia, o pão de amor e atenção era todo da minha prima, que viera depois de mim. Dizem que o primeiro é sempre mais paparicado e querido, mas hoje estou aqui provando o contrário. Se tirava uma nota boa, havia apenas o mais gélido parabéns, só que se a menina aprendia a amarrar os sapatos, tinha de haver um almoço para comemorar. Se surgia uma personagem feia, gorda e nariguda, minha avó fazia questão de enfatizar que “era a minha cara”, mas se tinha uma atriz bela, ela dizia que era igual a Melinda, a sua favorita. Como se não bastasse, eu tinha que lavar a louça, arrumar a casa, e servir de empregada para as visitas, enquanto a princesa ficava vendo TV, sendo que ali tinha muitas empregadas, era humilhante. Para piorar a “mimadinha”, adorava entregar meus planos, e nem mesmo com meus dons, podia sair ilesa quando aprontava algo. Ao chegar na sala, trocava os programas , para por desenhos estúpidos sobre como contar  “1,2, e 3”, e a maioria aprovava suas tolices. Minha vida era um inferno, como se não fosse o suficiente, não ter amigos na escola, não tinha paz em casa, nem isso, nem carinho. Era sempre culpada por tudo de errado, e a minha mãe, a única pessoa que me amava e me apoiava, estava sempre presa no trabalho, e eu só a via a noite. Era horrível, sim, eu tinha inveja do amor, que minha família paterna direcionava inteiramente a aquela garota, e tal coisa me consumia tanto, que chegava a desenhar a todos que me machucavam, morrendo esquartejados, pelas minhas próprias mãos. Quando não, pegava velas, e ia para o galpão onde desenhava no escuro, pois em meio a tanta solidão, me sentia melhor ao ficar isolada. Porém houve um tempo, que acabei explodindo, e sobrou para ela. Tinha 12 anos, e havia acabado de chegar  da aula, com a mochila nas costas, e uma rejeição cravada no peito. Como de costume, coloquei na Playtv, o melhor canal de entretenimento na época, e então aumentei o volume, pois como num passe de mágica, só estavam tocando músicas sobre amor platônico. Estava devastada, era rejeitada pelas amizades, pelos meus familiares e pelo amor, não tinha paciência para as asneiras de uma criança, que tinha tudo o quê queria. Mas ao contrário de mim, Melinda estava animada, feliz, radiante, e como poucos lhe diziam não, ficou pulando no sofá, e puxou a folha do meu caderno. Acho que perdi a noção depois disso, já que tudo do quê me recordo em seguida, é das minhas mãos no seu fino pescoço, pressionando-o sem parar, pronta para cortar o mal pela raiz, e eliminá-la para sempre. No entanto, quando tive um momento de lucidez, pensei que poderia ir parar na cadeia, e só por este motivo, não fui até o fim. Ela contou ao meu pai, que novidade, me tratou como um monstro, só que naquela altura após ser tão maltratada, nem ligava mais, e menti com gosto, alegando não ter feito nada. O mesmo veio a acontecer, quando tinha 14 anos, desta vez com um gato que tentei sacrificar, só que ao ver seus olhos azuis, fiquei tocada, e decidi que não mataria nenhum animal doméstico, eles não mereciam essa tortura gratuita. Com o tempo cansei das migalhas dos Marinos, e passei a ir direto para casa dos meus pais, onde ficava sozinha o dia todo, mas livre daqueles lobos devoradores de alma. Foi nessa época, que fiz minha primeira amizade que valeu a pena, pois foi com ela, que aprendi o significado das minhas experiências paranormais, e com quem pude ter a segurança, de compartilhar sobre os garotos de quem gostava, sem ter medo dela me tomar um deles. Seu nome era Giulia, e ela era bem diferente das patricinhas hipócritas, com quem tentei desenvolver a amizade, e dos nerds inocentes que levei a perdição, por ser um pouco pervertida para a minha idade. Meus pais não gostavam da nossa amizade, minha mãe porquê qualquer uma que se afastasse de ser uma Barbie, era malvista, e meu pai, porquê éramos de classes sociais diferentes, o quê na sua visão implicava em ser só uma interesseira. Mas eu preferia ter alguém digna de compartilhar as minhas coisas, do quê uma enchedora de saco, que era uma pedra enorme no meu sapato, e ele não entendia isso. Aliás ele nunca entendia nenhuma das minhas escolhas, como quando terminei meu namoro com o garoto dos seus sonhos, e ficou falando para voltarmos. Pouco antes de conhecer quem viria a ser a minha melhor amiga, eu andava com os veteranos do colégio, junto ao povo da 6° série, minha turma com quem tentava ter uma boa relação, apesar de tudo. Adorava ir pra sala deles na hora do recreio, pois sempre me dava bem com os mais velhos. Todo dia íamos comprar tip-top, um chopp, ou  sacolé como alguns conhecem, que era vendido por alguns centavos na época. Catávamos moeda por moeda e íamos até a loja, com as nossas bandanas amarradas na testa, uma marca registrada do grupo, que fora inspirada no anime Naruto, e por isso nosso nome era  “Naruteiros”. Enfim...Pouco a pouco todos iam para casa, e ficava apenas eu e Luan, um nerd veterano, muito bonito, que lembrava o Fred do programa ICarly, amigo de minhas duas amigas Ariadine, uma Naruteira nata, e Nora, uma quase anti-anime, que estava no grupo pelas conversas de meninas. Ele era um cavalheiro, que fazia questão de me esperar, para poder partir. Conversávamos bastante, sobre os interesses em comum, e as minhas tristezas, que se resumiam a rejeição do seu melhor amigo, um idiota, que só teve minha atenção porquê tive um péssimo pai. Ao vê-lo todos dias, meu pai sempre brincava que o rapaz estava interessado em me namorar, e eu achava que não. Até que ele revelou gostar de mim, e começamos a namorar, com direito a ir conhecer sua família, e tudo mais que é importante, para provar que o relacionamento é sério. Muitas meninas ficaram chateadas, pois por ele ser bonito, era bastante popular entre as garotas. Eu não ligava, o achava legal, por ser parte do grupo, e como tal me conhecia bem. Sabia até que eu era a responsável por mostrar aos Naruteiros, a versão erótica do anime que nos uniu, e não me tratava como uma vadia por isso, então tinha motivo para me orgulhar. Só que por mais que eu tentasse, não conseguia gostar dele, tanto quanto ele gostava de mim, tinha dificuldades em expressar meus sentimentos, porquê eram quase nulos, e por isso na primeira besteira terminei nosso relacionamento. Por alguma razão, ele quis voltar, mas eu não, e pior o humilhei perante seus amigos, ao gritar que gostava de outro, e esse outro era o seu melhor amigo. Sim, fui uma idiota, e hoje me arrependo, não porquê acabou, mas sim pela forma que o tratei, ele era um cara legal, e não merecia que eu despejasse todo meu ódio interno nele. Apesar de saber tudo isso, meu pai nunca aceitou o fim, e até hoje anos depois diz que aquele era o cara certo, assim como acredita que minha amiga, foi má influência. 



    Capítulo II

    Conhecendo o oculto


    “Portas se movem com o vento, não se sabe o quê há lá dentro. Palavras rimadas, podem ter consequências desastrosas. Cuidado com o anjo que agora virou o demônio”


    Após terminar com Luan, e levar outro fora do babaca, que por pouco não apanhou da Giulia. Vivi uma das épocas mais felizes de minha adolescência, pois finalmente tive com quem compartilhar minhas dores e segredos. Nós duas sempre levávamos foras, só que tendo o  ombro uma da outra, qualquer fato ruim se tornava alegre. Mas minha vida com minha amiga, não era tão comum, ela tinha uma amiga fantasma chamada Laura, e sem querer fiz uma amiga também, que se chamava Samara. Algo que no começo me deixou com muito medo, porquê ela escreveu seu nome na parede, e havia um filme de terror de sucesso denominado de “O chamado” no qual a personagem Samara Morgan saia de dentro da TV, para matar todos os que viam a fita da sua morte. Detestava aquele filme, pois como ficava muito tempo só, a TV era a minha única companhia, e temia que algo acontecesse comigo. Inicialmente,  fugi de casa com medo da fantasma, e fui pra casa da minha amiga, que ficava há uma rua de distância da minha. Nós tentamos confrontá-la, só que parecia pior, faltava luz a noite, as rajadas de vento eram intensas, e víamos pessoas nos quadros de paisagens. Exatamente como num filme de terror, ela riscava as paredes, escrevendo mensagens bem agressivas. Eu chorava de medo, pois via muitos programas sobre assombrações, e o fim era sempre trágico. Não queria morrer tão cedo, até que um dia, Giulia me ensinou  a fazer o tabuleiro oija, usando o meu fio de cabelo, papel e caneta, e me comuniquei com a visagem. Ela não era um espírito da casa, tinha vindo comigo de nossas andanças pelos cemitérios. Apesar de zombeteira, não queria me machucar, só queria companhia tanto quanto eu, e logo nos tornamos amigas. Minha família não aprovou nossa amizade, tinham medo demais dela, e só me criticaram pelo laço estabelecido. Como estavam enganados, ter a Samara por perto foi a melhor coisa, pois sabendo que tinha uma amiga do outro mundo, me sentia mais segura, quando voltava para casa, ou andava pela rua. E tudo deu certo até que um dia, num domingo adormeci no sofá, e vi uma esfera de luz branca vindo até mim. Era a minha amiga se despedindo, disse que nossa amizade havia lhe levado de volta para a luz, e agora precisava partir, nunca mais a senti desde então. O quê me levou á procurar por uma nova amizade, mas isso não acabou tão bem, um espírito nada gentil se apresentou no tabuleiro. Ele tinha 37 anos, não fazia questão de ter novos amigos, e após o chamado, coisas terríveis começaram a acontecer. Facas caíram de dentro do armário, sempre que íamos pegar algum utensílio. Vultos passaram a nos assombrar, e a segurança se reverteu em medo. No entanto apesar do perigo eminente, algo nos protegia, pois quando a lâmina chegava perto do pescoço, desviava para o lado oposto, evitando um acidente. Pra ser sincera, mesmo assustada, aquilo era incrível, e me motivava a estudar e pesquisar sobre o mundo paranormal. Todo dia lia livros espíritas, e ia para a lan house, uma casa de acesso a internet, e perguntava a amigos como proceder, para comprovar a teoria dos fatos, e foi assim que realizei meu primeiro banimento. O processo foi simples, a casa era minha, e nela o espírito não podia habitar, sem permissão. Então eu literalmente o expulsei do meu lar. Nesta época, estava num relacionamento conturbado, com um suposto mago, que me achava “trevosa demais”, por ter ideias bem distantes do moralismo. Este sempre me criticava, aliás o conheci numa discussão, por ter vindo brigar comigo em um chat, nem sei como isso se tornou um namoro virtual. É, eu era solitária, e como toda pessoa sem autoestima, vivia na internet, a procura do par ideal, pois acreditava que ninguém da cidade, poderia ser o homem dos meus sonhos. Bobagem, eu sei, mas tinha 14 anos, nada sabia sobre a vida, apesar de achar que sim. Entrei nessa onda, depois que minha tentativa de conhecer o par perfeito, por um cadernos de perguntas, pareceu ser a maior farsa de todos os tempos, e aí que se inicia outra parte da história... Certo dia, as meninas começaram um jogo em sala de aula, no qual faziam várias perguntas, num caderno, e entregavam para os outros assinarem. Assim se fazia novos amigos, ou encontrava-se um par, e como eu era tímida demais, vi que esta era a oportunidade perfeita, para conhecer as pessoas. De alguma forma, o meu caderno foi parar nas mãos de um amigo de Giulia, que se chamava Charles, e este havia lido as minhas respostas, e supostamente teria se interessado por mim. Começamos a escrever cartas, estilo romeu e julieta, e marcamos de nos encontrar em vários lugares, mas em nenhum deles ele foi, e a única vez que acho que o vi, foi no show da Pitty, que teve na minha cidade natal Macapá-Ap. Só que como estava sem comer pra ficar em forma, acho que foi parte de um delírio. Após algum tempo, comecei a duvidar de sua existência, podia ser muito bem a minha melhor amiga escrevendo as cartas, já desgastada de tanto de me ver chorar, por babacas que me faziam sofrer. Foi quando conheci Dante, o pseudônimo do tal mago, e acabei por “trair” esse fantasma, uma boa razão para terminar, contudo segundo minha amiga, ele vivia o mesmo dilema, dizendo que fora inventada, e após o termino com o ocultista da luz, ele queria voltar, só que eu temia que se vingasse e me deixasse, por isso recusei a proposta. Depois do fim com Dante, por causa do meu conto incestuoso, que era na sua visão, terrivelmente grotesco, me envolvi com um fantasma, que se chamava Yuri, e acredite em mim, foi o fim da picada levar um fora de um espírito! O engraçado é que com tantos fracassos no amor, sempre me recuperava rapidamente de um término, num dia chorava, e no outro voltava a luta. Todavia, há um dia que merece ser lembrado, não me lembro com quem terminei, só de ter ido até o fundo do quintal da casa de minha avó, onde me sentei numa construção de madeira, e a mesma se encheu de pássaros negros, que ficaram envolta de mim em plena 18 horas, sob o céu parcialmente nublado. Foi estranho, e não consigo me esquecer desse dia. Mais tarde, por sugestão de um amigo, comecei a conhecer o satanismo moderno de Anton La vey, e adorei cada página da bíblia satânica, porquê suas regras se tratavam de responsabilidade, e não obrigações como a Wicca, religião para qual anos antes tentei entrar , mas não deu certo, porquê parecia uma forma de cristianismo disfarçada com magia, e não me manteve atraída. Por conta disso, aos 15 anos  passei a procurar por um parceiro adepto do satanismo, e assim passei a andar com o namorado de minha amiga Luana, que me garantia que ia me encontrar alguém. Seu nome era Rogério, e o cara se considerava o maior satanista da cidade. Era um babaca completo, falava mal dos que pouco compreendiam Satã, e adorava zombar, principalmente dos que se diziam “filhos de Lúcifer”. Por ser conhecido como “sinistro” se achava o tal. Uma vez, me apresentou a um amigo, mas este se encontrava abaixo das minhas expectativas, bem abaixo por sinal.  Certa vez, me chamou para sair, e eu aceitei, porquê fazia tempo que Luana, o jogava para mim, criando situações para nos deixar a sós. Desta saída, virou um namoro, que para a minha surpresa, foi um choque para Luana, e quando o mesmo não deu certo, porquê Rogério mentiu para mim, fiz o meu primeiro ritual de magia negra. Era halloween, meu namorado idiota, disse que estava doente para ir a festa comigo, mas mais tarde, uma amiga veio alegar que ele foi ao evento, e isso me deixou furiosa. Ás 5:00 da manhã respirei fundo, e pensei na minha vingança. Quando deu 6:00, peguei um papel e caneta, e escrevi com detalhes, canalizando minha ira de que algo terrível lhe aconteceria. Selando o papel queimado nas beiras, com meu nome escrito com sangue, junto dos nomes dos príncipes do inferno, na ordem de seus elementos. Naquele mesmo dia fui visitá-lo, este estava “quebrado”, mal conseguia andar, seus olhos amarelados e murchos, tinha ido ao médico, e este atestara suspeita de pneumonia. Contei-lhe sobre o quê havia feito, e este implorou para que eu desfizesse meu ritual,  assim o fiz, tinha lhe dado uma lição e isso bastava. É claro que o relacionamento não durou, um dia brigamos, e eu joguei o anel que me dera na sua cara, diante dos amigos. Mas este não foi o único  motivo para dar um basta. No mesmo ano, entrei no jogo dos espíritos, e fui ameaçada de morte, para terminar com ele, no dia 10 de uma determinada data, acho que era outubro ou novembro, do ano de 2010. Se foi em 10/10/10 é uma enorme coincidência, pois só vim saber dos chamados portais, em 11/11/11, no entanto, não posso afirmar nada, pois não tenho certeza. Retomando, após receber a tal ameaça, mantive o relacionamento, apenas para irritar as entidades, e a Luana, que vivia me atacando com paus e pedras , através de mensagens na rede social Orkut. A vida era minha, e um bando de gente morta, e uma garota, não devia se intrometer. Mas isso aconteceu após fundar a minha própria seita chamada Sees, então eu e as componentes do grupo quase morremos, aliás em um dos  encontros, nós 4 quase fomos atropeladas, e para acabar com as “quase mortes”, tive de largar o canalha, a pedido das meninas. Não foi difícil, há semanas vivia sonhando que ele e Luana voltariam, e como minhas previsões oníricas, quase nunca erravam, preferi deixar pra lá. Ele já tinha cumprido seu propósito, tirar minha virgindade, e ficar uns meses comigo, para não ser como as outras otárias, que o cara desvirgina, e no dia seguinte some. Eu não o amava, só dizia isso pra iludi-lo, meu “amigo”( cara em quem fui interessada por um tempo, mas não deu em nada, por me achar muito vadia) Moraes sabia disso. Tudo o quê eu gostava nele, era o fato de ser satanista, fora isso nada mais lhe era atraente. Falava errado, não era elegante, se misturava com qualquer um, e ainda se achava no direito de comandar, as diretrizes de um verdadeiro satanista. Quando acabou foi libertador, nunca me senti tão bem por me  ver longe de um fardo. Na mesma semana, fui atrás de um encontro, e mudei meu pseudônimo para Carry Manson, dizendo a mim mesma que seria diferente, e finalmente acharia alguém digno de mim. Era sábado a noite, fui a uma casa de acesso, enquanto minha mãe estava no trabalho. Lá entrei na rede do MSN, onde fui bater um papo com um garoto, que desde a época das cartas do garoto misterioso, me chamava para sair, e eu dizia sim, mas não ia, temendo que fosse um maníaco, ou pior, alguém que não me atraísse. Seu nome na rede era Nightmare BK, havia o conhecido, por ser um dos amigos de Giulia, ele não tinha foto, mais um motivo para não confiar, e sempre que conversávamos, mandava exclamações, o quê me levava a crer que era um rapaz alegre, e eu sempre preferi os solitários aos palhaços. Mas pensei: Quem sabe não tenha um amigo que faça o meu tipo? É claro que só quer sair comigo, por me achar bonita, não tô ferindo os sentimentos de ninguém. Enviei a mensagem, e perguntei se a gente tinha brigado , porquê realmente eu me focava tanto no satanismo, e nas minhas desilusões, que mal lembrava do porquê a gente não se falava mais. Ele disse que não, então fui direto ao ponto. Assim ele falou-me que tinha um amigo e ia ver, depois voltou e disse que não dava, mas que ele estava disponível, por alguma razão aceitei e peguei seu número. Ficou claro que ele estava interessado, e tinha inventado um amigo, então por quê não? Até onde sabia podia ser minha alma gêmea. Realmente não sei, como o pensamento de “ele é um louco” foi para “Minha nossa é o meu futuro ex-namorado”(Depois explico) mas aconteceu. No domingo a noite, liguei para ele, e rapaz como me enganei! A sua voz era melancólica e profunda, bastante séria. Me apaixonei, mas para saber se seria amor, ele precisaria responder as mesmas questões do meu caderno de perguntas da 8° série. Eram 100 questões, com tudo o quê eu queria agora de alguém, e ocorreu que ele era compatível comigo em 99%, algo que nos rendeu uma ótima conversa de horas, antes do nosso encontro na segunda-feira, para o qual iria com Giulia e Elly, só por precaução. Que garoto fascinante, acreditava em eventos paranormais, tinha histórias com fantasmas para contar, era um satanista nato, que ainda desconhecia sua vocação diabólica, não gostava muito de peixe, rock era o seu estilo favorito, mas não menosprezava os outros, e arrancar um sorriso seu era complicado. Ele era perfeito! Tão perfeito, que naquela noite fui dormir pensando nele, e sonhei que namoraríamos, e isso seria motivo de grande festa, entre minhas amigas. Aliás no sonho, eu estava feliz e tinha o olhar de realizada, dizendo: Eu tô namorando o Nightmare! (essa parte cantava que nem o início da música Nightmare do Avengend Sevenfold) Fui ao encontro, de botas dizendo que levaria a “Death people” escondida na mesma, minha faca de estimação, e o conheci. Nos apresentamos, e fomos andar pela Fortaleza de São José, o antigo  point jovem da pequena cidade. Segurei sua mão logo de cara, e conversei com ele, estava de boné, e usava os fones de ouvido, me senti um pouco tímida e desajeitada. Nos sentamos, e ele me deu um dos fones, ouvimos a Hollywood Worm do Papa Roach, e ele me contou sobre o clipe, de como o rosto da moça se despedaçava neste. Só que o danado, gesticulou, tocando meu rosto, e fiquei corada. O encontro foi bom, mas não durou muito, meu pai, agora separado de minha mãe,  queria “me ver”, e nos interrompeu. Ficou furioso ao saber que estávamos no morrinho escuro, mas minha felicidade era tanta, que nem me importava. Já me via namorando o Nightmare, e só faltei ter dito “acho que tô apaixonada por você”, quando mandei um SMS, mas ele achava cedo demais, e por isso lhe dei um gelo, e fui dormir. No dia seguinte tinha algumas mensagens suas, respondi com frieza em dobro, se seria só um fica , eu nada mais queria. Foi então que marcamos o segundo encontro, agora na praça da bandeira, neste definimos o quê queríamos, e porquê queríamos. Juntos cometemos o mesmo erro, falamos dos ex’s para enfatizar as razões dos términos, e tínhamos a mesma opinião: Queríamos algo sério. Como ele mesmo disse “eu não gosto de relacionamentos de 1 segundo” e eu gostava menos ainda. Após nos resolvermos, fomos para um banco, e ali ele me roubou um beijo. Foi o meu primeiro beijo roubado, eu acho, não consigo me lembrar de mais ninguém fazendo isso comigo, antes dele. Deve ser por isso que foi tão mágico, e ao mesmo tempo cheio de tesão. Ele tinha uma pegada na cintura, que ficava entre safado e santo, na medida certa. Depois disso fui pra casa, outra vez feliz da vida, finalmente alguém que era exatamente o meu tipo, estava comigo, e isso era o máximo. Agradecia aos deuses, mentira, somente a Satã, pelo tal amigo dele não poder ter ido. Naquele ano... Passamos o natal juntos, foi a primeira vez que não estive com aqueles abutres dos Marinos, ou com os santos dos Cavalcantes, e isso me deixou super feliz. Fui logo para o quarto dele, e lá nos “pegamos” e as coisas foram esquentando, pois estava com um sexy vestido de veludo. Numa hora estava por cima o beijando, outra por baixo, e sentia seu corpo colado ao meu. Mas apesar do evidente fogo, decidi que só iria pra cama com ele, depois de 1 mês, para garantir seu interesse em mim por algum tempo. O quê tá pensando que é só vim e me levar pra cama? Era uma vadia mas não a esse ponto. No natal perguntei se podia mudar o meu status do Orkut para " namorando", sim fui bem direta, e a resposta foi sim, e mudamos o status, era oficial estávamos namorando, só que segundo ele na sua visão nosso namoro começara no segundo encontro. Certa vez ele foi na minha casa, e eu o enrolei até não ter mais ônibus, fazendo-o ficar para dormir. Desgraçada como só eu sou, coloquei a camisola mais curta que tinha, e dormi de costas para ele.  Faltava pouco para fazer um mês, e eu queria deixá-lo louco para nossa primeira vez. E quando a hora chegou foi um desastre, achei que tinha deixado de ser virgem, e quando o senti, parecia que não. Ele logo parou, não forçou a barra, até que no dia seguinte, estávamos vendo TV, e começou a tocar a Sweet Dreams na versão do Marylin Manson, fiquei excitada na hora, e tentamos de novo, desta vez deu certo. O engraçado é que na minha suposta primeira vez, tive de parar tudo, para colocar essa música. Enquanto que com o Nightmare, foi tudo tão natural, que quase parecia surreal. Após a nossa primeira transa, houve uma intensa maratona de sexo proibido, já que meu pai nem sonhava que eu não era mais virgem, e vivia no quarto com minha mãe, naquele lenga lenga de volta ou não volta. Quando lhe contei sobre, Drácula culpou o Nightmare, dizendo que eu tinha dito que era o outro, para protegê-lo, mas me senti super responsável, e fiquei tranquila, era o mínimo que podia fazer, estava quase completando 16 anos. O tempo foi passando, e cada vez mais estava perdidamente apaixonada por Nightmare, cujo o nome real era Bernardo Silva. Mesmo com toda a minha insegurança, ele estava lá, apesar de tentar me matar, ele me queria, ele me parava, ele me fazia sorrir, e não era tão bom moço, para querer me afastar da magia, o quê o tornava ideal. Aliás ele foi o meu escolhido, o único que poderia ser chamado de rei no Sees. Ah o Sees, o meu primeiro grande fracasso mágico, como poderia esquecer? Seu nome era uma sigla para “Seguidores da Estrela”. É claro que a estrela a qual me referia era Lúcifer, a famosa estrela da manhã, e tinha escolhido este nome de madrugada, enquanto estudava a bíblia satânica, exatamente as 3 horas da manhã. Alguns anos mais tarde, vim descobrir que a sigla SEES, também servia para identificar ao “ Senhores da escuridão”, um livro espírita  pertencente a trilogia Reino das Sombras, da qual só me interessara o livro “A marca da besta”, por ter lido um breve artigo numa revista do mesmo tema. Isso me interessou bastante, pois depois de estudar em artes sobre mensagens subliminares, fiquei obcecada por conspirações, e toda conspiração tinha um cunho religioso. Mas foi apenas um acaso, o Sees, não servia para dominar o mundo, e sim atingir metas pessoais, apesar de que no fundo acreditava que seríamos grandes, (não fomos). Mesmo sem conhecer a fundo a maçonaria, sabia que nela se  aceitava todos os tipos de religião, tudo o quê bastava era crer em algo, logo no SEES se aceitava até mesmo cristãos. Já que após estudar muito e testar, havia concluído que: A fé era como uma chave, que destrancava o potencial da mente humana, gerando assim efeitos incríveis, que podiam mudar o ambiente, criando o quê se entende por “Magia”. Tínhamos algumas regras, naturalmente, mas a principal era “jamais destruir o círculo”, senão do contrário, espíritos iriam nos atormentar.  Como em todo bom culto diabólico, instituir um contrato, no qual os membros ofereciam suas almas a Lúcifer, e eu me responsabilizaria de guardá-las. O quê? Pensou que eu iria realizar ambições de graça? Não era agora chamada de “o demônio” ou “a bruxa” a toa. Apesar do pacto explícito, consegui 3 membros, (Giu, Rosa, e Elly) de quem bebia o sangue, por saber que eram saudáveis naquele tempo. Não foi complicado, separadamente iniciei cada uma, e as fiz ler o contrato em voz alta, que as impedia de voltar atrás. Foi maldoso de minha parte, e me senti revigorada por minha astúcia demoníaca. Nosso símbolo, era uma maçã com um pentagrama dentro, representando o caos, e o conhecimento proibido. Nossas reuniões, eram cheias de carne ,doces, e bebidas, representando o oposto do jejum cristão. Tivemos poucas reuniões, pois pouco a pouco o grupo foi se desfazendo, mesmo depois de termos unido o nosso sangue, por causa da regra de que “cada uma era uma estrela.” Que dizia: Cada uma é uma estrela, mas juntas formam uma constelação. O quê significava que o quê uma sentir, a outra sentirá, até alcançar todas, formando um efeito dominó”. Apesar de ter funcionado bem no começo, o quê quase nos quase nos destruiu, pois fui ameaçada de morte, no fim cada uma seguiu o seu caminho. Afinal de contas, sempre colocamos o coração no lugar da razão, e foi assim que tudo desandou. Giu se afastou do Sees, porquê seu namorado era contra. Elly porquê começar a ver sombras lhe assustava. Rosa, porquê se sentiu incomodada, com a nossa queda, e eu porquê não teve jeito mesmo de continuar sozinha. Todas pagamos o preço, mas chegarei lá. Num de nossos encontros, eu e Rosa vimos algo que bem, drogas serviriam para explicar, mas não usávamos isso. Fomos para o cemitério do bairro Santa Rita, o lugar onde mais me encontrava com meus amigos. (Sim agora tinha amigos) Ao chegarmos lá um homem saiu do mato, coberto por um chapéu e nos perguntou: Estão aqui a passeio ou a trabalho? Respondemos a passeio, que tínhamos ido visitar nossa tia, o sujeito riu, e falou “cuidado com as visagens” antes de partir. Rosa logo retrucou: “Tenho medo dos vivos, não dos mortos” e eu bradei com satisfação “A morte é só uma escapatória para os covardes” (O quê houve com essa garota?! Sinto falta dela.) O estranho pareceu contente com a resposta, e se foi dentro do mato. Começamos a nos sentirmos tontas, e as sombras das árvores, ganharam forma de pessoas. Vimos os rostos de 5 mulheres e 2 homens, ou 3 homens, isso até hoje é incerto. Era como se o representasse o Sees, em outra época, dava para perceber pelas vestimentas. Mas isto não foi o mais impressionante, naquele dia tive uma visão da minha outra vida, ou pelo menos é o quê parecia. Vi uma dama enforcada por cipós cheios de espinho no topo de uma árvore, prática comum na eliminação de bruxas no século XV, tempo ao qual suas roupas se remetiam. Teria sido eu uma bruxa? Não tinha certeza, afinal de contas até ali, nunca tinha tido um mestre, para me ajudar a desvendar este mistério, no seu lugar, só vieram guias. Pessoas que não me conheciam, e diziam coisas enigmáticas, e as vezes pessoais. Como: “Você é especial sabia? Não desista do quê tanto quer, você vai conseguir, um dia vai brilhar” (Vai por mim, não parecia clichê de autoestima, principalmente porquê esse guia sofria de problemas mentais) ou “Quando te vi, sabia que você mudaria este lugar”. Foi então que a imagem se tornou ainda mais tenebrosa, o meu corpo caiu, e um ser meio homem, meio besta, de chifres de touro, veio recolher o meu corpo. Ele não arrastou minha alma a força, como dizem que seres assim fariam. Pelo contrário, me pegou no colo, como se fosse sua noiva, e desapareceu comigo numa névoa densa. Ao chegar na casa da Rosa, eu desmaiei na sua rede, mesmo sem está cansada, e quando entrei no meu quarto, me vi rodeada de seres chifrudos, tão reais, que cheguei a ver um próximo do meu rosto. Quando contei ao Bernardo, este achou interessante, mas não era um ocultista, para entender a profundidade da visão, uma realidade que fazia questão de mudar. Com ele não trapaceei, lhe disse exatamente como era o contrato, e ainda sim este fez o pacto. O pacto era diferente do das meninas, com ele me uniria para ser alma e carne. Tornando-o uma alma gêmea sintética, com a qual uni o meu espírito, através do sangue e o meu primeiro sexo mágico. No qual nós invocamos os 4 príncipes do inferno, para concretizar nossa união. E assim foi feito, ele se tornou o meu rei, e eu sua rainha no tabuleiro da magia. Após a entrada do primeiro dos 2 ou 3 homens, que completariam minha visão da vida passada, me animei para chamar mais integrantes, até consegui alguns, porém nunca mais houve uma reunião desde então, e o Sees acabou. No entanto, não era porquê tinha se findado, que eu desistiria de saber sobre porquê coisas estranhas ocorriam comigo. Precisava de respostas, e iria obtê-las, nem que para isso tivesse de ir ao Inferno.(Sério, cadê essa garota?!) Como? Através de viagens astrais, coisa que dentro de uma semana, já conseguia realizar. Mesmo que algumas vezes perdesse a consciência, quando falava que ia viajar ao mundo astral, minha mãe sempre via um vulto de uma garota correndo na casa, onde realizava os meus testes. Era tão simples, bastava me concentrar, que ia exatamente para o lugar que desejava. Desta forma, acreditava que seria fácil ir ao Inferno e voltar. Certa vez, cheguei em casa, exausta, porém pronta para a minha viagem. Tirei o uniforme, e fiquei apenas de calça jeans e sutiã, adormeci centrada em ir até o lar de Satã, e acordei na escola em que estudava. (Seria a escola o meu Inferno?) Estava chovendo, comecei a caminhar por ali, até que Catarina, outra satanista declarada do colégio, me viu e disse: “Ele quer falar com você, está lá na frente. Mas não vá com ele.” E sem entender nada, fui até o local por curiosidade. Foi quando um ser de chifres e asas de morcego, humanoide de rosto belo, veio até mim e ergueu sua mão, eu a segurei, e este me carregou em seu colo, levantando voo para longe, enquanto uma tempestade se aproximava, e vinha destruindo tudo pelo caminho. Ao passar ao lado de Catarina, esta me olhava furiosa por ser deixada para trás, dentro de um carro que iria se desfazer com facilidade, ao se esbarrar no enorme tornado. Foi um sonho e tanto, que me levou a pesquisar sobre quem era aquele demônio, e tudo indicava que era o próprio Satã. Fiquei surpresa,  com quem tinha vindo me visitar, e fui em todos os grupos do Orkut, procurar por alguém, que pudesse me explicar, o quê de fato isso significava. Porquê o maior dos demônios, estava a me proteger, eu era uma soldada do inferno? Não sabia dizer, e as coisas se tornaram ainda mais estranhas. Na noite seguinte sonhei com uma pop up, que me fazia várias perguntas, mas a única da qual me lembro é você perdoaria a traição de um amigo? Na qual cliquei que me vingaria, e depois surgiu uma congratulação, por ter passado no teste, e me vi no meio de um rancho, onde se via a imagem de Jesus Cristo, sendo puxada para ser erguida, e mostrada aos fiéis, mas eu cortava a sua corda, impedindo-a de chegar ao topo. Este ocorrido me fez pensar que, havia sido convocada para o exército do Inferno, e agora era uma soldada infernal. Na escola, por onde passava com meus trajes extravagantes, causava o fascínio e o temor nas pessoas, uns faziam o sinal da cruz, outros me chamavam de Dark Barbie, e uma pessoa não parecia nada feliz com minhas descobertas, e esta era Catarina. Ela se aproximou de mim do nada, até hoje não sei o porquê, provavelmente era uma amiga de Luana, mas quando aconteceu, isso nem se passou por minha cabeça, quer dizer já tinha terminado com o Rogério, e se era isso o quê queria, o quê ganharia me perturbando? Ela era jovem, me contava as suas histórias sobre o oculto, e eu lhe contava as minhas. Se declarava poderosa, tendo o dom da palavra, ou seja o quê dizia se realizava, e eu era só uma mera aprendiz. Certa vez ela me contou sobre os filhos dos demônios, e quando lhe perguntei se eu também poderia ser, dado a algumas semelhanças entre nossas experiências, esta disse com agressividade: Não! Você não! Aceitei aquilo, porém isso desencadeou uma suspeita, se eu não poderia ser, por quê responder de forma tão abrupta? Será que a realidade era que ela não queria que eu fosse? É uma dúvida que ficou a pairar. Certa vez fui visitá-la em sua sala, apesar dos atritos, era bom poder falar com alguém sobre satanismo sem ser julgada. Mas a jovem começou a se afastar de mim, alegando que minha energia a deixava com dor de cabeça. Não achei que poderia ser mentira, pois depois de sua resposta hostil, ficava sempre com o sentimento de desconfiança, e como não sabia me controlar, acabava lhe atingindo. Aliás, isto não era incomum, toda vez que me chateava muito, provocava dores no corpo das pessoas. Minha mãe era a maior vítima, pois quando me rebelei contra o seu cristianismo, ela tentou me matar alegando que eu era um demônio, e nunca a perdoei por isso. Não sei exatamente se era um ataque astral dessa menina, ou se eram entidades, mas todas as noites batalhava contra ela tentando me vencer e eu a vencia. No mundo dos sonhos, era atormentada por pessoas me perseguindo, como quando era criança, e lutava ao lado dos monstros imaginários. Só conseguia vencer, porquê neste plano meus poderes eram

    maiores, e assim podia gerar tempestades e raios, fortes o suficiente para destruir meu oponente. Certo dia , essa garota veio até mim, e contou-me sobre um pesadelo que tivera comigo. Segundo a mesma, eu havia assassinado várias pessoas numa casa de altos e baixos, e saia do pentagrama para ir atrás dela, deixando-a assustada. Todavia para ter utilizado o termo "pesadelo", é porquê com certeza o final não lhe agradou. Talvez sua seita particular estivesse mesmo em guerra comigo, e isso se tornaria mais suspeito mais tarde...Antes do Sees se desfazer, houve uma notícia que nos deixou boquiabertas. Justo no cemitério onde praticávamos nossos ritos, foi encontrado um bode morto, túmulos destruídos, e alguns outros itens que fizeram as pessoas desconfiar de magia negra. É claro que um lugar assim, seria utilizado para tal fim. No entanto, foi muita coincidência acontecer, quando passamos a ir com mais frequência a aquele lugar. Era como se algo quisesse nos impedir de prosperar, (e conseguiu) já que devido a este fato, a vigilância se tornou maior, e assim ficou difícil de entrar lá. O quê me trouxe muita tristeza, porquê costumava ir com meu melhor amigo Benício, e Rosa (uma das minhas melhores amigas) para lá.  Aquele espaço, era fúnebre, mas cheio de lembranças doces de pequenas coisas erradas que fizemos como: A primeira vez que Benício bebeu. Quando Elly cuspiu num túmulo, e o morto disse a Giu para lhe passar o recado. Quando fizemos o jogo dos espíritos, após muito tempo. Os roubos das doces frutas dos mortos. As reuniões do Sees. Enfim essas preciosidades, na vida de uma garota demoníaca. Lembra que eu disse que agora tinha amigos? É hora de apresentá-los, creio eu que não será tão absurdo quanto parece. A primeira continua sendo a Giu. A segunda é a Rosa, que sempre me acompanhou nas minhas loucuras, e foi minha namorada de plástico, para afastar alguns carinhas no colegial, e após os 18 anos. O terceiro é o Benício, um garoto que conheci na 6° série, por dizerem que "queria me conhecer", mas só veio se tornar meu melhor amigo mais tarde, quando ingressei no ensino médio. O quarto é o Moraes, um baixinho sagaz, que despertava meu interesse, por entender bastante do mundo obscuro, mas foi uma amizade que durou por pouco tempo. A quinta é a Ana, alguém que chegou de mansinho, e conseguiu um lugar no meu coração. A quarta é a Natasha, mas falarei dela lá na frente, então fica o spoiler. E o sexto e último é o Renato, um ex-evangélico, que pegava no meu pé por ser satanista, e dizia ter aulas de exorcismo. Rosa foi alguém que conheci por intermédio de Giu, já que ambas estudavam juntas. Era no começo uma amizade por associação, que logo virou uma amizade para todas as horas. Foi a amiga que mais vivenciou meus dramas, e minhas atitudes loucas. Com ela dancei no meio de uma multidão, andei tranquilamente de preto. Faltei algumas aulas, apenas para andar pelos corredores, fugindo dos monitores, conheci novas pessoas. E apesar de meus pais desaprovarem-na naquele tempo, foi quem salvou minha vida, quando cheguei perto de um coma alcoólico. Ainda no colegial, me casei com o Bernardo, e fui viver por algum tempo na casa de sua mãe, um mês ou mais, isso não vem ao caso. Um dia implorei para não ir a aula, pois apesar de ter amigos, ainda detestava aquele lugar, mas ele sabia, o quanto era importante pra mim terminar o Ensino Médio, então insistiu para eu ir. Fui furiosa, sentindo que algo daria errado, e quando cheguei lá, não teve aula, e Elly me chamou para beber. Aceitei, não perdia a oportunidade de encher a cara, e chamei Rosa para vim comigo, porquê era outra papuda. No caminho, nos separamos, eu e ela sentimos que algo daria errado, e fomos por um caminho diferente. Ao chegarmos no poerão, compraram Vodka, detestava essa bebida, preferia vinho, mas sendo o quê tinha, não reclamei. Havia muita gente lá, que nem sequer conhecia, e começaram a ouvir funk, para se animarem. Odiei está ali, e gritei para tocar Lady Gaga, pois na época, era a única cantora pop, que ouvia. ("Porquê será?") Rosa rebolou até o chão, não tinha tanta frescura quanto eu, então bebi meia garrafa sozinha, só virando sem parar, e fiquei tonta. Comecei a ver anjos ao meu redor, e me desesperei, porém em vez de pedir "Socorro", gritei algo como "Eu vou matar vocês!". O dia que estava ensolarado, sem qualquer sinal de chuva,  nublou, e a água pingou do céu. Todos foram embora, com exceção de Rosa, que ficou comigo, enquanto eu vomitava espuma, na minha primeira camisa de banda, que o meu marido tinha me dado. Não me lembro de muita coisa, só de ter encontrado Tonya, uma conhecida do colegial, que me comprou água, e ter ido parar num bar, onde ligaram para o SAMU. Dali só me vem a mente, ter bancado a boazinha, e ter agradecido pela ajuda a  uma paramédica, enquanto Rosa segurava minha mão, e ligava para o meu marido, pois a beira da morte, ele era a última pessoa que precisava ver, e que eu não parava de perguntar se havia o traído, pois este era o meu maior medo. No banco do hospital desmaiei, e tudo ficou preto, só me lembro de ver de longe aos meus pais chegando, muito mais chateados que preocupados, antes do meu corpo pesado cair. Fiquei furiosa com o Bernardo, mas mais tarde vim descobrir, que ele tinha tentado chegar lá de bicicleta, sendo que eram 30 minutos até de ônibus, e não demorei tanto, por isso o perdoei por não está lá. Algum tempo depois, graças a esse fato, me usei como um exemplo de "ética amoral “numa apresentação de Ética, que fiz com o Benício. Não tinha vergonha, e todos sabiam do quanto eu tinha bebido naquele dia, porquê era a maior má influência daqueles corredores. E por causa deste dia, minha amizade com Rosa, se tornou ainda mais forte, ao ponto de dizer que eu, ela, e Giulia formávamos um trio.Com o Benício conversava todos os dias, sobre todas as coisas, mas principalmente magia, que era a minha grande paixão. Foi a pessoa que por mais quieta, e calada que fosse, me ajudou muito no decorrer do meu caminho no colegial,  não apenas nas provas e trabalhos, como também em coisas pessoais, pois sempre estava por perto, quando a linha entre a realidade e o místico se misturava. Uma vez tentei salvar a vida de um inseto, mandando-o para fora de nossa sala, e para a minha surpresa, o enviei para morte, pois devorado por um passarinho, e ele viu tudo, aliás foi até quem brincou sobre meu dom fatal. Além disso, com ele testei se tinha o dom da palavra,   falei que num determinado dia ele morreria, e no dia seguinte, o pobre chegou pálido, e assustado, pois um caminhão quase o atropelou ao voltar para casa. Não sei se tenho algum "dedo" envolvido nisso, mas quando lhe conheci ia para igreja, festejar com os jovens corretos, e mais tarde entrou para a wicca, a religião mágica que mais o agradou, por ser mais distante das trevas satânicas, e graças a isso, me conseguiu uma pista importante, para a definição de minha identidade futura. Interessado em magia wiccana, ele procurou uma amiga de sua mãe, que fazia parte de um coven, e lhe contou sobre mim, e a bruxa disse-lhe que no meu caso tinha de fazer uma escolha, e no dele ainda precisava estudar bastante. É na magia, eu era a aluna universitária, enquanto que na escola mesmo, parecia pertencer a 4° série. Só ia por obrigação, e passava, quando sozinha, apenas por ter um espírito muito forte, capaz de me dá as respostas certas, mesmo sem prestar atenção. Ele foi o amigo que esteve mais presente, em minhas aventuras absurdas. Com Moraes a amizade não durou muito, porquê fiz a besteira de transformá-lo em um dos meus interesses, antes de me casar, e isso gerou um clima estranho entre nós, que perdurou até o último ano, quando já tinha seguido em frente, e estava feliz com a pessoa certa para mim. Acho que em seu mais alto grau de arrogância, uma qualidade que compartilhávamos, ele acreditou que aquilo duraria para sempre, e preferiu se afastar. No entanto no inicio era a melhor amizade do mundo, pois ambos tínhamos atração pelas trevas, e sempre trocávamos curiosidades, a respeito de coisas que para os outros eram bizarras, e assim nos apoiávamos, na luta contra a hipocrisia do mundo normal. Era divertido, e aprendi muito sobre a literatura proibida, despertando assim minha atenção aos autores hereges, iniciando minha leitura através de Edgar Allan Poe. Além de que nos meus piores momentos, ele esteve lá para dizer "Levanta essa cabeça e acaba com eles!" quando estava mergulhada em lágrimas. Não acho ruim que tenha se findado, pois graças a isso, passei a ficar mais perto do Benício,  alguém que só teve o meu interesse num dia, e foi no desespero mesmo. Não que não fosse bonito, ele era, mas não era nada o meu tipo, o quê colaborou para a amizade durar por anos, e jamais se quebrar.  Com Ana tive uma amizade comum de garotas. Sempre que podia falava com ela, sobre tudo o quê me afligia, já que era o tipo que lhe faz querer confiar nas pessoas outra vez, sendo assim nos sempre nos apoiamos em tempos difíceis. No entanto apesar de ser bastante normal, ela sabia como eu era, e o quê fazia, por isso não precisava lhe esconder minhas anormalidades. Uma vez os meninos da minha sala, fizeram uma algazarra, que terminou com a janela quebrada, um deles sangrou, e ao ver aquele líquido escarlate me deu muita sede, comecei a me morder, porquê parecia está em abstinência, enquanto a Diana (como a chamava, para me destacar dos outros) me dizia "Calma. Se controla. Você consegue!" Além disso dois desses mesmos meninos, vieram a praticar bullying comigo mais tarde, e como resultado lhes lancei uma maldição, apenas com o olhar, de que algo terrível iria lhes acontecer. Estava furiosa, e sem paciência para aturar gente comum, que tem a mente fechada, e não respeita o estilo dos outros, por isso não me contive, e canalizei meu ódio neles. Algum tempo depois, Diana veio me contar que a mãe de um faleceu, e o pai do outro também, tornando-os órfãos, e estranhamente aconteceu de eles pararem de mexer comigo após esse fato. Ela e eu sabíamos quem era a culpada, mas preferimos acreditar que foi coincidência, e até nos dias atuais, é melhor deixar assim. A ela influenciei com minhas músicas favoritas, animes, livros, filmes enfim tudo o quê me deixava mais feliz, e hoje ela é uma das madrinhas de minha amada filha Raviera. E por fim vem o Renato, que completa a cota dos 6 amigos para a vida toda.(6 com Natasha que será apresentada lá na frente, com Moraes perdi o contato) Com Renato a amizade parecia impossível, ele era evangélico, e ainda dizia ter aulas de exorcismo, sempre pegava no meu pé por ter orgulho de ser satanista, e algumas vezes suas brincadeiras me deixavam para baixo. Todavia

    era a única pessoa com quem conversava muito, já que diferente das outras meninas, não tinha vergonha de piadas impróprias, ou mesmo fotos de garotas nuas, e como se dizia parte do exército da salvação, era interessante dialogar, com alguém que tinha o pensamento diferente do meu, e descobrir mais sobre o lado inimigo. Graças a ele e seu grupo, fui muitas vezes salva de ser reprovada de vez. Já que na época que o conheci, estava mergulhada numa depressão profunda, após ter passado por um término, com um sanguessuga que me afastou todos, e desta forma preferia passar mais tempo trancada no quarto, do quê fora de casa. Era um amigo para quem podia contar, e que fazia da sala menos sombria, com suas histórias infames. Embora muitas vezes, acreditasse que algumas delas fossem falsas, por causa de nosso colega Jaques que sempre gesticulava, que era mentira, quando ele contava suas façanhas.  O colegial foi uma época conturbada mas teria sido pior, se não os tivesse conhecido. Outra de minhas grandes memórias mágicas, ocorreu quando era jovem e rebelde, porém esta não tinha a ver com a escola, mas sim com meu marido. Num sábado qualquer este resolveu sair, mesmo demonstrando que era totalmente contra, e para o seu azar, ele era casado com uma neurótica, que também era bruxa. Furiosa dancei a canção Mother Earth do Winthin Temptation, com toda minha desenvoltura e ira, concentrando-me nele. Quando chegou, ele me contou que quase não achou a casa de evento, e ao achá-la quase foi morto na hora da roda punk. Não satisfeita, ainda me centrei em seu coração, e imaginando-o bater, comecei a apertá-lo lentamente, deixando-o com uma sensação de frio no peito, mesmo que minha mão estivesse vazia. Novamente não fui até o fim, parei porquê só queria lhe dá uma lição, senão acabaria com ele para sempre. Ainda sim, mesmo com meus surtos, e as capacidades ocultas mortais, Bernardo nunca deixou de me amar, já eu sempre tive o sentimento de que me abandonaria, porquê ninguém me suportava por muito tempo, hora ou outra as pessoas me deixavam, e foi assim que nosso relacionamento afundou. Numa noite também de sábado, combinamos de nos vermos, mas já era tarde demais, e o último ônibus havia passado, por isso não daria para ele ir me ver. Fiquei desolada, como se fosse o fim do mundo, porquê se passou pela minha mente que este era o sinal de que ia acabar, e seria mais um relacionamento fadado ao fracasso. (Neurótica lembra?)  Por esta razão, antes de me magoar, fiz o encantamento para esquecer um amor impossível, e o entoei com todas as minhas forças. Mais tarde...Bernardo apareceu, tinha vindo andando de seu bairro até o meu, e eu fiquei feliz em vê-lo. O efeito não foi instantâneo, como pensei, então acreditei na frase dos Padrinhos mágicos "A magia não pode interferir em amor verdadeiro",(Qual é, se usam a mídia para nos doutrinar, por quê não seria real?) e o abracei com todo meu amor. Pouco a pouco a chama foi arrefecendo, o fato dele sempre está ali para mim, já não era o bastante, e com sua mãe, e meu pai tramando para nos separar, a situação estava cada vez mais difícil. Quando chegava em casa, e o via alegre, lembrava-me das palavras de meu pai. "Você quer alguém que caminhe contigo, ou que tenha de carregar nas costas?" E isso me chateava. Todo dia era o mesmo inferno na minha cabeça, e eu enfrentava todos por ele, porquê me achava forte o suficiente, para valer por dois, e que poderia mudar a situação. Então sempre antes de dormimos, lhe explicava que tinha de ir atrás de um emprego, já que não queria estudar, por considerar o diploma apenas um pedaço de papel, ao qual era atribuído muito valor, e  minha mãe já não suportava mais sustentar a nós dois, e era justo, porquê não éramos crianças. Mas em vez de me ajudar, ele só se levantava para ir procurar emprego, quando já não tinha opção, e se tornava muito cansativo, viver pedindo por seu auxílio. Assim como era um moleque, preferia deixá-lo, e colocava a culpa no meu pai, por me pressionar ao extremo.  E eu ouvia minha figura paterna, pois algumas vezes, parecia possuído pelo próprio Satã. Não de forma cruel, mas sim de maneira que me fazia questionar, qual espírito estava em seu corpo. Uma vez lhe disse que haviam me dito para não ingressar na magia, por não ser boa o suficiente, e ele respondeu irado: "Quem ousou dizer isso?!" Como se estivesse totalmente enfurecido. Sendo que meu pai Alexander, nunca foi a favor da magia, pra ele quanto mais eu estivesse longe do caminho esotérico melhor, já que meu tio Thales havia falecido muito jovem, por ter se envolvido com os mortos. Então se o meu DeuS, era contra meu relacionamento, deveria ouvi-lo, por mais que algumas vezes parecesse mesmo ser obra do Xande, e não de Satã. O problema foi logo resolvido, pela mãe do meu marido, que lhe conseguira um emprego em outra cidade, que ficava a horas de distância da minha. Não era fácil arranjar trabalho em Macapá, mas outra cidade? Isso não me agradava nem um pouco, só que era tudo o quê tínhamos, então tive de engolir e aceitar. Toda quarta-feira de folga Bernardo vinha me visitar, se deslocava de uma cidade para outra, apenas para me ver, e ainda sim meu amor por ele só ia diminuindo. Eu queria mais da vida, queria alguém poderoso e sedutor, não apenas um apaixonado, sendo forçado a trabalhar, por não ter ambição. A relação estava desgastada, e para piorar ele ainda veio me dizer que numa semana passada, tinha conversado com sua Ex Amora, que fez referência ao fato dos relacionamentos de Bernardo terem o prazo de validade de um ano. Eu odiava essa garota, tinha sido sua primeira namorada, era a favorita de sua mãe, a qual vivia trocando nossos nomes de propósito, para defender sua queridinha, que era cristã, então isso me subiu a cabeça. Após ele partir, me envolvi com uma pessoa na internet, e tive um caso virtual, que durou uma semana, porquê não era tão vadia, quanto pensava. Sim, foram só palavras, mas para mim ter dito tais coisas, significava o mesmo que ter a coragem de fazê-las. Significava que já não tinha mais amor, e logo cometeria uma terrível traição, ainda maior que esta. Era hora de dar um fim a tudo. Na outra visita de meu marido, este me contou que em uma das suas visões, me via trocando-o por uma pessoa da internet. O quê era estranho, pois sabia bem como apagar meus rastros, e não tinha deixado evidências. Passava no máximo 1 hora online, quando estava em sua presença, então não tinha como desconfiar. Foi quando me certifiquei de que ele era mesmo um vidente, como havia me dito na nossa primeira conversa. Neste mesmo dia, ele teve uma espécie de surto psicótico, ao me ver diante da tela do notebook, saiu para a cozinha, e começou a bater as portas dos armários, sem parar. Depois voltou para o quarto, retirou o Soul,(seu canivete de estimação) e colocou a ponta do mesmo, sob a minha garganta, com um sorriso macabro, alegando que as vozes lhe diziam para me matar. Entrei em pânico na hora, e abracei o computador portátil, até que o larguei, e comecei a me forçar a chorar, para alcançar alguma parte sua que estivesse sã, da mesma maneira que impedi minha mãe, de me matar a facadas aos 14 anos. Isso pareceu tocá-lo, por alguma razão me sentia muito mais segura no escuro, e isso me levou a apagar luz, e lhe dá as costas. "Se essas vozes te ordenam a me matar, é porquê não são boas para nós" disse-lhe lamuriada, até que me abraçou, e dormimos. Na madrugada me levantei, e lhe contei sobre o caso que estava tendo, ele para minha surpresa, me perdoo logo de cara, e quis continuar comigo, mas eu quis terminar, não achava justo permanecer com ele, depois de enganá-lo. O tempo passou, terminamos, e voltamos, porém agora estava comprometida com uma garota, chamada Fabrícia, que apesar da distância, era a minha namorada, e não mentia para ela, e nem para ele, estando ambos cientes de suas existências aceitaram os termos, mesmo que para Bernardo, fosse triste, já que agora não podia dizer sua frase favorita "Minha. Só minha". Faby foi uma amiga a distância, de São Paulo, por quem me apaixonei, devido a sua personalidade cativante, e seu jeito doce de lidar comigo. Era a melhor namorada que alguém podia ter, e por ela quase fui expulsa de casa, já que minha mãe ficou furiosa ao me ouvir que agora namoraria meninas. Chamou-me de aberração, monstro, e vários outros insultos. O quê me levou a terminar com a Faby, bem no dia que a pobre sofreu um acidente, mas ela era tão doce e perfeita, que entendeu minhas razões para findar o nosso relacionamento. 

























    Capítulo III

    Novas frustrações


    “Verdade, mentira não sei dizer, antes achava ser real. Hoje acredito

    que não passa de uma fábula.”


    Bernardo e eu fomos nos afastando. Toda vez que vinha me encontrar, estava namorando uma pessoa diferente, porém nem assim conseguia o deixar ir. Não importava quantos novos "amores" tivesse, não estava pronta para vê-lo sair da minha vida, mesmo sabendo que estava errada. Até que um dia veio alguém, que me ajudou a mandá-lo para bem longe mim.  Seu nome era Douglas, e eu o conheci por obra do acaso. Ele realmente não fazia o meu tipo, pois chorava o tempo todo, era doce, e educado, como um príncipe da Barbie, o único desenho de menina que não suportava. Mas por trás de tanta falsidade, havia alguém que não aguentava mais ser pisado, e estava prestes a explodir, e eu queria muito puxar o pino dessa mina. Não me leve a mal, naquele tempo estava obcecada com psicologia, e ver alguém tão vulnerável, me fez querer estudar a sua condição, e entender o quê se passa na mente de um louco. Precisava de algo novo na minha vida, após cometer um grande erro, e por esta razão, deixei que o único homem que me amava fosse embora. Ele o fez sem pestanejar, e até me ajudou a me conectar com esse estranho, mesmo com todos os sinais indicando que devíamos nos 

    afastar. Pois quando esse garoto começou a demonstrar sentimentos por mim, meu computador parou de funcionar, e como esta era a única maneira de nos falarmos, isso significava que os astros estavam dizendo "não" para o quê viesse. No entanto Bernardo era tão bom comigo, que fazia qualquer coisa para me ver feliz, e por isso ia até contra o universo, mesmo que lhe machucasse mais, do quê lhe trouxesse alegria. Um estranho relacionamento se iniciou entre esse garoto e eu, baseado em passar a maior parte do tempo, tentando trazer o seu pior lado a tona, porquê o seu estado normal me entediava. Ele era sempre gentil demais, e gente assim não é digna de confiança, porquê sua bondade é obrigatória, e não genuína, e eu preferia falar com o seu pior lado, porquê me parecia mais sincero. Quando explodia, podia perceber o quanto estava insatisfeito, e falar abertamente sobre qualquer assunto, para entender melhor sua mente tão perturbada. Entretanto quando estava sob controle, parecia um robô, programado para dizer "eu te amo", quando tinha vontade de dizer "eu te odeio". Com o tempo, fiquei tão fascinada pela insanidade de sua mente, que acabei gostando dele, mas de acordo com o próprio, por mais que estivéssemos juntos, ainda estava apaixonada pelo meu ex-marido. Ele acreditava nisso provavelmente, porquê quando se tratava de Bernardo, sempre pensava nos melhores momentos, e falava que seu único ponto contra era não ter ambição. Sempre fui o tipo de garota, que só mencionava as razões do término dos relacionamentos, mas com o Bernardo, era diferente, pois tinha sido a única pessoa, com que estive por um ano, e ele tinha me dado os melhores momentos, apesar de toda a escuridão em que vivíamos. Não conseguia esconder, o quanto era especial para mim, e isso o deixava furioso, só que eu não sabia o quanto. Até que um dia, ele me fez bloqueá-lo, e eu o fiz mesmo contra minha vontade, para respeitar o código de ética do namoro. Não satisfeito, Douglas me fez crer que Bernardo podia ser um demônio, que utilizava suas coisas para me atormentar, e por isso tinha de destruir e me livrar de tudo o quê fora dele, e agora estava comigo. Já deve saber que o fiz, com bastante relutância, não é? E me pergunto até hoje, porquê diabos não deixei aquele babaca, e voltei para o meu grande amor. Como já disse antes, alguém como ele não era digno de confiança, e após alguns meses de namoro tive certeza disso. Pouco 

    a pouco, ele foi me afastando de todos que se importavam comigo, só porquê eram meninos. Primeiro foi o Bernardo, depois foi o Benício, e quando vi fiquei totalmente sem amigos, e não entendi porquê. Com Benício, ele usou uma manobra diferente, em vez de dizer que era um demônio, me fez crer que estava se aproveitando de mim, e ganhando em cima das minhas custas. Lembra que Benício escrevia sobre minhas aventuras no mundo mágico? Aconteceu que ele transformou-as numa web série, na qual eu era uma das personagens principais, e assim ganhou grande destaque, tornando-se um sucesso nos blogs de séries. O problema é que antes dele escrever, eu já o fazia, e também estava criando a minha própria estória naquele tempo. Mas se assemelhava mais a American Horror Story, do quê Charmed, então era bem mais difícil de agradar o público. Isso então o fez parecer um oportunista como Elly que sempre roubava minhas ideias, e levava o crédito. Vendo isso os chifres de diabo, cresceram na  cabeça de Douglas, e ele intensificou meu sentimento de desgosto, até me fazer explodir, e afastar Benício  da minha vida de vez. Tudo isso por quê? Por ter ficado uma vez com o meu melhor amigo, logo depois de ter terminado meu casamento. Também tinha um amigo chamado João naquele tempo, e ele era um aspirante a maçom, não só isso, tudo indicava que estávamos ligados pela alma, e este jurava que a ligação era romântica. Meu namorado o detestava, tanto quanto ao Bernardo e o Benício. Só que este era muito mais difícil de tirar do seu caminho, porquê de alguma forma, ele via o seu espírito podre, e por esta razão não queria me deixar em suas mãos. Como se não bastasse todo esse drama, nesta época estava sendo bombardeada por informações do mundo místico, e todo mundo que se comunicava comigo, parecia ficar possuído. Como sabia? Lembra do surto psicótico de meu ex-marido? Ele na verdade foi caracterizado como possessão, por uma bruxa satânica, que me elogiou por ter sabido lidar com isso, e me deixou um enigma, que levei tempo para responder. “Agora entendo. Sua mãe foi apenas o ovo, você sempre pertenceu a Satã.” Ao falar com os possuídos sempre vinham novos enigmas, uns simples, outros não, mas alguns deles chamaram a minha atenção. “Você tem um futuro extraordinário na magia”, “Você é filha de Lilith e Lúcifer”, “Você é a herdeira do Inferno”, “Você é forte por ter luz e trevas”, “Você nunca vai conseguir reinar”, “Você tem o dom de manipular mentes”, coisas assim. É claro que duvidei de ser possessão, acreditava mais que aquelas pessoas tinham sérios problemas mentais. Mas o fato de não terem ligação entre si, e dizerem o mesmo texto, me fez acreditar que podia ter um fundo de verdade, por isso fui até o único bruxo que acreditou em mim. Seu nome era Agares Fragoso, um senhor de idade, que estudava magia há muito tempo,  e havia criado uma nova vertente do Satanismo, que era destinado a abrir a mente das pessoas, para a verdade de Satã. Ele tinha sido quase como um mestre para mim, e foi o primeiro que deu significado ao meu sonho com Satã. Ele confirmou, o quê estava acontecendo, e isso me mostrou que sim era filha de Lúcifer. Tal coisa me trouxe alegria? Não, nenhuma na verdade, pois a primeira coisa na qual pensei foi “Isso é o ápice da poseragem satânica, serei uma piada se falar nisso.” E depois, filha de Lúcifer? Sério? O CDF do ocultismo, que detesta a massa e seu conteúdo?! Por quê não de Satã? Ele sim é um exemplo de como sou, um nerd descolado, cheio de si! Eu não tenho nada a ver com Lúcifer. Talvez você não entenda o contexto, mas li no manual do Satanista de Lex Satanicus, que Lúcifer e Satã são os gêmeos negros. Então embora muitos confundam e digam que Lúcifer e Satã são o mesmo ser, esta é uma alegação distante da verdade. Aquilo era horrível, e para piorar ainda vivia tendo visões estranhas sobre o paraíso, conhecido como Éden. Via um anjo e uma mulher transando na copa de uma árvore, com paixão e furor, e não sabia o porquê. Também via o inferno, como um reino semelhante a Terra, com a diferença de que continha magia, e estava anos luz a sua frente. E via como minha vida tinha sido lá. Diferente da minha vida neste mundo, ali era querida, popular, e um sucesso na escola de magia, tinha vários amigos, e “pegava” tantos demônios, que fazia jus ao meu título de mini Lilith. Todos diziam que era a cópia perfeita de minha mãe, e que assim como ela seduzia a quem quisesse. Até que um dia me apaixonei, e abri mão desta vida descarada, da mesma maneira que ocorreu com ela, quando se encontrou com Lúcifer. Naquele tempo dava minha cara a tapa, de que estava eternamente casada com aquele mentecapto, e isso me deixava sem reação. Mas apesar de achar tal coisa, uma possuída, irmã por parte de Lilith  chamada Maysa me disse que estava enganada. Só que não a ouvi, porquê achava que ela era afim do meu namorado, e só queria me tirar do jogo. Não tardou para confirmar minhas desconfianças, pois mais tarde essa mesma irmã, me disse que ele era seu noivo infernal, e que eu o tinha roubado na outra vida. Se casamos ou não, eu não sabia, todavia como o desgraçado que ele era, me fez acreditar que sim. De alguma maneira, depois de confirmar que era filha de Lúcifer, fui de mortal inútil para “você é o amor da minha vida”. (O quê uma coroa não faz) Após ser bombardeada com informações, sobre quem era no meio de toda essa loucura. Vieram vários rapazes alegando amor por mim, e tudo no quê pude pensar foi “Só me querem, para subir na hierarquia infernal”. Minha vida virou um inferno, e não tive para quem correr. Foi quando Bernardo apareceu na minha porta, o único com quem tinha me juntado, de uma maneira, que jamais poderia me separar. Eu não sabia como reagir, mas também não tinha certeza se o Douglas era ou não, o ser com quem estive por tanto tempo, o demônio que me pegou nos braços em minhas visões. Por isso apenas fui fria, e fiz o possível para que meu ex-namorado fosse embora. Aquilo me destruiu, ainda tinha sentimentos por ele, mas alguém tão conformista como ele, não podia ser o meu marido das visões. É claro que um relacionamento abusivo desses, não durou tanto tempo, em novembro soube que meu lindo namorado tinha me traído com sua amiga, e ainda usou sua insanidade para justificar o ato. Fiquei furiosa e paguei na mesma moeda, porquê sempre lhe avisei, que se fizesse algo assim pra mim, iria me vingar. Só que no momento que beijei o outro cara, quase fui estuprada, e por isso entrei em pânico depois. Por mais chateado que tivesse, e o quanto babaca fosse, ele foi atrás do cara e o ameaçou de morte, e isso me fez lhe dá algum crédito. Nos preparamos então para nos conhecer, mas algumas semanas antes, tive um desmaio, e isso trouxe mais uma revelação. No sonho fui parar em um cemitério, e ali fiquei rodeada de espíritos histéricos, que repetiam sem parar algo como “Morte, dinheiro, e falsidade”. Não entendi o porquê daquela viagem astral, até que aconteceu. Nunca fui boa em lidar com o fantasma traição, como bem sabem, deixei o homem mais perfeito para mim, porquê tinha lhe traído. Então quando estive do outro lado da moeda, só pensava numa coisa: Terminar. Todo dia Douglas vinha com a mesma choradeira, seguida de outra tentativa de suicídio, que já não me comovia mais. Só me vinha a mente voltar para Bernardo, que tinha sido a melhor pessoa que conheci em toda minha vida, e ouvir as músicas do cd que deixou pra mim, não ajudava nem um pouco. Sentia apenas raiva de Douglas, raiva por tudo o quê me fez passar, e ainda ter que suportar o fato de receber seus chifres, por isso na noite de natal, 2 dias antes de viajar para minha cidade, eu lhe dei um fora, sem pensar duas vezes. Na noite seguinte, sonhei com ele muito magro, me abraçando no escuro, enquanto dizia “por quê está fazendo isso comigo? Eu te amo” e fiquei preocupada. Fui procurá-lo, querendo conversar, não podia deixar tudo o quê passamos, e acabar assim, mas foi como se eu não existisse para ele, e no mesmo dia, meu avô faleceu. Não fiquei chocada com aquilo, estava triste demais, por ser ignorada por alguém que dizia preferir a morte, do quê me perder. Pensava no que tinha feito de errado, para que agora nem lembrasse de mim, e não viesse me socorrer, num momento tão delicado. Cheguei até a acreditar que havia sido vítima de um despacho astral, e ele estava enfeitiçado, assim como no romance Os imortais, que estava lendo, mas nem assim voltou a falar comigo. Me senti sozinha, abandonada, sem suas milhares de SMS por dia, e assim entrei numa depressão profunda, na qual as minhas tentativas de suicídio, se tornaram diárias. Eu não tinha mais ninguém, nem amigos, nem namorado, e os que ficavam por perto, pareciam torcer pelo meu sofrimento. Parece que estava perdidamente apaixonada certo? É aí que se engana, ele criou condições para isso, e o quê me fazia sofrer, não eram os sentimentos, e sim a dependência que se fez ter. O ano de 2012 terminou assim sombrio, e o de 2013 se iniciou ainda pior. Em 15 de Fevereiro, fiz 18 anos, e apesar de ter muitos motivos para comemorar, nesse dia estava desanimada. Parte de mim sentia-se feliz por chegar a maior idade, e a outra parte torcia para que tudo se ajeitasse, e como não era de perder uma festa e bebedeira, resolvi comemorar no sábado, e tratei aquele dia como outro qualquer. O Papa já havia renunciado recentemente, e um raio tinha caído na basílica, no mês que atingiria a maior idade, então nada mais poderia acontecer certo? Errado, como em 11/11/2011, algo veio a tona. Ah não contei? Bem, não é tarde demais! Em 11 de novembro de 2011, sabia que algo grande ia acontecer, já que devido ao meu fascínio por conspirações, tinha lido sobre a importância do número 11 para elite, que significava 1 número a frente de Deus, e minha melhor amiga Gíulia concordara comigo, só que concluiu, que o fato passaria despercebido pelos leigos. Naquela noite adormeci, e então tive um sonho. Era de noite, e havia uma enorme passarela de granito, acima de uma cachoeira cristalina, com um pilar no final. Eu estava com uma túnica ritualística preta, e caminhava descalça em linha reta, até o final da ponte de pedra. Ao chegar no meu destino, encontrava um painel, com símbolos exóticos que pareciam de outro mundo, e de alguma forma eu os entendia. Ajeitava-os em ordem, passando os dedos entre eles, e então olhava para o céu, e via um cometa sair do vazio e voar por ali. No dia seguinte, contei sobre este sonho para a minha mãe, e esta me falou que saiu no jornal, que um astro passou mesmo no céu aquela noite, e não só isso, segundo os estudiosos, este tinha sido igual ao meteoro, que passou pela Terra,  antes do dilúvio bíblico no passado.  Isso sim me deixou surpresa, e me fez questionar, se de alguma forma eu tinha causado aquilo. Como disse antes, esta não foi a única experiência que tive, e foi no meu aniversário que a outra veio a acontecer. Em pleno dia 15/02/2013, data em que fiz 18 anos, um meteorito caiu na Rússia, deixando vários feridos, e servindo como um dos sinais do Apocalipse. Por conta deste fato, alguns satanistas defenderam que eu era mesmo filha de Lúcifer, e de fato o anticristo destinado a reinar na Terra. Isso me deixou animada, era uma prova, quase incontestável do meu suposto destino grandioso, e mesmo que não tivesse ninguém, imaginava que minha vida iria melhorar, pois estava no caminho pelo qual devia seguir, e a mão esquerda logo me reconheceria. No dia que comemorei meus 18 anos, tirei uma foto com os metaleiros, e o brilho dos meus olhos saiu verde, algo quase inumano. Como se isso não bastasse, em março daquele ano fui surpreendida com uma aparição, bem peculiar. Sai com os meus “amigos” para o formigueiro, uma pracinha que ficava atrás da igreja São José, onde os roqueiros se reuniam para beber. Como sempre me sentei num canto afastado dos demais, e fiquei conversando com a Rosa. O céu estava nublado, haviam muitas pessoas, e eu estava com o ar de soberania, que só uma princesa infernal tem, pois tinha certeza de que era filha de Lúcifer. A primeira, a inabalável, a princesa das sombras, o anjo que servia o inferno, entre outras bobagens. Um homem de idade, todo vestido de preto se aproximou, usando um hexagrama, e carregando um livro preto. Cumprimentou a todos, com um sorriso, simpático e gentil, enquanto ouvia-se o boato de que era um pedófilo. Por razões mais do quê óbvias, eu realmente odeio esse tipo, mas ainda sim dancei sua música, e fui cordial com ele. Ao tocar minha mão, ele alegou que eu era do signo de leão, por ter um espírito muito forte, esta não era a primeira vez que ouvia sobre meu poder espiritual, mas o erro do signo me fez sorrir com pura arrogância. E no momento que meus dentes foram expostos, este largou minha mão, assustado como um cordeiro que acabara de ver um lobo. Por trás das lentes negras de seus óculos, pude ver o pânico se instalar, era como se soubesse quem estava ali, e por não ser uma mortal frágil, ele decidiu fugir. Sem dizer nada, e a passos rápidos, se afastou dali, como quem viu o olho de Sauron, deixando de cumprimentar os demais. Eu ri e me gabei para Rosa que viu tudo, mas a aventura não terminou aí. Quando deu 17 horas, o grupo decidiu mudar de lugar, e saímos para a praça da bandeira, quando 3 frades da entidade Capuxinhos chegaram ali. Ao passar por mim, estes evitaram olhar em meus olhos, pareciam temorosos, e seguiram para a igreja com rapidez. Não liguei, afinal de contas eram religiosos, é claro que ficariam assustados, com qualquer um, que não fosse o sinônimo do divino, então segui o meu caminho. Quando escureceu, uma das meninas avistou novamente o grupo de frades, mas desta vez não eram apenas 3, e sim 12 ou 13, que marchavam pela rua como se fossem soldados caçando algo, e este algo certamente era eu. Após este fato me tornei paranoica, pois era muita coincidência, ter muitos frades, no mesmo lugar em que se encontrava a filha do inimigo deles não? E por medidas de segurança, comecei a postar “Se eu desaparecer, me procurem no Vaticano!” Por quê? Oras todos dizem que anjos não fazem mal, ou que as entidades católicas, são apenas para a caridade, mas isso é um fato quase falso. Pois em 1500, quando muitos se recusaram a seguir a fé em Cristo, estes foram jogados na fogueira, sem dó, nem piedade, por entidades que pertenciam a santa fé, ou quando Sodoma e Gomorra caíram no pecado, todos foram aniquilados pelos anjos. O quê significa que eles só não matam e torturam, quem segue as suas regras, e como eu não só não as seguia, como carregava o sangue demoníaco, certamente seria um alvo, numa guerra que estava prestes a começar. Por conta de tudo o quê sabia, e sentia ser real, vivia tendo pesadelos, nos quais um anjo de olhos brancos me perseguia, tentando me destruir a qualquer custo, como se de fato fosse a chave do Armagedom, do qual Agares havia  falado, mas enquanto um anjo tentava me matar, outro descia dos céus para me defender, assim como quando sonhava com cobra, uma avançava em mim, e a outra me protegia. Nessa época passava muito tempo dormindo, era melhor que viver rodeada de gente, que torcia pra eu me acabar em depressão, por isso tive todo tipo de sonho bizarro, que se possa imaginar, mas isto fica para um próximo livro. Em 13 de julho de 2013, fui ao dia do rock com Rosa, ela estava caindo de bêbada, e como cuidou de mim lhe devia uma. Nesse dia, por alguma razão Douglas mandou mensagem, algo que era bem comum naquela época, pois após o término e fingir que eu não existia, passou a aparecer de vez em quando, só para me atormentar. A gente ficou discutindo, não me lembro porquê , mas por causa disso, fiquei tirando e colocando o celular de dentro da bota, até que um moleque veio e o roubou de mim. Mas já era de se esperar, estava longe da multidão, numa construção deserta, porquê Rosa não queria vomitar em público. No começo ri, não acreditei que aquilo estava acontecendo comigo, e quando fui ameaçada de morte, corri atrás do assaltante, mas este foi mais rápido naturalmente. Ao contar para a policial, esta me olhou com desdém, como se eu fosse uma menor, que estava infringindo a lei. Não aguentei e gritei com ela, foi preciso que o grupo de meninos com o qual Rosa viera, me segurasse, para me acalmar, e no meio da confusão, ainda haviam dois meninos brigando para ver quem me consolava. Mas estava com tanta raiva na hora, que nem liguei. Senti meu corpo pulsar, como se meus pés não tocassem a sola da bota, e fiquei com medo de flutuar ali na multidão, por isso abracei um dos rapazes. Ao chegar em casa, fiquei fora de mim, e gritei com um rugido de leão, sobre ser fraca, chutando tudo ao meu redor. Estranhamente, na hora que surtei, os cães e gatos ficaram loucos, latindo e miando sem parar, como se eu estivesse possuída, e esta foi a mesma conclusão da vizinhança, que mais tarde vim saber, que acreditavam que eu estava com o satanás no coro. Ainda naquele ano houve mais um fato, eram 6 horas da manhã, noutros tempos estaria indo para a escola, mas naquela época tinha me formado no ensino médio, então só estava vagando na internet, procurando por respostas como “qual era meu nome infernal” e se haviam mais pessoas que acreditavam na minha existência. Sim a esta altura, tinha embarcado no trem da loucura, e não ia descer na estação da razão. Pra piorar haviam muitos fanáticos de diversas igrejas, que não só acreditavam na existência da filha de Satanás, como também a temiam. Uns diziam que hoje em dia era velha por ter habitado a Terra, muito antes do homem caminhar por ela. Outros alegavam que era uma jovem, e que quem se casava com ela, trilhava o caminho da escuridão. Mas a que me deixava de queixo caído, era a que falava sobre ela ter sido expulsa do paraíso, pelo próprio Deus, que não queria dividir suas glórias. Por quê me deixava assim? Devido a minha visão do anjo e a mulher copulando no paraíso. Além disso consegui desvendar qual era o meu nome, mas isto será explicado adiante. Em meio a todo este turbilhão de ser ou não ser, algo ainda mais fantástico aconteceu. Numa manhã qualquer, estava diante do meu computador, falando com uma das milhares filhas de Lúcifer, que ao contrário de mim, eram super bem recebidas pelo público satânico, enfim...sem muito ânimo, porquê vi que o fato de ser da realeza infernal, não mudaria nada na minha vida, poucos acreditavam em mim, e minha popularidade continuava baixa então de que adiantava ter uma coroa?. De repente a luz começou a piscar, como em um filme de terror, e pensei “ah ótimo, lá vem uma assombração encher o saco!”, mas com um pouco de animação, resolvi falar sobre. Foi quando o sinal caiu, e ouvi o barulho de algo no lado de fora de casa, parecia uma nave especial, e por isso corri para abrir a janela do meu quarto. Para a minha tristeza, não tinha nada lá fora, mas o barulho permaneceu, e me lembrei do O galinho Chiken little, onde as naves podiam se disfarçar entre as nuvens. Se havia ido parar no cinema, é porquê queriam que  a humanidade soubesse, do potencial das naves extraterrestres, não? Entrei para o cômodo, e me deparei, com uma esfera dourada flutuando diante de meus olhos. Por incrível que pareça, não surtei, apenas fiquei fascinada pelo fato e sorri. No entanto, assim que percebeu que estava sendo vista, a bolha de energia foi rapidamente para a parede, e então desapareceu, deixando tudo normal outra vez.Na semana seguinte, fui para o meu primeiro estágio, pois precisava de dinheiro, para ajudar na casa. Era 14 de agosto de 2013, e o dia foi estranho do começo ao fim, naquela noite sonhei que fugia de um lugar semelhante ao cenário do primeiro jogos mortais, e ao escapar me deparava com a rua de minha casa, onde recebia uma facada no útero, mas não sentia dor, apenas me dissolvia em energia até desaparecer. Acordei sem vontade de ir para o trabalho, e como minha mãe na maioria das vezes dizia sim, para o quê eu pedia, pensei que fosse me deixar ficar em casa. Para minha surpresa, ela não deixou, e fui para o escritório do jornal, do qual o amigo de meu pai era o dono. Lá foi interessante, até divertido, e senti que devia voltar, pois queria seguir a área do jornalismo, para expor estes fatos estranhos na mídia, e abrir os olhos dos mais céticos. Só que quando cheguei em casa veio o abalo, logo que entrei na ladeira, vi que houve um incêndio, e brinquei com minha mãe dizendo "Desta vez não fui eu.", já que neste tempo, toda vez que ficava furiosa, algo pegava fogo do nada, o quê fazia eu me sentir uma verdadeira mutante da geração X. Todavia da mesma forma que o sorriso brotou, ele foi derrubado, quando notei que a janela de casa estava aberta, até briguei com minha mãe, lhe dizendo que tinha esquecido, mas esta percebeu logo, que sofremos um assalto. Outra vez fiquei fora de mim, sai chutando a porta, e quando o marginal do meu vizinho passou por mim com o ar de satisfação, quase lhe desferi um golpe. A porta foi fechada por dentro, e quando abrimos, apenas o meu quarto estava revirado, totalmente bagunçado cheio de sacolas, e vazio. Meu primeiro pensamento foi "levaram meu notebook! Justo onde estava digitando o meu livro, e onde tinha metade da minha vida!" Fiquei em choque, e quando fomos a polícia registrar o roubo, tudo se tornou ainda mais esquisito, pois eles pareciam zumbis, programados para agir de uma maneira robótica, sem qualquer consciência. Citei sobre o tal incêndio da casa de baixo, e a única resposta que tive foi que ele não foi criminoso, e quando a perícia chegou, concluiu que o roubo ocorreu sim, na hora que a residência da vizinha pegou fogo. Minha fé em Lúcifer foi totalmente abalada, me senti só e desprotegida, como nunca antes, e isso me deixou mergulhada em trevas. Naquela tarde, tentei entrar na minha conta Carry Manson do Facebook, onde tinha uma página, que estava a crescer, tanto pelos meus contos, quanto por minha vida real, mas a senha foi alterada, e me tornei um fantasma virtual, como se nunca tivesse existido. Sim, tudo no mesmo dia. Após perder tudo, tive de recomeçar do zero, e passei a ler mais, tentando usar o fato da forma mais positiva que pudesse. Criei uma nova conta, e continuei a expor minhas visões, porém parte de mim ficou temerosa, pois tinha me envolvido com algo muito sério pelo visto, e provavelmente sabia mais do quê deveria, e queriam me calar. Pouco tempo depois minha fé foi restaurada, porquê ás 19:15 da noite, o meu professor de balé foi preso, com exatas 11 acusações de abuso, e mandado para o pior presídio do Estado, e assim soube que Lúcifer ainda estava ali por mim, pois me trouxe a justiça, que o povo de Deus, passa anos e anos esperando, mas nunca vem, e as vezes o cara ainda é perdoado por se converter. Ainda neste ano, tentei realizar meus sonhos, e comecei indo para a aula de canto, pensando ser a rainha soprano, até ser descartada e taxada de mezzosoprano lírico. Por quê é relevante? Bem porquê quando voltei da aula, minha mãe viu fantasmas. Era sábado a tarde, e ela me pediu para comprar pão, fui até a padaria, e quando voltei, esta me disse que tinha visto um homem torturando uma mulher, na janela da cozinha, e achava que isso se dava, porquê meu professor impôs que cantássemos um hino de igreja, mas ignorei. Até que no domingo a noite, passamos por um carro, e este ligou os faróis , admito que fiquei com medo, e deduzi que tinha alguém no carro, até que minha mãe me empurrou, e vimos que não havia ninguém ali. Pouco tempo depois de ter sido transformada num pó virtual, saiu nos jornais que os E.U.A estavam vigiando o Brasil, e todos ligados a presidente Dilma, o quê era estranho, pois vivia tendo sonhos com ela, nos quais esta vinha na forma do cavaleiro guerra e conversava comigo, e eu contava a minha mãe, que ficava de queixo caído, e acreditava em mim, o quê me dava forças para evitar remédios, apesar de achar que estava a beira da loucura. E o quê me fez duvidar ainda mais da minha sanidade, foi esse fato que contarei a seguir. Eram 18:30 da tarde, meu quarto estava todo escuro, quando me deitei, e ouvi o Apocalipse sendo recitado por várias vozes, de forma tão perfeita que não parecia vim de mim, eles mencionavam sobre a Marca da Besta, e eu não sabia porquê, até que contei a uma amiga, e esta me mostrou a imagem de um contrato, assinado pelo Barack Obama, onde este aceitava o chip 666 mondex no país, que era um apetrecho tão pequeno que servia para colocar na mão ou na testa exatamente como nos textos bíblicos. Foi quando passei a me dedicar aos estudos da bíblia, percebendo que estávamos mais longe do quê eu pensava. Achava que o Apocalipse se iniciaria logo, não que já estava acontecendo. Não sei porquê ouvi essas coisas, justo quando a marca foi instalada, mas sei que tem alguma razão para isso, e não é a loucura. Neste ano me perdi de vez, não via com quem contar, não tinha bons amigos que me entendessem, e os que ficavam ao meu redor, sempre "curtiam" ao meu sofrimento. Por isso me tornei cruel e dura, e desta maneira quase perdi para todo o sempre, o amor da minha vida. Estava tão entorpecida pelo veneno destilado por Douglas, que nem sequer via, que tinha alguém que de fato me amava. Era um dia de maio, quando eu e Bernardo voltamos a nos ver, e dormimos juntos, mas o clima não foi de romance no fim das contas, pois no dia seguinte lhe disse a seguinte frase: "isso não quer dizer que te amo, nem que vamos voltar!" e este partiu sem dizer nada. Não achei que o machucaria tanto, porquê para mim, ele já tinha aceitado o nosso fim, e aquilo era uma recaída, mas hoje acredito que foi o pivô de sua destruição. Dando continuidade aos fatos, lembra-se do ódio mortal que senti do menino que roubou meu celular? Bem, ele foi tão grande que me fez lhe ameaçar de morte por sms, deixando

    claro que não sabia com quem estava se metendo. E alguns meses depois em outubro

    daquele ano, cheio de fatos incríveis, houve o grande incêndio do maior ninho de bandidos

    de Macapá, o bairro Perpétuo Socorro. Lugar que por coincidência se localizava a igreja favorita de minha mãe, e foi nesta que ela fez a promessa, de me colocar um sobrenome

    ridículo, por causa de um "milagre". É, minha vida tem mais eventos paranormais ainda, e estes ocorrem desde que nasci. Enfim praticamente o bairro inteiro pegou fogo, e as chamas eram tão intensas que teve uma repercussão nacional. O quê me deixou por um lado feliz, pois me senti vingada, e temerosa porquê alguém estava atraindo os holofotes exatamente para onde eu morava, e eu não queria ser descoberta, não pelo inimigo, não sem guardas demoníacos para me ajudar. Depois desse fato houve outro, eu e minha mãe brigamos por religião, porquê esta uma vez puxou uma faca de carne para mim. É impossível esquecer, era véspera da  véspera de natal, eu tinha 14 anos, e estava animada para a data, imaginando como seriam os cartões virtuais dos meus amigos obscuros. Seus olhos ficaram  amarelos, bem claros, e ela pulou em cima de mim, após eu lhe provocar. Me chamando de monstro, de demônio, e tentou me matar. Eu só sobrevivi, por ser muito boa em manipulação de pessoas, que são excessivamente emocionais, além de ter tido tanta adrenalina, que fui capaz de lhe imobilizar com facilidade. Do contrário hoje não estaria aqui, contando a história, como resultado houve um desastre num evento religioso da nossa cidade, e alguns se

    foram.  Como sempre, toda vez que eu estava por perto, ou remotamente envolvida, algo bem devastador acontecia.  O ano de 2013 terminou com todas as desgraças, e o ano de 2014 se iniciou diferente dos outros. Em janeiro daquele ano, sai com um rapaz, que era tão conspiracionista quanto louco, e logo nós começamos a namorar. Nosso primeiro encontro foi inesquecível, porquê mais uma vez fui assaltada, mas desta vez foi ainda melhor, porquê enfrentei o assaltante, e se meu pretendente Ronny não me puxasse, teria tomado uma facada na garganta. Mas o relacionamento não durou nem uma semana, porquê o idiota do meu único amigo Rodolfo, que estava tão na pior quanto eu, porquê tinha magoado a minha melhor amiga Marisol, resolveu se declarar, e como eu já estava gostando dele desde novembro de 2013, fiz o quê meu coração mandou, fui sincera com o meu par, e terminamos numa boa. Meu coração era burro, ele não gostava tanto assim de mim, e já era de se esperar. Viramos amigos porquê depois de tanto pegar no meu pé, por eu dizer a Mari que ele devia respeitá-la, viu a chance de se reaproximar da ex maravilhosa que perdeu, mas infelizmente na mesma época nós perdemos o contato, porquê devido a minha obsessão com o fato de ser filha de Lúcifer, acabei brigando com Mari por ter mais destaque que eu, mas antes  fiz de tudo para que voltassem, achando que ele tinha mudado, e estava pronto para um recomeço, com a melhor pessoa do  mundo. Como não restou mais ninguém, a

    gente se aproximou, e com ele conheci umas novas bandas bem legais de rock, além de conhecer o Howard Philips Lovecraft, o autor de O chamado de Cthulhu. Aquele que deu origem a ficção científica, envolvendo aliens, com uma obra que influenciou na criação do filme Doom a porta do Inferno, e muitos outros que seguiam a mesma temática. Fora isso, Rodolfo era um tremendo babaca, dava em cima de todas, e vivia tirando onda comigo, então foi outro relacionamento curto. Como tudo deu errado em 2013, não vi outra escolha senão entrar na faculdade, e escolhi Ciências Biológicas e Enfermagem, mas só passei para o primeiro, em 11° lugar. As aulas começaram, e logo no primeiro dia, me deparei com um nerd, que de imediato me atraiu, mas como não sabia qual era a dele, evitei seus olhares. Na hora de responder o porquê da escolha do curso, eu disse logo que estava ali, para estudar a vida alienígena, sem me importar se viraria a "louca dos ets" afinal de contas, não conhecia ninguém, então não tinha nada a perder. A minha resposta foi a melhor na qual pensei, pois seria pior dizer que graças a panspermia cósmica, não cometi suicídio. A esta altura tinha novos problemas para resolver, como provar que não só filhos de demônios e anjos existiam, como também podiam ser encontrados através dos genes, e enquanto lutava para ter sucesso, minha nova irmã de Lúcifer e Lilith Isabela, o obtinha sem mover um dedo. Será que o segredo está na idade? Quanto mais jovem mais chances de brilhar? Bem não sei, mas admito que é o quê parece. Pra piorar, ela vinha se destacando tanto, que era impossível não sentir raiva, pois até os meus amigos a admiravam. Outra vez alguém mais jovem, roubando o meu lugar, então não andava lá muito feliz. Certo dia o garoto que achei bonitinho, levou uma revista sobre os vilões, e por esta razão me aproximei. Descobri que seu nome era Thomaz, e falei sobre ir pro curso, para poder dissecar sapos, e ele me mostrou que dissecou um rato, ali me apaixonei. Nós começamos a conversar, e o fato de ser tão inteligente me deixava fascinada. Que belo intelecto, que bela pessoa, será que tinha tirado a sorte grande? Claro que não, ou então hoje em dia não seria casada outra pessoa. Mas voltando , ele parecia está na minha também, vivíamos grudados, e uma vez acho até que tentou me beijar mas desviei, por medo, por fidelidade a Rodolfo, ou sei lá o quê. No entanto dei uma festa, bebi demais, levei um fora dele, e isso terminou comigo me cortando no pescoço. Eu sei, parece que não tenho maturidade, só que foi mais uma coisa que deu errado, e pra piorar as cartas de tarô que sempre acertaram sobre meus fracassos românticos, pareciam ter errado sobre o meu sucesso no amor. Não tive cara para reagir, só soube mais tarde que ele confessou a minha mãe, que gostava muito de mim, e não queria que eu fizesse isso. Depois veio falar comigo, e as coisas foram ficando estranhas, na semana seguinte soube que não ficou comigo porquê tinha namorada, pior sua namorada era amiga de uma das minhas melhores amigas, a Ana, e eu a conheci. A menina foi  gentil comigo, e nos demos muito bem, me senti culpada, e por essa razão decidi ir me afastando. Quer dizer se a garota fosse uma megera, iria lutar até tirar o cara dela, mas alguém tão gente boa, não merecia isso, logo voltei pro Rodolfo, com quem tinha terminado para não trair. Algum tempo depois da festa do desastre, ele e a namorada terminaram por algum motivo, se não me engano, problemas com o horário, e como Rodolfo era um idiota, novamente fui a luta, mas as coisas ficaram estranhas entre a gente, ele parecia cada vez mais próximo de sua amiga , como se estivesse apaixonado por ela, e suas ideias toscas sobre ateísmo, pois se tornou ateia apenas porquê Deus, não lhe deu nada do bom e do melhor, para piorar mais suspeito ainda, notei que meu livro de magia negra de São Cipriano, foi marcado na página "como obrigar alguém a te amar", e isso me fez questionar se ela não o enfeitiçou. Novamente fiquei sem amigos, a popularidade, estava relativamente em alta, só que pra mim não era o suficiente, e foi assim que fiz amizade com , uma evangélica, que além de bonita, era uma CDF de primeira que me ajudava com minha autoestima.  Porém vez ou outra ainda via o menino e seu grupo, que não parava de crescer, só que ele me fazia de trouxa tipo 100%, por isso fui criando raiva, mas não me afastei por completo. Levou tempo até entender que a Cláudia, não o enfeitiçou, mas sim deve tê-lo envenenado dizendo que provavelmente eu o fiz, afinal de contas todos sabiam que eu era satanista, e por isso esperavam o pior de mim. A faculdade virou um inferno, era um joguinho chato, que não dava para suportar de maneira alguma, porquê enquanto eu falava que era filha de Lúcifer, e tinha muito a ensinar a este mundo, como uma princesa alien, ele preferia a mulher do "foda-se Deus e o sobrenatural que faz parte dele!". Falei, falei, fui insultada de burra, até que resolvi me calar, as pessoas creem no que bem desejarem, e se querem ser idiotas, que sejam. Achei que nada podia piorar, já tinha cometido grandes falhas, me apaixonar por um idiota, ter ido pra casa de um estranho, onde quase participei de uma orgia, depois de ficar com as garotas, ter dormido com o dono da casa, ter dormido com o namorado, da sobrinha da minha tia, e por fim ter partido o coração de um rapaz, muito legal que se chamava Fred. Ele é marcante porquê graças a sua forma de agir perante a minha traição, mesmo sem ter certeza que a gente estava num relacionamento, percebi que estava me tornando uma vadia fria, e não me senti nada bem com isso. Queria mais da minha vida, do quê me tornar uma Elly, por isso senti um alívio, quando Bernardo reapareceu, e estava namorando. Todas as minhas amigas falavam que ele não tinha

    me esquecido, mas o fato de está com alguém, provava o contrário. Agora podíamos

    ser amigos, como teria acontecido, se Douglas não tivesse interferido, eu podia lhe pedir desculpas, pelo mal que causei, e tudo iria dá certo, até me ajeitar com alguém também. Só

    que quando testamos essa amizade, as coisas ficaram fora de controle, ele tentou se afastar

    , mas me aproximei, até beijá-lo de surpresa, o pior é que foi ótimo, teve ardor e magia, e por

    esse encontro de bocas, toda a minha perspectiva mudou. Na semana seguinte tudo no quê eu pensava era em voltar com o B, ele sabia que eu gostava de Thomaz, mas aceitou me ajudar quanto a isso. Houve uma nova reunião na minha casa, dessa vez com vinho e um cigarro de maconha, esta era a terceira e última vez que fumaria isso na minha vida, as outras ocorreram na faculdade, junto da minha paixão platônica. B e eu voltamos, e de alguma forma, tínhamos uma química inegável, que dava inveja nos mais próximos. Quem eram os convidados? Claúdia, Thomaz, e o resto do nosso grupo, e o ciúme daquele que segundo o próprio Thomaz, só tinha desejos carnais por mim, era bem evidente. Ele tentava se aproximar, e eu só jogava meu charme, não queria ferir a ninguém, mas também estava cansada de ser pisada. Nesta noite houve algo que nunca antes tinha acontecido, de alguma forma eu acabei no meio dos meus possíveis pares. B estava confiante, até mesmo conversava com T, que estava claramente inseguro, e eu me sentia no topo. Até que fui pra fora de casa fumar um beck, e fiquei abraçada ao B, T viu, e seu olhar de fúria foi tão perceptivo, quanto o brilho de uma estrela a noite. Este me encarou, eu sorri com muita satisfação, e ele tentou literalmente me queimar viva, tacou fogo no meu cabelo. Mas a noite não acabou aí, Cláudia vendo que eu estava ganhando terreno, tentou levá-lo embora mas o garoto não queria ir, como se quisesse ter certeza de que B fosse embora antes. Só que como Cláudia, é uma papa anjo como minha mãe, ela sabia como virar o jogo, ela era a carona dele, por isso ameaçou ir embora, e quando todos foram nem me levantei para abraça-lo. Foi épico, e naquela noite eu ri muito ao lado do B, porquê conquistei uma vitória bem ao estilo Carry the Devil. Porém não deu em nada, a não ser no fato de T, começar a demonstrar mais os seus sentimentos, sem confessar alguma coisa, e vendo que isso irritava um pouco o B, fui deixando de ir as aulas. Pra uma coisa que era meramente carnal, ele agia bem diferente do padrão, e acho que cheguei perto de ter algo mais, porém desisti no último minuto. Já tinha tido muitas lutas como essa, por amores que não valeram a pena, por isso resolvi acabar de vez, com esse sentimento. Pouco a pouco fui sumindo da faculdade, até tomar a decisão de abandonar de vez, porquê não tinha mais jeito. Eu joguei, foi divertido, todavia só valeu a partida, pois no fim das contas ninguém venceu. Ele me perdeu de vez, mesmo demonstrando que quisesse que eu ficasse, voltou com a ex, terminou com a ex, me procurou no Facebook, mas eu o recusei depois de muito deliberar. Eu e B voltamos, tentei parecer feliz, mas não me sentia lá muito realizada. Ele agora era mesmo o babaca que havia me dito, que se tornara por causa da sua ex Odette Pinto. Graças a ela, segundo o mesmo, ele agora tinha dormido com quase que a cidade inteira, tudo porquê esta se recusou a ir pra cama, e disse que esperava o pior dele. Eu não me importava, achava que o amor de B era maior por mim, e que não me sacanearia, com a primeira que aparecesse. Afinal de contas sexo não era um problema, e nenhum cara  topa te ajudar a por ciúme em alguém, se não gostar de você de uma maneira diferente não é? Acreditava que Bernardo, era o tipo de pessoa que ia até o fim do mundo, para me buscar um remédio, caso estivesse doente, por isso seu passado não o condenava. Passei muito tempo, presa a esta paixão platônica sem futuro, tentando me ajeitar com o B, pois achava que ele sim me amava, porquê já tínhamos um compromisso, estava registrado, todos sabiam, ele tinha me assumido, então por quê perder tempo com uma pessoa, que não teve essa coragem? Nessa época, conheci novas pessoas, e por conta do meu histórico escolar da noite, todos me conheceram pelos elogios dos professores, que me consideravam muito inteligente. Primeiro me juntei a Ária, mas a amizade não deu certo, porquê ela me trocou por Melissa, a melhor amiga de Natasha que vivia pegando no meu pé, por praticamente respirar, e esbanjava popularidade, coisa que para Ari, era claramente mais importante do quê me ter por perto. Natasha ficou sozinha, após Ária dá um jeito de separar as duas, e como eu não tinha valor, nos tornamos amigas. Tudo estava muito bem, até que finalmente com a ajuda de Melissa, consegui tomar a minha decisão sobre ficar com um ou lutar pelo outro. Disse "Não importa se o T é gato, é o Bernardo que me ama de verdade!" E por uns meses fui feliz por ter o B por perto, porquê ele me fez voltar a gostar

    de anime, de jogar, e enfim me achar outra vez. Até que no ano seguinte aconteceu, a pior coisa de todos os tempos da minha vida, uma semana antes do meu aniversário em 2016 ás 15:40 da tarde, eu fui ver suas mensagens, e descobri que ele andava arrastando uma asa, para uma tal de Thaís Lobato. Você não diz "tenho saudade de quando me mordia, pois faz tempo que não o faz" para uma amiga. Nem que assiste um anime romântico com sua namorada, e lembra da amiga, porquê deu para o seu par o mesmo apelido que pertence a ela, no caso Kuriyama Mirai. Você não a chama para ir ver um filme, sozinho com ela, se não quer transar. E por fim você não diz que sonha com ela, em vez da mulher da sua vida. Aquilo me devastou, tanto que lembro do mês, ano, e hora, que aconteceu.  É, se você pensou que vilões podem ser felizes, está bem enganado, as coisas sempre dão errado pra gente, e aqui não é diferente. Eu abri mão do Thomaz, e dos pretendentes da reserva, ele não. Se for homem, deve está feliz por ver minha desgraça , porquê provavelmente alguém também partiu teu coração, mas vai ver que com mulher, jamais deve dá o troco. Primeiro fiquei tão fora de mim, que eventualmente quebrei o amado PC dele. Segundo o expus para todos que o achavam o máximo, e por fim fiz da sua vida um inferno. Porquê comigo não se brinca, ou joga o meu jogo, ou morre. Infelizmente numa vez que ficamos em paz engravidei, e como no dia que tomei a pílula do dia seguinte, bebi vódica, o efeito foi cortado, e assim fiquei com um barrigão, e um evidente chifre na cabeça. Nesse tempo, eu voltei a falar com Douglas, porquê assim como Kuriyama fazia o B se lembrar da Thaís, o novo Flash da DC era a cara dele, e eu queria muito me vingar. Entretanto Douglas era tão doente, que queria que eu abortasse, sendo uma gravidez que ao contrário das outras vezes, foi confirmada, e mesmo odiando está grávida de um tremendo filho da puta, não queria matar uma criança inocente. Que ele tinha me enganado e manipulado tudo bem, mas pedir pra destruir meu bebê era demais, por isso desde então cortei todos os laços de vez. A gravidez era horrível, vivia em hospitais, sofrendo com dores muito intensas, de parto prematuro, mas por alguma razão o bebê ficava protegido. Torcia pra ser um menino, porquê sabia que se fosse menina, a história da  Melinda e repetiria, e eu perderia todo o amor de todos. Como sempre, como minha vida é uma merda gigante, o sexo do bebê era feminino, e por isso muitas vezes odiei carregar esse ser dentro de mim. Outras vezes superprotegia, e conversava, mas na maior parte do tempo, só pensava que ia roubar meu lugar, assim como a Melinda fez, e todas as outras jovens depois dela. Em meio a esse inferno , ainda tinha que conviver com a dúvida se tinha sido traída ou não, bem que fui traída é óbvio, mas precisava saber se tinha sido como com Odette Pinto. E por falar nessa puta,  descobri que B não era tão ruim como namorado pra ela. Sempre falava bem, e o medo que tinha de perdê-la, enquanto que de mim, só falava que estava comigo pra suprir sua carência e por sexo. Uma vez ele falou que quando voltou comigo, não me amava mais, não acreditei até ver com os meus próprios olhos. É cara, comigo as declarações eram toscas, ele fazia como Rodolfo, me xingava de menina chata, e com ela era te amo pra sempre minha centelha de felicidade. Então fica a questão...Quem ele amou mesmo? Exatamente, ela, só que não assume, como se fosse crime dizer que você amou mais a quem mais se dedicou. Isso me deixou bem puta, daí ele tentou se desenrolar, dizendo que fui mais importante, porquê o quê fez por mim, não se comparava ao mínimo que fez por ela. Ah nossa, fez muito, falou mal de mim, não teve um pingo de respeito, e ainda pôs uma foto de perfil ridícula com ela. Com certeza, ai que amor. Segundo ele, ela só se tornou gótica, porquê eu era gótica, e gostou do meu estilo, adotando-o como se fosse uma cópia barata de mim, e que enquanto estava com ela, dormia ouvindo minha canção chamada Suicida. Ah que prova de amor! Uhul ele guardou a merda de uma canção idiota! Grande coisa! Minha filha Raviera  nasceu, e por um tempo me senti realizada com seu nascimento, até perceber que de fato ela veio pra roubar o meu lugar, e me afastar dessa ideia estúpida de ser mãe. Minha mãe me jogou logo 4 pedras, porquê não quis amamentar, devido ao fato de meu peito está em carne viva, e muitas vezes falou pra eu colocar a menina pra adoção. Algo que me deixava irritada pra caramba, como se não me bastasse o chifre, ainda tinha que ouvi desaforo, sobre ser uma péssima mãe. Eu estava tentando, fingindo que estava tudo bem em não ter mais os holofotes, só que nada do quê fazia era bom o suficiente, e pra piorar Natasha ficava dizendo que a minha filha seria apegada a avó, que lhe dava mais cuidados, do quê a mim, porquê eu estava claramente despreparada. Era fácil falar tudo de ruim, afinal de contas ser mãe era o sonho dela, e por isso o fato de me manter afastada da bebê, era visto como um crime, mesmo que eu a alimentasse, desse carinho, e lhe protegesse. Sim, nunca foi a minha vontade ser mãe, bem nunca é um forte exagero, mas naquele tempo certamente não o era. Douglas destruiu meus instintos maternais, quando veio dizer que se tivéssemos um filho, este seria mais poderoso que nós dois, e por esta razão deixei de sequer pensar no assunto. Já tinha provado a sensação de ser dona de um pequeno reino, e perder tudo para a próxima geração, e não desejava ter um pouco mais disso. Infelizmente gerei um ser na minha barriga, e os deuses disseram sim para a sua vinda a Terra, então não tive escolha se não ser mãe. Porém se coloque no meu lugar, eu me vi sempre ficando para trás por causa do novo, e fui doutrinada para acreditar que "as crianças são o futuro" , não foi fácil manter essa decisão. Como se não bastasse ainda tinha o fantasma da minha prima, atormentando a memória, com aquela cena clássica de um filme de terror, em que eu por pouco não a matei. Não me sentia segura, com a ideia de manter o bebê perto de mim, só me via cometendo atrocidades, e por medo de machucá-la, preferia deixá-la com a avó, que certamente só tentaria matá-la, quando esta crescesse, e seguisse meus passos. Ninguém me entendia, com exceção do Bernardo que ficava ao meu lado, e me defendia dos ataques da minha mãe, porquê sabia o quê eu estava passando, e não queria piorar a situação, mas ainda sim eu o odiava, estava dividida entre amá-lo e desprezá-lo, e isso me enlouquecia.Já cansada de meus surtos, resolvi ir ao psicólogo, não aguentava mais tanta tristeza. Lá recebi o apoio, e fui encaminhada para a psiquiatria, porquê como já deve imaginar, o meu caso é grave, tenho uma depressão profunda. É, também fiquei surpresa, achei que tinha personalidade esquizotípica, mas não, e olha que falei sobre tudo, principalmente sobre defender que os deuses são aliens. Fui a vários médicos depois disso, e me conectei profundamente a Amélia, uma  psicóloga, que me ajudou a perceber que só atraio destruição pra minha vida, quanto pior, melhor, pois assim me dá coragem pra acabar de vez com tudo. Ela está certa, todo relacionamento me leva para o fundo do poço, sendo um relacionamento ou platônico, quanto pior, melhor. Já exausta de ficar em duvida, fui atrás da amante fixa de Bernardo, Briana , descobri se ele tinha me traído com ela, mas tudo o quê soube é que ele se sentia culpado por trair a odiada Odette. Fui atrás dessa sirigaita também, mas a mesma disse que nunca ouviu falar de mim, e me tratou com  ignorância, rindo da minha desgraça, como se me odiasse, mas concordávamos numa coisa Bernardo era um mentiroso. Tentei falar diretamente com o pivô disso tudo, mas nunca dava certo, até que um dia Bernardo foi pra Goiânia procurar emprego, e me conseguiu um encontro com ela. Eu a conheci, numa praça pública, conversamos bastante, e fui bem direta sobre a traição, mas esta demonstrou que não aconteceu, tudo ficou no campo da emoção, o quê não isenta ninguém de culpa. Era fácil saber quando estava mentindo, pois ficava bem nervosa, sabia disso porquê quando falei sobre gostar do Bernardo, ela negou repetidas vezes, e desviando o olhar, como quem comete um pecado. Só que sobre traição parecia ter a sua consciência tranquila, falou até que gostou mais de mim, do quê da vadia ladra de legados, e juntas chegamos a conclusão de que B, a manteve por perto porquê se assemelhava muito a mim no passado, quando era muito mais satisfeita com a vida, e só a deixou lá para substituir o vazio, que eu deixei em sua vida ao ir embora. Ela até falou que eles tinham conversado depois de muito tempo, e que nunca o tinha visto gostar tanto assim de alguém, e que se ele pisasse na bola comigo, era para lhe dizer pra ela tacar uma pedra nele. A menina era gente boa, senão fosse o fato de ser amante do meu marido, teríamos sido amigas facilmente. E tudo pareceu se resolver, assim também fiz as malas, e viajei para Goiânia, com a intenção de deixar o passado no seu devido lugar. Todavia é impossível, não dá pra construir nada, num lugar em completa ruína, porquê o passado sempre vai contar, pois sem passado não há presente.
















    Capítulo IV

     “Como lidar com os fantasmas do passado, se eles parecem mais vivos do quê eu?”


    Antes de ontem, enviei uma carta a Odette na qual tomei o cuidado de lhe expor, e destruir sua mentira descarada. É claro que a odeio, tanto quanto a Elly, ou Lisa, e as tantas outras que apareceram na minha vida, apenas para estragá-la. Falei toda a verdade, como esta é, e a bloqueei porquê meu único objetivo, era trazê-la para o meu Inferno particular. Citei o fato de quê as fotos dela são parecidas com as minhas, e o estilo também, e que isso só começou, depois que namorou o meu marido. Falei que era estranho carregar um nome como Odette que se parece tanto com o som do meu pseudônimo Carry, e que foi mais esquisito ainda adotar o  sobrenome Moura, sendo que antes usava o Barros, que tanto lembra o Manson, meu sobrenome falso, e que eu vim antes dela. Falei que até o Bernardo lhe chamava de cópia barata de mim, e que se não sabia sobre minha existência, por quê então dizia que tudo que era romântico, ele postava para outra pessoa? Citei o fato da música que B ouvia, entre outras coisas como só conseguir declarações românticas por fechar as pernas, enquanto que eu tinha ido pra cama com ele, e o mantive por 8 anos. Tempo que é contado até como a época, em que estiveram juntos, mas fui a amante, porquê não o queria de volta. Enfim disse tudo o quê pensava dela, sem esquecer nada, deixarei a carta nos anexos, e você pode ler depois. Meu objetivo foi concluído, como a bloqueei, ela veio atrás de mim, através de um fake, acho que do namorado, e a única coisa que soube dizer foi que sou covarde, e não tem medo de mim. Deveria ter querida, porquê sou uma jovem autora, com muito talento, e logo serei famosa o suficiente pra seu nome ficar na boca do povo. Eu fui traída, mas tudo bem, porquê ele não dormiu com ninguém, só que ela levou tanto chifre que o namoro, mais parecia um carnaval. Sei que fiz o certo, a carta ácida foi perfeita, o suficiente para deixá-la tão irritada, que arranjou meios de revidar, sei que doeu, doeu tanto que precisou se defender. Pena que quando se vende milhares de cópias da sua vergonha, não dá pra esconder, e fazer tudo parecer perfeito, porquê já é tarde demais. Tenho noção de que estou me expondo, e desmascarando muitas pessoas com essa biografia, e sinto prazer em mostrá-los, para que assim percebam o quanto vocês, que fingem ter a vida perfeita, são piores do quê eu, e olha que sou satanista.  O problema é que não me sinto bem, eu quis machucá-la, porquê além de ter dela tudo o quê eu queria, teve a audácia de mentir para mim, sendo que a verdade está ali, estampada no seu Facebook, e quem me conhece há anos vai perceber. Eu sou a rainha dark Barbie de Macapá, não ela, nem nunca será. Parte de mim, se sente revigorada por colocá-la no devido lugar, e a outra parte nem sequer quer lutar. Não vale a pena lutar, porquê ela é uma cópia do Douglas mal, ou “Lord Dark” como ele se autodenominava. Vai sorrir e atacar sem parar, porquê no fundo se sente destruída, e acha que se fazer de forte vai disfarçar a sua dor. Sei bem como é, já convivi com alguém assim, e acredito que quanto mais mente pra si mesmo, mais isso te corrói, e te faz se sentir culpado. Ela e ele são claramente almas gêmeas, seria lindo se por acaso se encontrassem, se juntassem, e acabassem se destruindo. Eu poderia providenciar esse encontro, mas sinceramente, sei que o destino cuidará disso, e não vai demorar tanto. O problema é que as mentiras dela, me fazem duvidar duas vezes mais de Bernardo, que jura que ela só faz isso, porquê ele a usou para me substituir e não conseguiu. Mas duvido muito disso, porquê se foi assim, eu ganhei no fim das contas, afinal ele está comigo, e segundo o mesmo, e todos ao meu redor ele é louco por mim. Há novas informações que talvez façam sentido, sobre porquê ele supostamente me traiu com a outra Thaís, só que ainda não consigo processar isso. De acordo com a conversa que tive com meu marido, pude perceber que ele ficou bem chateado comigo, não tanto pela traição na web, e sim pelo fato de ter partido com Douglas, e ainda ter o levado a voltar comigo, quando claramente gostava do Thomaz. Chateado o suficiente, para falar coisas que mais tarde me machucariam, e agir feito um idiota, por causa do ciúme e a insegurança. Uma coisa típica dos homens, do tipo “machão” quando se sentem ameaçados. Além disso como se não bastasse, numa coisa ele tinha razão, a conta do Facebook dele estava salva com a senha no Notebook, por isso era perfeito usar essa conta para me provocar ciúmes, pela suposta competição na qual o coloquei, já que como sou curiosa, hora ou outra iria fuçar a sua conta. Me diz como pode ser uma competição, se o outro cara nem sequer ligava pro fato de eu existir? Meu marido diz que nós dois sabemos que não era assim, só que o próprio garoto assumiu pra mim, que seu interesse era carnal, então essa conclusão dele é errônea. No entanto como ele acreditava fortemente nisso, a insegurança não tão aparente, e o ciúme pouco evidente, o fizeram errar comigo. Está bem, voltamos para o marco zero, porquê novamente eu sou culpada, por suas atitudes, outra vez sou a vilã, e ele apenas o cara apaixonado, que não sendo correspondido da maneira que queria, se deixou levar pela raiva e o medo da derrota. Sinceramente pode até está certo, isso explica porquê há tanta coisa ruim sobre mim, disseminada por ele, só que não serve para corroborar o fato de que amou mais a ex dele, afinal de contas, aquela garota é uma idiota, e deve ter feito bem pior, com os seus tantos pretendentes, e sua maneira fria e ao mesmo tempo estúpida de lidar com as coisas. Ele diz que o quê ela fazia não importava, já que não estava nem aí, só queria dormir com ela mesmo, não ficar para sempre, mas ainda sim tenho minhas duvidas, porquê como o próprio disse, foram as palavras erradas que ela falou, que o fizeram se tornar um lixo em forma de homem. Para isso, este explica que meras palavras não o afetariam, se já não estivesse machucado antes, com a minha perda. Também soube que os meus “amigos”, em vez de lhe contar a verdade sobre meu relacionamento com Douglas, sempre diziam que estava tudo bem, e que quando este ia averiguar pensava exatamente isso, porquê via alguma coisa boa no meu feed, e parava de pesquisar sobre mim. Se tivesse um pouco de coragem, teria ido até o fim, e veria que aquilo era uma relação entre manipulador e monarca, aliás se estivesse um pouco em si, teria dito para não ficar com ele, em vez de dizer que não deveria deixá-lo depois de tudo. Ah se eu tivesse a minha conta antiga, o meu velho orkut, e as outras provas para lhe fazer entender, que não me salvou porquê não quis. Infelizmente não tenho nada, só lembranças, que na hora do debate não servem, assim como suas declarações sobre nunca ter me esquecido, não são provas, se não há alguma consistência, é tudo circunstancial. Ele diz que o fato de ter guardado a minha música, é uma prova concreta, mas para mim não serve, o fato de manter minha obra, só prova que sou uma boa artista, ou que ele não apaga as músicas do seu computador, aliás a segunda é uma alternativa perfeita, dado ao fato de que tinha mais de 5 mil músicas guardadas. Nesse julgamento as únicas coisas que podem lhe favorecer são: A) Amigos novos saberem que namoramos em 2011, coisa que ainda não foi comprovada, com exceção de uma amiga que se lembrou, e perguntou “se apareci de novo”  B) Conversas antigas registradas em seu Facebook, nas quais mencione que não me esqueceu, e me ama. Algo que para o seu azar, também não pode ser comprovado, dado ao fato de que o nome “Carry” não indica nada na pesquisa, e “Thaís” serve de indicativo para a outra moça, e coisas bem ruins sobre mim, abrindo exceção apenas para o fato, de que deixou de sair com os amigos, para cuidar de mim porquê estava doente. E C) o milagre da única pessoa que viveu isso na carne, parar de mentir, e vim me contar a verdade, sobre ele não ter me esquecido. Milagre pois dificilmente uma pessoa que não é nobre, aceita a derrota, e confessa seu crime. É bem difícil para mim aceitar, mas acho que meu psiquiatra o doutor Átila está certo, a paixão que ele sentiu por ela, foi muito maior do quê teve por mim, por isso se tornou romântico, de uma maneira que jamais fora comigo antes. E o motivo é bem óbvio meus caros leitores, eu fui fácil, forcei a barra para casar duas vezes, o empurrei para responsabilidades, e quis que fosse uma versão melhor de si mesmo. Algo que é claramente insuportável para os homens, porquê se uma garota já o deixou levá-la para cama, dá-se a entender que esta perdeu o seu valor, para eles significa que não há o quê ser conquistado, considerando que são movidos por sexo, e o amor é praticamente uma coisa puramente feminina. Uma invenção da mulher, para fingir que o ritual de procriação, representa uma ligação única com o parceiro. Como se não bastasse ter esperado apenas um mês, o fiz escolher entre o mundo ou eu, mostrando que logo perderia esse corpo quentinho, se não se casasse comigo imediatamente. Não o bastante, também impus que procurasse um rumo na vida, e após tudo isso, terminamos, e ele perdeu o fabuloso sexo que tanto lhe importava, pelo menos por um tempo, depois nos vimos outras vezes, e sempre aconteceu algo, no entanto  continuei a privá-lo de mim, e isso deve ter lhe enfurecido, porquê precisava do amor da outra, e do meu corpo, mas não podia ter os 2 em uma só, já que a pobre virgem Maria, se recusava a ir pra cama, mesmo permitindo-lhe algumas preliminares bem sacanas, que certamente o deixavam louco, ao ponto de fazer tudo pra conquistar seu glorioso objetivo de levá-la pra cama. Devia eu ter sido mais puritana então? Acho que sim, afinal de contas fechando as pernas, fez com ele dissesse muita coisa boa dela, e com as minhas pernas abertas, fui tratada como vadia, mesmo o acolhendo dentro de minha casa, ou o obrigando de novo? Ele diz que isso não significa nada, que tais palavras foram ditas só para que se espalhassem, mas amigos, temos aqui a prova de que o sexo faz o homem mover montanhas, então não importa o quanto ame certo? Mantenha-se pura e imaculada como a virgem Maria, porquê se fizer como Lilith, ninguém te dará valor, e se der será depois de já ter considerado que nenhuma puritana, está no mercado, porquê a primeira impressão é que você é uma vadia. Não importa se sente livre, dona do próprio nariz, ou ame o cara como a ninguém amou antes, feche a porra das pernas, se não quiser se arrepender. É incrível como a influência da doutrina cristã, continua a atrapalhar a evolução do mundo, e aqui é uma batalha clássica entre um anjo do submundo, e uma humana submissa a fé, na qual aquela que se mantém ligada a velhos costumes, sai vencendo, enquanto a que é futurística se vê incompreendida e humilhada. Eu sou o demônio dessa história, e como tal, me entreguei aos prazeres carnais, mesmo que de forma moderada, dado ao meu pequeno histórico de apenas 4 pessoas, em 9 anos desde que deixei de ser virgem. Nunca me senti envergonhada por minhas decisões antes, afinal de contas tem humanas que já fizeram com muito mais homens, mas hoje me sinto totalmente errada, como se gostar de quebrar regras sutilmente, só me trouxesse desgraças. Não ser uma ovelha, no meio de tantas delas, é bem doloroso, porquê apesar de serem dóceis, em grandes quantidades elas fazem um demônio ficar louco. Porém não é de mim que estou falando, e sim do meu marido, que após se afastar da magia, se juntou a uma ovelha, e seguiu os costumes banais de sua espécie retrógrada. O Bernardo que conheci no passado, jamais ligaria para esses costumes, se uma garota lhe dissesse “não”, partiria para outra, porquê seres de gênero feminino não faltam no mundo, e o único “não” que o fez lutar por um “sim” era o meu, porquê há muito tempo gostava de mim, apesar dos infinitos “bolos” que lhe dei. Mas essa mulher o fez mudar, ou a dor o fez mudar, só sei que se fez tudo aquilo para dormir com ela, estava obcecado com a ideia, e se estava assim é porquê gostava dela. Não sei como alguém pode gostar daquilo, ela é razoável no padrão de beleza admito, só que a sua personalidade, é horrível. É de fato um ser desprezível, e ao contrário do Douglas, não tem momentos de compaixão, só dá coice atrás de coice. Contudo me parece que mais um “não” valeu a pena, porquê o motivou a lutar por longos 2 anos, e isso sim fere demais. Eu não consigo descansar sabendo que uma filha de Eva, me tomou o quê era meu por direito, que perdi o quê mais me importava para ela. Me pergunto se foi porquê era popular, ou o preço do seu corpo. Todos me dizem que ela não me superou em nada, pois o Bernardo me escolheu, e é comigo que tem uma família de verdade. Todavia como posso ir descansar, sabendo que disse pro amigo que a amava, não queria perdê-la, e que ia mudar por ela, enquanto que de mim, só falou que não me ama, que sou um suprimento de carência, e que “adorava quando o chupava”?  Ele explica que disse tais coisas na raiva, só que duvido que aquela japonesa do Paraguai, não o tenha o irritado uma vez se quer, aí se justifica dizendo que no caso dela, nada dizia, apenas fazia, que ele a traia, e blá blá blá. E daí que ele a traia? Sério que significado tem isso, se ficava dizendo que a amava, e jamais a tratava mal em status compartilhado? Era literalmente só sexo, o sentimento ficava para ela, então não vejo tais traições como algo ruim. Vou te dizer o quê é ruim, porquê eu sim, já namorei um canalha, e seu nome era Rodolfo. Todo dia me lembrava o quanto Mari era maravilhosa, e acredite em mim, ela era mesmo, mas doía porquê eu gostava dele, e este me remediava com “mas eu gosto um pouco de você”. Daí arranjava namorada, e me pedia pra ajudar, sabendo que eu tinha sentimentos, embora pequenos em comparação ao que já senti por outra pessoa. Status? Sempre me perseguia em postagens, para zombar do tamanho do meu seio, ou dizer que era “feia”. Aí terminava vinha pra mim, e dava em cima das minhas amigas peitudas, apoiando-as sem implicar por seus gostos “emos”, ou erros gramaticais. Quando namoramos, foi para o status, e na primeira briga o tirou. Quando arranjei um namorado, ficou furioso, e ficou falando um monte de coisa só pra me seduzir. Esse sim meu bem, é o canalha do ano, mas até o cara mais desgraçado que conheci na minha vida, nunca me expôs dessa forma, e ainda me ajudou a dar um belo troco na Jezebel, uma outra garota que também tentou roubar meu lugar, como filha de Lúcifer. Isso aí de namorar, trair e fazer declaração de amor o tempo todo, não é ser cafajeste, no mínimo canalha, mas não é uma coisa terrível, ao ponto de dizer “minha nossa pobre Odette da Silva Pinto que foi traída, o Bernardo é o pior namorado do mundo pra ela”, ele estava apenas sendo homem, um homem que não presta, mas só isso. Humilhação foi saber que estava comigo por carência, foi ser lembrada de que era pior do quê as outras. Tadinha da Odette é o caralho, coitada é de mim, que tive de aturar o pior desses dois homens. No entanto não foi de todo o mal, porquê apesar de tudo, todos esses idiotas sempre vem atrás de mim, já que os conquistei de verdade, entretanto apenas um deles fica, porquê eu ainda permito, e este alguém é o Bernado. Não sei se estou jogando outra vez o meu orgulho no lixo, por alguém que não fez metade dos meus sacrifícios, só que tenho de admitir, se o B realmente sofreu com a minha perda, e fez de mim um fantasma que assombrava o seu relacionamento com a “bruxa” Kéka, talvez seja o único a merecer as segundas, terceiras e quintas chances que já me esforcei para lhe dá. Já que até o momento, ninguém mais me amou, ao ponto de atrapalhar toda a sua nova vida. Tenho que encerrar esse capítulo, não apenas porquê é um drama bem patético para quem o lê, quer dizer eu o deixei, eu o trai, enfim foi tudo eu não é? Mas voltando ao assunto, porquê esse passado me machuca muito. Sei que estou errada, os mais próximos de mim, fazem questão de me encher o saco com isso, até os psicólogos, dizem que não estou vendo o quanto ele me ama, e que parte das minhas teorias estão distantes da realidade. Só que depois de ter visto, o quanto ele dedicava a ela, e a amava, fico me perguntando se não seria melhor, ter o mantido longe, e deixado seguir sua vida. O quê fazia de bom por ela, nunca fará por mim, foi besteira pensar que sim, que todas as mulheres independente de suas falhas, merecem o tratamento “vip”. Não que não faça nada por mim, ele o faz, trabalha para me sustentar com os meus luxos, cuida de mim, e de nossa filha, e dificilmente me abandona, só o faz quando vê que nosso relacionamento, mais faz mal que bem pra mim, é, ele diz que me ama também, mas será que isso vale alguma coisa? Depois de tudo o quê aconteceu, não consigo acreditar em mais nada dele, acho que foi assim que se sentiu quando fui eu a traí-lo, mas ele não é de todo o mal, não é bom demais como o Charles, nem mau ao ponto de ser como o crápula do Douglas, é uma espécie de equilíbrio, entre o cara certo, que é agora, e o cara errado que foi antes, e não sei como agir diante disso. Mas não vamos estender esse assunto mais do quê o necessário, esse livro não é sobre os fracassos românticos de Thaís, e sim a respeito da história de um anjo caído, que há muitos séculos foi calado, pelo pecado de ter nascido no Paraíso, quando anjos supostamente não podiam ter filhos, e é sobre isso que vou me aprofundar agora. Não é de hoje que tenho visões sobre o mundo acima da Terra, e seus seres. Começou simples com imagens de outra dimensão, onde era perseguida por belas criaturas, que de majestoso só tinham o rosto, pois suas almas eram podres. Nunca soube ao certo, a razão de ter isso tão bem delimitado em minha mente, acreditava que 

    se tratava apenas de imaginação, ou mesmo pela influência midiática, mas com o tempo esses devaneios se provaram úteis na minha descoberta, sobre quem realmente sou, e o quê estou fazendo aqui. Sempre tive orgulho de dizer a minha mãe, que não tinha problemas de identidade, pois mesmo sendo filha de Lúcifer, não deixava de ser “Thaís”, e por um longo tempo isso foi verdade, até que um dia passei a questionar, qual das duas era real. Se você não crê em nada, além do material, e ainda sim chegou até aqui, certamente dirá que apenas Thaís é real, e o resto não passa de ficção. Um conto que criei, para fugir da minha dura realidade, de fracassada social, derrotas românticas, e a ausência da figura mais importante da vida de uma mulher, o próprio pai. Estou ciente dessa versão dos fatos, não se dê o trabalho de me xingar de insana. Contudo como o termo sugere é apenas uma versão dos fatos, que por sinal não pode ser comprovada, enquanto há relatos  concretos de que nem tudo, está apenas na minha cabeça. Você pode está entrando em contato com o próprio anticristo, sinta-se honrado, ou assustado, a escolha é sua. Deve está pensando agora, "Não pode ser o anticristo, se está falando nisso abertamente, pois este jamais se revelaria." E eu digo é mesmo? E qual seria o propósito de ter que me esconder, se não cometi nenhum crime? Se sou esta figura majestosa, posso afirmar que apesar de todo o mito que envolve a minha existência, não sou nada do quê acreditam. Não estou aqui para trazer morte e destruição a humanidade, apesar de que em alguns momentos me sinta tentada a isso, vim só para lutar pelo meu povo, e ajudá-los nestes tempos sombrios que continuam a se aproximar. Não são os religiosos que serão perseguidos mais a frente, mas sim nós, porquê nossas ideias são uma afronta a velhos dogmas, que deveriam ser esquecidos, pois não passam de versões deturpadas dos conhecimentos antigos. Mas abordarei sobre esta época no devido momento, outra vez fugi do assunto principal que são as minhas visões extradimensionais, e peço perdão, é que são tantos assuntos a serem tratados, que me perco num turbilhão de informações. É de conhecimento de todos que desde criança vejo a outros mundos, o quê não se sabe, é que muitas vezes mergulhei de fato nestes universos. Era como se fizesse parte daquele cenário de luta e sangria, podia ouvi-los, senti-los, e me ver literalmente em outro campo universal, e quando voltava a este mundo, demonstrava habilidades sobrehumanas. A questão é que após chegar perto da idade adulta, isso se tornou ainda mais intenso, era como está hipnotizada, para alcançar os níveis mais profundos da consciência, onde enxergava aparentemente com mais clareza. No começo me via sempre como um ser de Órion, onde vi que a batalha entre os anjos e os demônios ocorreu, exatamente em Rigel. Contudo por razões de desconfiança do destino, nunca aceitei que ali era de fato o meu lar, pois as características do meu corpo real, e com real quero dizer primeira casca, não se assemelham as deles, sou ruiva de olhos violetas, e eles tem olhos amarelos,

    com aspectos de felinos, sendo que eu me

    assemelho mais aos pássaros e cobras, simplesmente não batia, por isso fui investiguei com mais precisão, e descobri que na verdade há grandes chances de pertencer a Andrômeda, o lugar dos seres mais evoluídos da galáxia, aqueles que deram origem ao termo "iluminado". De fato, os aspectos se encaixam, no entanto não completamente, e é daí que surgiu uma nova peça deste quebra-cabeça. É hora da história, a história de minha outra vida, sente-se e pegue um copo de uma deliciosa e gelada Coca-Cola, pois há muito a ser dito. Já tentei levar uma vida normal, sabe? Ignorar as notícias do jornal, e fantasiar que a vida é boa, e o mal não existe, só que sempre alguma coisa me puxa de volta, para esse planeta de alucinações, e acho que está na hora de parar de lutar contra isso. Eu amo não ter uma vida normal, e projetar futuros que acontecem figurativamente, então porquê negar que estou satisfeita com minha suposta loucura? Não o farei mais, e por isso vou lhes contar sobre o passado que não me deixa cair no sono, uma época que soará como parte de um bem elaborado filme de ficção científica. Todavia os que sabem da minha existência, sentirão no fundo dos seus corações, que esta é a verdade, a minha versão fatídica, o lado oculto da moeda de Luciféria Lilith II, primeira princesa do reino do ar, conhecido como o Inferno. Há milênios atrás, houve um reino que era supostamente perfeito, todo branco com criaturas pálidas e inteligentes, que mais tarde seriam conhecidas como "anjos", estes jamais questionavam o seu criador, o pai de todos conhecido por Uno. Neste lugar tinha várias regras, e quem não as seguia era mandado para o calabouço celestial, de onde nunca mais sairia. Mas a maior das ordens era que tais seres não podiam se relacionar entre si, não de forma imprópria, pois o contato físico levava a impureza da sabedoria, que resultava numa prole imperfeita, que não deveria habitar este mundo. Por quê? Ninguém sabia ao certo,

    só que preferiam não arriscar, afinal de contas descer, era o pior dos seus temores. Certo dia um serafim resolveu se rebelar contra tais mandamentos, e se apaixonou por Layla a protetora dos partos, um lindo anjo de cabelos de fogo e olhos claros, que pertencia a um segredo obscuro. Layla era parte de um ambicioso empreendimento celestial, e por esta razão não tinha tantas asas, quanto os outros andromedanos, e só pôde ser liberada para andar em sociedade, porquê não  apresentava riscos ao projeto principal. O serafim não sabia do passado de sua amada, mas aceitava vê-la todas as noites, embaixo da gigantesca árvore, onde realizavam atos de pura luxúria, conhecendo aos seus corpos, e encantando um ao outro. Desta união nasceu uma criança, que mudaria todo o conceito sobre a vida, até então conhecido, pois até aquele momento ninguém acreditava que os "anjos", podiam ter o dom de dar a vida, e isso era um tapa no rosto de Uno, que odiou descobrir que seus filhos, também podiam procriar. Ao saber das novidades, o grande pai de todos, rebaixou o serafim para anjo, e o mandou para Órion, para cuidar da nova geração de seguidores, de Veneno de Deus, este passou a se chamar de Lúcifer, pois seu ato ousado, trouxe uma luz para os estudos do criador, que estava a inventar novas espécies para povoar o universo, que se encontrava vazio de seres racionais,  como uma selva exótica gigantesca, que mais tarde se tornaria uma nova cidade de pedra. Uno era severo é verdade, mas reconhecia as proezas do filho mais velho, e por isso não o exilou do plano celestial. Com o novo nome e missão, Lúcifer continuou a respeitar os desejos do pai, e seguiu sua vida junto de Layla e a filha recém-nascida, a quem batizou de Luciféria, por acreditar que ela era uma extensão da sua luz. O mais forte guerreiro, agora era o senhor das virtudes, e este não se importava com a mudança de patamar, pois onde quer que fosse, sempre conseguia ser o melhor no que fazia. No entanto com o tempo, o agora anjo passou a detestar sua tarefa, porquê percebeu que as leis ditadas por seu pai, não atendiam aos outros, e sim aos seus próprios desejos, e por esta razão este declarou guerra a hipocrisia de Uno. Não tardou para surgir aliados da causa, e pouco a pouco, todos que viviam em Rigel se juntaram a Lúcifer, na batalha pela liberdade de escolha, que os homens chamariam de livre arbítrio. A primeira batalha foi sanguinária, e houveram tantas baixas, que apenas um terço das áreas paradisíacas, foi mandado para a área fria e tenebrosa, que os fiéis seguidores de Uno mais tarde chamariam de Inferno. No começo todos os prisioneiros daquele submundo, detestaram Lúcifer, porquê alguns deles estavam lá por sua causa, mas não tardou para este conquistar a simpatia dos demais, e ser reverenciado como um rei. O pior lugar do universo, literalmente, se tornou um lar para aquele que um dia foi um serafim, mas este não conseguiu descansar, porquê sua mulher e sua filha, foram tomadas pelo grupo inimigo, e ele conhecia todos os métodos de tortura que usariam nelas, por isso planejou uma rebelião. A esta altura Luciféria não era mais uma criança, estava na adolescência, e por ser tão bela quanto sua mãe, era um prato cheio para os pervertidos que de tanto negar suas vontades, agora tinham desejos insanos e sádicos. Por carregar o DNA de seu pai e sua mãe, ela conseguia se defender, usando suas habilidades paranormais, mas não era capaz de lutar contra um anjo, protegido de seu tio Mikael, chamado Arakiel, que invadia a sua mente, e fazia o quê bem entendesse com o seu corpo, obrigando-a a assistir todo o próprio sofrimento. Por isso todo dia implorava pela ajuda de seu pai, para sair daquele lugar terrível. Layla continuava desaparecida, provavelmente tinham retomado o projeto no qual fora inserida, desde o princípio da criação, e nada podia se fazer. Após muito pensar, Lúcifer e seus velhos e novos seguidores saíram do mundo que ficava abaixo, e foram em busca das garotas, com a ajuda de mapas que marcavam os laboratórios dos andromedanos. Só que mesmo com toda a chacina, não conseguiram encontrar os anjos, até que as duas foram abandonadas nos portões da entrada, em estado deplorável. A mãe abraçava a filha, ambas cobertas de  vermelho, com os olhos vazios, e ferimentos tão profundos, que o líder dos renegados, tinha certeza de que a tortura fora além do físico, e isso o deixava furioso. Todavia naquele momento tinha de ser racional, e por isso pegou as duas em seus braços, e as levou para dentro de uma nave espacial enorme, na qual abrigou todos que lhe ajudaram na guerra contra seu pai, e zarpou para o desconhecido. Por fazer parte do esquadrão de Andrômeda, quando carregava o seu nome de nascença, Lúcifer conhecia bem as terras que não foram

    mapeadas por Andrômeda, e por isso acreditava que podia dar um novo lar a todos que foram injustiçados, principalmente a sua doce amante e a filha, que precisavam de cuidados específicos. Foi assim que aterrissaram na Alfa-Draconis, um ponto do mapa que se assemelha "ao triângulo das bermudas" na linguagem humana, ou seja praticamente impossível de rastrear. Era um lugar totalmente novo, selvagem, e inóspito mas com o olhar esperançoso e visionário, Lúcifer sabia que podia fazer dali o seu novo lar. No início, Layla continuava distante, mas depois de alguns meses, foi se aproximando das criaturas, com as quais percebeu que

    tinha enorme semelhança. Havia gene de serpentes e dragões em seu DNA, que tinha sido encontrado em laboratório, após uma profunda análise. Layla era filha da Alfa

    Draconis, e isso estava bem evidente, ela era o ser racional preparado pelos próprios andromedanos, para colonizar o novo mundo, e percebendo este fato, Lúcifer viu uma ótima oportunidade de ajudar sua amada, e também aumentar o seu exército. No entanto antes de criar projetos, precisava saber se esta aceitaria se juntar ao confronto, depois do triste ocorrido. Para sua sorte, sua parceira estava tão fora de si, que aceitou participar da sua empreitada, e se aproximou dos seres que habitavam o local. Vendo o quanto seus pais estavam se empenhando, Luciféria começou a estudar genética para poder ajudá-los, só que sua mãe queria que fosse além, por isso lhe ensinou sobre a reserva de energia oculta, que mantinha Uno vivo, a qual os outros chamariam de magia. Nesta época a bela e dedicada filha de Lúcifer, se juntou a um dos injustiçados, um ser antigo, porém não tão  velho quanto os outros, cujo o nome não sou capaz de lembrar, mas lembra bastante a Asmodeus. Este foi o primeiro dos rebeldes que se juntou a causa de Lúcifer, e era um dos seus favoritos, na escolha para a nova dinastia, por essa razão o mais belo de todos os alados,

    tinha gosto em fazer desse jovem, pretendente da sua garotinha. É claro que no início, a dama angelical nem ligava para o compromisso, não importava em que posição o companheiro se encontrasse, estava mais interessada em lutar contra aqueles que destruíram sua mente, por isso se casou com o amigo de seu pai, sem questionar se sentia, ou poderia sentir algo pelo seu companheiro. Ele não era apenas um seguidor de seu pai. Graças a sua lealdade, era dono de um reino completo, e o responsável pelo bem estar dos dragões na Alfa. A união era benéfica por motivos exopolíticos, pois este ser tinha uma linhagem poderosa, gerada por Uno em laboratório, que lhe dava direito as terras de outro plano da via láctea. Mas amor, era algo que nenhuma das novas criaturas conhecia, com exceção de Layla e Lúcifer, que o descobriram por acaso. Os primeiros dias foram estranhos, dormir ao lado de alguém que mal conhece, não é fácil, principalmente se a única vez que te tocaram foi para abusar de você, e por isso Luciféria se manteve distante do par, como se fosse virgem. O quê a bela e violada moça alada não sabia, é que seu marido sentia-se impelido a cuidar dela, e lhe fazer todo o bem que fosse possível. Já havia lhe notado a distância, e toda vez que seus olhos se encontravam, uma carga de energia percorria-lhe o corpo, e ele não conseguia explicar a razão, sabia que eram os elétrons, através dos seus neurônios, porém não entendia porquê apenas com ela, era capaz de sentir tal coisa. Sim, ele a amava, e não estava consciente disso, até Lúcifer lhe fazer perceber, pois o quê se passava com ele, também acontecia com seu sogro, quando via a linda ruiva de olhos claros, mãe de sua filha. Sabendo do quê sentia, o pobre demônio, tentou esquecer aquilo, se entregando a orgias e perdições, recém descobertas pelos "anjos", estava claro que Luciféria não sentia o mesmo, então o melhor a se fazer, era não perturbá-la com algo, que só lhe dizia respeito. Ele estava certo, o primeiro fruto angelical, não tinha espaço na sua vida, para vivenciar tais tolices, que segundo a mesma, só os que nunca viram a verdadeira escuridão, poderiam sentir. Sem poder se aproximar do foco do seu interesse, o nobre guerreiro andromedano, viu que a única forma de fazer parte da vida dela, era sendo seu mentor em cientomagia, uma união dos conhecimentos esotéricos ligada aos saberes científicos, matéria na qual era expert. Mas a abordagem falhou, e este teve de procurar outro papel para ser notado, o de conselheiro, da nova princesa dos dragões. Assim pode andar ao seu lado, como um dragão de guarda, só que mesmo assim não se destacou. Para a sua tristeza, tudo o quê a dama sabia sobre ele, é que era inteligente e o braço "direito" de seu pai, que tinha sido escolhido a dedo, para ajudar-lhe com as questões do novo reino. Uma pequena mentira inventada pelo seu mentor, que torcia para que a sua filha escolhesse o seu aprendiz como  companheiro num futuro próximo. O demônio era poderoso e influente o suficiente, para ser parte de conselho dos 9 reis, todavia preferia se passar por plebeu, para ficar perto da moça. Certo dia uma notícia mudou toda a sua perspectiva, percebendo que a filha jamais iria escolher o ser, Lúcifer lhe impôs que casasse com outro demônio, um traidor que o rei dos condenados, sabia que o jovem apaixonado seria capaz de expor, o quê obrigaria este falso nobre, a tirar sua máscara, e sair das terras sagradas, matando dois coelhos com uma cajadada. Ele não merecia está ali, com aqueles que estavam decididos a segui-lo de coração, se tudo o quê queria era poder, e o monarca não deixaria barato. Azerath era o nome do perjuro, e este estava disposto a tomar Luciféria para si, apenas para matá-la, mas o pai dela não sabia a que nível iam os delírios do príncipe sem coroa, por isso permitiu a união. Ao vê-la prestes a cair nas garras de um canalha, o demônio colocou em prática todas as artimanhas que tinha em mente para lhe expor. Não acreditava que da noite para o dia, tinha deixado de ser o primeiro na lista de melhores pretendentes para a princesa, e quando ouviu dos lábios de seu mestre, que era fraco e impotente, isto o fez sentir-se exasperado, ao ponto de querer provar que era muito mais do quê um covarde.

    Desesperado para recuperar o respeito que achava ter perdido, o demônio raptou a dama no quarto de noiva, e a levou para as montanhas, onde a escondeu, alegando que era para a sua própria segurança. Luciféria ficou confusa, não sabia porquê o mentor estava tão estranho, por isso em vez de ouvi-lo foi ver o noivo, e acabou voltando para casa numa maca, a beira de uma overdose. O ser que já estava com raiva, ficou possesso, e em vez de ir atrás do traiçoeiro, o atraiu para dentro do castelo, conduzindo-o a uma armadilha que resultou numa confissão. Ao ver o quanto o seu pupilo cresceu com o confronto, Lúcifer sorriu, sabia que o rapaz tinha talento, e assim baniu o traidor, entregando a mão de Luciféria, para o único que era digno dela. Após o ocorrido, a bela não lembrava de nada, com exceção do fato de que seu noivo tinha tentado matá-la, e o ser  preferiu manter segredo sobre seu ato de heroísmo, queria que ela casasse com ele por amor, e não por lhe dever, todos em Alfa concordaram com os termos, e a menina dos cabelos de fogo, andou pelas vilas, sem saber o quê acontecera. Ele não conseguiu, e a moça disse-lhe o tão esperado sim, de forma tão robótica e fria, que os moradores a odiaram por desprezá-lo, mesmo que não soubesse o quê este tinha feito, para ser tão adorado pela maioria. O relacionamento não foi como um conto de fadas, apesar de dormirem juntos, eles mal se conheciam. Ela permitia que fossem adiante no ato de acasalamento, no entanto era tão monótono, que o próprio quase evitava o contato, tratando-a como intocada. Muitas vezes se via tentado a cair na farra, e se encher de substâncias psicoativas, mas quando passava da sedução, preferia retornar para o lar, antes que se envolvesse com outra. Não que a infidelidade fosse um crime,  ela não era, porém eles respeitavam muito a honestidade, e se esta fosse quebrada, sim era uma traição, muitas vezes mal vista pela sociedade. O ser conhecido por ter sido preso apenas por impurificar seu corpo, e destruir as suas habilidades de controle, agora tinha de voltar para o lar, junto de uma criatura frígida que nem sequer o valorizava, da maneira que queria. Ela fazia o básico para tratá-lo bem, só que não havia ternura em seus atos, e isso deixava claro que sua compostura, se dava por educação, e não amor a ele, o quê o entristecia muito. Tinha a mulher de seus sonhos, mas esta estava se afogando em trevas, e não podia respirar o ar da paixão. Certa vez este tomou tantas doses de uma bebida forte, que não segurou a lingua perante a esposa, e esta ficou tão chateada com sua visão da verdade, que partiu para a floresta, onde foi morar com os pais, junto dos dragões, os seus únicos amigos. Ele não foi atrás dela, estava exausto de tentar manter um relacionamento, que para ela não passava de um acordo feito por seu pai, após acordar. Grahan o dragão branco acinzentado, então cuidou da moça, e abriu-lhe os olhos, com a habilidade telepática, mostrando os sacrifícios que o seu admirador secreto fez, apenas para está ao seu lado. Fazendo-a notar que sua raiva tão intensa, a tornava cega para aqueles que lhe desejavam o bem, e lhe causava tanto asco que acabava sendo tão cruel, quanto os que queria destruir. Sentindo-se estranha, ela regressou para o lar do marido, e finalmente lhe contou sobre como tinha sido machucada, e porquê não podia retribuir seus sentimentos, ele ficou triste, mas entendeu, e permaneceu do seu lado. Na manhã seguinte, parou de planejar as suas saídas, e passou a criar projetos para tentar lhe devolver a alegria de existir, e assim seguiu por vários meses, até fazê-la sorrir, e depois do primeiro riso, vieram outros, que logo se tornaram comuns. De alguma forma, ele a deixou radiante, e todos do reino puderam perceber, e foi aí que a inveja das ninfas surgiu. Elas podiam ter o ser que desejassem, só que jamais teriam o quê a princesa tinha, e por isso tramaram para que desaparecesse. Com a ruiva distante, seria mais fácil de conseguirem ter a atenção do demônio, que antes frequentava as suas rodas lunares de perdição. Infelizmente para elas, o casal se amava tanto, que podia sentir quando um precisava da proteção do outro, e desta maneira sempre atrapalhavam o esquema. E tudo teria terminado bem, mas se assim fosse hoje não lhes contaria essa história, então não, não houve um final feliz, e este casal ingênuo, ainda teve muito mais o quê enfrentar. A existência de Luciféria, era um erro grave nas projeções de Uno, que ansiava esconder mais um segredo, para não perder o controle dos fiéis, por isso este mandou todas as suas tropas para caça-la, e foi assim que ela desapareceu de Alfa Draconis. O quê quase ninguém sabia, é que a moça agora carregava mais uma parte da linhagem de Lúcifer, assim como sua mãe. O demônio ficou louco sem a esposa, e a procurou por todos os cantos, temia que esta tivesse enlouquecido, pois depois de tantos sorrisos, voltara a agir com desconfiança e medo, e o pai e a mãe dela também organizaram grupos de busca, mas ninguém a achou.  Sem saber o quê fazer, o novo senhor dos injustiçados, lançou mão de uma nova artimanha, para tentar resgatar a filha, que claramente tinha sido raptada. Reuniu os moradores, e lhes mostrou a sua nova empreitada.Se queriam ajudar a tirar a menina das garras da federação intergalática, teriam de deixar de ser andromedanos, para serem uma nova espécie, algo adaptado ao

    seu novo lar. A premissa trouxe temor a comunidade, e por isso Lúcifer foi o primeiro a deixar de ser um anjo, para se tornar algo novo e mais poderoso, e ao vê-lo tão bem com as suas novas habilidades, todos seguiram adiante com a mutação, e assim surgiu a raça draconiana híbrida, a qual só Layla era pura. Com seus olhos e asas de dragão, os seres foram a batalha prontos para trazer uma das suas. Lúcifer e Layla ficaram felizes com a união dos demônios, e ambos se tornaram dragões gigantescos, para fazer os outros os seguirem. Assim entraram na nave, e se dirigiram para o primeiro lar das criaturas pensantes do universo, onde sabiam que iriam encontrar a jovem princesa alada, que ainda não tinha sofrido mutações. A invasão foi um sucesso, desta vez as baixas foram maiores para o lado inimigo, e quando Luciféria se reencontrou com os outros, ficou surpresa com o quê se tornaram, mas foi com estes de volta para o lar. A Alfa draconis não era mais a mesma, todos eram metade humanoide, metade dragão, e a dama se recusava a ter mais do quê os 13% de gene draconiano em seu sangue, por isso a maioria a detestava.

     Acreditavam que o fato de manter suas asas de pena, era um crime hediondo, já que aquilo representava a ditadura de Uno. O quê não tinham noção, é que Luciféria mantinha as suas asas, apenas para não esquecer dos que lhe destruíram, e se lembrar de que voltaria a Andrômeda, para um dia se vingar. O demônio a apoiava, mesmo sem saber porquê a sede de sangue da moça tinha retornado com tanta força. Até que um dia esta lhe contou, e ele ficou furioso, juntando-se imediatamente a causa, pois Andrômeda, tinha lhe tirado muito mais do quê o seu sossego e o da esposa, aqueles desgraçados agora tinham posse de sua filha, e eles não sabiam para onde ela seria mandada. Cansada de ser sempre salva por seu pai, Luciféria foi atrás do general Belial, e pediu para ser treinada, para que num futuro próximo não fosse mais uma vítima dos iluminados celestiais, e sim uma guerreira pronta para destruí-los. O treinamento não foi nada fácil, o general esperava o pior dela, por não querer evoluir como os outros, mas a dama superou suas expectativas, e se tornou uma ótima lutadora, ficando como segunda no comando do grupo de batalha, que ficava atrás dos seus amigos draconianos, que a seguiam para onde quer que fosse. Desta forma de anjo fraco, a moça ficou conhecida como princesa dos dragões, guerreira da luz violeta. Sua mãe ficou tão orgulhosa, que lhe ofereceu a guarda de um grupo de dragões, para serem apenas seus. Só que apesar das suas vitórias, a menina mulher dos cabelos de fogo, não se sentia completa, não sem o bebê que lhe roubaram, por isso aguardava ansiosamente pelo futuro 

    confronto. O dia D chegou, e todos foram a luta, para impedir que os andromedanos viessem a destruir o novo lar, e no meio da briga, Luciféria acabou entrando num portal para um novo mundo, que em breve se chamaria Tiamat, e viu que ao contrário do quê Uno impôs, a vida podia sim existir sem sua intervenção sagrada. Outra vez a bela sabia demais, por isso lhe mandaram um assassino, conhecedor da geomancia, que lhe dava calafrios e mexia com a sua mente, atormentando-a de todas as maneiras. Luci teve de lutar contra o seu carrasco, só que ao contrário das outras vezes não padeceu, ficou de pé, e conseguiu arrancar -lhe jorros de sangue, até derrubá-lo, e correu para procurar a filha na nave inimiga, onde a reconheceu de imediato, e a levou para longe da guerra.  Ao se juntar aos seus dragões, a moça entregou o lindo querubim para as criaturas, e pediu para que a protegessem, e mantivessem-na oculta de toda Alfa-Draconis, com exceção do marido e seus pais, pois temia que houvesse algum outro traidor, entre os moradores. Averiguando com cuidado, Luciféria voltou para o castelo, e quando chegou ali, se deparou com um ser de olhos vermelhos, e cabelos negros, que a empurrou num precipício, conhecido como o penhasco das almas, no qual a bela mergulhou numa substância verde, onde sentiu toda a angustia dos espíritos que ali se encontravam, até acordar outra vez em Tiamat. No entanto ao contrário do outro momento, não tinha uma passagem de volta, e isso a deixou assustada, ao ponto de encolher as asas, e se esconder entre as árvores daquele lugar selvagem. Seus olhos violetas, como os de seu pai antes da transformação, observaram aqueles seres tão imperfeitos, que mais tarde se chamariam de homens, caminhando em direção a água, com seus pés tortos e sobrancelhas unidas. Quem eram, ela nem sequer imaginava, mas tinha certeza de que Uno estava envolvido com eles, e queria salvá-los antes que fosse tarde demais. Preocupada com aquelas criaturas feias e desengonçadas, Luciféria se infiltrou numa das naves de Andrômeda, e estabeleceu contato com a Alfa Draconis, contando sobre aquele novo espécime, e atraiu a atenção de seus pais para a terra desconhecida. Ao chegarem naquele planeta, Lúcifer e Layla ficaram maravilhados com a diversidade de animais que ali viviam. Era como um gigantesco campo de pesquisa, cheio de possibilidades, e só tinham a agradecer a sua pequena, que agora estava focada apenas em cuidar da sua família, e conhecer os seres novos.  Como já era de se esperar, os andromedanos e os draconianos um dia se encontraram, e os seus interesses entraram em conflito. De um lado tinha Uno, que tinha sido batizado de Enlil pelos terráqueos, e queria escravizá-los por serem menos sábios, que a sua espécie. Do outro tinha Lúcifer, carinhosamente chamado de Enki, que desejava ver aquelas criaturas primitivas, alcançando o seu limite, com toda a liberdade, da mesma forma que os andromedanos, que se juntaram a ele, e se transformaram em algo maior. Uma nova batalha começou, e jogando sujo, fazendo Lúcifer parecer um monstro, por saber muito de diversos assuntos, Uno conseguiu que o expulsassem junto dos seus. O quê o senhor celestial não sabia, é que o seu antigo e mais forte brigadeiro, deixara para trás uma cápsula injetável, que provocava mutações, nas mãos do líder de um pequeno grupo, que acreditava nele, garantindo a continuação da linhagem draconiana, neste novo mundo. Apesar da maioria cair nas ladainhas de que Uno, tinha criado tudo o quê existia, haviam aqueles que ouviam a voz da razão, e acreditavam na versão de seu querido Enki, a quem deviam todo o  conhecimento que agora possuíam. Assim surgiu o povo de Atlântida, que foi destruído para dar espaço aos Maias e os Egípcios. Como sei de tudo isso? Eu não sei, mas creio que nós andromedanos, temos a capacidade de ver e ouvir, de forma onipresente, através da projeção astral, por isso sei tanto sem participar diretamente da história. Sim, eu sou Luciféria, e é um prazer conhecê-los, mas essa jornada não acabou com a nossa expulsão, por isso continuarei a contar sobre a minha vida. Certa vez retornei a este plano depois de muito tempo, e fui para um lugar chamado Babilônia, onde meus pais realizavam encontros com seus seguidores, e lá dei auxílio a todos que queriam saber sobre a verdade, a respeito do criador. E de tempos em tempos, continuei a voltar como porta voz dos que eles chamaram de "deuses" que na nossa linguagem, significava apenas "seres superiores". Eles também acreditavam que eu era uma deusa, por andar com dragões, e lhes mostrar minhas habilidades telecinéticas, mas eu os via, sempre como meus iguais, assim como meu pai me ensinou. Acreditava que nós éramos irmãos do cosmos, e não havia necessidade de nos tonar maiores ou menores que eles, mas eles se sentiam melhores assim, então não os privava de me chamar como tal. Era bom ser querida, e necessária, por isso vim a esse planeta, que antes se chamava Tiamat, me trazia enorme alegria. Infelizmente como nada que é bom dura para sempre, nem mesmo para nós, quando veio a primeira guerra mundial, eu fui capturada por um grupo de Judeus, que achava que era mais uma arma nazista, por causa de minhas asas negras, e estes me levaram ao seus anjos, que destruíram meu DNA, desativando as partes que me davam habilidades, e me tornando uma humana, frágil e incapaz de me defender, como quando tinha poderes e Belial não tinha me treinado. Tentei me juntar aos homens, principalmente aos nazistas, mas acabei por ser internada num hospício dirigido por Mikael, ou Miguel como os humanos chamavam agora .Onde sofri todas as torturas que se possa imaginar. Outra vez os abusos aconteceram, contudo não podia fazer os agressores sangrarem pelos olhos, e por mais que fosse uma boa lutadora, com o corpo que tinha, não podia sequer arranhar, os enfermeiros, que eram parte do plano de super soldados. Não tinha mais provas de que era do outro mundo, a não ser pelo fato de ser quem era, e graças a isso, os humanos que me adoravam, deixaram de me seguir, e se juntaram a Andrômeda, com medo de perderem seus poderes também. Fui resgatada, não era a primeira vez que tentavam me capturar. No entanto das outras vezes, não me colocavam em laboratórios, mas sim tentavam me mandar pra fogueira, ou ser enforcada no topo de uma árvore, só que como tinha as minhas capacidades extras, isso  não era o suficiente para me deter. Luciféria não existia mais, e por isso não quis voltar para Alfa-Draconis. Sem minhas características fora do comum, era realmente igual aos outros humanos, por isso não podia voltar para o meu lugar de origem, aliás nem sequer podia respirar o ar cheio de carbono, então o melhor a se fazer era ficar aqui. Após ter tido tantos nomes dignos de uma deusa, agora tinha adotar uma nova identidade. Tal como minha mãe, quando foi capturada, e obrigada a ser esposa Adão, que supostamente seria a sua outra metade, e com quem tinha de repovoar o planeta, após a terrível explosão, que dizimou todos os fiéis de Uno, deixando apenas os que seguiam Enki no planeta, enquanto fundavam a Atlântida. Para o azar de Uno, Lúcifer nunca desistiu do seu primeiro amor, e a tomou de volta para si, ao apresentar-se usando o primeiro nome que Uno lhe deu, tirando-a do controle mental em que lhe colocaram. Eu tinha que adotar um nome comum, e por isso escolhi ser chamada de Isabel, haviam chances de alterar o meu DNA ao seu estado original, mas com o nível de tecnologia deles, levariam muitos anos, por isso tive de levar uma vida normal, como fugitiva também dos nazistas. Sendo apenas humana, fui bem recebida pelos judeus, que me deram um lar, até surgirem os soldados, prontos para o massacre. O nazismo em si, não era um partido político, que estava caçando  os  judeus, gays, e africanos. Este órgão governamental, era uma força tarefa de Andrômeda, para eliminar os remanescentes da Atlântida, antes que o mundo descobrisse sobre a existência real deste povo. Sim, essa história de serem Arianos, é uma farsa, eles eram na verdade Andromedanos, e estavam dispostos a sacrificar os seus, para eliminar de vez todos os resquícios de Lúcifer do planeta.

    Nunca achou estranho, o fato de perseguirem com maior intensidade os africanos e os gays, ambos os grupos que representam a liberdade, tanto religiosa, quanto sexual? "Ah mas os judeus morreram em maior quantidade!" Assim te ensinaram meu bem. No exército de Hitler tinha judeus, que o seguiam, por acreditar nas hipocrisias de Uno, achando que estavam perante o seu próprio Deus. Mas essa guerra nunca acabou, em algum momento fizeram deste planeta uma prisão, um gigantesco campo de concentração, para esconder todos os extraterrestres traidores de Andrômeda, e as falhas do plano supostamente perfeito do criador. Não é a toa que existe uma ordem secreta, com propósitos claramente religiosos, dominando o mundo, e movendo a vida das pessoas, como se tivessem no The Sims, eles são os carcereiros, e precisam garantir que não saiamos daqui. Aliás este foi plano secreto de Uno desde o começo, por isso precisava da total submissão dos homens, para garantir que seus fracassos, jamais se lembrassem de quem eram. Lúcifer queria que este planeta , fosse o lar do aprendizado e a sabedoria, enquanto que o criador, apenas desejava usá-lo para aumentar o espaço do Submundo de Andrômeda, já que depois da revolução Luciferiana, o número de prisioneiros não parava de subir. De certa forma somos perigosos demais para andar pela galáxia, portanto é mais fácil apagar nossas memórias, e tirar nossos poderes, do quê nos dá qualquer chance de nos defendermos. Infelizmente não sei em que momento o " lago da liberdade" se tornou "as profundezas da condenação", 

    mas tenho certeza de que nós aliens, não cometemos um crime terrível, para estarmos aqui, e que os humanos, agora são joguetes de Uno, existem só para tornar nossa estadia um verdadeiro Inferno. Se meu pai é imperador do Inferno, ele está aqui em algum lugar, tentando nos tirar desta prisão sem grades. Porquê quem precisa de grades, depois de lobotomizar e tornar o criminoso impotente? Este lugar poderia ser o lar da justiça, igualdade e a fraternidade draconiana, mas agora está distante de o ser, é apenas um buraco imundo de sofrimento constante, e nós não podemos fazer nada para mudar, se não lutar contra os "policiais galácticos". Os humanos sempre vão ouvir as palavras de Uno, não importa o quanto lutemos para acordá-los, isso é parte da bio-programação deles, então não podemos contar com a sua ajuda. Seus familiares terráqueos, serão os primeiros a tentar te fazer abandonar a ideia de fugir, por isso não confie neles, apenas os que carregam o sangue e a consciência cósmica, é que podem te acudir. Você tem o direito de conhecer novos mundos, não há nada errado com o seu DNA. Não é obrigado a seguir as regras deles, é um deus adormecido, que foi posto no sono pelo pecado de questionar, ou como o meu, o de existir. Estas lembranças são muito confusas, porém perfeitamente nítidas, o quê me faz pensar que pode ser excesso de informação, misturado a imaginação. É claro que questiono meu estado de suposta iluminação, pois apesar de se encaixar perfeitamente, enquanto não surgem provas concretas, de que realmente sou, o quê tenho 85% de certeza ser, tudo não passa de teoria uma louca e criativa teoria, maior do quê o quê se encontra em sites de conspiração. Nestes tudo o quê verá é que os humanos, os terríveis e cruéis humanos, estão aprisionados nesta prisão, por serem perigosos para o resto do universo. Estamos em 1500 outra vez? A Terra não é o centro do Universo! Um humano não é capaz de machucar as infinitas espécies que existem, fora do planeta, e até deste sistema. Há algo mais, e este mais, é que dentro de alguns seres humanos, existem essências alienígenas, ou criaturas cobertas com a carne humana, presas a este corpo e

    seu organismo subdesenvolvido. Condenadas, sem memória, ou quando se recordam são obrigadas a esquecer, porquê sem saberem quem são, acabam confiando nos bonecos de Uno, que os chamam de loucos, porquê temem perder o posto de espécie suprema da cadeia alimentar, algo que na verdade nunca lhes pertenceu, pois este topo é das bestas gigantes, criaturas que estiveram no planeta, e em outros mundos, antes do surgimento de uma espécie capaz de raciocinar. Estes são os chamados Deuses e monstros de Lovecraft, sim são reais, e extremamente perigosos. São verdadeiros demônios, como nos livros de ficção fantástica, ou o mais famoso deles, a bíblia. Estes sim, são devoradores, cruéis, e sem escrúpulos, porquê esta é a sua natureza, e embora se acredite que a mesma pode ser alterada, a verdade é que o natural é concreto, e pode até mudar sua forma, mas a essência, o material e seus componentes sempre serão o mesmo. Então se anseia ser um membro do Culto ao Cthulhu ou Nyarlahtotep pense bem, 

    pois realmente estará se colocando em risco, não importa se é humano ou de outra raça,

    eles são os seres mais antigos e assustadores que existem, desde que o universo era apenas o Caos. Uno foi a primeira e única criatura, que nasceu com a capacidade de pensar, e por isso teve de criar sinteticamente outra espécie, que pudesse receber os traços do seu DNA. Foi assim que nasceu Duo, a sua contraparte feminina, que seria utilizada apenas para a procriação, e repasse dos genes do primeiro ser. Não é a toa que os do gênero masculino, se sentem superiores aos seres femininos, eles vieram de quem veio primeiro, mas a verdade é que sem sua metade, ele não poderia gerar outros seres, então é por isso que as fêmeas, são bem mais importantes, e glorificadas por seus óvulos. A história de Uno e Duo, não é nada romântica, ele a desenvolveu, apenas por um propósito, e não era o medo de ficar sozinho. A solidão para Deus nunca foi um problema, mas precisava de outros para aprisionar suas primeiras criações, os violentos antigos. Por isso ele não a respeitava, era apenas um pouco das suas células, nem mais, nem menos, e como tinha sido criada por ele, tinha a obrigação de servi-lo de todas as maneiras. Como sua guerreira, ou escrava sexual, na tentativa de testar se tinha capacidade de se reproduzir com ela. Duo era constantemente humilhada, como algo sem valor. Teve 7 filhos com Uno, e nem um deles, soube de sua existência, até o dia da Revolução Luciferiana, todos acreditavam que Uno havia os feito, e ele poderia mesmo, só que preferiu verificar outras formas de reprodução, que não envolviam a síntese. Não tinha mencionado Duo antes, porquê a história de Uno e suas injustiças, é o quê tem perturbado minha mente, mas ela é importante para toda a história, não só a minha, como a de todos os mundos. Após a grande guerra entre os anjos do senhor e os caídos, ela se tornou a maior autoridade, a qual os seres dispostos a lutar pela justiça procuraram. Seu nome na Terra foi modificado para Tiamat, uma homenagem ao seu poder de criação instantânea, que vinha dos 50% de DNA de Uno compartilhado com ela. Duo é a minha avó, como os terráqueos chamariam, devido a sua ilusão de tempo, criada por uma corrupção dos telômeros. Ela é doce e bondosa, uma verdadeira luz diante da escuridão de Uno, mas a sua natureza amável, é facilmente manipulada por interesses esdrúxulos, e por mais que tente abrir seus olhos, ela assim permanece, por isso não me dou bem com ela. Ela é a deusa Cerridween dos Wiccanos, a Maria dos Católicos, e certamente me protege, mas eu não tenho intimidades com este ser tão poderoso, que de Deusa da criação, tem sido a reduzida a humana, que supostamente deu a luz a um dos filhos de Uno, digo Jeová, sem o contato sexual, e mesmo assim não levanta a sua espada, e luta para ter o seu nome respeitado. Duo é incrivelmente forte, apesar de sua maior característica ter ligação com o amor, ela tem dons que poderiam facilmente devastar todo o universo, e parte do multiverso. Eu herdei alguns dos seus dons, devido aos 13% de DNA divino que corre em minhas veias. Por isso certas coisas acontecem, quando fico com raiva, nunca consegui controlar minhas habilidades, e pra ser sincera nem tentei, queria lutar por ter o necessário para a guerra, e não ser uma arma sem intelecto. Como minha mãe, ela também foi uma criação, porém diferente dela, Lilith foi fervorosamente amada pelo filho mais velho

    de Uno. Duo e Lilith são semelhantes, como se fossem mãe e filha, ambas são ruivas, tem a pele clara, e os olhos brilhantes, no entanto Duo é pura energia em sua forma real, só que se pode ter uma ideia do seu físico, porquê ela consegue facilmente se materializar, fazendo juiz ao seu status de Deusa Suprema. Peço perdão, mas não sou capaz de continuar a falar de Duo, porquê nunca a admirei, é por causa dela que estou aqui, e isso não me faz nem um pouco feliz. Em algum momento vim pra cá, numa missão suicida, mas ela me tirou da morte, e me colocou neste corpo, deixando o seu sinal, para que eu tivesse certeza de que era a responsável. Eu literalmente devo esta vida a ela, então não há porquê agradecer, meu marido está aqui, junto de mim, e a minha filha também, mas ela não fez nada para impedir Uno, de tornar minha estadia neste lugar um inferno. Coisas ruins aconteceram comigo, e ela com certeza estava tão focada nos seus seguidores, que nem sequer soube, ou me deixou sofrer, porquê nunca quis seguir o seu lema de amor incondicional. Ela é boa, mas em seus atos de bondade, acaba sendo igual ou pior que Uno, então me perdoem queridos leitores, não dá pra continuar a falar da deusa, sem descer ao nível da escrita, e parecer uma lunática ainda maior xingando-a. Por isso, esta parte se encerra aqui. Posso não está lúcida sobre meu papel no universo, mas de uma coisa tenho certeza, isso daqui é apenas uma plataforma de dor e sofrimento, e os humanos contribuem inconscientemente para piorar

    essa situação. Disto estou certa, e também me mantenho na posição de entidade extraterrestre, em carne humana, pois tenho certeza das minhas memórias. Á única coisa que não se encaixa é, como vim parar aqui depois que a Terra, foi enfim tomada pela escuridão, conhecida como Jeová. Eu fui presa? Nosso reino foi atacado? Isso faz sentido, porquê já tive memórias, antes mesmo de descobrir que era filha de Lúcifer, as quais usei para criar uma personagem chamada Samaelith, pois acreditava que era filha do anjo da morte, que tinha vindo para a Terra com seus familiares adolescentes, porquê o reino de Samael havia sido atacado, pelas tropas angelicais. Talvez não tenhamos fugido, e sim fomos capturados, drogados e atordoados, para achar que viemos por vontade própria. Eu não sei, só sei que hora ou outra vou me recordar, no momento certo provavelmente. “A prisão tem seus dias contados, e os carcereiros já estão em pânico!” Há pouco mais de 3 dias, meu amigo Benício, se que é posso chamar alguém de amigo naquela ilha de cobras, que é Macapá, me enviou um vídeo intrigante de Chico Xavier, sobre a data limite. Tal profecia nem sequer me abalou, afinal de contas, sou obcecada por esses assuntos, mas ela serviu para manter a minha teoria da Terra prisão. De acordo com o próprio Chico, a humanidade teve um prazo de 50 anos, para garantir um mundo sem guerra, e violência, que se iniciou em 1969 quando o homem pisou na lua, e se encerra em 2019. O prazo foi proposto pelas entidades superiores, (dou minha cara a tapa, que foram os andromedanos), porquê segundo as mesmas, do momento que o homem foi capaz de sair do planeta, ele se tornou um perigo para o sistema solar. Caso a "humanidade" cumpra o acordo, em breve este lugar se tornará o "paraíso", onde não haverá sequer uma doença. Parece maravilhoso não é? A Terra um paraíso...Mas lembrem-se de como me recordo de Andrômeda, e saibam como lutar contra isso. Eles nos querem dóceis e amáveis, depois de tudo o quê nos fizeram passar, e sim me refiro a nós aliens ou demônios se preferir dentro de humanos. Tenho certeza de que se você está lendo meu relato até aqui, também sofreu bastante, deve ter sido estuprado, humilhado, rejeitado, torturado, entre outras coisas, e provavelmente nem se deu conta de que teve o desprazer de ter mente lavada. Eles nos destruíram, tomaram nossas esperanças, aniquilaram nossos sentimentos, e ás vezes até tiraram nossos entes queridos. Para nos intimidar, e agora querem ter a certeza, de que vamos baixar a cabeça. Desculpe desapontá-los mas eu não vou, tô pouco me lixando para o seu milagre curativo, porquê sei que foram vocês mesmos, que criaram tais doenças, então não percam o seu tempo. Sei que não sou a única desperta, então se preparem pois logo vamos guerrear. Entidades de outro planeta vieram pra cá? É claro que sim, eles já estão aqui, e trabalham pra nos torturar dia a dia, com todo o requinte de crueldade, porquê não seguimos Uno. Tenho lido constantemente em sites, que o mundo é um lugar terrível, por causa de gente satanista, que a devastação se dará porquê é plano do diabo, que o Illuminati, é uma ordem secreta, que serve para propósitos satânicos, etc. O quê isso tem a ver? Chegarei lá. Primeiro há sim ordem secretas e satânicas, trabalhando mundo a fora, mas não se engane, eles não são estupradores, ou comedores crianças, são gente de bem, disposta a fazer parte da iluminação, e lutar por um mundo melhor, seguindo fielmente os princípios luciferianos. A Illuminati já foi uma das nossas ordens, principalmente no período renascentista, mas hoje é corrompida, e pertence puramente a igreja, a mais famosa de todas, o sagrado Vaticano, e não, não é o código da Vinci, é a realidade, eles precisam de fiéis dispostos a seguir com o plano de Uno, por isso garantem que estes façam o trabalho sujo, enquanto supostamente "lutam para salvar almas". E sim a devastação se dará porquê é um plano do Diabo, e ela já começou. Sim, este planeta está sendo destruído, por nossa culpa, mas não da forma que lhe fizeram acreditar. Ele está sendo destruído sistematicamente. Já deve ter ouvido falar em Bitcoin, não é? Com certeza sim, é uma moeda que foi criada com o intuito de derrubar os bancos tradicionais, ou o seu futuro e provável investimento. O quê ela tem a ver? Calma, tudo a seu tempo. Tenho me envolvido com o universo das criptomoedas, e estou extremamente fascinada com as mesmas. Achei que seria impossível, dado ao fato de que tentaram me afastar delas, usando a Odette como pretexto, mas agora estou de volta, e não me importo se ela fez um curso de técnica em informática, que a propósito se escreve com "ca" e não "k", como a anta escreveu. Isso foi em 2013, e duvido que alguém tão ignorante, e sedenta por superioridade tenha se dado ao trabalho de se atualizar. Não, certamente deve ter perdido o seu tempo, estudando para se tornar advogada, porquê é uma profissão que supostamente lhe dará o status almejado. Po rquê é um tempo perdido? Simples essa profissão em breve deixará de existir, já que com a capacidade de se infiltrar em memórias, não haverá porquê defender alguém, se tiver a prova da própria pessoa cometendo o crime, além disso antes da profissão falir, terá certamente sido presa por ser envolver em um escândalo de corrupção. Ela é do tipo “passo por cima de qualquer um pra ganhar”, então seu futuro não pode ser próspero, isso não é profético, é apenas ação e reação. Mas voltando ao que interessa, a tecnologia, a robótica, o futuro sempre foi a minha grande paixão, depois da magia é lógico. Porquê ler sobre aventuras que se passam num período longínquo, me fazia me sentir mais próxima de casa, e ás vezes até lembrar de onde vim.  Por isso estou cada vez mais envolvida com o mundo binário, e tenho entrado em sites para me especializar neste assunto. Tenho passado madrugadas inteiras, apenas procurando ex-changes, e faucets, para entrar neste mercado com o pé direito. E numa das minhas "viagens pela dimensão de Thaís", como meus colegas da faculdade costumavam chamar, percebi que a criptomoeda é muito mais do quê um novo ativo financeiro, representa o início da queda do velho mundo. Pense comigo, o quê tem movido a sociedade há séculos? Nem precisa de alguns segundos, para saber que o dinheiro não é? É como dizem sem dinheiro ninguém "vive", e com isso o sistema tem nos controlado para andar de mansinho, seguindo sua linha reta, sem fazer curvas. Mas o quê acontece quando esse dinheiro perde a valia, e outro objeto é colocado em seu lugar? Ele sai de circulação. Os carcereiros tem nos dito através de todos os seus recursos midiáticos que "não há dinheiro para todos", por causa da quantidade de papel que se gasta, mas e quando, não precisa mais de papel, e os outros conseguem criar uma boa quantidade financeira literalmente do nada? O sistema deles quebra, e todos ficam livres para fazerem o quê quiserem de suas vidas. Seu sonho é ser pintor, mas não tem condições para isso? Procure na internet como ganhar bitcoins, e troque-os por dinheiro, para conseguir realizá-lo!  É como um sonho não? Não precisar mais trabalhar para um chefe grosso, e estúpido, que não te valoriza, por um salário que nem compensa, o seu suor e lágrimas. Chega desse inferno, e alcance as folhas desta árvore da vida. Crowley uma vez disse, que há espaço suficiente para todos, só não para a ganância, e acho que ele se referia ao Bitcoin. É claro que a moeda foi criada por alguma ordem secreta, para favorecer os seus, pois muita gente que não tinha absolutamente nada, agora está bem de vida. Quando dizem que esta é a moeda do Diabo, eu digo deve ser mesmo, porquê meu pai a introduziu neste mundo, para desbancar o sistema político-religioso aqui instalado. Se eu sou a messias dos demônios, só tenho a agradecer ao Satoshi, por aceitar ser o rosto da moeda que foi desenvolvida pelo meu pai. E fico feliz, de ter a chance, de também melhorar minha vida financeira, com este invento. Infelizmente, ou talvez felizmente, os nossos governantes, já estão cientes de que o seu sistema econômico está falindo, e em breve o dinheiro de papel será apenas uma lembrança. Está preparado para o meu reinado, e usar a marca da besta? Eles tem usado todos os artifícios para destruir as criptomoedas.De proibições, a banimentos, e discursos desnecessários de alguém que deseja manter o seu lugar no céu. É bastante óbvio, e isso é uma verdadeira guerra, entre os gênios satanistas ou "ateus", e os velhos e carrancudos senhores de empresas, que sem o papel valioso, podem conhecer a miséria como nós já conhecemos. Eu estou do lado dos entusiastas bitcoin, o mundo tradicional e suas regras patéticas, já deu o quê tinha dá. As taxas de banco são altas demais, o preço das coisas chega a ser grotesco, as pessoas se matam de trabalhar, para não conseguirem nada mais que o necessário. Enquanto que os outros, os seus senhores, ficam no topo só a rir e observar sua desgraça. Com o Bitcoin isso não será mais necessário, pois há formas de ganhar frações do mesmo, totalmente de graça, ou caso não consiga, tente outras moedas. O Bitcoin abriu as portas da revolução Luciferiana na Terra, mas não é o centro de tudo, ele é o Sol, só que há outros planetas, então procure explorar isso. Se você é satanista, um louco, ou os dois que está lendo isso, certamente ficará animado com minhas projeções, e fico feliz por mostrar o caminho dos tijolos amarelos, porém tenho que te alertar, se quer entrar neste universo, pode ter certeza que é bem vindo, só que antes de colocar todo o seu dinheiro na moeda, lembre-se de duas coisas. 1 o mundo antigo ainda está de pé, e 2 há formas de se conseguir moedas de graça, então pra quê gastar, se pode apenas ganhar? Com as criptomoedas tudo é possível. Os senhores do velho mundo, vestidos com seus ternos e gravatas, estão furiosos com as enormes demandas de criptomoedas, por isso não se assuste se aparecer algum artigo indicando que um órgão obscuro, usava  bitcoin pra financiar o tráfico de crianças. É uma jogada deles, para fazer da moeda ilegal, e perder o seu valor, nunca se esqueça que eles sempre terão gente, pronta para fazer o serviço sujo, e manchar a reputação de algo que os ameaça. Mas trata-se apenas disso, uma ameaça, portanto não se preocupe, assim como há gente de poder no topo do lado deles, há no nosso, e estes não deixarão que a utopia da criptomoeda seja destruída facilmente.












    Capítulo V

     “Este é o fim, sem novos recomeços desta vez”

    Se cada capítulo fosse nomeado de alguma forma, este seria certamente o final. Não há nada de assustador ou surpreendente aqui, com tudo o quê já passei, e foi expressado por pensamentos distópicos, já deveria se imaginar que acabaria assim. Minhas crises só tem piorado, não queria encerrar este livro desta forma, mas parece que este é o único fim  aceitável, dado a condição em que me encontro. Tenho refletido todos os dias, parando apenas para trabalhar com criptomoedas, e cheguei a conclusão de que em pouco tempo, estarei totalmente pronta para o suicídio. Não será difícil, motivos é o quê não falta, só preciso ter um pouco mais de força para encerrar o serviço, e isto é algo que tenho adquirido a cada dia. Chega de gigantescas doses de remédios, ou copos cheios de veneno, isso não resolve nada, e apenas debilita o organismo, provocando assim uma morte lenta e agonizante, e eu não quero morrer amanhã, ou aguardar a velhice, anseio por isto agora, de imediato, pois sei que esta é a única maneira de me libertar de vez. Se vou voltar para cá ou não, é algo terrível, mas pelo menos tenho a certeza de que não me lembrarei de nada, então sim, morrer vale a pena. Queria terminar minha história com “Eu venci na vida, superei a existência da bruxa Kéka, e agora sou feliz de novo!” Porém este é um sonho distante da realidade. Eu nunca vou superar aquela virgem japonesa do Paraguai, ela foi muito mais impactante na vida do meu marido, e eu tenho que aceitar isso. Tenho que entender que algumas mulheres, são feitas para brilhar, e serem a estrela do show, enquanto outras como eu, estão fadadas ao fracasso e as trevas. Nunca serão para mim aquelas doces palavras de amor, nem do Bernardo, nem de ninguém, porquê a realidade é que eu sou um lixo em forma de gente, e sendo assim ninguém nunca vai me dá o devido valor, porquê nem eu mesma me dei. Eu abri as pernas cedo demais, o abandonei por um mentecapto, e ainda o fiz achar que estava competindo com alguém, quando claramente o tal “oponente” nem mesmo estava jogando. Eu não sou digna de respeito, compaixão, e muito menos amor, por isso que o amor só veio depois da humilhação. É difícil pra mim assumir, porém como estas são as minhas últimas palavras, tenho que confessar.2013 foi o pior ano da minha vida, porquê quando Douglas me deixou, se é que este é o seu nome mesmo, eu fiquei sem ninguém, já que ele me fez ver o pior das pessoas, com mais intensidade do que já via. Naquele ano, não tinha ninguém ao meu lado. Os que se diziam meus amigos, pareciam apenas querer a minha desgraça, e os que eram meus amigos sofriam o pior, porquê um homem que tentou me enganar, os enfeitiçou. Só que isso não vem ao caso, estes tem sido os meus últimos dias, e tudo está sendo fácil demais. Minha mãe vive saindo, Bernardo tem que ir trabalhar, então fica apenas eu e minha filha, que é a única a ver os meus surtos, e espero que isso só continue até os seus 2 anos, porquê será horrível demais, ver-me sofrer e não poder fazer nada. Para a pobre é tudo brincadeira, então algumas vezes ela ri achando que é piada, o quê é bom, porquê assim não chora, e não percebe a cruel realidade. Sabe não quero continuar aqui, para no futuro ser a mulher que diz “Ah mas eu não sou o grande amor da vida do seu pai, houve outra mulher, alguém que ele foi capaz de dizer pro amigo que amava muito, ao contrário de mim, que só servia pra suprir  sua  carência” Prefiro ser a mulher que faleceu, antes de ser ainda mais uma megera mal amada. Foi trágico, foi, no entanto não estarei aqui para presenciar essa pouca vergonha, e com sorte nem lembrarei que  Odette da Silva Pinto um dia existiu. Mulheres como ela, que são pessoas horríveis se dão bem, mulheres como eu que fogem da própria natureza bondosa, acabam sempre como amigas, ou opções menos tentadoras. Ela pisa e esmaga sem dó nem piedade, por causa do ego ferido pela falta de sexo, tem que ser conquistada, tratada como uma lady, e apresentada para amigos e família. Ela cuida de mim, me apoia, me deixa livre para escolher meu caminho, se entrega, se importa, e é extremamente romântica, apesar de parecer meio fria, não merece nada, é só uma porra de lembrança, que precisa ser esquecida, porquê se desviou, e deixou de ser submissa a mim. É simples assim, se deu a buceta, não me importo com o seu coração, então se quer ser puta, lembre-se de abrir as pernas, mas jamais a alma. É assim que me sinto, ela é a imaculada intocável, que fica nas preliminares, e eu sou a vagabunda que não tá nem aí pra essa regrinha de merda. Infelizmente este é um mundo extremamente machista, por isso ela é quem ele “amou”, e eu sou um lindo objeto sexual. Por causa destas afirmações, e certezas, porquê ele não é o único que veio até mim por desejo, não tenho tido mais prazer em me cuidar, vou fazer isso para quê? Pra vim mais uma merda de uma virgem, e sair ganhando? Pra ser olhada e desejada na rua, contudo não ter sentimentos reais ? Eu tô cansada de ser uma boneca de porcelana, não ter imperfeições físicas, não me trouxe nada de bom. Minhas amigas me odiavam, os homens só me queriam para sexo, e até a minha mãe tinha inveja, então prefiro não ter nada disso. Meu rosto está marcado? Que fique. Meu cabelo está caindo aos montes? Que caia! Minhas pernas estão peludas? Não, porquê meus pelos são extremamente finos, porém tem uma pequena penugem, que não pretendo tirar. Eu me cuidei, alisei cabelo, perdi peso, e me sacrifiquei diante do mundo, por todos que gostei ou amei, e tudo o quê ganhei com isso foi...Nada! Não sou uma mulher inesquecível, muito menos marcante. Sou como a própria virgem em forma de tábua descreveu: “totalmente insignificante”, e ela está certa. Nem um dos meus ex veio me procurar, após o fim, acho que nem mesmo eram capazes de saber o meu nome, porquê eu não sou tão bonita, quanto muitos insistem em afirmar. O B não veio me procurar...Ele simplesmente agarrou o primeiro rabo de saia, saído de um anime, e foi ser feliz, assim como o Douglas, o Rodolfo, Dominic, e tantos outros fizeram. O B não tem nada de diferente dos outros, com exceção ao Ronnie, porquê o cara era legal, só não tínhamos química. O B falhou comigo também, não soube me esperar, nem me valorizar, e ainda diz que foi otário pra mim. Otário ele foi para a vagabunda, lambendo suas botas e sabe-se lá mais o quê, enquanto ela o tratava como um cachorrinho na rédea curta. Ele não sabe o quê é ser otário. Otário, é esperar dia após dia que a pessoa reconsidere, é contar as horas para receber uma mensagem que nunca vem, é se fechar para o mundo, porquê acredita em finais felizes, é declarar morte, mesmo sabendo que agora é insignificante, é aguardar para ser a namorada, enquanto o mundo inteiro é opção, menos você, é aguentar insultos constantes, só para ficar perto, é aceitar que suas amigas são muito mais que você, é dar mais uma chance, para um relacionamento que só existe na sua cabeça, é ajudar a pessoa a conquistar outra de braços abertos, é sorrir e acenar, enquanto a pessoa nem olha pra você, é lutar por algo que já perdeu, ou que nem sequer foi seu, é ficar feliz e acreditar que há chances, apenas por um abraço, é perdoar uma mentira grave, e fingir que aceita a amizade, apenas porquê não quer perder o contato, é largar tudo, só porquê não aguenta mais ficar perto, por ser fraca demais, é aceitar uma traição, mesmo que isso custe a sua sanidade, é ser desprezado publicamente, e achar que a pessoa te ama acima de tudo, por gestos que só podem ser vistos por você, porquê diante dos outros a história é outra, é tentar seguir em frente apesar da humilhação, é saber que em algum momento a pessoa teve a intenção de magoar, e fingir que esta jamais seria capaz disso, é acreditar que é o grande amor, quando até uma conhecida sabe que o verdadeiro grande amor não é você, é se desgastar dia após dia mantendo um relacionamento que não tem mais futuro. É obrigado rapazes, eu fui o nível mais humilhante de otária por vocês, todos vocês, de formas diferentes, mas fui. Não há mais ou menos culpados da minha desolação, vocês tem uma parcela de culpa, e o engraçado é que nenhum de vocês deve lembrar que existo, isso é uma hipótese, meu marido eu sei que não lembra, afinal de contas em um ano de relacionamento, ele nunca nem falou meu nome, pro seu casinho com a outra Thaís, e vocês não são diferentes. A Hadassa  soube da sua coleguinha de classe? A Lara soube da sua amiga? A Juana soube da sua ex namorada maluca? Eu tenho certeza que não. Nenhum de vocês me mencionaria, porquê tenho o perfil de amante, uma mulher bonita e fácil de ser enganada,  ao contrário de uma esposa, que em seu extremo ciúme, sempre impõe o seu lugar. Nunca terão falado de mim, nunca sequer terão mencionado meu nome, sou o tipo que vocês se divertem e jogam fora. B, R, D e J sabem do quê estou falando, não precisam nem mesmo transar comigo, basta se aproximarem para inflar o ego, e algumas vezes brincar com a minha cabeça como se eu fosse marionete, ou quando brincar com a cabeça não funciona, é só brincar com os sentimentos, que ficam satisfeitos, e vão para os braços de suas Odettes, abro apenas uma exceção para Hadassa ela era uma boa pessoa, mas as outras são todas como ela. Nenhum de vocês quis ficar comigo de verdade, criaram barreiras para me afastar de propósito, porquê um contrato a longo prazo comigo era loucura, para R, eu estava longe demais, para D eu era uma vadia louca, para J era imatura e não podia manter relacionamentos, e para B era só suprimento de carência. B pode ter sido o único a não abandonar o barco no fim, mas isso não faz dele um santo, ou o senhor da persistência, é apenas o soldado que se escondeu numa ilha, e voltou depois da guerra, para saborear a vitória, nada mais que isso, e pior achou que o prêmio não era digno, e por isso o jogou no lixo, e agora tenta reciclar. Vocês são idiotas, nunca serão capazes de encontrar boas mulheres, porquê quando uma mulher apaixonada aparece, dão seus corações para megeras, salvo apenas a Hadassa. Poderia dizer não sei onde deu errado, mas cometi o mesmo erro com os 4, eu dei muito de mim pra vocês, enquanto que os cavalheiros, não me deram nem mesmo um terço. Eu fui amorosa, tentei acreditar nas suas mentiras, da maneira mais compreensível, estive lá pra vocês, sempre esperando por cada um em seu tempo, enquanto se divertiam, e minha existência nem se passava por suas cabeças. Algum de vocês pensou em algum momento nas suas ações antes de me magoar? Seria bom se tivessem me contado que tinham namorada, assim eu me impediria de me apaixonar. Seria fantástico se deixassem claro que não queriam absolutamente nada comigo, em vez de dizer que sentiam algo por  mim. Seria ótimo se parasse de fingir que gostava de mim, para eu ir atrás de quem me amava. Seria estupendo se você tivesse se afastado, antes de me apunhalar, quando estava comigo B. Cada um de vocês deixou sua marca em meu espírito, D por sua causa deixei de ser eu mesma, R por sua causa duvidei da minha beleza, J você abalou meu intelecto, e B por você eu deixei de acreditar no amor. Falando assim pode soar como se você fosse minha última opção, mas é apenas a ordem cronológica dos fatos, você é minha única opção, mesmo sendo o pior dos 4, se fosse realmente para escolher, eu te escolheria. Eu te amo muito, porém não dá mais, o fantasma daquela menina de olhos gigantescos, me persegue, e não consigo esquecer. Já senti certa raiva de outras ex’s, mas essa é a que me faz ter ódio e rancor, é a pior de todas. Só de ver a letra “o” ou qualquer palavra com som de “Ode”, eu surto. Não tem sido nada fácil pra mim, e com ela sendo o tipo de pessoa que só sabe xingar mandado “lavar uma louça”, é ainda mais complicado. Como pode ter amado alguém que trata um depressivo como “desiquilibrado” ou “louco que tem que ser internado”, como se fosse os anos 60, quando problemas mentais eram tratados como monstruosidade, imitando os ritos da era medieval? Ela é uma carrasca, típica peregrina que teria mandado um inocente para a fogueira, e você é o tipo de homem que gosta do mundo anormal, então como?! O quê nessa crueldade dela que te deixou tão louco de amores?! Gente como ela é detestável! Deveriam ir pra fogueira, no lugar daqueles para quem apontavam seus dedos sujos! Bom talvez a melhor explicação seja que é sua alma gêmea, por isso os opostos se atraíram, e neste caso só estou atrapalhando uma união sagrada. Algo que me deixaria bem feliz noutros tempos, contudo hoje não deixa, porquê sei que está lutando contra o destino, apenas pela merda de uma compatibilidade que não existe mais. Nós mudamos, e eu mudo a cada dia. Já não ouço tanto rock n’roll, odeio anime porquê me lembra daquela puta, e a sua conversinha, ver filme ou série, não é o suficiente pra saciar o tédio, jogar vídeo game não tem mais graça, te morder ou fazer sexo com você, já não me atrai. Não tem porquê continuar com isso, é bobagem, deve pegar suas coisas, e correr pros braços do seu grande amor, que te faz ser o quê nunca foi pra mim, um idiota romântico. Se não fizer, pior será pra você, pois em breve vou está morta, ontem risquei o pescoço, hoje cortei um pouco, e de forma gradativa, tomo coragem para chegar a artéria, e parti-la ao meio, destruindo minhas chances de viver em questão de minutos. É , o fim se aproxima, e já posso ouvir o tick-tack do relógio, apontando para as horas da parada do meu coração.  A cada dia que essa questão não se resolve, é mais um minuto adiantado no relógio da vida, e como sei que o parece é, logo formarei 1 hora, e depois mais 1 hora, até enfim completar o ciclo. Sinto que estou perto de enriquecer, e me tornar uma mulher de extremo poder, mas não estou feliz com isso. É claro que precisamos de dinheiro para viver, mas é preciso bem mais para existir. Tenho minerado muitas moedas, com grande potencial, e sei que se aguardar um pouco logo estarei bem de vida, no entanto não me importo com isso. Sempre tive dinheiro e alguém pra me dá tudo o quê queria de material, e isso nunca me trouxe felicidade de verdade. Muitos podem me chamar de mimada ou mesmo egoísta, porém continuarei a afirmar que dinheiro não é tudo, é apenas 75% da coisa, e os 25% restantes é que são preciosos, pois são eles que fazem cada respiração valer a pena. Sei que muito em breve vou acumular uma pequena fortuna, sinto isso dentro de mim, e deveria ser o suficiente para sorrir, e acreditar que venci na vida, todavia não estarei com um enorme brilho no olhar de bonança, quando isto acontecer. Eu lutei por longos 13 anos pelo meu sucesso, e agora que vai se concretizar simplesmente não faz sentido algum. Eu serei rica, extremamente influente, e chegarei ao topo onde alguns jamais foram, finalmente terei o poder em minhas mãos. Esse é o sonho brasileiro, sair da pobreza, de um jeito efetivamente fácil, tenho a chave na minha palma, e deveria bastar, mas não basta. Nada é bom o suficiente, absolutamente nada, é capaz de me fazer feliz. Vejo minhas moedas crescendo de forma substancial, e penso na minha futura casa, e o quê há de bom reservado para mim, e no segundo seguinte lembro que só sou digna de riqueza material, e pego a mesma faca de cortar carne, e passo sua lâmina no meu pescoço. Tenho muitas marcas próximas da garganta, e poucos sabem de minhas tentativas, para a maioria minto na maior cara de pau, apenas B e Rá estão a par da situação. Rá nem sequer imagina os horrores com os quais convive, porquê como já disse antes, para a baixinha é só uma brincadeira. Meus gritos e comportamento auto-violento, não passam de maneiras de lhe animar, cortar o pescoço é divertido, gritar como uma lunática é pura palhaçada, e ela apenas ri como se nada fosse realmente me ferir. B já está tão acostumado com meus “dramas”, que nem  mesmo é capaz de ligar, e mais ainda diz que eu tenho medo, e jamais seria capaz de acabar com minha vida, sei que isso soa grosseiro, no entanto não é assim, ou talvez seja exatamente o quê parece. Se me amasse tentaria me impedir, dizendo o quanto lhe machuca me perder, mas sente tanto por mim, que só consegue me abraçar forte em silêncio, sem pedir mesmo que por um segundo, para que eu fique por ele ou por nossa filha. Acho que ele não é capaz de sentir amor por ninguém, por isso não sabe se expressar tão bem, ah não espera ele sabe se expressar sim, só não por mim, porquê não é que não saiba amar, é apenas que não sente absolutamente nada por mim. É tudo tão lógico, que não sei porquê perco o resto do meu tempo, com alguém para quem sempre fui só um rosto bonito, que não merecia uma gota de valor. É como voltar a 2012, quando me questionava dia após dia, se o meu namorado me amava, e se o quê sentia era real, por quê então tinha o prazer de me sofrer com seus jogos de falsa personalidade? Terminou, estava na cara que seria assim, e o próprio um dia veio confessar, que tudo não passou de um jogo, uma vingança por não ter cedido aos seus avanços estúpidos. D e B não são tão diferentes, a falta de caráter é uma marca dos dois, e tenho certeza que um dia B e eu terminaremos, e ele vai ser o próximo a dizer “Eu só estava com você por vingança, e foi muito bom te fazer agonizar”, ainda por cima irá completar com “Você estava certa, Odette era mesmo minha alma gêmea, e hoje somos muito felizes juntos.” Sei que vai acontecer, e não há nada para mudar isso, porquê no destino não deve se mexer. Eu era destinada ao D, isso é óbvio, não porquê temos uma ligação espiritual, ou essas bobagens que só os humanos tem direito, e sim porquê desde sempre, sou sua vítima, e estamos fadados a nos encontrar, para que continue a me matar, como das outras vezes. Pra ser sincera não sei o quê fazer, tempos sombrios estiveram tomando conta dos meus dias, e percebi o quanto sou desnecessária. Minha mãe, nem sequer se importa comigo, como foi registrado aqui, venho tentando me matar mesmo, há uma semana, e quase ninguém notou, mas o quê dói mesmo é ela não ter visto, e ter saído em um passeio romântico com o namorado patife, me deixando sozinha em casa, dando-me mais oportunidades de me matar, e se acontecesse duvido que choraria pela minha perda, já que eu sou só mais um problema para deixar para depois, como todos os outros. Minha filha adoeceu recentemente, ficamos todos preocupados, e a levamos para o hospital três vezes, temendo que fosse alguma dessas doenças, do tipo H1N1 ou Dengue, fiquei aflita só até os resultados em mãos, depois me acalmei, mas a vovó Sol não, ficou toda cuidadosa, amorosa, e presente para a neta, como se esta fosse morrer por uma gripe, se fosse mesmo acontecer, acredite em mim eu sentiria, só que não senti, então não fiquei tão abalada. Sou taxada de cruel todos os dias, de péssima mãe, entre outras coisas, mas a verdade é que detesto todo esse carinho para com ela, porquê sei que quando mais precisar que se importem, não vai ter ninguém lá. “Você é grande, sabe se cuidar!” É o quê lhe dirão, quando necessitar de um abraço, ou um beijo de boa noite, seguido de um “eu te amo, e você é preciosa pra mim”. De que adianta ser ótimo pra uma criança de 1 ano, e péssimo para um filho de 23? O bebê não lembrará de nada, não saberá do seu esforço ou a falta dele, enquanto que a criança, adolescente, e o adulto sim terão acesso a essas informações. Como se isso não bastasse, ainda vem a falsa da minha sogra, a mocinha de uma certa vaca, encher o saco com seu teatrinho barato. Se ela ama a neta, ótimo, só não me envolva nisso. Sinceramente estou cansada de tudo isso, das mentiras, dos teatros, e toda hipocrisia que me rodeia. B não me ama, minha mãe não me ama, e tenho quase certeza de que Ravenna será uma decepção, pois desde já, apresenta gostos controversos aos meus, e mais próximos da idiota da minha mãe. Ela não será minha Wandinha, mas sim uma beata que também fecha as pernas, porquê não se garante num relacionamento, e talvez admire a mal amada número 2, por sua “coragem diante da pressão da sociedade”. Que coragem?! De não ter personalidade própria? De precisar segurar com alguém com sexo, por ser tão insuportável?! Belo exemplo a ser seguido. Melhor ter uma noite de prazer, que termina no dia seguinte, do quê uma vida de falsidade, para segurar alguém que, se quisesse realmente está junto de ti, ficaria mesmo depois de o entregar o “ouro feminino”, porquê se você é boa o bastante, faz com que te amem pelo que é, e não pelo que tem no meio das pernas. Há a quem estou enganando? Homem nenhum fica com uma mulher,  depois de levá-la pra cama, os meus só ficaram porquê institui pactos de compromisso, que me garantiam não ser trouxa como as outras, mas enfim por amor mesmo nenhum permaneceu. Ninguém fica comigo por amor, vai ver que de tanto ser insuportável, acabei achando que todo mundo era, incluindo a moça. Ela não tem culpa de nada, nada daquele tempo, eu fui embora, e ele achou alguém para amar, fim da história. A única otária a pensar que não seria esquecida aqui, fui eu, por acreditar que ele não acharia nada melhor, mas achou, e foi feliz. Eu deveria ficar feliz por ele não? Esse seria o certo. No entanto se você chegou ao capítulo final, deve saber que estou pouco me lixando para as regras de certo ou errado. Eu a odeio, porquê ela sempre será lembrada como o amor da juventude dele, enquanto eu serei eternamente a garota com quem passou um tempo, o suprimento de carência, e outras coisinhas “açucaradas”. Poderia dizer posso conviver com isso, e vamos deixar para trás o passado, mas apesar de ter sido uma vadia, acredito que eu merecia muito mais aquele “eu amo ela, não quero perdê-la, vou mudar por ela”, do quê uma beata de merda, que finge ser das trevas, mas não passa de uma cristã inversa. Não, não posso conviver com isso. Estou cansada de sempre vim alguém lá da puta que pariu, e realizar os Meus Sonhos! É Melinda! É Elly! É Isabela! É Claudia! É Odette! Chega! Chega de aguentar essas parasitas! E vê-las se dando bem! A justiça vem para gente um dia? Engraçado para mim nunca chegou! Melinda é linda, tem o cabelo maravilhoso, uma família que a ama, e amigos de verdade. Elly? É e sempre será vadia oferecida mais gostosa do pedaço! Isabela foi para a esquerda e fez ainda mais seguidores pro rebanho! Crueza deve ter emagrecido, e se tornado bonita, de acordo com o meu azar! E Odette? Ah essa é a pior, ela será sempre o “anjo” que salvou o Bernardo da morte, para a qual a minha sogra, acha que eu mandei o filho dela. Faça-me o favor! Se ele estivesse ao ponto de se matar, teria se declarado e lutado por mim, e não criado planos para comer a buceta da madre Teresa! E eu o quê tenho? Nada! Não tenho um cabelo bonito, ou traços divinos! Minha família? Eu tenho família? Acho que não! Sou uma vadia sim mas não do tipo rainha das atenções, e sim daquelas que se envolvem no escuro, e ninguém nunca descobre, sou uma piranha descartável! Seguidores? Há-há-há! Não tenho nenhum. Meu azar é tão grande que a gordinha de 27 anos, deve está melhor do quê eu. E por fim sim sou mesmo um demônio destruidor, que atacou o pobre e indefeso psicopata, que tentou me matar! Ah não sabia sogrinha? Pois é, seu filho é um perturbado! Tanto ou pior do quê eu! Esse é o fim... e como disse antes, sem mais recomeços, pois desta vez estou realmente disposta a me matar. Adeus, obrigado a todos que leram essa história estúpida, sobre alguém tão insignificante, que jamais será um best seller, ou sequer algo digno de venda. Sim você  perdeu tempo, e não foi difícil enganar, afinal de contas, fiz isso parecer interessante, porém o fato é que não há nada extraordinário aqui, nunca houve. Não menti sobre nada, só que não faz diferença, porquê no fim  não importa o quê tenha acontecido, eu continuo sendo ninguém. Não tô nem aí pra ideia de contar isso aos meus netos, porquê a verdade é que só me importo com sucesso e poder, uma vez quis associar isso junto do amor, mas percebi que me desviar dos meus objetivos, foi um erro, por isso retornei ao meu estado inicial. Sim sou egoísta, sou detestável, essa sou eu, e gente assim deve morrer não concorda? Sei que sim, então não chore pela minha morte, lembre-se de que não fui digna de sequer uma boa declaração de amor, de manter os amigos, ou mesmo permanecer como filha do conde Drácula. Também não sou digna de suas lágrimas, sou desprezível, e satânica, o quê quer mais para sorrir pela minha desgraça? Até nunca mais.





















    Anexos


    Carta prometida


    13/03/2018

    Olá novamente, em todas as vezes que vim 

    até você, porquê não sou uma covarde, vim com um tratado de paz, mas como a sem classe que é, você simplesmente me tratou mal, só para sair de superior. Engraçado nunca ter ouvido falar de mim, mas justo depois de começar a namorar o meu marido, adotar esse estilo tão característico da única Carry Manson que existe, outra coincidência estranha Kássia, Carry...ambas com o som de K, mas advinha quem veio primeiro? Isso mesmo, eu sou o ovo, você é apenas a galinha. Suas fotos são tão semelhantes as minhas, que entendo porquê o Bernardo te chama de cópia barata de mim. E ah se você nunca ouviu falar de mim, porquê então escrevia nas postagens românticas que aquilo não era pra você? Sabia que ele esteve com você por 2 anos, e nesses 2 anos guardou uma música que cantei, e a ouviu antes de dormir? Taí o quanto é superior queridinha. Ah que ele falava de mim pros amigos, como a única perfeita pra ele, e   só estava com você porquê queria te levar pra cama, cê foi dura na queda hein? Tão típico de virgens indesejadas. Calma tem mais. Quando você foi pra casa dele, ele nunca teve a intenção de te apresentar pra mãe. Ele te traiu com Macapá inteira, incluindo sua amiguinha Bruna, que você tanto detesta, e sabe a Thais Lobato que quase destruiu o namorico idiota de vocês? Bem ela nos dá total apoio, e comigo percebeu que a derrota era garantida, porquê eu mostrei quem realmente manda. Ah o nome da melhor amiguinha dele era Thaís e ela curtia animes, filmes, desenhos, e pintava o cabelo de colorido? Bem advinha por quê?! Por lembrar de você é que não era monamour. Sei que se falaram recentemente, e que você continuou a negar os fatos, porquê quer ser superior, mas meu bem você é tão superior, quanto essa tua popularidade de merda, que se restringe aos teus amigos. Quem é Odette  Pinto? Se você não tivesse namorado o cara que eu deixei, eu nunca saberia, mas anda por Macapá, todo mundo sabe quem é Thaís Marino, e joga no google, e todos vão saber quem é Carry Manson. Se acha especial por falsas declarações, que só conseguiu por fechar as pernas? Grande coisa, quero ver dormir com o cara, e segurá-lo por 8 anos. Ah é desculpe em março de 2013, ele não esteve com você, porquê estava na minha casa, e só não ficou lá porquê eu garanti que não voltaria pra ele. Triste não acha? Saber que a pessoa em quem você quis pisar, te superou em tudo. Sim porquê se com 3 meses de namoro, ele saiu pra te trair, com 3 meses de namoro eu o fiz sair de casa, pra se casar comigo. Bom é isso, foi um prazer não falar com você, e quer saber ? Isso não acaba aqui. Se sente humilhada agora, é porquê não sabe o quê te aguarda. Ps: Deixa de se fazer de dark,

    todo mundo sabe que você escuta apenas

    nxzero, fresno, e strike!




    Obs: Sim fui arrogante e metida, mas isso é apenas um mecanismo de defesa, para esconder minha tristeza e total insatisfação diante dos fatos. Não tenho nada contra as bandas de rock citadas, apenas acho ridículo alguém escutá-las, e querer bancar  um ser das trevas, quando está claro que tem coração mole. Eu já as escutei, mas isso foi há muitos anos, quando acreditava em amor, e que podia ser feliz. Pra mim quando alguém escuta tais canções e gosta do quê ouve, significa que é uma pessoa de coração mole, que tem esperanças e alegrias, algo bem distante da persona de alguém soturno, por isso fica fora de contexto, é como ter o coração de manteiga, e fingir que é de pedra, só para ter atenção, o quê para mim é um ultraje. Porquê o quê importa é ser você mesmo, e não outra pessoa para agradar a todos, pois se tem que ser outra pessoa pra gostarem de ti, é porquê os sentimentos dos que te rodeiam não são reais.










    Fim.

  • SOLIDÃO

    Eu quero saber por que você não fica? 
    Está uma noite fria e o que  
    tivemos foi tão bom, gostoso  

    Por que você não fica? 
    Já foram tantas noites lindas de amor,  
    mas sempre vai embora  
      
    Por que você não fica? 
    Me deixa aqui sozinha e depois de passar  
    muitos dias me procura falando coisas que eu quero  
    ouvir e por carência acabo cedendo e repetimos  
     
    Por que você não fica? 
    Eu fico feliz na sua companhia  
    A gente ri de coisas bobas e acabo  
    acreditando que será nessa noite que vai ficar 
     
    Por que você não fica? 
    Eu perguntei sobre o nosso relacionamento  
    não respondeu e foi embora 
    Vou parar de perguntar 

    Por que você não fica? 
    Eu estou muito gorda  
    vou emagrecer e estar  
    bonita para que da próxima vez possa ficar 
     
    Por que você não fica? 
    O sexo não foi tudo aquilo,  
    vou me esforçar para que  
    as outras transas sejam melhores  

    Por que você não fica?  
    Só porque sou negra e moro na periferia,  
    mas pretendo sair daqui um dia,  
    só que a cada dia está mais difícil  

    Por que você não fica? 
    Eu me entrego, sou verdadeira, carinhosa  
    e mesmo assim não consigo fazer você ficar. 
     
    Por que você ficou? 
    Devagar os meus olhos vão fechando  
    e a última lembrança que terei  
    serão de seus olhos chorando por alguém que nunca amou  
    Ah, mas você ficou! 
  • Te quero porque te amo (Capítulo 1)

    Há dias eu estava sem nada a fazer, ponto de enlouquecer-me. Algo em que nas poucas ousadias que me restava perambulava-me pelas ruas. Rotina sem gosto que na maioria das vezes estonteava-me. Algo que me compelia a fazer uma parada obrigatória. Enfim, tinha um lugar que era o meu ponto ideal. Era o local onde na maioria das vezes cruzava-me com uma linda mulher. E que mulher! Seu corpo era o tal, cujo meus olhos nem mesmo por tão perto estar, espreitava furtivamente sob aquele corpo delineado. Algo impossível de renegar, já que a linda mulher, sempre que surgia, transformava aquela cena em algo que me fascinava impossibilitando até mesmo eu de governar o meu pescoço e coração. O tempo passou. Tempo maldito! Daquele trajeto, por mudança de emprego tive que de lado deixá-lo, exceto os meus dias de folga, já que meu serviço era de escala corrida; então na maioria das vezes sempre folgava um dia útil; dia suficiente para me restabelecer do vazio que a ausência daquela mulher me atordoava. O desejo, o sufoco, a dependência de começar a ter contato com ela obrigou-me em arrumar um meio de aproximar-se dela conquistando sua amizade. Sua voz foi a gota d’água. Que voz! Diante daquilo, descobri que, a cada dia que passava ou que a cada coisa que eu fizesse para conquistar sua amizade, nada poderia dar errado. Afinal, ter a sua amizade era essencial, pois, com a sua amizade tudo tornaria mais fácil. Eita, mulher difícil! Não foi mole cativá-la, não. Pois, por mais que ela alegava nunca ter-se apaixonado por um homem, confessou-me o medo de isso acontecer.
    Como amigo procurei alertá-la de que este pensamento era um mito que jamais pudesse ou não ter uma resposta, se ela não abrisse o próprio coração, permitindo-lhe passar por isso. Por amor a ela, eu não desisti da batalha. Lutei até o último instante. Pois sem ela, eu não poderia ficar; ainda mais como amigo. Ao longo da nossa amizade, tivemos o nosso primeiro encontro, sem ser como amigos. Só não rolou sexo. Mas foi por pouco. Não a forcei, apesar de que o desejo não era de forçá-la, mas de implorá-la para que “esse” bendito momento rolasse entre nós.
    Num certo dia, devido aos problemas que eu estava levando financeiramente, por deslize do meu lado humano, minimizei minha atenção a ela, mas, só a atenção, pois, o amor e a necessidade de tê-la, jamais. Isso ela notou. Nesse exato dia, recebi por volta das quatro da tarde, ainda de expediente de serviço, um recado dela, da qual assim que saísse do serviço, era para eu procurá-la no seu apartamento. Recado pegado. Recado cumprido. Cheguei por lá às sete da noite. Entrei logo a cumprimentando e beijando. Um beijo que eu não sei bem, não consigo imaginar, se saciou a minha sede de amor ou se transbordou ainda mais o meu sentimento a ela. Ah! Isto é difícil de expressar, mas para aqueles que já amaram ou está amando sabe muito bem do que estou falando. De todos os beijos que rolou entre nós, aquele foi o mais provocante. Não da minha parte, mas da parte dela. Pois, da minha, eu confesso, sempre procurei dar o melhor de mim, afinal, eu a amava, e estar junto dela era o melhor presente que Deus poderia ter-me dado. Sistemático, mas ao mesmo tempo fascinado pela recepção, a um riso moleque dei uma breve pausada perguntando se estaria tudo bem. Tímida, mas empossada a um suspiro que vim a entender que era para continuarmos, não disse mais nada, do riso manobrei os lábios entregando-a de vez. Beijo bom! Beijo gostoso! Ainda estávamos na porta. Cena que só fomos cair na realidade quando nossos movimentos já se falavam mais que atitudes de namorados. Entramos, conversamos um pouco e logo, ali naquele apartamento tudo rolou. Tudo. O início de uma das melhores fases da vida de um homem. Entregamos um ao outro, sem receio, apenas de corpo e alma. De corpo e alma! Palavras tão ocultas. Palavras tão abstratas, mas, com um significado lúcido na vida daqueles que já passaram por um desses momentos. Dizem que mulheres são todas iguais. Não é não. Com a amada é diferente. É tudo mais fantástico. É como se fosse o produto original com a melhor qualidade. A partir daquele dia, a vida dentre nós tudo aconteceu com mais frequência. Envolvemos tanto que logo descobrimos que não daríamos apenas para ficar levando a vida, daquele jeito. A cerimônia entre nós aconteceu. Apaixonados um pelo outro, casamos justamente no dia em que completaria seis anos em que eu havia lhe pedida em namoro.
    Tínhamos tudo para honrarmos no que no dia de cerimônia juramos um ao outro, como um pacto, até o fim da nossa jornada. Tentamos nosso primeiro filho, mas ele não se vingou. Abatidos, unimos curando “a maldita ferida” que a vida tinha nos feito, após anos mais tarde, preparando-nos para o segundo filho. O segundo! O segundo tinha tudo pra dar certo. E deu, até aos nove meses. Poucos dias para ganhar, a tragédia aconteceu. O bebê não aguentou! Ela, fisicamente sobreviveu da hemorragia não prevista. Mas psicologicamente, ficou hiper-arrasada. Demos mais um tempo a nós mesmo, a fim de compartilhar nossos amparos, somente mais adiante tentando o terceiro. Mas a vida nos surpreendeu... Anos passados, Ana, minha esposa, decidiu que não queria o terceiro do próprio ventre, assediou-me e tanto, até que me convenceu e adotamos uma criança. Pacto selado, mas com as pequenas condições: primeira, a criança deveria ser de uma cidade de longe e de preferência quem viesse a ser a babá, também deveria ser de outra cidade, assim ninguém precisava saber que essa criança seria nosso filho adotivo e tão pouco a babá ficaria especulando nossas vidas.
    A trinta quilômetros de onde morávamos, adotamos Douglas. Não sei como, mas uma babá de outra cidade a quinze quilômetros da nossa, soube da vaga que estaríamos necessitando e suplicou-nos para contratá-la. Ela era formidável, cativadora... Ficamos com ela e nos demos tão bem que por intermédio dela contratamos Élder, nosso motorista. Nos primeiros anos deles juntos de nós, tudo foi maravilha! Deixávamos o pequeno Douglas com eles a fim de recurtirmos à vida de namorados. Tempo suficiente para que Douglas começasse a chamar a empregada de mãe. Minha esposa não gostou daquilo, e por várias vezes retrucou-se com a própria babá. O motorista, ele era mais na dele. Certas vezes, quando estávamos todos reunidos, em seus olhos, eu via alguma coisa, só não entendia o recado que aqueles cintilantes olhos, acrescentado a um semblante pensativo fazia dele. De início procurava não levar aquilo a sério, mas depois, de tanto minha esposa começar a pegar no meu pé de que a presença da babá já estaria virando nossas vidas de cabeça para baixo, resolvi levar a sério, mesmo em segredo. Daria o céu para entender que recado era aquele! Mas Deus nunca me deu sabedoria. Já a ele, cara esperto, não é que ele entendia a minha indagação às suas atitudes!? Sempre que ele me via, despencava os olhares, saindo de perto. Tinha época em que até procurava ficar longe de mim. Estratégico, eu sempre procurava convidá-lo a sentar-se junto a nós, mesmo desinibido, ele, o recado atendia. Já a babá, ela era mais espaçosa, minha esposa nem precisava convidá-la, principalmente quando se tratava de Douglas. Tinha vez que parecia que era ela a mãe do nosso filho. Minha esposa tinha momento que até chegava ser rude com ela, arrancando Douglas do braço sem ao menos dar-lhe uma explicação ou licença. Cenas. Acontecimentos. Fatos. Uma bola de neve que começou a causar-me insônia. Por esta eu não esperava, mas a babá estaria tendo o mesmo problema do que eu. Sem deixar as coisas vir à tona, pequei três vezes ela zanzando pela casa. Na primeira, não perguntei, afinal ela se demonstrou muita inibia. Na segunda, perguntei, mas ela disse que estaria matando a sede. Na terceira, a mesma resposta. Hoje, quando caio na realidade, tenho dentro de mim uma resposta diferente. Suas andanças pela casa tenho mais do que certeza de que era para espionar nossas fraquezas ao terrível plano que ela estaria cometendo contra nós. Tudo começou vir à tona quando Creusa foi pega em flagra por Ana obrigando nosso filho a chamá-la de mãe. Douglas já estará nos seus três anos. Ana entediada com o fato desabafou em palavras o rancor que há anos estaria guardando a ela. Creusa constantemente implorava perdão, momento em que assustava e muito Douglas. Élder precisou interferir, tirando Creusa da sala. Momento em que Ana ligava-me avisando que Creusa haveria de me procurar acertando os seus direitos trabalhistas, mas que não era para eu dar atenção às suas palavras, enfim, em poucas palavras, mas a um tom bastante áspero, Ana contou-me o motivo. Algo que de momento enfureci dando razão a ela. Decisão que não tivemos sorte de levar o assunto adiante, afinal, Douglas ficou doente e sem recurso tivemos que recontratá-la, após duas semanas. Atitude desastrosa. Momento adequado para que de uma vez Creusa colocasse em prática os planos malignos. Atos estranhos na minha casa começaram acontecer, várias vezes eu pegava pista que me levava a crer que algo de errado estaria acontecendo entre Ana e Élder. Eu não queria acreditar, afinal, eu nunca suspeitava da minha esposa. Fora que eu a amava, e ela, sempre procurou estar do meu lado, jamais despertando meus pensamentos infames. Ana jurava que me amava, da qual jamais me trairia por outro; mas as pistas eram constantes... Num determinado dia, cheguei de manhãzinha em casa, devida a uma viagem de serviço que me fez ficar uma semana e meio, ausente de casa. Peguei com os meus olhos, minha esposa despida dormindo, enquanto roupas de Élder também estavam lá. Já ele, havia saído. Isso não me deu escolha. A primeira coisa que fiz foi tocá-la de casa, sem ao menos se preocupar com a escolha. Élder foi junto. A casa, mesmo que Douglas, meu filho a quem tanto amava e continuava comigo, a casa aparentava vazia. A atenção de Creusa dobrou de vez por ele, mas para mim, eu nem me preocupava com aquilo. Afinal, Ana fui capaz tirá-la de casa, mas não do meu coração. Meu coração estava tão pensativo a ela, que tinha hora que eu jurava que era nele que ela ao corpo terreno estaria morando, afinal, eu não lhe tirava um segundo dos meus pensamentos. Vivia-me perguntando – Ana, aonde está você? Perguntas pesadas, afinal, eu a amava e tanto, que se não tivesse a companhia do “maldito orgulho”, eu sairia a qualquer momento desesperado de casa pelas as ruas na sua procura. Por anda Ana? Ana, por aonde você anda? Meu psíquico cobra-me vinte quatro horas. Era dia e noite. Minha casa tinha três empregadas: a babá, a cozinheira e a secretária do lar. Todas sentiam em carne viva o desespero que eu tolo tentava disfarçar que já não sentia por Ana. Creusa era a única que não tocava comigo sobre este assunto. Afinal, comentava-se pela casa que ela sentia e muito a falta de Élder. Vim, a saber, dentre desse terrível período que eles eram até namorados. Um dia, pasmado com essa notícia, procurei chegar nela desmitificando minha curiosidade, mas Creusa recusou a tocar neste assunto, alegando que necessitava se amparar nas poucas forças que restava para cuidar de Douglas. Afinal, Douglas estaria sofrendo e muito com aquela tragédia. Aquilo me surpreendeu! Momento da qual comecei a criar carisma e forte por ela. Nossa! Como uma mulher que estaria passando pelos problemas de Creusa, ainda continuava a viver naquela situação?! Ainda muito abatido com a situação que estaria passando, procurei respeitá-la, apenas admirando-a ao silêncio. Ana continuava a fazer falta para mim. Mas pelas conversas que pude pegar pela casa, ela, aparentava ter-me esquecido. Sempre que podia vinha em casa, mas sempre no horário que eu não estava. Fiquei até sabendo que em papel de divórcio Ana estaria agilizando junto do direito de ficar com Douglas. Pra dizer a verdade, eu ainda não estaria se recuperando de nada. Melhor, confesso, com o tempo em que estaria passando, a cicatriz que a vida há pouco mês havia feito, nem um por cento eu havia me recuperado. Parecia tudo recente. Deitava, dormia e levantava, entretanto, tudo ainda parecia recente nas minhas memórias, era como se tudo tivesse acontecido ontem. “Mas”, entrar com papel na justiça para tirar Douglas de mim, era fatal! Poderia não parecer, mas era ele, a única coisa que me animava a levar o barco adiante. Procurei por orgulho o máximo que podia ficar longe de Ana, mas desta vez foi diferente. Tive que procurá-la e sobre este assunto conversar. Nosso encontro aconteceu! Foi na casa de uma de suas amigas, uma das madrinhas do nosso casamento. Fria, Ana me tratou, mas, eu só em olhar nela, conversamos forçadamente somente sobre Douglas. Até que num certo momento confessei-a sobre o amor que ainda tinha por ela e sua ausência que estaria me matando aos poucos. Ana foi incrível! Por mais que seus olhos demonstravam que minhas palavras estariam penetrando no seu coração, sua face, seus lábios pareciam não me perdoar. Repentinamente pedia-me que parasse de falar, mas eu não conseguia, a importância da sua presença era mais forte. Chorei. Implorei. Confessei a ela, tudo o que meu coração por aquele mês havia passado. Ela, em palavras alegava que fui injusto e o que eu havia avistado dela com Élder fora cilada de alguém de dentro da própria casa. Com um leoa faminta, em sua bravura despencou em mim tudo o que também gostaria de falar. Nossa! Eu não sei o que aconteceu comigo naquele instante. Não sei, se era a minha necessidade tamanha de vê-la ou outra coisa, mas precisei acreditar naquilo, nem que eu tivesse que fingir a mim mesmo, que suas palavras fossem verdade.
    Aquela conversa deu-me o direito de mais vezes nos encontrarmos. Encontramos. De início eram somente suplicações, mas depois, nos entendemos e ela retornou pra casa. Élder, nós não vimos mais. Mas, o que eu via e sempre era o desejo constante de Ana em querer que Creusa saísse de casa. Com receio de perdê-la, resolvi acatar sua decisão. Creusa saiu. Douglas como já estava com quase os quatros anos, fomos conversando com ele. Foi difícil. Mas, ao decorrer do tempo, ele foi vagarosamente aceitando.
    As coisas aparentavam entrar no eixo. Entretanto com três meses levando-nos a vida conjugal, uma correspondência chegara a nossas mãos. Era um intimado da justiça. Abrimos e tivemos que contratar um advogado. Era Creusa que entrara na justiça querendo a guarda de Douglas. Que Bomba! Creusa era a mãe biológica de Douglas! Tivemos que ir atrás de Élder, para sanar algumas coisas que ficara pendente em nossas cabeças, mas não o encontramos. Descobrimos que ele havia falecido. Que espanto! Era ele a nossa esperança de desmascarar Creusa. Enfim, o que poderia surgir-nos como uma luz no fim do túnel, surtiu ao contrário, a audiência está marcada e será daqui a dois meses. Tempo fumigatório! Pois, enquanto o tempo não chega, eu vejo nos olhos de Ana o desespero pela chegada, sem poder ao menos de nos protegermos disto. Não que eu esteja louco, mas às vezes me pego olhando pela janela da sala, como uma criança desesperada aguardando alguma solução, afinal, estou feliz por ter Ana de volta, mas eu juro, não quero perder Douglas por nada nesta vida! Ele já faz parte da minha vida! Ele é a minha família! Não consigo imaginar passar pelos cantos da minha casa e um dia (que Deus nos proteja!), não quero deixar de encontrá-lo com aquele jeitinho angelical correndo atrás de nós despertando o carinho que Deus sabe e tanto o quanto temos a dar a ele.
  • The Angel In Earth

    Lux Burnns
    Sumário
     Prólogo............................ 3
     Capítulo 1- 1995............... 4
     Capítulo 2- 2006...............12
     Capítulo 3- 2011...............23
     Capítulo 4- 2013...............44
     Capítulo 5- 2015...............55
     Capítulo 6- 2018...............72
     Referências......................88
    Prólogo
    Escrevo livros desde os 11 anos, foi uma alternativa, quando vi que meus desenhos tinham os próprios traços, e jamais mudariam. Fui autora de muitos projetos não reconhecidos, que podem ser encontrados em meio a vasta internet, para quem quiser ver, como foi que a minha escrita mudou de redundante para encantadora. — Não é presunção, se há uma gama de leitores que concordam. 
    Minhas obras sempre foram voltadas, para o quê seria no futuro, ou as aventuras mágicas, de uma mente, muito, muito perturbada. Então definitivamente, não é fácil iniciar um projeto, que retrate quem eu sou, sem o uso de alegorias, e extremos ao retratar sobre fatos que me assombram, ou aconteceram.
    A jornada não será simples, pois meus problemas não se resumem somente a eventos comuns. Já me encontrei com o sobrenatural várias vezes, e sei que há mistérios, que fazem a insanidade se tornar um refúgio, diante da realidade nefasta. – Vi coisas que preferia esquecer, e que me fazem cogitar a ideia de juntar a banca ateísta.
    Como se isso não fosse o suficiente, tive minha saúde mental degradada com o decorrer do tempo, e isto me levou a conhecer o pior que existe da natureza humana. – Já teve medo de entrar no hospício? Eu sim. Não por achar que viraria minha casa, mas por acreditar que seria aprisionada ali, por causa dos meus pensamentos, e a ausência de sentimentos em determinados momentos.
    Tentei escrever o Sobre Mim, narrando somente os fatos, sem fazer uma análise profunda e detalhada de minhas ações, e acabou por ser concluído como um ensaio suicida, nem um pouco convincente. – Eu estava a beira de um surto, e o livro serve ao menos para o estudo psicológico, ou a expressão mais pura da loucura de uma mulher.
    Espero que esta tentativa seja diferente, ( darei o meu melhor para que seja). Então busque pela sua bota mais resistente, e a capa mais quente, pois a caminhada será longa, e ela começará agora.
    Capitulo 1- 1995
    Meus pais eram o típico exemplo, da história de amor, mais estranha do mundo. Minha mãe era um pouco namoradeira, e meu pai aparentemente um stalker, pois ficava lhe esperando voltar dos encontros, e a vigiava através da casa da vizinha dela. – Se isso não é perseguir, então não imagino nem um outro sinônimo para substituir a palavra.
    Minha mãe, talvez por ter sido criada de forma conservadora, não viu em seus atos nada de absurdo, por isso se apaixonou pelo jovem que vivia de cara amarrada e pouco ria, e que estava sempre na sua porta.
    Anos mais tarde, eles me geraram dentro de um carro, ouvindo a música Black da banda de rock Pearl Jeam, que basicamente fala de um amor dependente, que um homem tem por uma mulher, que não acreditava que poderia tê-la para sempre.
    Um romance com claros sinais de quê não era para acontecer, não poderia resultar em boas coisas, por isso, creio eu que minha mãe sofreu de rubéola na gravidez. – Isto ou o fato de ter abortado a sua primeira criança antes, por uma motivação bem adolescente, que quase custou a sua vida.
    O médico foi bem sincero para a minha mãe, disse que o melhor a ser feito era abortar, antes dela se colocar num risco maior. Contudo devido ao pecado anterior, e o peso que isso lhe trouxe, ela seguiu com a gravidez, e usou a sua fé para me proteger. Foi até a igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, e lhe fez uma promessa. – Por causa disso, hoje carrego o odioso nome da Santa, que volta no Apocalipse, como a Prostituta Montada na Besta. (Leia sobre A Virgem Maria na perspectiva de Aleister Crowley.)
    Nasci no dia 15/02/1995, exatamente ás 10:51 da manhã, em Macapá- Ap. Mas minha mãe deu entrada no hospital, a noite, depois de ter tido um ataque de ciúmes, que a fez cair da escada, e assim foi as pressas para a maternidade, com medo de acabar me perdendo. – Nascida do desamor, com uma trindade de quinzes presente na data do aniversário, isto não é pura coincidência. 
    Meu nome humano é Thaís, em homenagem ao falecido tio Thales, que parecia o gêmeo do meu pai, apesar de ser um ano mais novo. – Por anos só soube que ele morreu, aos 17 anos, num acidente de moto, após se meter, com o quê meu pai chamou de “magia dos mortos” (Necromancia?) Porém quando fiz 19 anos, o irmão vivo me contou que Thales não apenas se foi, ele apareceu para o irmão estranho e sempre recluso, e lhe disse “Vou embora porquê esse lugar é pequeno demais para mim”. O quê era intrigante, pois eles eram ricos na época, e tinham um ótimo apartamento em São Paulo – Sp. (O curioso é que se Thales não tivesse morrido, eu não teria nascido.)
    A maldição começou desde cedo. Quando recém nascida – contam meus pais – que vivia no hospital, e o pior é que de alguma forma me lembro, do meu pezinho engessado, dentro de um quarto verde, com algumas lajotas. Como se não bastasse, toda noite era visitada, por uma poderosa entidade, que de acordo com minha mãe, era capaz de acionar o meu andajá eletrônico de madrugada. – O evento se repetiu tanto, que meu pai chegou a literalmente queimar o objeto, por medo do quê tinha por trás dele.
    Infelizmente o problema não estava no andajá, e sim em mim. Meus cabelos negros e lisos caíram, sendo substituídos por cachos marrons acobreados. – Diz minha mãe, que foi culpa do óleo Johnson, mas acho improvável, pois se fosse, minha pele pálida como papel, teria continuado da mesma forma. – É claro que a genética pode explicar isso, mas o fato em si, é comum entre as “crianças mágicas” (Leia Ciências Ocultas da Iavisa, para maior compreensão.)
    Minha infância não foi formada somente por doces e caramelos. Embora hajam memórias açucaradas, também existem as amargas que gostaria de esquecer, não pelo mal que me foi causado, e sim pelo quê me tornei por tal intervenção.
    Aos 5 anos fui molestada por meu avô, que me levava para o fundo do quintal, onde tinha um galinheiro, e quando me colocava para andar por lá, também enfiava seus dedos em minhas partes. – É horrível ter dons, que te fazem lembrar de tudo. – E mais tarde, aos 7 anos – por total negligência do meu pai, que me esquecia até 13 horas na escola – O meu professor de balé, o Junior, fez o mesmo. Só que numa sala cheia de crianças, focadas na TV, enquanto sussurrava em meu ouvido “Pense numa coisa bem boa.” 
    No primeiro momento achei que não tinha me afetado, mas hoje em dia percebo que sim. – Aos 2 anos, costumava matar pintinhos os sufocando, sob o pretexto de quê os colocava para dormir, e aos 8 desenvolvi desprezo pela cor rosa, que era exatamente a mesma que usava nas aulas de dança, por uma obrigação imposta por meus pais. – Que queriam me forçar a ser uma criança normal, o quê particularmente era impossível.
    Eu tinha sentido na pele, literalmente, o quanto o mundo é doentio, e como não quis contar a ninguém. – Para não perder as minhas regalias, dadas pelo meu avô, em troca do perdão por sua atrocidade. – Segurei aquele segredo comigo, e fui me tornando cada vez mais sombria.
    Para meus pais e coleguinhas era uma menina boa. Sozinha, me tornava outra pessoa. – Alguém que não merece nem ser citada. – Pois seus pecados são tão profundos, que até um padre cético, acreditaria se tratar de possessão infantil, ou algo ainda mais nefasto. – Vivia envolvida em clubes secretos da escola, me masturbando com meninas da minha idade – Isso com 6 anos, e até hoje me pergunto com quem foi o meu primeiro beijo, mas creio que quem o conseguiu, foi a minha coleguinha Vivi. –  Gostava de desenhar, só que no lugar de coelhinhos, flores e corações, minhas obras amadoras, expressavam a morte, sob o esquartejamento, e uma enorme poça de sangue. – Who’s bad? ( Michael Jackson – Bad – 1987.)  – Com 10 anos, acertei uma pedra na cabeça da minha vizinha, porquê ela fez amizade com outra menina, e me deixou de lado. – Eu mirei, vi se não tinha ninguém na rua, e puxei o elástico do estilingue. A cabeça da menina sangrou, e lembro-me do quanto fui falsa, ao ponto de pedir-lhe desculpas sem me importar.
    Ainda no mesmo ano, como era muito solitária, acabei por cair numa armadilha cruel. – Lembre-se que para os meus coleguinhas, eu era um anjinho. – Uma menina me chamou para ir dormir na sua casa, e como da outra vez – quando todos foram – Não me deixaram ficar, fiz de tudo para ir. Inclusive negociei ir com a menina, no lugar de alugar fitas de N64 na Top Game – Era muito manipuladora, desde pequena. A mãe da menina fez um drama, (ou para mim parecia assim, devido a boa vida que levava) sobre não ter dinheiro para nada mais que o necessário. Eu naturalmente entendi, mas a própria filha não, e assim esta se envolveu no roubo, e me puxou junto, enquanto fugia do guarda. Entramos no banheiro, e ela me implorou para assumir a culpa. – Naquela hora queria ter sido má, e dito surtou é? Mas não foi o quê houve – Sai do lugar, tomando a responsabilidade para mim, o supermercado estava cheio, todos me olhavam com repulsa, por andar mal vestida, e não acreditaram, quando disse que voltaria para pagar. – Apesar de ser da classe média alta, me vestia como mendiga, e aparência é o quê importa.
    No lugar da menina, quem recebeu a bronca fui eu, e como não tinha formas de me defender, usei a novela como argumento, para quê me deixassem em paz. – Alegando  sofrer de cleptomania. 
    Ouvi muito do meu pai, e mais tarde dos meus colegas, pois somente eu sabia a verdade daquele dia. A menina, mentia para se safar da vergonha, e fazia de mim, o seu bode expiatório. 
    Já cansada de tais afrontas, contei a verdade ao meu pai, que antes achava somente o pior de mim, mas depois agradeceu a Deus, pela ludibriadora ser a menina. – E armei para ferrar as garotas que se juntaram a ela. – Mesmo que de forma inconsciente.
    “A Thaís é boa. A Thaís é uma santa. Não faz nada de errado.” Diziam sobre mim. Então por causa da minha cara de sonsa, não desconfiaram de nada, quando as chamei para assistir Van Hellsing na casa da vovó, através do paperview recém comprado.
    As recebi no meu lar, com um sorriso, brincando, e quando dei por mim, outra vez elas faziam aquelas terríveis acusações a meu respeito. – Isso me encheu de ódio, e tudo o quê me lembro em seguida, foi de soltar meus 5 cachorros de grande e médio porte, para cima delas. (Literalmente.) Papai ficou horrorizado pela minha conduta, eu segui com o nariz empinado. – Ainda sim continuaram a me chamar de santa.
    Naquele ano, a menina que roubou o meu projeto da água, e o tratou como seu, tentou fazer as pazes comigo, e isto resultou numa história inacreditável. – De tardinha, resolvemos brincar de jogar a bexiga d’água uma para a outra, e se caísse a perda era evidente. Só que no meio da competição, o balão se partiu em câmera lenta, e vimos o tempo praticamente congelar, enquanto a cachoeira saia de dentro da borracha vermelha. – Até hoje me pergunto que tipo de alucinação foi esta.
    Mais tarde quando tinha 11 anos, levei um fora muito ruim, do garoto que eu gostava, por causa de uma falsa amiga, que fez a minha caveira pra ele. Estava muito abalada por isso, e tudo o quê queria era ouvir minhas músicas, sem interferências.
    Todavia minha prima de 5 anos, não respeitou o meu espaço. – Afinal o pai dizia que ela podia tudo, e a família reforçava tal autoridade, por isso a menina era terrível. – Eu pedi para me deixar em paz, mas ela ficou pulando no sofá e gritando, bem na hora da música que queria ouvir. Não aguentei, e acabei por pegá-la pelo pescoço e erguê-la. 
    Lembro-me de olhar em seus olhos, que estavam amedrontados, e só parar por medo de ir parar na cadeia. – Eu era criança, mas sabia bem o quê significava o xilindró.
    Meu pai ficou uma arara comigo, e falou um monte, mas eu apenas mantive a mentira de quê nada fiz, só que ele não acreditou e por isso apanhei. – Novamente o ódio subiu a minha cabeça, e tentei não manifestar de forma física, foi quando por coincidência, senti um cheiro de queimado, proveniente do quarto onde minha avó dormia. O ventilador tinha se aquecido, ao ponto de iniciar um incêndio, e a chama azul e amarela já se formava. – Ela era a principal responsável pelo meu sofrimento, pois devido a sua xenofobia, tratava minha prima como se fosse Jesus, e eu o próprio Lúcifer.
    Naquela época coisas bem incomuns ocorriam. Costumava ver uma mulher de cabelos de fogo, que nunca me dizia o nome, e que decidi chamar de Layla. – Sempre que Layla estava comigo, eu me deslocava do corpo para outra dimensão, onde os belos eram maus, e os feios bons, comigo ao menos. – Quando a mídia defendia o oposto, com obras como Abracadabra da Disney (que aliás era um dos meus filmes favoritos)
    Sempre que ia para o outro lado, me esquecia daqui, e por isso muitas vezes era encontrada sob o estado de transe, falando “sozinha”.  (Minha avó materna até me acusava de falar com demônios por sinal.) – Quando não era com Layla, também dava voz aos personagens que criava, e acabava por fugir dessa realidade. (Por isso até hoje me questiono o quê ela é)
    De forma gradual, passei a notar que tinha habilidades, e elas estavam aumentando. Mas junto do meu “poder”, também vinham os “demônios internos” que não paravam de se formar.
    Talvez devido ao trauma provocado pela moléstia, tive de escolher entre dois caminhos: Ser a vítima da situação, ou me tornar ainda pior do quê quem me feriu. – Optei pela segunda opção, e assim me entreguei aos meus desejos mais obscuros, ainda na infância.
    Beijos e masturbação com garotas, aos 6 anos, agressão violenta com 10 e 11, não se comparam, ao pior dos meus crimes. – Eu seduzia garotos, os fazia querer me tocar, para torturar-lhes, segurando-os pelos testículos, ou dando-lhes tapas humilhantes na face. – E quando contava a versão as minhas amiguinhas, por vergonha, dizia que a culpa era deles, mesmo sabendo que era minha.
    Somente a minha santa protetora, conhecia meus piores segredos, pois preferia conversar com uma estátua, a fazer confissão para um padre. – Sempre pedia perdão pela minha conduta, de coração, pois tinha medo do castigo divino, mas as únicas vezes que meus desejos eram atendidos, envolvia uma força totalmente oposta a igreja.
    Devido a devoção da minha mãe, aprendi desde cedo sobre a figura do Diabo, e seus outros nomes, que segundo a mesma, jamais devia falar. – Mal sabia ela, que em meus momentos de ira, me sentia impelida a me isolar, e falava “Diabo, Diabo, Diabo, Satanás, Lúcifer!” – E magicamente meus problemas eram resolvidos.
    Tinha tanta afinidade com as trevas, que quando ganhei um cachorrinho, quis batizá-lo de Satanás, por achar o nome bonitinho. – Não importava se isso impunha medo, nos personagens do programa Chaves. – Mas jamais consegui ter um cãozinho com esse nome.
    Minha ligação com as terras debaixo era tão forte, que meu feriado favorito era o Halloween, e em vez de me fantasiar de princesa ou anjo (embora no pré tenham me obrigado a me vestir como tal), costumava ir de vampira, diabinha, ou bruxa. – A figura da bruxa muito me encantava, por isso tive uma vassourinha na infância, e até mesmo um pentagrama. – Do qual tive de me desfazer, por ser o símbolo do Diabo, já que a estrela representava um poder, e o círculo a sua influência sob o mesmo, segundo o meu avô.
    Pode se dizer que tinha uma forte atração pela magia e os seus mistérios, e que desde criança, parecia pertencer a parte mais profunda dos infernos. – Não que as minhas maldades me orgulhem, mas elas servem como prova, do quê sou ao menos.
    A escuridão em mim, se fortaleceu bastante quando mal sabia que era gente, e com isso desenvolvi habilidades notáveis. – Como toda pequena capeta, adorava aprontar. Era muito quieta, gostava de ler e vê TV, mas na hora de causar o caos, me superava. – Ao contrário das outras crianças, conseguia ouvir passos a metros de distância, e isso me ajudava muitas vezes, a sair ilesa da cena do crime.
    Cansei de contar as vezes, que sai do lugar, minutos antes de alguém aparecer para me abordar. Só que como mencionei antes, tinha muito mais que uma habilidade. Além de ouvir a Terra, e provocar focos de incêndio com minha ira, também fazia com quê os objetos caíssem, somente por me chatear, sem mover um dedo, e meu choro focado em algum desejo, realizava até consertos de eletrônicos aparentemente queimados. – Esta foi a minha predisposição. 
     No meu tempo, definitivamente estava longe de ser uma criança normal. Era sádica, má, e pior consciente dos meus atos, pois tinha uma noção de quê tais praticas eram erradas. 
    Não me admira já ter me encontrado com a morte. – Interessado? Pois bem. – Vamos voltar uns anos. Estava na quarta série, e ouvia sobre os relatos do fantasma do banheiro. Ria disso, pois para mim era como a lenda urbana da “Maria Sangrenta”. Porém como a escola Guanabara ficava na esquina com o cemitério, era algo que devia averiguar.
    Estudava a tarde naquele tempo, e como havia luz do sol, não pensava que algo pudesse aparecer, por isso sem avisar a ninguém, fui até o banheiro feminino, onde a suposta entidade era vista. 
    Entrei, e lavei minhas mãos, de acordo com o quê ia girando a torneira, as outras se abriam em sincronia. – Admito que isso me assombrou, mas não o suficiente, para ver se a água da privada, ficava vermelha sem motivo. – Todavia quando abri a porta e fui averiguar, a luz se apagou, e só restou a claridade solar do espaço fechado. Meu coração bateu acelerado, e quando olhei para o fundo do local, lá estava a criatura, com a sua mortalha negra, cujos os pés não tocavam o chão. Sai de lá na hora, correndo pelo corredor, e depois respirei fundo, e tentei demonstrar que não tinha medo, afinal se contasse ninguém acreditaria, e não queria ser taxada de louca.
    Fora a experiência com Layla, A Morte, e outros fatos incomuns, há também uma história, que foge dos limites da alucinação. – Até aqui só falei do quê foi visto, não o quê foi sentido. Então lá vamos nós. – Era de noite, e eu estava brincando com a vizinhança de pira esconde (A versão Amapaense do Pique-Esconde) Fui até uma casa, que parecia abandonada, e fiquei atrás dela. Então no meio da penumbra ouvi um cachorro, que me mordeu por trás do joelho. Nem sequer vi de onde o animal apareceu, mas a marca que ficou no meu corpo, foi bem real. Questionei o resto da garotada, só que nem mesmo eles sabiam, qual era a raça, ou se era vacinado. – Torci para que fosse, tinha muita campanha sobre o perigo da raiva na época. –Outro fato incomum é que quando feri o meu joelho, formou-se o número 7, e na vez que me queimei no antebraço com a borda da bandeja, a marca ficou semelhante a um triângulo ascendente.
    Há muito mais segredos, e sinais concretos, de um sério transtorno de personalidade, associado a aventuras fantásticas do mundo oculto, mas por hora encerraremos por aqui. – Bruxa Natural? Quem sabe. Algo mais?  Certamente, mas se quiser saber, terá que virar a página. Estarei no aguardo, e parabéns por ter chegado até aqui.
    Capitulo 2 - 2006
    Que tenho sérios problemas, já está claro pelo capítulo anterior, mas o quê sou? Já está evidente também? De certa forma sim, mas isto é somente a ponta do iceberg.
    O ano de 2006, foi marcado pelo fora, e o quase assassinato da minha prima – Causado por minhas mãos. – Mas também por algo que mudou a minha vida para sempre. 
    Era um final de semana em junho, eu acho, quando estava sentada diante da TV, fazendo o meu passatempo favorito que era desenhar. Desde que tinha começado a esboçar minhas expressões sombrias, sempre pegava um livro azul. Era como um imã invisível, que me atraia para ele, mesmo sem conhecer o conteúdo, e por isso me senti motivada a abri-lo. 
     – Foi quando vi pela primeira vez, um livro de magia, que se chamava Ciências Ocultas da Iavisa. 
    O quê mais me interessava, o livro 2, sobre hipnose, infelizmente desapareceu, e nunca pude o lê. Só me restou os livros que continham ao todo: Queromancia, Grafologia, Horóscopo, Bola de Cristal, Varinha Mágica, Búzios, Cartas, Vodu, a história de São Cipriano, e Segredos da Magia Negra em geral. – É, a primeira vez que toquei num grimório, já li logo sobre os sacrifícios mais absurdos, para o “demônio” Adonai. (Que hoje sei que é a face obscura de Yaweh.)
    Fiquei de imediato fascinada pelo mesmo, e o interesse aumentou ainda mais, quando minha avó me repreendeu, e disse que era uma leitura pesada para a minha idade. 
    Como ela tinha constantes ocupações, por causa do motel, a tapeçaria, e a lanchonete, mal parava na sua casa. – Assim sendo quando saia, corria para a sua biblioteca, e pegava o manuscrito proibido. – Me deliciava com o saber obscuro, e passava horas entretida com o mesmo.
    De fato era um livro pesado, e hoje não deixaria uma criança da minha idade ler, mas por alguma razão, estava preparada para estudar, e praticar somente o quê estava ao meu alcance. – Só as famosas benzuras, por isso soube lidar muito bem com tamanho poder.
    Porém depois de muito sofrer, passei a usar o livro em si, como uma ameaça aqueles que me machucaram. – Parafraseando a parte que diz “Ele adoeceu, mas nenhum dos médicos conseguiu encontrar a cura.” (Só que lógico usando a minha linguagem adolescente.)
    Meus coleguinhas ficaram divididos entre os que temiam, e os que queriam conhecer o aprendizado antigo, e a minha rival temeu que lhe roubasse o namorado com amarrações, por isso bateu foto da benzura “Para manter o namorado.” – Eu poderia ter usado amarração, estava ao meu alcance. Mas apesar de ser um monstro, sempre valorizei o amor como algo sagrado. Portanto se o fizesse, estaria quebrando muito mais que as leis divinas, trairia ao meu próprio código moral. – E também o fato de causar calafrios, em todos aqueles que me chamavam de anjinho, já foi uma vingança e tanto.
    Pouco a pouco a minha escuridão saiu, e tal como a borboleta, sai da versão de lagarta gorda e baranga, e ganhei as minhas asas. – Mas elas não eram cor de arco íris, e sim negras, como a noite mais pavorosa, o sinal o apocalíptico. 
    Apesar de sofrer bullying por conta dos meus cachos, não era nada ruim, pois me fazia sentir parte da galera. – Além do mais, se alguém te chama de algo, você sempre pode dá a volta por cima. – Eles me chamavam de leão, e eu dizia que era a rainha da selva, e os mesmos garotos mais tarde me elogiavam.
    Devido a grandes fatores, me desenvolvi muito cedo. – O meu primeiro dia na 5° série, foi marcado por ser o exemplo, do uniforme que não deveria ser usado na escola. – Nada de saias, bota e blusa colada de manga curta, e advinha como eu estava?
    Entrei na adolescência com 11 anos, e muito dos meus dilemas daquela idade, hoje são parte da vida de gente que acabou de atingir a maior idade.  – Então atualmente com 24 anos, creio que a minha mente seja mais próxima, de quem tem 30 ou 40.
    Portanto não me adaptava aos meus colegas de turma. – Assim acabei por fazer amizade com os veteranos, que para a minha felicidade, compartilhavam dos mesmos gostos que eu.
    No início éramos apenas um grupo, mas mais tarde, nos tornamos Os Naruteiros, com direito a comunidade no Orkut e bandanas, fabricadas a mão. – E desta forma nos tornamos bastante conhecidos, e a escola se tornou um lugar bom para se viver, pois mesmo que tivesse de conviver, com os – em sua maioria -mentecaptos da minha turma, a 612, tinha um refúgio entre os que já estavam na sétima série.
    É dito que são sempre os mais velhos, que influenciam os jovens a tomarem o caminho errado. Mas comigo não era assim, a maldade não tem uma idade específica, por isso fui eu quem apresentou aos outros, o subgênero de anime Hentai, logo depois de conhecer. – Se você sabe qual é, poderá ter certeza de que sou uma peste.
    A amizade durou muito tempo, até fazer a besteira de aceitar namorar com o nerd da turma, – que ao contrário do quê diz a cultura popular, era bonitinho, e lembrava o Fred da série Icarly. – Eu somente gostava da sua companhia, cavalheirismo, e a personalidade forte de um leonino, mas estava apaixonada pelo seu melhor amigo, e ainda sim cedi aos meus impulsos de pequena Lilith, e usei o coitado. – Me arrependo bastante disso, não por ter sentimentos, mas pela minha falta de humanidade, na hora que terminamos. 
    Perdi a todos por ser tão estúpida, só que felizmente, conheci outra veterana, que parecia me entender ainda mais que os outros. – Com ela não era popular, mas nem precisava disso, pois era feliz, por finalmente encontrar alguém com quem pudesse me abrir, e lhe contar sobre os meus interesses no ocultismo. – Como sinto falta daqueles tempos, tão simples e cheios de aventuras.
    Sabe aquela dupla imbatível? Éramos nós. Ela era o Batman da minha Robin, a Estelar da minha Ravena, A Chelsea da minha Raven, a Jody da minha Juniper. Mas dizíamos mesmo que éramos Carly e Sam da série, pois a persona da Carly lembrava a minha, e a da Sam a dela. 
    A gente vivia se metendo em confusão, e gazetava (matava) aula, para ficar andando pelo colégio, desafiando a lei mundana estabelecida. – Nos sentíamos donas do Antônio João, o pior pesadelos dos alunos, e a nossa coordenadora. – Eu amava demais  isso. 
    Mas meu pai detestava. – Tudo o quê me fazia ter um propósito, o irritava. Para ele, garotas de classe média, tinham que andar com gente equivalente, ou acima disto. Nunca os pobres. – Como se dinheiro fosse a identidade do caráter. – Eu era a prova viva, de quê a lógica dele era falha, pois já era má, muito antes de encontrar a menina.
    Perdi as contas de quantas vezes me levantei contra ele, para defender a minha melhor amiga, e da vergonha que era, ter que mandá-la ir pra casa, porquê ele torcia o nariz para a moça, e o clima se tornava gélido com a sua presença . – Isso porquê vivíamos numa casinha de alvenaria, mal feita. Mas o reizinho, sempre queria manter a sua majestade forçada, e me tratar como se fosse uma princesa, saída dos filmes da Barbie.
    Felizmente ele trabalhava o dia todo, e a minha mãe também. Então quando voltava da escola, tinha a casa só para mim, e aproveitava para chamá-la, pois a vida tinha sido tão maravilhosa, que ela morava na ladeira de baixo, e éramos praticamente vizinhas.
    Num ponto de vista meu pai estava certo, o fato de sermos de “mundos diferentes” pesava um pouco, pois isto a fascinava, e lhe fazia roubar alguns dos meus pertences. Só que eu não ligava, o quê era material não tinha tanto significado para mim, a sua lealdade, o seu respeito, e a forma como me protegia dos demais, fazia dela a melhor ladina do mundo, por isso tinha vezes que até abria mão dos meus objetos, somente para fazer a sua felicidade, já que para ela tinha mais significado, do quê para mim.
    Como ambas éramos estudantes de paranormalidade, gostávamos muito de testar as lendas urbanas, e foi por isso que aconteceu. – Numa tarde qualquer eu, e ela e nossas outras amigas, nos reunimos na minha casa, para fazer o Jogo da Caneta (Que é uma mistura de Charlie Charlie com Ouija). Uma menina se apresentou no tabuleiro, e quando pedimos para nos dar o seu nome, estava aberta a aceitar qualquer um, menos Samara, pois este também era o nome da entidade, do único filme de terror que não aguentava, porquê ficava só em casa, e a minha única companhia era a TV, de onde a criatura saia no filme, para atacar as suas vítimas. – Nem Freddy vs Jason, me deixava tão apavorada, e olha que quando assisti com 10 anos, fiquei 4 dias sem dormir. – Não sei se foi o meu medo, mas o nome era exatamente o quê mais temia, por isso comecei a chorar, e implorei para aquilo terminar.
    A menina não queria sair do jogo, então literalmente rompemos o círculo. – Esta foi a pior atitude, pois com isso libertamos-a para fazer o quê desejasse. – Inicialmente faltou luz, e ninguém queria ir a cozinha pegar as velas, porquê já eram 19 horas. Tive de virar o Coragem, e me levantei do sofá, para fazê-lo, ou continuaríamos no escuro. Fomos em fila, comigo liderando, e quando alcançamos as velas, uma forte rajada de vento derrubou o pirex, que estava na janela. O medo bateu, e corremos para o sofá, com as velas em mãos. Ao olhar para os quadros de paisagens, víamos rostos de pessoas, e o temor nos fazia ficar congeladas. As meninas foram cada uma para as suas casas, e eu fiquei lá, sozinha com a Samara, e a minha mente, que não parava de me lembrar, das histórias com o final trágico, que minha mãe e minha tia contaram, para me fazer evitar participar de tais jogos. – “A mãe da minha amiga morreu porquê fizemos o jogo do copo” Dizia a minha mãe na memória. “Quem são vocês, e por quê me tiraram do meu corpo?!” Dizia a minha tia. – O pânico me consumia, e quando meus pais chegaram, agradeci aos deuses por ter só um quarto para todos.
    Voltar para a minha residência, sabendo que o meu pior pesadelo me aguardava, não era algo agradável. Chegava, tomava banho do pescoço para baixo, somente para não fechar os olhos, e ouvia músicas, pois cantar me ajudava a esquecer, que tinha uma menina gravemente perturbada ali. Só que quando ia assistir a Playtv, via mensagens espalhadas nas paredes, sobre querer me matar. Por isso abandonava o lugar, e ia para casa da minha amiga, na qual ficava até a hora mais próxima dos meus pais chegarem.
    Só que houve um tempo que precisei parar com isso. Tinha me colocado nessa, e precisava sair, por isso a convoquei para conversar. – Gradualmente fui lhe tirando respostas, e descobri que ela somente gostava de assustar, não queria me fazer mal de verdade, pois se sentia tão sozinha quanto eu. Assim sendo nos tornamos amigas, e para onde eu ia, apresentava ela aos outros, com o uso do tabuleiro. – A maioria ficava assustada, mas ter uma polterguiest como protetora, era bom demais, me fazia me sentir segura. – Pena que um dia ela encontrou a luz, e partiu. Até hoje sinto a sua falta. Nem todas eram como a Laura a amiga da minha Bff, que ficou perambulando por aqui por um bom tempo.
    Mas infelizmente o mesmo destino que nos uniu, também nos separou mais tarde, pois ela teve de ir embora da cidade, e eu acabei sozinha, com os meus demônios, que sem ela foram me consumindo aos poucos, desde o momento da sua partida. – Não podia culpá-la, só que na hora de ir, eu não derramei nenhuma lágrima, mesmo que sentisse muito. Meu coração, já estava começando a endurecer, e só pude abraçá-la forte e torcer pelo melhor no Pará, para onde iria se mudar.
    Como tinha de voltar a maldita normalidade que detestava, e não podia contar com meus colegas de classe, acabei por me tornar uma criatura obscura de novo, e quando dei por mim, tinha abandonado os emos, e havia me tornado uma gótica, de cabelos negros, pele amarelada, de batom preto, bastante transtornada, que não apenas se cortava, como batia foto daquilo, por achar que a imagem da  cruz sangrando, era uma verdadeira obra de arte da natureza.
    Quando ela voltou, era tarde demais para mim, pois grande parte das minhas sombras tinha me consumido, e eu já não controlava nem um dos meus impulsos. – Vivia criando desculpas para encher a cara, e ir a cemitérios, somente porquê era chocante para os demais, e isso me trazia paz.
    Acho que foi por isso que ela fez, o quê considerou necessário. – Criou um par para mim, e forjou cartas – pois por me conhecer, sabia que a única coisa que poderia trazer ao normal, era amar alguém.
    Dessa forma começou a mais doce das ilusões que vivi, e que realmente me ajudou, a recuperar um pouco do controle. – Infelizmente não o suficiente, para que a nossa amizade sobrevivesse.
    Tudo começou com uma troca de cartas, que deveria resultar num encontro, mas sempre que ia conhecer o meu suposto par perfeito, ele nunca estava lá, e a única vez que supostamente nos vimos, eu tinha deixado de comer, para não aparecer gorda no encontro, que era um show da Pitty na minha cidade. – Então as chances de ser alucinação eram muito altas, por isso fui me desligando do ser, até encontrar outra pessoa, numa rede social. – Típico de gente solitário não é?
    Assim conheci um novo par, e me juntei a este. Algo que supostamente trouxe muita dor ao ser fictício criado por minha amiga, e o quê obviamente resultou no fim do relacionamento, e como preço. – Nem eu entendo essa. – Acabei por ser traída pelo outro, ou ao menos foi o quê pensei, já que algum tempo depois, foi tudo esclarecido, e não era nada do quê havia imaginado.
    Nesse tempo os computadores eram de mesa, e como tinha a minha mesada – Regalias pelo silêncio, lembra? – Me deslocava da casa da minha avó, até a Lan House mais próxima, que ficava a quase 1 km de distância.
    Tudo o quê me lembro do dia, é que eram 18 horas, e me livrei da aliança de compromisso. – Meu deus como era trouxa! – Então enquanto ficava sentada, no quê seria o próximo galinheiro do vovô, vários corvos pousaram na goiabeira, que estava acima da minha cabeça.
    Esse cara era o típico mago puritano, e perdê-lo foi bem fácil, pois alguém que não me achava digna da real magia, e me mandava praticar magia wiccana, merecia realmente o pior. – Chorei um pouco, e no dia seguinte estava pronta para tentar com o próximo, a fila anda era o meu ditado popular favorito.
    Iniciei um namoro de curta duração, com um amigo na época, pois achava mesmo, que o quê acontecia nos filmes de romance, podia funcionar na vida real, e com isso aprendi que os filmes, não são fiéis ao retrato da realidade.
    O puritano e eu voltamos, mas ele concluiu que era muito mais obscura, do quê podia suportar. – Só porquê descrevi um romance sanguinário entre irmãos diabólicos, muito antes disso ser aceito pela sociedade. 
    Tinha completado 15 anos na época, e levar um fora foi bem complicado, por isso passei a procurar por alguém, que pelo menos pudesse me aceitar como aberração que era, e assim parei de ser tão exigente. – O quê viesse era lucro. – Só que o puritano, era tão idiota, que queria continuar a manter a amizade comigo, só para me alfinetar, pela a sua preferência, por japonesas. – Que pra mim, eram criaturas patéticas, que existiam para dizer “sim senhor” para os seus parceiros, ou seja meninas submissas, que não mereciam uma gota de valor. – E sigo pensando assim. Parece que tá no sangue, de quem tem a descendência asiática, ser uma Eva da vida, like a Lúcifer 4° temporada, que a retratou da maneira, que sempre acreditei que fosse: Superficial, submissa, e sem cérebro.
    Perto do meio do ano, passei a andar com uma outra gótica, com a qual costumava encher a cara, e me fazia sair de casa toda quarta e sexta-feira. – Ela estava namorando na época, com um cara gótico satânico, que supostamente a glorificava, e só o fato de ter góticos na cidade, já fazia os meus olhos brilharem, pois o quê imperava naquele tempo eram os emos, e ele poderia ter algum amigo, que também fosse satanista.
    A novela se repetiu, sempre que marcávamos para conhecer o rapaz, ele nunca aparecia, e quando veio, era ainda pior que ele mesmo, por isso fui destruindo a linha da ilusão. – E para piorar, a Srta Peitão, vivia me deixando a sós com o namorado, e colocando-lhe chifres constantes. O quê eu achava um absurdo, por isso colocava lenha na fogueira, de tal forma, que um dia ele a deixou para ficar comigo.
    Apesar de claramente ser uma fura-olho, não quis seguir como errada, e a menina soube de tudo pela minha boca. – É óbvio que ela me odiou, e a guerra se iniciou.
    De um lado estava ela, a carismática, sedutora cheia de fartura peitoral, do outro estava eu, a estranha, aparentemente certinha, que pouco se importava com as suas acusações, e gostava de discutir nas redes sociais, somente por prazer.
    Houve uma vez, que ela bebeu demais, e se reuniu com as amigas, para me cercar. Falou um monte de coisas, que não consigo me recordar, pois não parava de rir do seu estado deplorável. – Se aquilo foi para me intimidar, não funcionou, pois estava acostumada a lidar com muitos me olhando torto.
    Fora a vida agitada de vilã adolescente, como se fosse uma Blair Waldorf menos afortunada, também segui fazendo meus estudos místicos, e procurando entender cada vez mais, sobre o satanismo, e quanto mais lia a Bíblia Satânica de La Vey, menos encantada ficava pelo meu atual namorado, que apesar de ser conhecido por sua prática oculta, me parecia um verdadeiro merda.
    Pois toda vez que lhe contava, as coisas que ocorriam comigo, ele tentava distorcer como alucinação, como se somente o quê vivia fosse real. – Certa vez na véspera da véspera do natal (23/12) de 2009, sofri um ataque de fanatismo terrível. – Tinha acabado de entrar para o submundo, e enquanto tomava banho, tentava conversar com a minha mãe, perguntando como seria que meus novos amigos me felicitariam na data natalícia, estava feliz, me senti renovada, animada pelo quê estava por vir. Mas quando sai do banheiro, minha mãe olhou para mim, e disse “Você é um monstro!” Não entendi o porquê da acusação, se nada tinha feito para ela. – Talvez fosse por ter deixado de ser virgem recentemente, e ainda entrar pro lado negro da força. Talvez fosse demais para ela suportar, e eu no meu egoísmo não tinha percebido. – Aquilo me doeu profundamente, e por isso lhe falei coisas, que destruíram de vez o seu psicológico. “Tão monstruosa quanto você, que tirou a vida de um pobre bebê, ao fazer aquele aborto!” Respondi com o ar desafiador, e ela desapareceu. Achei que ia se recolher, para chorar por seu pecado, mas em vez disto, a mulher pegou uma faca de cortar carne, e veio para cima de mim. Seus olhos castanhos, naquele momento pareciam amarelos. “Demônio!” Ela gritou, tentando empurrar a faca no meu peito. E não sei como, mas tive forças para contê-la, de tal maneira, que o seu impulso parecia pertencer a uma criança de 4 anos. Eu escapei, e sabendo da sua maior fraqueza, comecei a chorar, com o intuito de sensibilizá-la. Não lembro o quê disse a seguir, porém isto a fez voltar a si. Ela saiu se sentindo culpada, e caminhei para frente do espelho, onde sequei as lágrimas e sorri de forma maléfica. – Todavia o ser não acreditava que era algo oculto, e dizia que aquilo era normal. (Provavelmente para ele.)
     – Mas houve outro fator, para aceitar na minha vida, alguém que valia tão pouco. – Após muita bebedeira, acabei por beijar a minha melhor amiga, e isso se repetiu quando ela dormiu na minha casa. Eu me apaixonei por ela, só que como a mesma passou me evitar, não tive escolha, senão abraçar o quê viesse, para que aquilo não crescesse ainda mais. 
    Acho que a rejeição, foi o quê destruiu o meu fascínio por ela, e me fez ficar cada vez menos empática, ao ponto de brigarmos praticamente por tudo. – Só que nunca quis lhe contar, que a verdadeira razão para me magoar era essa, e não as futilidades relacionadas as roupas e sapatos, que compartilhávamos, porquê  na época morava comigo.
    De tanto ler as palavras de Anton, resolvi fundar a minha própria seita, que de acordo com o meu talento de criar nomes, se chamava Sees, e significava seguidores da estrela.
    Uma a uma das minhas amigas, recitou o poema de aceitação, e quando se deram conta, tinham me dado o poder de governar as suas almas, e agora eu as guardava em nome de Lúcifer, que era o verdadeiro dono delas. – Ainda me lembro das faces de pânico, após perceberem que tinham se vendido para mim, e o quanto ri pela minha conquista.
    A primeira reunião foi na minha casa, preparei tudo com cuidado, para simbolizar uma verdadeira comunhão com Lúcifer, e outros demônios a favor da carnificina. – A cidra era de maçã, e a comida em si, se formava de alimentos, que poderiam ser comidos crus.
    Nada saiu como o esperado, pois estava um pouco nervosa, e as meninas não parava de zoar umas as outras, o quê atrapalhava na minha concentração, porquê me divertia junto. – Uma verdadeira brincadeira de criança, que jamais pensei, que pudesse resultar em coisas tão graves mais tarde. – É claro eu admirava Satã, de todo o meu coração, e de alguma maneira me sentia ligada a ele, só não pensava que tinha realmente tais capacidades.
    O quê deveria ser uma reunião séria, acabou por atender dos requisitos do livro da Lei de Aleister Crowley – Que foi algo que vim ler, anos mais tarde  e dizia que os favoritos de Hadit e Nuit, eram os que tinham o riso frouxo, e que viviam para valer.
    Mas no fim das contas foi um sucesso, pois consegui citar todas as 9 regras, e esclareci que os espíritos das trevas, eram livres para castigar aos que traíssem ao círculo. Além disto, também fizemos o pacto da estrela, que figurativamente veio a nos transformar numa constelação de 4 estrelas, pois logo após nos unirmos, fatos interligados começaram a ocorrer. – Se uma sentia dor de cabeça, as outras também sentiam. Se uma caísse, as outras caíam. Um verdadeiro efeito dominó mágicko.
    A segunda reunião foi no cemitério do Santa Rita, para onde eu, e uma das meninas, costumávamos ir para beber, sem que nossos pais soubessem. – Calma, nenhum animal foi sacrificado, assim como as tumbas permaneceram intactas. Nós somente conversávamos, bebíamos, e devorávamos as frutas suculentas, adubadas com os restos mortais, dos quê já tinham partido.
    Lembro-me de como foi. Entrei no jogo dos espíritos, e sem querer recebi uma mulher, bastante irada, que queria me obrigar a desistir do meu namorado. Seu nome era Isabel e parecia disposta a me ferir. – Como a boa aquariana que sou, logicamente me opus, somente porquê era a vontade dela. Tive 5 dias para desfazer os laços com o cara, ou morreria, e como estava ligada as outras 3, a ameaça também valia para elas.
    A pressão foi grande, mas não tomei uma decisão, até atravessarmos a rua, e quase sermos atropeladas. 
    Terminar com o “satanista” foi algo fácil, apenas porquê me trouxe mais paz do quê continuar, com um verme inteligente, que me tirou tanto do sério com as suas mentiras, que em 4 meses de namoro, eu literalmente tentei matá-lo usando magia. – Era 31 de outubro para 1 de novembro, quando fui ver se ele iria para as festividades, mas ele alegou está indisposto.  Fui compreensiva, e decidi ir com a minha mãe, mas sem uma galera para me divertir, sai cedo, após nos encontrarmos com o meu pai, que estava saindo com uma garota de aparentemente 19 anos. – Santa crise de meia idade Drácula! – Caso não tenha entendido, meu pai se parece demais com o Bella Lugosi, e por isso sempre o chamei de Conde Drácula.
    Por volta das 1:45 da manhã, uma das meninas do Coven, me contou que o viu no evento, e tal atitude desleal, me deixou tão furiosa, que decidi usar a força do meu ódio para atingi-lo. – Só não sabia que era tão grande.
    Derramei meu sangue num papel, e com o mesmo fiz um pentagrama invertido, no qual uni meu pseudônimo Siath com o nome de Lúcifer, e lhe roguei várias desgraças, por praticamente uma hora, das 6 até as 7 da manhã, e fui dormir. – Quando deu 16 horas, ele me ligou, dizendo que mal conseguia andar, e tinham lhe atestado possível pneumonia.
    Eu ri, e lhe contei a verdade, que tinha feito algo para o machucar. O tal tenebroso homem mais temido da pequena cidade, implorou para mim, como um garotinho para desfazer o quê quer que fosse. – E claro que desfiz, só queria lhe punir pela mentira, não matá-lo oras.
    Então quando acabou, para mim foi alívio, e isso me trouxe uma sensação de liberdade muito grande. Por isso decidi mudar o meu pseudônimo para Carry Manson, e Carry jamais seria como Thaís.  – Assim em dezembro de 2010, decidi que procuraria por um par, que tivesse coisas em comum comigo, independente da religião ou aparência.
    Foi então que conheci o amor da minha vida, mas isto fica para o próximo capítulo, em quê abordarei não só minha vida pessoal, como também o destino do Sees.
    Capitulo 3- 2011
    Narcisista, egocêntrica, manipuladora, e o demônio com rosto de anjo. – Isto certamente me definia, pois até aqui, já deve ter percebido, o quanto  era desumana em muitos aspectos da minha vida. Mas a maioria das pessoas não conseguia enxergar, não importava o quê fizesse, para mostrar a minha verdadeira natureza. Sempre me achavam uma linda menininha inofensiva. –Só que o meu amado não, ele me amava com todos os meus defeitos, e não me obrigava a ser uma bonequinha de porcelana, que nunca podia levantar a voz.
    Nightmare, era um dos amigos da minha melhor amiga, e eu o conhecia pela rede social do orkut, desde que tinha terminado com o nerd. – Sempre marcávamos de nos ver, mas eu nunca ia, pois nem foto de perfil ele tinha, e eu prezava bastante pela minha segurança.
    Num sábado entrei no MSN, outra rede social quente da época, e decidi lhe mandar mensagem, perguntando se a gente tinha brigado por alguma razão, que não conseguia me lembrar. – Memória seletiva é complicada. Mas ele deixou claro, que tudo estava bem, e por isso insinuei que me arrumasse um encontro. Só o quê amigo dele estava passando por problemas, e por esta razão se ofereceu para ir em seu lugar.
    Eu aceitei, só que para ter certeza de quê era o cara certo, pedi para trocarmos telefones, e nos falarmos antes de nos vermos. – Até aquele momento não estava nas nuvens, para conhecê-lo, afinal o cara vivia mandando exclamações, sempre que falava comigo, e isso me fazia pensar que era mais dos homens felizes, que dificilmente aceitaria a plenitude das minhas trevas, e minha vida de pecados intensos. Só que quando ouvi a sua voz profunda e mórbida, a situação mudou.
    Não era o palhaço como o Coringa, nem o bom samaritano como o Super Homem, seu timbre sombrio, lembrava bastante o Batman, que era o meu personagem favorito desde menina.
    Conversamos por horas a fio, sobre os mais diversos assuntos, de ocultismo a cultura pop, e quando não tínhamos mais o quê falar, brinquei exatamente como fazia com a minha amiga, pois como não sabíamos xavecar, para criar afinidade com os garotos, usávamos até questões fúteis, para que o silêncio não imperasse. – Como por exemplo “Qual é o seu biscoito favorito?”
    Conversar com o rapaz foi tão maravilhoso, que cheguei a sonhar um dia antes do encontro, que ele tinha entrado na minha vida para me fazer feliz. – No sonho entrava no quarto com o meu coven, e dizia-lhes que estava namorando o Nightmare! – Alongando o nome com as notas da música do Avegend Sevenfold. – E a gente comemorava como uma grande conquista. Isto antes de saber se tinha física também, pois só a química não era o suficiente. – Já tinha tido outros sonhos que previam o futuro, mas na maioria das vezes, eram coisas boas, que depois se tornavam ruins, e o presságio não mostrava, por isso seguia em 60%, não 99.
    O encontro foi num dia semana, numa segunda senão me engano, dia 13 de dezembro. Fui com mais duas amigas, a melhor e a ladra de pretendentes, que decidiram me acompanhar pela minha segurança, antes de me deixar a sós com ele.
    Nós caminhamos pelo lugar bonito, na praça beira rio, e nos sentamos abaixo da Fortaleza de São José. Ele usava um boné, e estava ouvindo Papa Roach, uma das bandas que gostava bastante na época. Aos nos ajeitarmos, ele me ofereceu um lado do fone, e quando a música tocava, falou sobre o clipe da mesma, onde o rosto da moça se despedaçava, e quando seus dedos tocaram a minha face, fiquei corada como nunca antes. – Era como se fosse o meu primeiro amor, e ninguém tivesse sequer me abraçado antes.
    Naquele dia meu pai apareceu, e como estava no escuro com um estranho, ele o detestou. – Como tudo mais que me fazia bem. 
    Nós trocamos mensagens, e após conhecê-lo ele queria ir devagar, e eu praticamente queria casar, como se fosse do signo de peixes no primeiro encontro, segundo o Vitor Dicastro. Contudo do momento que recuou, a frieza aquariana se tornou presente, e parei de lhe responder as mensagens, para ir dormir.
    Nosso segundo encontro foi na mesma semana, na quarta-feira daquele mês. Neste cometemos o erro n° 1 da paquera. “Em hipótese alguma fale dos exs.” Mas nós o fizemos, e ele esclareceu que se fosse adiante, não seria um relacionamento de um segundo. – Já tinha desabafado várias vezes com ele antes, e posso admitir que tinha problemas, para manter um relacionamento sério. Só que tudo deu certo, e fomos para um banco na frente do CCA, no qual ele me roubou um beijo, e depois veio o segundo, e assim por diante. – A física era excelente, ô pegada boa!
    O relacionamento foi se tornando cada vez mais sério, passávamos quase 24 horas trocando mensagens, pois havia a escola, e outras coisas.  – Como o Sees, que começava a se desfazer, por causa que a mais patricinha tinha começado a ver espíritos, e a minha amiga, havia iniciado um relacionamento com um cara, que não era a favor das nossas práticas, apesar do ótimo gosto musical.
    Só restou eu e aquela que tinha abandonado a igreja, por isso tentamos de todas as formas manter o quê sobrou do grupo, e fizemos algumas reuniões, entrevistas, e até chamamos alguns rapazes que conhecíamos, mas poucos estavam disponíveis para praticar. – E assim o Sees enfim desmoronou, porém antes de entrar para as lembranças, trouxe uma experiência única.
    Era sábado a tarde, quando eu e a antiga beata fomos para o cemitério do Santa Rita. Nós chegamos lá, cumprimentamos o guarda, e ficamos por ali mesmo, quando de repente um homem moreno, de chapéu branco e camisa vermelha surgiu. 
    –Estão aqui a trabalho ou a passeio?
    _A passeio. (Respondi)
    _É, viemos visitar uma tia nossa.
    _(Risos) Cuidado com as visagens!
    _Eu só temo aos vivos! (A minha amiga disse)
    _A morte é uma escapatória para os covardes.
    Disse com um sorriso. O homem colocou a mão na aba, como uma reverência, e sumiu em meio a mata alta. – Ele era o quê eu chamava de guia, seres que aparecem ao acaso, para te auxiliar, dando-lhe as respostas que perguntou ao universo, e nunca mais são vistos.
    Assim que desapareceu de nossa visão, nos deitamos nas lápides, e nos focamos nas sombras. A menina teve uma visão, e eu também. Na minha vi a silhueta de uma mulher, cujos os cabelos eram enrolados como os meus, mas parecia uma camponesa, que havia sido enforcada no topo de um pinheiro, por cipós cheios de espinhos. – O quê me fez concluir que aquela era a minha vida passada, e estava comprovando, que havia mesmo sido uma bruxa.
    Seu corpo despencou, provavelmente já faziam dias desde a sua morte, e o cipó tinha apodrecido. Um ser meio homem, meio touro, veio até a bruxa, e a recolheu. – O calafrio me percorreu a espinha, pois estava claro que ia para o inferno, e não sabia se isso era bom ou ruim. – Meus olhos se encheram de espanto, pela forma como ele a pegou. Não a punha em seu ombro , como um pedaço de carne de açougue, nem a puxava pelos cabelos. Apenas a segurou no seu colo, como se fossem recém casados, e desapareceu com a mesma na densa névoa. Então 7 ou 8 rostos se formaram, sendo 5 de mulheres, e o restante de homens, ambos vestidos como nobres do período renascentista. 
    No caminho de volta para casa da menina, me senti um pouco mais cansada do quê deveria, e desmaiei na rede dela. – Onde tive um sonho, do qual não consigo me recordar.
    A noite conversei com o meu amado, e lhe contei sobre a visão que tive entre as tumbas. Enquanto nos falávamos, notei que meu quarto começou a escurecer, por isso desliguei, e vi que todas as sombras que estavam ali, tinham chifres, e apontavam para mim. – Senti um enorme calafrio, e decidi dormir fora dali, pois tive a impressão de que eles sairiam das paredes.
    O relacionamento com Nightmare, se tornava cada vez mais sério, por isso o escolhi para ser iniciado no Sees, mas ao contrário do quê fiz com as meninas, lhe avisei que tomar-lhe-ia a alma caso entrasse, e ele aceitou as condições. – No outro sábado, de madrugada enquanto a minha mãe dormia, abri-lhe os caminhos do mundo oculto de vez.
    Acendi as velas negras, lhe cortei o dedo, uni o seu sangue ao meu, então fizemos a magia sexual, evocando os 4 príncipes infernais, e no fim o  declarei como o meu rei. – Afinal ele tinha me ensinado a jogar xadrez, e nos víamos como o rei e a rainha do jogo.
    O sees em si virou pó, mas as suas consequências, puderam ser sentidas, mesmo após acabar. Uma vez no domingo, a minha melhor amiga apareceu em meu lar, e me contou algo que me assombrou por muito tempo. – Por alguma razão a pobre ficou possuída de tal forma, que tentou machucar o seu amado, e os pais dele chamaram um padre para exorcizá-la. Mas a criatura era tão poderosa, que rezava os versículos com o homem santo. 
    Eu tinha dito que haveriam consequências, que os espíritos das trevas iriam punir, quem traísse o círculo. Mas me referia a seres inferiores, jamais uma criatura de tal porte. – Assim sendo quando a moça saiu, fui até a frente do espelho, que sabia que era um portal, e me vi. Minha pele era azul, e de alguma maneira me refletia como um monstro horrendo. Chorei bastante por isso, pois era um sinal de quê as trevas estavam outra vez, tomando posse de mim.
    Todavia a situação ficou ainda mais estranha. Certa vez enquanto estava no banheiro da escola, uma menina entrou ali, e me disse “Você realmente veio para revolucionar esse lugar.”, e confessou que era satanista, por isso me senti mais a vontade na sua presença.
    Desenvolvemos uma boa convivência de imediato, mas infelizmente, haviam segredos que ela escondia de mim, e que pareciam bem ruins. – Era hora do intervalo, nós conversávamos sobre os filhos dos demônios, e vendo que a maioria tinha as mesmas habilidades que eu, lhe questionei. “Será que não sou uma também?” e ela disse com veemência “Não! Você não!” e isto me deixou bastante intrigada, ao ponto de conversar com o Conde Drácula, que parecia entender os mistérios, mas não queria me dizer diretamente.
    Estávamos no carro, voltando para casa, após um longo dia, e lhe falei “As pessoas não me acham digna da magia sabe?” Fui bem sincera, e eis que o céu escureceu, e ele disse “Quem ousou dizer isto?!” – Foi o quê chamo de impressão, (termo retirado da HQ Hellblazer) que é quando uma entidade aparece rapidamente num corpo.
    Os fatos incomuns não paravam de se acumular, por isso me entreguei a leitura do espiritismo, que me parecia uma religião bem evoluída, em relação as outras. – Ser satanista é conhecer o inimigo e tê-lo na palma da mão baby –  e decidi fazer uma projeção astral em rumo ao Inferno, para encontrar respostas, para as minhas grandes questões daquele tempo.
    Após passar muito tempo sem dormir, e projetar dentro de casa, decidi tentar o grande feito. – Cheguei exausta da escola, e me joguei na cama, somente de calça jeans e sutiã vermelho, me focando em chegar ao reino infernal.
    Acordei do outro lado, dentro da minha escola, vestida exatamente como dormi. Já era de se esperar, que o meu inferno pessoal, fosse justo aquele maldito lugar. A menina que me abordou no banheiro estava lá. “Ele quer falar com você, mas não vá com ele” Disse-me com raiva, e sem entender, caminhei até a recepção.
    Ao chegar lá, encontrei um lindo homem de rosto grego, meio cinza, com chifres vermelhos, e asas de morcego, que trajava apenas uma calça negra, solta, como a dos samurais. Ele me estendeu a sua mão, e eu a segurei. Então este levantou voo, comigo no seu colo, e tudo ali começou a se destruir, por conta dos inúmeros tornados. – A menina que me levou até o demônio, se trancou num carro antigo, e foi consumida pela catástrofe, enquanto me fitava dominada pelo ódio.
    Acordei daquela viajem, e fiquei curiosa sobre quem era o meu salvador, por isso me joguei na internet, e comecei a pesquisar em diversas fontes. Mas todas indicavam que era o próprio Satã, e isso fez meus olhos brilharem, ao ponto de crer que era uma dos seus soldados. – Só que levantou a duvida, o quê eu era, para ter alcançado tamanha glória?
    Segui meus dias, entrando nas comunidades ocultistas, tentando entender a mensagem que recebi no astral, mas as respostas de muitos, eram genéricas demais  como “você leu demais e sonhou com isso”. – Só que não era um sonho, e sim uma projeção em terras infernais, mas a falta de compreensão era tanta, que preferiam crer em coisas tão simplórias. Eu sabia do fundo do meu coração que era algo mais, sentia isso em mim, por isso quando um sacerdote de 40 anos apareceu, e me disse que Satã havia me escolhido, decidi conversar com ele, e outra moça, que parecia compreender sobre as insanidades, que aconteciam na minha vida, por também ser uma bruxa satânica.
    Só que quanto mais ia ao astral, mais ataques recebia, e todos vinham da menina da minha escola, que no campo de batalha, tentava me aplicar algo, com uma seringa cheia de um liquido viscoso. Mas eu sempre a vencia, usando todas as minhas habilidades ligadas aos elementos, que por alguma razão, lá me permitiam até controlar o tempo, como a deusa Ororo de Xmen.
    Como sempre considerei as palavras, que não me agradavam, refleti bastante sobre meu encontro com Satã, e até aceitei que podia mesmo ser um sonho. – Só que o conceito mudou, tão rápido quanto surgiu, pois encontrei a minha atacante, que me chamou no corredor, e me revelou que andava tendo pesadelos comigo. Neles eu saia de um pentagrama, e ao meu redor estavam várias pessoas, que supostamente havia matado, e ia para cima dela. Por isso a mesma pediu para nos afastarmos. – Foi ela que declarou guerra, quando misteriosamente o cemitério que adorava frequentar, virou notícia por conta de um culto brutal, no qual um bode foi assassinado, e disseram ser obra de “satanistas.” – Por causa de tal fato, os guardas começaram a pegar no pé, de quaisquer pessoas suspeitas. E uma menina de batom escuro vestida todo de preto, era certamente um bom alvo para isso.
    Queria saber separar a vida pessoal da mágicka, mas creio que o quê fez sagrada, foi o fato de ser totalmente oposto. – Minha reserva de energia oculta, conhecida como Satã, estava crescendo cada vez mais, e toda vez que me sentia desafiada, usava meu poder para provar o meu valor.
    Num dia qualquer disse a um amigo que seria atropelado, e mais tarde, o mesmo veio falar comigo. Estava mais pálido que o normal, e me pediu para jamais brincar daquela forma outra vez, pois na tarde daquele dia, um caminhão quase o atropelou. – Naquela época, pensei ter a ver com minha capacidade oculta, mas hoje vejo que foi apenas a lei da atração agindo. – Você atrai aquilo que teme.
    O menino que era um santo, ia a acampamentos da igreja e tudo mais, começou a voltar-se para as práticas da magia. – E de alguma forma me sentia responsável pelo feito, pois vivia lhe contando sobre as minhas aventuras. 
    Graças a ele, descobri mais uma pista a respeito de quem era, pois este encontrou uma bruxa mais velha, e lhe contou sobre mim, para que pudéssemos descobrir o quê tudo o quê vinha acontecendo significava. – Era como se fosse uma universitária de ocultismo, pois a mulher lhe disse, que tudo o quê precisaria em breve era fazer uma escolha. Enquanto ele, teria que estudar bastante para se desenvolver.
    Isto me parecia muito verdadeiro, pois em 11/11/11 aconteceu uma coisa, que literalmente testou os limites da minha razão. – No dia anterior a abertura do portal, a minha amiga foi na minha casa, e nós debatemos sobre o quê o 11/11/11 significava. No meio da conversa ela soltou “Algo grande irá acontecer, mas passará despercebido por todos.” E seguimos falando a respeito, focando principalmente no símbolo do Anticristo, pelo qual nós éramos apaixonadas, e que apesar da narrativa do filme a profecia – Que me fez ter um sonho com o menino da trama-Achava que era uma mulher. Naquele tempo para mim, um portal era algo que só podia ser aberto pela elite, que já tinha atingido o limite máximo dos seus poderes sobre-humanos. – Por isso não consegui entender o quê veio adiante. Dormi tranquilamente, nos braços do meu amado, e despertei numa passarela de vidro, que ficava acima das águas, localizada entre enormes montanhas marrons, das quais podia-se ver a cachoeira cristalina. Estava coberta por uma túnica negra, e caminhei até o fim da ponte, onde encontrei um monólito, no qual se encontrava uma tábua de pedra, semelhante aos 10 mandamentos, mas com símbolos alienígenas, que brilhavam na cor verde, e de alguma forma reconhecia, e alinhava. Feito isto um asteroide passava entre as nuvens, e em seguida apareciam vários nomes de lápides de presidentes, e o ano 1999. – Por quê é assustador? Minha mãe falou que um colega lhe contou, que no dia em questão, um astro passou próximo a Terra, e o mesmo era também responsável pelo dilúvio lá no passado. ( A coisa mais estranha, é que um objeto celeste realmente passou naquele mês, mas eu não tinha conhecimento disto.)
    Saber destas coisas, foi me tornando uma criatura cada vez mais mesquinha, pois tamanho poder, influência e beleza, só me fazia ter cada vez mais ambição na vida, e enquanto eu lutava para alcançar o topo, meu par apenas se confortava com uma existência vazia de pouco luxo. – O quê irritou muito o meu pai, pois a gente morava junto na época, e o rapaz não tinha ânimo para ir procurar um rumo na vida.
    Eu tentava ser compreensiva, porquê sabia como se sentia perante os demais, mas no fundo me sentia tão incrédula, quanto o próprio Drácula. – Por isso, quando a mãe lhe conseguiu um emprego em outra cidade, preferi que fosse, pois concordava com o meu pai. – Precisava de alguém que caminhasse comigo, não que ficasse nas minhas costas, me atrapalhando a chegar na parte mais íngreme da montanha. – Não entenda errado, ele suportava todos os meus dramas, tínhamos muito em comum, só que a sua falta de prazer em ascender na vida, pesava demais para mim. Eu fiz de tudo para quê dessemos certo, abri mão até mesmo da minha vida de luxo, para ir viver com ele, e isto resultou numa das minhas experiências mais assombrosas. – Viver na casa de Nightmare, era um enorme desafio, principalmente porquê a sogra, me odiava tanto quanto o meu pai ao filho dela, e como ele não queria que pensassem ainda pior a seu respeito, não me deixou faltar na escola naquele dia, mesmo lhe dizendo que não queria ir mesmo.
     Ao chegar lá, não teve aula, e a patricinha ladra de projetos, nos chamou para beber com os colegas. – Cachaceira como eu e a ex-beata éramos, aceitamos na hora, tomar uma Vodca com suco de laranja. Eles foram na frente, e nós duas tomamos o caminho do sol quente, para chegar ao “Poeirão”, porquê ela teve um mal pressentimento. – É incrível como o simbolismo surge no dia-a-dia, pois literalmente estávamos seguindo por um caminho diferente, por não sermos como eles. – Ela não era como eles Blutengel- Lúcifer.
    Chegamos no local, e iniciamos a bebedeira. O povo tinha um péssimo gosto musical, e eu não conseguia tolerar isso. “Coloca a Lady Gaga” dizia, mas eles continuavam a ouvir funk carioca. Minha amiga não era tão elitista, por isso foi rebolar até o chão, e eu virei meia garrafa num gole.Tinha comido antes, mas do mesmo jeito o álcool me subiu a cabeça, e entrei num daqueles transes, só que consciente desta vez. – Era como se estivesse no meio das nuvens, e haviam vários anjos entorno de mim. Isso me deixava apavorada, ao ponto de ameaçá-los de morte, caso se aproximassem. 
    Do nada o céu escureceu, e a chuva começou, todos incluindo a patricinha saíram correndo, e a ex-beata ficou para me ajudar, enquanto eu vomitava sem parar, ao ponto de espumar pela boca. – É nesta hora que se vê quem são os seus amigos de verdade.
    Ela me levou até um bar, onde pediu que ligassem para o Samur, e nos confundiram como irmãs. Dentro do veículo agradeci a paramédica por me ajudar, e pedi pra ex-beata ligar para o meu amado. No banco de espera, desmaiei, e ficava oscilando entre este mundo e o outro, até que me estabeleci aqui. – Lembro-me que fiquei furiosa porquê ele não apareceu, mas mais tarde, soube pela sua mãe, que tinha pego uma bicicleta para chegar lá, quando percebeu que não tinha um tostão no bolso, para pagar a passagem, e eram 40 minutos do seu bairro até o hospital, e eu fiquei menos tempo que isso, após diagnosticarem a minha melhora súbita, do quase coma alcoólico. 
    Certa vez logo após ele ir para Ferreira Gomes, eu fiquei até de madrugada na internet, conversando com um gótico metido a ocultista, que só reforçou uma ideia presente em minha mente. – Eu merecia mais do quê aquilo, e por um pensamento tão egocêntrico, dado a minha natureza, acabei por me envolver com este cara, por apenas uma noite. Mas depois que acabou, deixei claro que não se repetiria, e de imediato quis terminar meu relacionamento. – Mesmo que fossem somente palavras, não tinha cara para continuar, como se nada tivesse acontecido, eu não era a Srta Seios Fartos.
    Meu companheiro me ligava sempre do outro lado. Só que eu lhe dava patadas, dizia que não o amava mais, e tentava fazê-lo me esquecer a qualquer custo, pois o quê fiz, não perdão. – No entanto era persistente, e esconder o meu pecado contra ele, estava se tornando cada vez mais difícil, já que quando nos conhecemos, o mesmo me disse que via o futuro, e agora fazia juiz a isto.
    O amante de uma noite, não me deixava em paz, entrava nos grupos em quê me encontrava, e fazia dramas, por tê-lo bloqueado do MSN, mas eu não deixava os rastros da traição, portanto não sabia como meu marido, poderia ter previsto tudo com exatidão. – Numa noite qualquer, estávamos deitados no quarto da minha mãe, e em meio a penumbra ele disse “Você vai me deixar por alguém da internet.” E eu fiquei apavorada, dizendo que era impossível. – E era mesmo, o amante era um canalha, e nem em sonho planejava ter um relacionamento sério com ele. – Contudo meu par usava o argumento, de quê havíamos nos conhecido na internet, e isto ia se repetir. – Mas duvidei porquê na época tínhamos um relacionamento a distância, e já não aprovava tal coisa.
    Naquela noite ele surtou, saiu batendo portas, e então pegou o seu canivete Soul, que ficava junto da minha faca Deathpeople. Com um sorriso diabólico, disse que as vozes o mandavam me matar, e eu fiquei abraçada ao meu notebook, sem saber o quê fazer, sentindo a lâmina na minha garganta. Foi então que tive um estalo, e decidi manipulá-lo da mesma forma, como fiz com a minha mãe lá em 2009. – Apaguei as luzes, porquê sabia que o escuro o acalmava, e lhe abracei forte entre lágrimas “Se as vozes dizem para fazer isso, elas não são boas, então por favor para de ouvi-las!” Disse abraçando-lhe enquanto ficávamos deitados na cama.
    Contei a bruxa satânica, com ainda mais detalhes, do quê agora sou capaz de dizer, e esta concluiu que era uma possessão, e que soube lidar bem com o demônio. – Além disto na mesma conversa, lhe contei sobre o meu passado, e eis que ela disse algo enigmático. “Agora entendo tudo. Sua mãe foi apenas o ovo, você sempre pertenceu a Satã.” E depois sumiu sem deixar algum rastro.
    Contei a verdade para o meu companheiro, e ele me perdoou imediatamente. – Provavelmente porquê a gota d’água, foi ter conversado com a detestável ex, uma semana antes da traição, e não ter me contado. O quê pode se dizer como o verdadeiro pivô, pois a minha insegurança, era tanta, que só pensava o pior.
    Nós tentamos seguir adiante, só que acabei me encantando por uma moça de São Paulo, e ela por mim, e assim acabei casada com um, e namorando-a a distância. – Mas todos as partes envolvidas sabiam, e até mesmo se davam bem. – Viva a fidelidade satânica!
    É claro que não deu certo, e o trio se desfez. Depois disso voltei a caça, gostei de um rapaz, de outro, e nunca me decidia se continuava ou não com o meu rei. – Que entre uns e outros, era agora o meu amante, e com ele me sentia a vontade para trair aos outros.
    Quando finalmente estávamos nos ajeitando, numa amizade colorida, o pior veio. – Conheci um rapaz, que me disse que juntaria cada caco do meu coração, e lhe disse friamente para que entrasse na fila. Ele parecia ter 15 anos, e eu realmente detestava gente mais nova. Só que era outro persistente, que ficava por perto, tentando me conquistar, mas eu não dava a mínima, para cavalheirismo forçado. – Lembre-se que deixei até o nerd, que era um amor de pessoa, porquê a química não batia.
    Porém numa madrugada isso mudou. De garoto insuportável metido a príncipe, eis que surgiu a sua outra face, a demoníaca, que não era um lambe botas, e isto me despertou o interesse. – Vivia assistindo documentários sobre maníacos, psicopatas, e assassinos no Discovery Chanel, e o History. Então quando alguém supostamente perturbado apareceu, quis estudá-lo. 
    Infelizmente a versão de plástico, continua a me encher o saco, e eu só estava focada na sua real essência. – Está bem, o meu gosto para homens era péssimo, mas é preciso que entenda, que a minha natureza não é benevolente, por isso me juntar a alguém, que fosse normal estava fora de cogitação, porquê me entediava.
    O menino e meu ex-marido, começaram a competir, mas a minha atenção no novo, acabou por resultar na vitória deste, e assim meu antigo par teve de partir. – Não foi uma despedida dolorosa, pois até transamos antes, e ele mesmo abriu caminho para o outro, ao me ajudar a restabelecer a conexão da internet, quando a CPU, aparentemente parecia ter queimado, e não podia falar com o rapaz.
    O amor da minha vida se foi, e aquele que desgraçaria de vez a minha mente, foi o quê ficou. – Como em o Alienista, a verdade mais dura ficou clara, conviva demais com os loucos, crie uma ligação com o mesmos, e será o próximo a ir para o hospício.
    O rosto malévolo do garoto, as coisas que supostamente dizia ser capaz de fazer, mas que me parecia romântico demais para tais atos, me deixava fascinada admito. – Eu estava me tornando obcecada pelo ser que criou, e queria provar-lhe que a suposta mortal inútil, tinha mais valor do quê imaginava.
    Logo que iniciei o relacionamento, tirei o arcano 15 no tarô, e em vez de ver a clara mensagem negativa, preferi abraçar aquilo como “destino”.   – Nem eu sei o quê aconteceu ao certo para ficar assim, só lembro que foi pouco depois, dele ter dito que teve um apagão, e se encontrou diante de um pentagrama, derramando gotas de sangue no mesmo.
    Conviver com o mesmo não era fácil, e por isso eu costumava reclamar bastante, exaltando o relacionamento que um dia tive. – Isto o tirava do sério, da mesma forma, como possuir inúmeros contatos de garotos, com os quais flertava, quando me fazia raiva. 
    Finalmente tinha entrado num relacionamento abusivo, e ao menos desta vez, não era quem pisava nos outros. – A sensação era terrível, e isso me atrapalhou bastante, na hora de aceitar a descoberta sobre quem era.
    Um dos rapazes com o qual me envolvi, mas me joguei para escanteio, falou para o meu amigo, que eu era herdeira do inferno, e este me repassou o fato, como se fosse algo dele. – O quê não gostei inicialmente, e o fato de ter beijado ele e mais dois num fim de semana, tinha abalado a nossa amizade. Pois assim como odiava traição, não queria que ninguém mais sofresse com isso, e quando aconteceu, ele namorava a minha colega de turma da 211, para quem tive de contar tudo, e esclarecer que foi um erro. – Eu sei é hipócrita da minha parte, mas quando se é jovem, dificilmente se dá conta das besteiras que faz.
    “Herdeira do Inferno.” Uma frase tão curta, que me trouxe tanta dor e sofrimento. – Após a descoberta, vários caras se aproximaram de mim, alegando que eram o meu marido demoníaco da outra vida, e isso me deixou bem frustrada, pois sentia como se quisessem me usar, para subir na escala infernal, e mesmo que parecesse grande coisa, para mim aquilo era pouco. – São palavras. Não é porquê alguém disse que automaticamente, iria abraçar tal destino sem mais nem menos. 
    Precisa questionar o fato, analisá-lo, antes de tomar como verdade. Por essa razão, sai novamente em busca de provas, que me fizessem de fato, a futura rainha do inferno.
    Na época conversava com um De Molay, que antes tinha me dado o fora, e depois que nos tornamos amigos, veio com a besteira de se apaixonar. Mas apesar de tudo, ele me protegia do outro, e parecia ter bastante conhecimento oculto, logo era uma boa alternativa, pergunta-lhe a respeito de tal novidade. – Ele não só não discordou, como esclareceu que eu era filha de Lilith, e em muito lembrava a minha mãe.
    É claro que duvidei. – Lilith a poderosa, dotada de seios fartos, e cabelos perfeitos? Impossível! Só que gradualmente, fui encontrando provas, que me ligassem a ela. No retrato de John Collier de 1887, a bela era retratada com seios pequenos como maçãs nem excessivamente magra, muito menos gorda, com madeixas douradas e crespas. – Semelhante as minhas, cujas as quais, a minha mãe terrestre, dizia que era “cabelo de surfista”. Além disso o nome Lilith, terminava com o mesmo Th, presente no meu, e por mais idiota que hoje pareça, não acreditava que era uma coincidência. – O resto dos traços como criatura lasciva e cruel, já devem ter ficado claro.
    Saber que tinha a essência de Lilith, a rainha do Inferno, era algo maravilhoso para mim. – Tudo começava a fazer sentido, as visões, as situações escabrosas, a minha persona obscura, e por isso quando soube da segunda parte , foi um choque para mim. 
    Através de uma bruxa wiccana, soube que o Deus que deu origem ao mito do Diabo, e a Deusa virgem desavergonhada, a qual odiava, me amavam e me protegiam. – E não era uma benção comum do grupo, apesar do quê possa parecer. Ela literalmente tirou nas cartas para saber. – Terrivelmente, não soube apenas me auxiliar, ao descobrir quem era, de imediato ficou furiosa comigo, e disse que Ela quem era a filha de Lúcifer e iria reinar. Algo que era complicado, pois não tinha tido uma vida tão ligada ao Inferno, para quê outra viesse tomar o lugar, que parecia me pertencer. – Estranhamente depois da afronta, por causa do seu namorado cafajeste, que alegava que eu era poderosa, regente do bem e do mal, e que podia transitar entre o céu e o inferno por ser filha de Lúcifer e Maria Padilha. – A mesma bruxa disse sob o estado de “mensageira”, que o meu futuro seria extraordinário. Só que o sucesso mundano, já não me parecia o suficiente, por isso lhe perguntei se era normal ou mágico, e o tal ser respondeu que era mágico. – Ainda estou no aguardo sobre isso.
    Como tudo estava ficando cada vez pior, recorri ao mago de 40 anos, que inicialmente me disse que fora escolhida por Satã. Este me revelou que no ano do fim do mundo, descobria algo importante, e que era uma das peças chave, para os planos de Satã na Terra. – O quê seria conclusivo, mas logo após a descoberta, tive um sonho do qual jamais esquecerei. Estava correndo na chuva, tentando fugir de um homem encapuzado, e quando pulava do penhasco para o outro lado, uma voz de trovão dizia “Cuidado com aquele que diz querer ajudar o teu pai, pois o mesmo, apenas está procurando meios de destrui-lo!” Naturalmente pensei em Arikiel, porém quando o magista de 40 anos, fez uma proposta indecente, sabendo que o via como um pai, e que eu tinha 16 anos, ficou claro de quem se tratava o comunicado. – Filho de Satã é? Engraçado pois meu pai jamais aprovaria a sua conduta para comigo.
    Por fim, naquele mesmo ano uma menina me enviou mensagem, e achei bastante incomum, porquê nem a conhecia, e a outra moça que era a sua amiga, pouco sabia ao meu respeito. – Mas ainda sim esta deixou claro que éramos irmãs, por termos a essência de Lilith, e sua prima que também era uma bruxa, me disse que eu era pura. Algo que odiei de imediato, e acho que por isso ela completou com “Pura...Pura maldade.”
    Eu era a princesa infernal não é? Ia herdar o trono do Inferno, e governar os outros. Então me diga como quê diabos, foi me mostrado que tinha sangue de anjo?! –  Como já deve ter percebido até aqui, não sou de aceitar as coisas, antes de muito questionar. “Anjo, anjo, anjo” Era o quê ficava na minha cabeça. Como é que podia ser filha de Lúcifer e Lilith, e ter uma essência tão terrível?! Isso me devastava, e para piorar, o meu namorado, reforçava que meu poder era ainda menor, por possuir as malditas asas de penas. – Eu nunca comemorava pelas descobertas. Primeiro Filha de Lúcifer? Isso era uma piada entre os satanistas da cidade! Além do mais, até naquele tempo havia tanta gente se denominando como tal, que me doía o peito, pensar com quantos teria que competir para sentar-me ao lado do meu “pai”. Segundo anjo?! Pura?! Que porcaria era essa?! Depois de tudo o quê tinha aprontado na vida, não havia razão, para crer que era uma celestial. – Só que era, e uma pequena seita de fanáticos, que para minha infelicidade desapareceu do Google, me mostrou a extensão do problema. – Logo após eu ter tido uma visão, de um anjo de asas negras, copulando com uma linda mulher ruiva, num lugar que parecia o Éden. – Eles esclareceram que Satanás tinha uma filha, e que esta foi expulsa do paraíso, junto com o pai. Contudo não era a única a falar a respeito, tinha uma outra, que era mais específica, dizia que a filha levava todos a perdição, e os que se casassem com ela, teriam que servir ao seu pai. Não sei se sumiram também, mas juro em nome do Cosmos, pareciam falar de mim, só estavam errados numa coisa, eu não uma senhora, nem nunca seria, pois tenho problemas para envelhecer fisicamente. – Tenho 24 anos, mas pareço ter 16, por conta dos problemas hormonais.
    As imagens do passado pareciam se tornar claras, vez ou outra entrava em transe na escola, e via a minha outra vida. – Tinha estudado numa instituição mágicka, em uma outra dimensão, cuja a tecnologia era mais avançada do quê este mundo. Mas não era só isso, lá era a pior das piores, por isso todos me chamavam de mini Lilith. Era tão ruim, que havia até mesmo roubado o noivo da minha irmã, o anjo Alakiel, que do momento que fui para a guerra, quando os celestiais nos acharam, acabou por me abandonar em um carro. – Calma, eu sei que Alakiel é pura imaginação, só que a semelhança entre Alakiel e Arakiel o anjo caído, responsável pelos sinais na Terra, é bastante clara. O quê comprova que a minha visão era turva, mas ainda sim era uma visão. – Ás vezes o transe era tão profundo, que literalmente acordava na sala errada, e nem sabia como havia chegado lá.
    Arakiel era o nome do ser que influenciava, o falso príncipe, ou talvez fosse o próprio, isso não ficou claro,  mas parecia realmente haver uma força sobrenatural por trás de tudo. – Sempre que eu discutia com o rapaz, minhas tentativas de suicídio, traziam a tona a existência do ser, que de alguma maneira, batalhava com o outro, para ficar em seu lugar, e se juntar a mim. Ele batia o pé, dizendo que era um demônio, e eu dizia que era um anjo disfarçado de demônio, que viera para me confundir. – É, vergonhosamente entrei no jogo do sociopata, mas não o suficiente para crer que eram dois seres distintos, pois na minha concepção na época, o bom, gentil e amoroso, era a máscara, que escondia quem ele realmente era, ou seja o Arakiel, que nunca queria me dá o nome, e se chamava de Lord Dark.
    O outro lado existia apenas para me confrontar, por causa da minha conduta, de mulher sirigaita, que estava pronta para deixá-lo se fosse preciso. Só que as discussões filosóficas, sobre o céu e o inferno, anjos e demônios, me fazia querer estar sempre com a versão do rapaz que me machucava, mas que também atraia a minha atenção, e muitas vezes me ajudava a sair das crises existenciais, que ele mesmo me colocava. – Eu sabia que era tóxico, para nós dois, pois também o feria de propósito, só que definia como um relacionamento em que, os dois se xingavam, porém se outros fizessem o mesmo, que nos aguardassem, pois um cuidava do outro.
    Sempre que me metia em confusão, Lord estava lá, e costumava humilhar quem ousasse me ferir. – Isso para mim era importante, porquê embora o meu ex-marido tivesse sempre me aceitado como era, nunca fora capaz de levantar a voz a ninguém por mim, e isto me fazia ter a impressão, de quê era eu contra todos, e não nós.
    Era uma droga viciante, alucinante, que estava me destruindo sem perceber. Pois assim que me conquistou, fiquei na palma da sua mão. Não via os sinais, como: mensagens enviadas por 24 horas, ás vezes que tentou se matar, e me enviou o vídeo, a forma como me envenenava sobre os outros, dizendo que não tinha amigos de verdade, e só podia contar com ele. – Neste ponto tive de concordar, só restou uma ou duas pessoas, das quase vinte, com quem mantinha contato naquele tempo, porquê quando afundei de vez, a maioria torceu para que morresse mesmo.
    Em outubro daquele ano tive um sonho com o meu ex, ele estava vestido de laranja, não me parecia mais consciente de seus demônios, e entrava na minha casa. Eu parecia drogada, não conseguia comer, e pegava com as mãos o macarrão do prato de plástico azul. Só que meu corpo pesava bastante em seguida, e ele me carregava para a cama. – Aquele sonho sombrio, me preocupou bastante, por isso falei para o Lord, que agora tinha “tomado” o corpo de vez, e este me falou que ele parecia o cara do seu sonho, e que tinha de me livrar de todas as coisas que ele me deu, pois isto nos mantinha ligados, e não acabaria bem. 
    Aterrorizada, coloquei a camisa do System of a Down para a doação, e quebrei a estatueta favorita dele, que tinha me dado para provar o seu amor. Uma porcelana marrom em forma de lobo, que ele adorava, por ser fã de tudo ligado ao animal. – Ainda me lembro daquela tarde, me recusava a fazê-lo, mas o garoto ficava sussurrando em meus ouvidos “Quebre, quebre, quebre!” e o fiz entre lágrimas, sentindo como se quebrasse algo em mim.
    Depois do sonho e todo o resto, Nightmare que agora atendia pela alcunha de Soul Ripper, tentou manter contato comigo, mas por medo, eu o evitei, achando que os seus demônios o tinham consumido de vez. Assim sendo o bloquei nas redes sociais, e por isso ele veio na porta da minha casa, só que o tratei com frieza, e ele partiu cabisbaixo. – Eu entendo que queira me dá um soco, pois se eu pudesse faria como Yuno Gasai, e tomaria o meu lugar no passado, para impedir esse erro.
    Gradualmente fui perdendo amigos, e quando somente restou eu e o garoto da web, ele me pediu em casamento, e aceitei. Sabia que tinha um marido vindo do Inferno, e achava que podia ser ele, pois nunca havia sido tão trouxa para alguém antes. – Entretanto tudo mostrava o contrário, e até mesmo a minha irmã, recebeu a mensagem de Lilith, de quê ele não era o meu par, que Lúcifer o tinha escolhido por um propósito, e tomar Arakiel com tal era um erro. – A aquela altura, tinha mergulhado na mais profunda insanidade, e não ouvia nem sequer os deuses, estava convencida de quê era meu, e nada nem ninguém, poderia mudar isso. – Será? 
    Num dia qualquer briguei com o rapaz, e fiz a coisa que ele mais detestava, para atrair o seu outro lado. Bebi até perder a consciência, mesmo sabendo o quão arriscado aquilo podia ser, já que a barreira entre o físico e o espiritual, ficava cada vez mais fina , de acordo com a quantidade de álcool ingerida. – Lembre-se do trágico episódio de 2011.
    Acabei por desmaiar, enquanto conversávamos no celular, pois não me aguentava em pé. Despertei no meio de uma praça, onde as freiras de branco passaveam. Parecia o paraíso, mas as faces daquelas mulheres não me inspiravam confiança, por isso apressei os passos. Foi então que vi uma freira de preto, esfaqueada a sangue frio no piso cheio de quadradrinhos, e decidi correr. As senhoras já estavam entorno de mim, com sorrisos dotados de mania, por isso fiz um grande esforço para despertar, chamando pelo anjo que se disfarçava de demônio. Ele estava desmaiado também, por isso o despertei ligando inúmeras vezes. “Durma, não vou deixar nada te machucar, sabe que basta me chamar se algo acontecer.” Disse-me enquanto eu estava em estado de pânico, só que o efeito da bebida era muito forte, por isso cai no sono de novo. O sonho me pareceu bem normal desta vez. Estava na antiga casa da minha avó materna, enquanto esta ajeitava a cama, bastante sorridente, mas de alguma forma eu sabia que não era ela, por isso disse “Você não é a minha avó! Revele-se!” Então ela parou de dobrar os lençóis, e me olhou com um sorriso assustador, enquanto a sua pele morena, começava a empalidecer, e as unhas ficavam pretas. “Tem certeza de que quer saber?” Perguntou, e eu me preparei para lutar, só que uma força maior, me puxou de volta para o corpo contra a minha vontade. – Nunca soube o nome da criatura, e até hoje isso muito me intriga.
    Em novembro de 2012, me caracterizei como Alerquina, por notar que tínhamos um rosto bem semelhante, e me preparei para ir ao evento de Cosplay, mas quando cheguei na porta, senti uma tontura e desmaiei. – Meu espírito foi levado para o cemitério do Santa Rita, e lá fiquei rodeada por espíritos zombeteiros que diziam “Morte, Dinheiro, Mentira!” repetidamente, e gargalhavam como loucos.
    Tudo estava preparado, para quê eu e Arakiel nos encontrássemos, nossas mães tinham conversado, e a dele havia aceitado a união, pois o rapaz tinha dito que preferia a morte, a ficar sem mim. Dia 28 de dezembro ele chegaria na cidade, só que infelizmente – ou felizmente –  Descobri que tinha me traído em novembro, e a raiva por ele, era maior do quê qualquer coisa que sentisse, por isso fiz o quê ele sempre detestou, sai com a minha amiga ex- beata, e bebi com estranhos. O problema é que o garoto em estado de bebida, tentou me estuprar na praça, e se não fosse pela minha amiga, e o amigo dele, a noite não teria acabado bem, pois morder forte a sua língua, somente o excitava ainda mais.  – Contei tudo ao anjo, disfarçado de demônio, e ele ameaçou o cara de morte, caso voltasse a se aproximar de mim. Só que “pagar em dólar”, não tinha sido o suficiente, eu ainda o odiava por ter me enganado, e por isso decidi terminar em 25 de dezembro daquele ano, após ter tido um estranho presságio, de quê estavam tentando me matar. – Gente de outra escola foi até a minha, e ficou a me olhar estranho, como se tivessem desejos insidiosos. Depois enquanto dormia o teto se abriu um pouco, em meio a chuvarada, e se não saio a tempo do quarto, teria morrido eletrocutada.
    Acabou. Fui dormir, só que naquela noite tive um sonho, de quê ele estava muito magro em meio a escuridão, e escalava meu corpo chorosamente, dizendo “Eu te amo, porquê está fazendo isso comigo?!” Então quando acordei recebi a notícia, meu avô tinha falecido, e o menino nem sequer respondia as mensagens, no início fiquei preocupada, depois soube que estava bem, e entrei num profundo estado de depressão. – Não comia, não dormia, e só sabia falar dele, achava até mesmo que tinha sido separado de mim, por um kimbandista, com o qual puxou briga, porquê o mesmo havia dito que eu era filha de um cachorro de rua, mas nunca de Satã.
    Tentei namorar o DeMolay, mas este me deixou por causa da ex, e acabei fazendo amizade com um garoto detestável, que fez minha amiga sofrer, e que estava arrependido. Vamos chamá-lo de o Geminiano. – O geminiano era de Rio de Janeiro, e costumava implicar comigo por qualquer coisa, mas como era o único que me entendia, sobre querer voltar para a pessoa que havia deixado, só me restava falar com ele.
    Os pesadelos eram bastante frequentes na época, sonhava que estava grávida, e Arakiel – que apesar de parecer ter pouca idade, era um ano mais velho que eu – tinha alguma relação com isso.
    Vivia vendo zumbis, guerras, e o fim do mundo eminente. – Provavelmente pelo bombardeio de mensagens midiáticas a respeito. 
    Meus amigos só sabiam me apoiar com “likes”, em coisas que me faziam me sentir um lixo, e eu sentia raiva disso. – O canalha estava certo? Eu estava sozinha mesmo?
    No ano de 2013, fiz 18 anos, mas foi o pior dos meus aniversários, pois de quem eu queria os parabéns nunca veio. Como se isso não bastasse, um meteorito caiu na Rússia, logo após a renúncia do Papa, e temia que isso de alguma forma fosse associado a mim, afinal era supostamente A filha de Lúcifer, e os religiosos sempre buscam por um bode expiatório. – Lembro-me que não pude comemorar no dia, mas o fiz no sábado, e quando bebi, meus olhos brilharam de forma inumana, ao ponto de ficarem verdes, e isso foi capturado pela câmera.
    Em março daquele ano, resolvi sair de dia, com a ex-beata, queria me destruir sabe? Beber até não aguentar mais. Nós fomos até o Formigueiro, uma praça que ficava atrás da igreja de São José, onde os roqueiros costumavam se reunir.
    Lá encontramos um homem, que usava uma camisa preta, e o símbolo da estrela de Davi, e este não parava de cumprimentar a todos. Até aí tudo bem, só que um dos meninos, me falou que se tratava de um pedófilo, e quando este veio até mim, minha energia cresceu mais que o normal, pois detesto o tipo. – Ele disse “Você tem um espírito forte, tenho certeza que é de leão.” Disse-me, e sorri de forma maldosa, negando, enquanto apertávamos as mãos. Os olhos dele se engradeceram, e o medo ficou presente, ele literalmente saiu andando de depressa, sem falar com o resto do povo.
    Decidimos sair andando pela cidade, e nos estabelecemos na praça da bandeira, onde fiquei no escuro. Então uns 30 minutos após sair do Formigueiro, um grupo de frades a caráter, tão grande que nem deu para contar, surgiu andando pelo centro, e a menina que estava conosco até brincou, dizendo que pareciam ser um grupo de Jedis. – Se era “caçavam pela filha de Darth Vader”.
    Coincidência ou não, até hoje não sei explicar, mas o medo foi tão grande, que me manifestei nas redes sociais, dizendo que se sumisse, que me procurassem no Vaticano. – Fanatismo, loucura, pode chamar do quê desejar, só  que é no mínimo estranho.
    Mais coisas aconteceram naquele ano terrível, e quando Soul/Nightmare reapareceu, eu definitivamente não estava pronta para voltar. Já tinha dado errado uma vez, e no momento só queria me destruir, por isso não podia arrastá-lo para o fundo comigo, só que isto tudo fica para o próximo capítulo.
                             
    Capitulo 4- 2013
    Não dá para duvidar da persistência de Soul. Mesmo depois que terminamos, e tê-lo afastado, a pedido de Arikiel, sob circunstâncias estranhas, ele ainda continuava ali, sendo um amigo para todas as horas, porém apesar de não ter me esquecido, preferia que o fizesse. – Meu coração não lhe pertencia mais, então para quê iria continuar torturando-o? Ele não merecia esse destino cruel, portanto quando reapareceu, e por acidente, acabamos por dormir juntos, por volta de maio daquele ano – O quê faz de mim um monstro, pois era o mês do seu aniversário – Eu lhe disse em definitivo “Isso não quer dizer que te amo, e nem que vamos voltar!” , ele pareceu entender, e também falou que não era o quê queria. – Contudo mais tarde soube, que tinha ido embora cabisbaixo.
    Me perdoe querido leitor, mas não poderia continuar segurando o rapaz ao meu lado, por puro egoísmo. – Tudo o quê tinha passado com o Arakiel, havia feito a minha concepção mudar. – Sem contar que na época estava me envolvendo com o Geminiano, e não queria iniciar outro relacionamento com o pé esquerdo.
    Estava cada vez mais perdida, e apesar de ter o Geminiano ao meu lado, me sentia cada vez mais sozinha, por isso vivia entrando em sites de Creepypastas. – Já havia tentado inúmeras formas de me matar, como : Morrer afogada aos 6 anos, mas não deu certo, a professora me salvou. Morte por acidente automobilístico, só que os carros paravam antes. Morte por ingestão de caixas de remédio, todavia somente dormia, e voltava nova em folha. Morte por envenenamento, que me fazia vomitar sem parar, porém bastava um copo de leite, e tudo voltava ao normal. Morte por corte da artéria, no entanto parecia nunca rasgar a carne o suficiente, pois no dia seguinte, já estava como se estivesse se cicatrizando. – Então como os métodos tradicionais, estavam sempre falhando, procurei por entidades místicas, para me destruírem de uma vez. – Claramente não funcionou, senão não estaria aqui agora.
    Caminhava pelo mundo, como se fosse uma zumbi, sem vida, sem motivação, sem acreditar em nada. – Se Lúcifer era meu pai, então por quê as coisas estavam dando tão errado? – Fui perdendo a minha fé nele, e abracei a linha de fanatismos sobre o fim do mundo, pois saber que o lugar onde estava seria destruído, me trazia paz. – Poderia ser “imortal”, só que se o planeta inteiro fosse destruído, não creio que iria sobreviver.
    Por isso quando a mensageira Maria, foi tomada pela presença de Lúcifer, que me mandou tomar cuidado, pois coisas terríveis iriam acontecer, eu questionei bastante, porquê seria literalmente o meu maior desejo.
    Os dias seguiram, e enquanto estava imersa em escuridão, passava grande parte do meu tempo, digitando um dos meus romances sombrios, chamado Psychosocial The Game of Larry Coltown, que nunca teve um final. Mas deixou claro que a minha relação com Arakiel, era como uma lavagem cerebral, na qual literalmente perdia a noção de mundo, e sobre quem realmente era. – Na trama, Corelle era raptada por um Doutor sanguinário, denominado Michael Kovat, que fazia dela uma máquina destruidora, para servir a cruel Ordem de Cristo, que existia somente para matar os demônios, e todos os seus filhos. – Em alguns pontos eu e Corelle éramos semelhantes, noutros ela tinha as próprias características. Contudo era inegável que ela me representava, e por isso é perceptível que muitos dos seus desafios, são parte da minha dissociação da realidade, que era extrema naquele tempo. 
     Todavia não chegava ao ponto, daqueles com quem tentava estabelcer laços. Maria tinha um grupo no Facebook, com um monte de jovens perturbados, que conseguiam superar até a mim. – Foi ali que aprendi a separar a fantasia da realidade de vez. Pois ver um homem dizendo que era um arcanjo, e uma mulher dizendo que era o próprio Asmodeus, era demais para mim. – Asmoday parecia ser uma garota inteligente, que sabia bastante do oculto, só que em algum momento da vida perdeu a sanidade, e ficou presa entre a Terra e o outro lado. Ela era bonita, mas se disfarçava de feia, tinha 27 anos, e aparentava 16, foi a única bruxa satânica, que conheci, que fazia aniversário no dia 15/02 também. Ela vivia implicando comigo, me chamando de princesa mimada, porquê supostamente não tinha sofrido o suficiente, e mesmo que acontecesse, continuaria sendo uma “santa”. Apesar do conflito, eu a admirava, queria fazer-lhe recuperar a consciência, pois tinha muito a oferecer a este mundo, de tal forma, que nem me importava se fosse ela a verdadeira princesa infernal, em vez de mim, mas seu caso era complicado. Asmoday  tinha uma personalidade semelhante a da Maze de Lúcifer, e como alegava ter estado em uma clínica psquiátrica, preferi aceitar o seu mundo como ele era.
    Em 13 de julho daquele ano, Arakiel voltou a aparecer. Ele tinha essa mania de ir e voltar, sempre que começava a esquecê-lo, e enquanto ajudava a ex-beata, cuidando dela após beber demais, por quê lhe devia uma, o meu celular foi roubado. – Eu não podia deixá-la sozinha, não depois de ter me salvo de um estupro, e da minha consequência, por fechar o círculo do Sees. – Não podia deixar a minha amiga, não depois de tudo o quê tinha feito por mim, portanto quando ela ficou mais porre que o normal, no dia do rock, tive lhe de socorrer. 
    Só que no meio disso, Arakiel ficou mandando mensagens, e como nunca resisti a uma boa discussão, fiquei tirando e colocando o meu celular da bota, até que um bandidinho veio e tomou-o da minha mão, lembro de ter segurado em seu braço, rindo sem parar, não acreditava que aquilo estava acontecendo comigo, e ele me chamou de patricinha. O nervosismo tomou conta de mim, e ele saiu andando, mas tentei correr atrás, porém o sedentarismo venceu. – O meu ódio foi gigantesco naquele momento, e quando fomos falar as autoridades, a mulher só sabia torcer o nariz, como se eu tivesse me drogado por causa da vestimenta, foi preciso que uma galera me segurasse, para não ir para cima dela. Estava tão enfurecida, que sentia meus pés saírem da sola da bota, e tentava me controlar, para não levantar voo ali mesmo, e acabar de fato como prisioneira do Vaticano.
    Dois rapazes literalmente competiam pela minha atenção, e isso me deixaria feliz, só que aquele projeto de ser, tinha levado muito mais que o meu aparelho, ele havia levado a minha honra, e como uma criatura guerreira, não podia deixá-lo ficar impune. – Foi então que lhe enviei a mensagem ameaçadora Você não sabe com quem se meteu, criatura inferior, e pagará caro por isso!
    Arakiel apenas se preocupava com a minha vida, e por isso o mandei para o raio que o parta. Ao chegar em casa, fiquei sozinha, fingi está bem, porquê não queria que minha mãe, deixasse de se divertir com as amigas por minha causa, mas quando ela saiu, toda a fúria deixou de ser contida. – Não me lembro ao certo, mas chutei portas, gritei sem parar, e isso resultou na visita da minha vizinha, que alegava que eu estava possuída. – Possuída de ódio, isso sim!
    Mais tarde naquele ano no dia 14 de agosto, tive um sonho estranho, nele saia de uma espécie de jogos mortais, e ao pular o muro, ia parar na rua da frente da minha casa, onde um homem de casaco preto, me dava uma facada no estômago, mas não sentia dor, nem saia sangue. Nesta data em questão, iria começar a trabalhar no jornal do amigo do meu pai, e pedi para ficar em casa, mas minha mãe, apesar de dizer poucos nãos, me barrou desta vez. Fui para o diário do povo, lá parecia um lugar perfeito para trabalhar, pois se me formasse como jornalista, poderia enfim provar que os deuses eram aliens, e que já haviam estado na Terra. – Lembra das coisas boas do Soul? Esta era uma delas, pois graças a sua fixação por Et’s, acabei assistindo muitos documentários do History, que abriram a minha consciência, para fora da filosofia de Anton Lavey, de quê Satã era uma alegoria a psique humana. – Tudo tinha sido maravilhoso, só que como naquele ano, estava pagando todos os meus carmas,  é claro que o dia não terminaria assim.
    Ao chegar em casa, vi um monte de gente amontoada, no fim da rua, por causa de um incêndio, e brinquei com a minha mãe. “Desta vez a culpa não foi minha, nem estava aqui para causar isso.” E tudo pareceu normal, só que quando aparecemos na entrada do portão, notei que a janela estava aberta. “Mãe você saiu e não fechou a janela!” Disse-lhe, e ela saiu catatônica. “Eu não... Thaís nós fomos roubadas!” Falou assim que atravessou para dentro do quintal. “Mas o quê mais eles poderiam me roubar?... Meu notebook!” Berrei entrando logo atrás, e quando um dos vizinhos passou ao meu lado, com um sorriso de vitória, quase fui para cima dele. – Por conta da surra que tinha dado na sua irmã, eles colocaram fezes no cadeado de casa, então como não poderia esperar o pior?! 
    A casa estava intacta, o quarto da minha mãe também, somente o meu fora invadido, e revirado de cabeça para baixo. Levaram meu note, minha câmera digital, e o playstation 2, que valia pouco na época, e parecia ser apenas uma desculpa, pois no mesmo dia, o meu Facebook foi cancelado, e a minha página de conspirações, que só tinha 167 pessoas, desapareceu como se nunca tivesse existido. – Depois que postei que as pessoas no futuro, viveriam em casebres, a mercê de gente ruim, que lavaria as suas mentes, para que ficassem na miséria, enquanto viviam como reis, caçando pessoas geneticamente modificadas, que acusavam de serem demônios, sem saber que os verdadeiros eram poucos, e que tudo aconteceria, após um grupo de fanáticos pela Era de Aquário, fizessem um ataque terrorista, pior que o da H1N1. – Fomos a delegacia, todavia de novo fui destratada, e desta vez os homens na sala, pareciam zumbis. A perícia foi até o local, e concluiu que o assalto ocorreu na hora do incêndio, e apesar do quê parecia, o mesmo era de causas naturais, ninguém tinha o provocado.
    Fui desplugada da Matrix, e tive diversos sonhos mais tarde, que me fizeram ficar preocupada. Naquele tempo haviam muitas manifestações contra a presidente Dilma, e o país mergulhava em violência, e isto me fazia pensar que os cavaleiros do Apocalipse tinham sido libertados, e ela era o próprio Guerra. – Pois seu partido era representado pelo vermelho, e desde que assumira o poder, o nível de conflitos se elevou. 
    Talvez por causa da teoria de quê Guerra era a Dilma, Fome estava na África, Morte era o Bashar Al Assad, e a Peste em breve se manifestaria, tive esse devaneio onírico. No qual falava com ela, e a defendia dos demais, somente para chegar até os seus guardas, e lhe dizer “Eu sei quem você realmente Guerra, fale comigo!” Esta me dizia que não teria com o quê me preocupar, pois quando o mundo acabasse, teria um lugar para mim na Arca – Como no filme 2012 – e em seguida aparecia no jornal nacional, várias manchetes sobre o fim do mundo, incluindo uma de mesmo título, que retratava a queda da estátua da liberdade, que era derrubada por uma enchente de água suja.
    Só me restava a TV para saber dos acontecimentos do mundo, e quando saiu a notícia de Edward Snowden, vazando documentos, que alegavam que os E.U.A, estavam vigiando o Brasil, me deu um enorme calafrio na espinha, pois de alguma maneira, tudo o quê tinha acontecido agora fazia sentido. – Estavam tentando me proteger, não sei quem, mas do quê tinha certeza.
    Pouco a pouco, as coisas foram voltando ao normal. Ganhei um note e um celular novo. Me mudei por tempo para Porto velho, até a poeira baixar, e lá tive vários sonhos, que se hoje tivesse o meu caderno lhes contaria, mas eu me livrei dele tempos depois. – Tudo o quê me lembro agora, é que tinha relação com me apaixonar por um lobisimen, um ser careca chamado Samael, que queria ser o meu par. – Hoje sei que este é um dos nomes de Lúcifer, e não faz sentido algum, a não ser o de quê acessei o consciente coletivo. – e com a lua que se dividia em 4 partes.
    Em outubro daquele ano, o homem que me molestou quando criança foi preso com exatas 11 acusações ás 19:15, e foi jogado no  IAPEM, que era como uma amostra grátis, do Inferno para gente como ele.  – Também em outubro, o círio fluvial resultou em tragédia, e muitos morreram quando o barco afundou. – Até hoje me pergunto se tenho algo a ver com isso, pois o sincronismo foi harmônico, como se um demônio passasse por ali, e punisse o meu professor, mas matasse os religiosos também.
    Em novembro, o bairro Perpetuo Socorro sofreu um terrível incêndio, que chegou a ser noticiado no jornal nacional, e que os grandes conspiradores, encontraram a evidência de um círculo no meio do fogo. O mesmo lugar era considerado um antro de bandidos, que se escondiam ali.  – “Criatura inferior, não sabe com quem se meteu e pagará caro por isso!” Lembra? 
    Ainda neste tempo, também houve um súbito tremor em Santana, como se algo se movesse abaixo das águas. – Só não lembro a data. – e lá vivia o menino de quem eu gostava, mas tinha desistido de mim, apesar de ambos sermos satanistas, que ao concentrarmos nossas energias, conseguimos interferir no rádio, por não gostarmos da música.
    Já não aguentava mais carregar esse fardo de ser filha de Lúcifer, por isso decidi fazer algo mundano para variar. – Entrei em aulas de canto, só que no primeiro dia, nos obrigaram a cantar um hino da igreja, o fiz meio relutante, e ainda sim a situação foi desagradável.
    Ao voltar para casa, minha mãe parou numa panificadora, e quando eu voltei de lá, me falou que viu a sombra de uma mulher sendo esfaqueada na cozinha, e entrou em pânico, ao ver que ninguém fazia nada.
    Um dia depois, no domingo a noite, nós fomos até a frente da igreja do Novo Horizonte, comprar umas guloseimas, e quando passamos ao lado de um carro, o farol se ascendeu. Minha mãe ficou com medo, e eu tentando acalmá-la lhe disse “Deve ter alguém lá.” Só que ela insistiu em passar do lado, e quando olhamos para dentro do veículo, não havia ninguém.
    Em 27/12/2013 , tive um sonho do qual jamais vou esquecer. – No plano onírico o filho de Belzebu vinha para me matar, mas acabava por não fazê-lo, e deixava claro que eu era o último impedimento, para quê o Senhor das Moscas, alcançasse o trono de Lúcifer. – No dia em questão formou-se uma tromba d’água na cidade, e não creio que tenha sido coincidência.
    Não me lembro da virada de 2013 para 2014, mas o ano seguinte não seria completamente normal, pois acabara de fazer 19 anos, e pretendia entrar para a Faculdade FAMA, onde estudaria ciências biológicas, no turno noturno, (o dos meus sonhos). – Nos resultados da prova fiquei em 11° lugar, e mesmo que não fosse uma federal o resultou me trouxe felicidade. – Até porquê eu detestava o padrão do Enem, que tinha me classificado, para a lista de espera em Artes no ano anterior.
    No primeiro dia de aula faltou luz, e comemorei sem parar, pois odiava instituições de ensino, fui para lá apenas por um propósito e nada mais. – Naquele dia me tornei conhecida, por causa das mechas cor de rosa, e o cabelo alisado, que me fazia parecer a Draculaura, por isso me chamavam sempre de Monster High. – Bullying? Eu adorava aquele apelido.
    Na hora de explicar as minhas motivações, para entrar na escola de ensino superior, deixei bem claro que estava ali, apenas para estudar sobre os extraterrestes. – A razão ficou clara agora? – Então percebi que havia um garoto, semelhante ao Finn de Strange Things, interessado em mim, e logo o evitei, apesar de achá-lo bonitinho.
    Neste ano, a minha conexão com as entidades superiores, era bastante forte. – Certa vez desenhei o circumponto numa sexta, e quando foi na semana seguinte, na segunda, surgiu um agroglifo semelhante em Curitiba. – Em tal tempo mantinha contato por e-mail com um doutor, que fazia parte da maior ordem ocultista conhecida, que havia aberto vagas, e dentre os 300 que se inscreveram, eu tinha ficado entre os poucos aceitos.
    Lhe expliquei sobre as minhas motivações para querer entrar, e que era filha de Lúcifer, e depois de mais ou menos um mês, o meu mentor, foi coroado como Imperador da filial brasileira. – Tão grande foi a minha surpresa quando aconteceu, pois este havia me escolhido como uma dos seus filhos, e me prometeu proteção. – Porém depois de um tempo, fiquei temerosa, vivia tendo pesadelos com ele, de quê poderia acabar sendo morto, e quando vi, o ser realmente desapareceu misteriosamente. – Se era a ordem mesmo não sei, mas antes dele sumir, me deixou alguns livros de Crowley, enviados somente ao meu endereço. – Além disso parecia ter uma força oculta atrás de mim, pois nas fotos podia-se ver seres de chifres, ou mãos inumanas sob a minha cabeça.
    Deveria ter ido a universidade, somente para estudar, estava enrolada com o Geminiano, e certamente o aparecimento de alguém do meu tipo, abalaria a minha força para me manter fiel. –Principalmente quando meu par , era mais um mulherengo, que não merecia nem o meu “oi”.– Só que advinha? O menino era outro persistente. – Não sei o quê há em mim, que encanta esse povo.
    Conversamos bastante, ele era o nerd universitário, e o quê realmente havia me encantado a seu respeito, é que tinha me mostrado um vídeo dissecando um rato, e que tinha levado uma edição da Mundo Estranho. – Parecia o esquisito dos meus sonhos, e tal coisa me deixou confusa, surtada, obcecada. – Até ali o amor mais saudável que tinha tido era com o Soul, que em 2013 tinha assumido um relacionamento com uma garota, que nunca tinha ouvido falar, e que minha mãe ,falava que era a favorita da minha ex-sogra, que me detestava por ser uma bruxa de Satã. – Só recentemente vi o filme O rei da água, que retrata a mesma situação. 
    O nerd universitário, era amoroso, atencioso, arrogante, mas ajudava a todos, incluindo a mim, que queria proteger dos outros. – Como não me apaixonar por alguém assim? Eu o fiz. Só que depois de umas mordidas no pescoço, soube que tinha namorada, e não podia ir adiante com isso. O meu transtorno bateu, e tentei me matar, porquê as cartas falavam que um grande amor ia aparecer, e o Astral Online, onde fazia minhas consultas, era sempre certeiro, por isso jurava que ele era o Rei, só que estava mais para Valete. O coitado se sentiu culpado, não entendeu a minha reação, disse que gostava muito de mim, e com tal atitude semelhante a Atração Fatal. – Outro filme que assisti recentemente, por conta da suspeita de ser Bordeline. – O fiz se afastar de mim.
    Contudo era isso, ele se afastava, mas não queria que outros gostassem de mim, e como se não fosse o suficiente, a namorada dele era amiga, de uma das poucas amigas de verdade que tinha. – Eu havia falado com ela, a menina era um amor, sagaz, e não podia trair a sua confiança assim, destruindo um relacionamento de 5 anos. Por isso mesmo gostando demais dele, fui me afastando, evitando-o, até que ele passou a fingir que não estava ali, e isto me devastou.
    Vez ou outra nos falávamos, e o abraçava forte, sem poder fazer algo mais, mas não era o suficiente. No meu tempo livre, resolvi sair com outros garotos, até conheci um cara legal, que apesar de ser de igreja, me compreendia, e tinha uma mente interessante, além de ser atraente. No entanto o quê para mim era um fica, para ele era um relacionamento, e quando beijei outro garoto, o clima ficou bastante tenso. – O garoto santo, me fez perceber, que estava me tornando uma vadia sem coração, mesmo que não me dissesse com estas palavras.
    Marquei um encontro com o segundo, mas o garoto não apareceu, e no seu lugar encontrei o Soul, que perguntou se poderia ganhar um abraço, e eu deixei. – Ao menos na rua, não corríamos o risco de acabar pelados. – Todas as meninas falavam que ele não tinha me esquecido, mesmo que estivesse namorando, e eu sempre ignorava tal coisa, exatamente porquê já tinha seguido em frente.
    Por causa deste dia Soul reapareceu, e me senti muito bem ao conversar com ele pelo WhatsApp, enquanto brincava sobre o quê ele tinha feito de errado, para ter resultado no fim do relacionamento. Porém ele saiu, e foi discutir com a menina que estava a sua porta. – Aceitei aquilo numa boa, não era mais uma prioridade na sua vida. O quê era muito bom, pois podíamos enfim sermos amigos, sem cores no meio. 
    Marcamos de nos ver, um pouco depois do meio do ano, para ele instalar uns jogos no meu computador. – Não sei se foi armação da minha mãe, só que ela sugeriu ir para o quarto, onde era mais frio. – Ele se encolheu todo, como uma criança, com medo de apanhar, e por algum motivo, eu literalmente me joguei em seus braços e o beijei. – A física continuava a mesma, e quando ele foi embora, me dispus a reconquistá-lo, pois somente ele tinha me feito feliz de verdade.
    Nesta brincadeira acabamos voltando a nos ver com frequência. Isso não agradou nada o nerd universitário, que numa noite de grupo de estudos, literalmente colocou fogo no meu cabelo para quê parasse de abraçar o Soul. – Lembro-me de seus olhos assustados por tal atitude, e ter perguntado se eu estava bem. – No mesmo dia Soul e eu amarmos para que o Nerd universitário, visse o quanto ele me fazia feliz, e por consequência, acabei sentada no sofá, entre os dois. Soul estava confiante, até conversava com o rapaz, e o outro estava inseguro, não queria ir embora, antes do meu ex, que ficaria em meu lar para dormir. – Foi uma sensação maravilhosa, ver o seu sofrimento, desprezá-lo como fez comigo, mesmo que agora estivesse solteiro.
    Lentamente fui deixando de ir a faculdade, após a ex beata, que se chamava Rose, ter me dito que o Nerd havia insinuado, que eu não tinha estrutura mental, para manter um relacionamento sério. Só que quando apareci, ele me abraçou forte demais, e disse que ainda havia chance de passar no bimestre, se estudasse um pouco mais. Todavia lhe falei que sabia, mas não queria mais ficar lá. – Se pensou que era um blefe, acabou por se enganar feio, pois realmente larguei a faculdade depois. – Realmente eu não tinha condição mental para nada, e ficar vendo-o todos os dias, com a amiga que o envenenou contra mim, provavelmente falando que o amarrei, só piorou o meu estado.
    Soul voltou a viver comigo, deixando de morar em Ferreira Gomes, e apesar de termos feito um acordo, – e ter lhe dito que gostava dos dois – Ele nunca encenava para ninguém a nosso respeito, por isso mesmo juntos, não tinha como esfregar na cara do Nerd, que estava melhor sem ele. – O quê era uma mentira, porém não queria que tanta gente, que torcia pela minha desgraça soubesse oras.
    Soul saia, dizia que ia voltar no domingo, e aparecia na segunda. Tinha mania de ignorar as minhas postagens, e só vivia no computador. Havia coisa errada, porém eu achava que era porquê ele lia as minhas conversas, que falavam a respeito do quanto ainda pensava no Nerd. – Ele não era mais o mesmo homem de antes, tinha se tornado um cafajeste, e me deixado a par disso, logo quando assumimos um compromisso de status na rede social.
    O Geminiano que do nada tinha se apaixonado por mim, não me deixava em paz, e Soul com medo de haver um terceiro na jogada, me dizia para me afastar dele. – E como a boa aquariana que era, fazia exatamente o oposto.
    No livro anterior o culpei por ter me traído, como se fosse uma santa imaculada, mas aqui fica totalmente claro, que as suas motivações eram fortes, afinal se ele não fizesse nada. – Seria o cara perfeito. Brincadeira! Mas dificilmente o respeitaria tanto quanto agora, pois a sua falha, me fez perceber que era somente humano, e não um deus da alto estima, que suporta tudo sem jamais se vingar.
    O início era um relacionamento de amizade colorida, para todos tínhamos voltado, mas entre nós era apenas uma parceria estratégica, que nos servia como alicerce, para não acabarmos sozinhos. 
    Mais uma virada da qual não me recordo bem, e o ano seguinte prometia mais fatos esquisitos, que talvez não fosse capaz de suportar. – 4 luas de sangue foram anunciadas, e o frio na barriga, de quê o momento tinha chegado me tocou. Só que isto fica para o próximo capítulo. 
    Capitulo 5- 2015
    O ano de 2015 foi marcado pela presença de Óvnis. – Algo que me trouxe alegria, pois lá em 2013, tive a minha primeira experiência de 3° grau com eles. – Eram 7 horas da manhã, ainda tinha um notebook, e estava no Facebook, quando de repente, tudo se desligou, a luz começou a piscar, e senti uma atmosfera extraterrestre, causada por uma forte pressão no ar, e um som semelhante ao de uma nave espacial midiática. Eu não fiquei assustada, porém quando uma esfera amarela flutuou a minha frente, fiquei fascinada pela mesma. – Isto ocorreu uma semana antes da invasão da minha casa. – Até hoje me pergunto se foi uma alucinação, pois não costumava dormir a noite, e sabia os efeitos que isso podia provocar.
    Os meus 20 anos, foram simbolizados pela festa, com direito a globo e tudo. Embora houvessem poucos para comemorar, foi algo realmente único. Bebemos até as 4 da manhã, dançamos, confessamos pecados. Esta é de longe uma das melhores festas da minha vida. Contudo quanto a segunda veio, o número 27092015 surgiu na tela do meu celular, e me senti como o Neo em Matrix. – Achava que meus poderes enfim atingiriam o nível máximo, e que a guerra entre anjos e demônios sairia do oculto, fazendo com quê todos despertassem. – Por isso decidi pesquisar sobre os fatos do dia 15/02 daquele ano, e o horror me preencheu, quando vi que o exército de fanáticos, que literalmente pareciam jovens de mentes lavadas, postou um video se revelando no dia do meu aniversário. – Eles se chamavam de Gladiadores do Altar, e eram bem semelhantes as visões que tive ao escrever o romance Psychosocial, na parte da Guerra, mas na minha obra, eram conhecidos como Executores. – Um nome apropriado para aqueles que se dispunham a caçar bruxas e demônios. Coisa que os Gladiadores já andavam fazendo de forma ilegal.
    O tão aguardado setembro vermelho chegou. Eu estava extremamente animada, achando que finalmente o mundo, teria o véu removido. Por isso não parava de falar na lua de sangue, afinal de contas tinha previsto-a em 2013, muito antes de anunciar as 4 luas que viriam. – Quando se sonha demais, a decepção pela queda é muito grande. Nada aconteceu, o mais estranho daquele dia, foi apenas ter ouvido jovens que riam como maníacos, passando na frente da minha casa de madrugada.
    No fim, lá em novembro, aconteceu uma coisa bizarra, enquanto conversava com uma amiga, sobre as creepyspastas para o Halloween, começamos a ouvir interferências na ligação, como se algo tentasse falar conosco. – Graças aos deuses ela gravou, e hoje tenho como provar o quê aconteceu. – Poderia ser somente a presença da ejeção de massa solar, no entanto foi muito esquisito, devido ao contexto em quê nos encontrávamos. – Além do mais quando me reuni com ela e a minha outra amiga, batemos uma foto, na qual o número 7 surgiu na minha testa, o 8 na dela, e o 6 na última, e quando fomos ler o livro de Salomão, os versículos bateram perfeitamente conosco.
    O ano de 2016, foi simbolizado pela traição. Poucos dias antes do meu aniversário, descobri que Soul andava falando com uma moça chamada Thaís, e as brincadeiras de que a amante se chamava assim, se tornaram algo real diante das evidências do flerte. – Saber disso literalmente partiu o meu último fio de sanidade, a menina tinha 18 era popular, ingênua, e claramente gostava dele, portanto não foi fácil encarar tal episódio.
    Sabe o quê mais detesto? Não ser única, não ter algo próprio, e comparada a outras pessoas. – Ele cometeu os 3 atos em um ano. – Aquilo me doeu bastante, porquê tinha excluído o Nerd que após meses longe, tinha mandado solicitação para mim, e ainda havia bloqueado o Geminiano, deixando claro que não tinha mais volta mesmo. Então quando vi que ele cedeu, enquanto me esforcei muito para não ser infiel uma segunda vez, não consegui perdoar. – A minha sanidade foi para o espaço, e quebrei o seu pc a base de pancadas intensas com o controle, o expus para as pessoas, e ainda o fiz se humilhar em público pedindo o meu perdão.
    Eu sou egoísta, cruel, e de péssima índole, mas se meus limites são ultrapassados, me torno a própria Lilith na hora da vingança. – Todo dia era uma briga diferente, acertava-lhe tapas na cara, lhe mordia  até ficar roxo, o mandava embora, e não conseguia deixá-lo ir até a porta.
    Na vã tentativa de me distrair, chamei algumas amigas para irem me visitar, mas todas as fotos se perderam. – Meus 21 anos foram comemorados com muitas teorias da conspiração, e docinhos. – E os compartilhei com uma das meninas, que fazia aniversário no dia 14, data para qual foi transferido o dia dos namorados, por causa dos ritos do dia 15 de fevereiro. Não lembro se algo aconteceu neste dia.
    Pode-se dizer que neste ano toda a minha fúria foi liberada, e quando Arakiel reapareceu, pedindo ajuda, é claro que me dispus a fazê-lo, somente para atingir o Soul, porquê sabia que o outro o deixava inseguro. – Por uma conversa, ou sabe-se lá mais o quê, pois ninguém confessou ainda, eu o fiz chorar, implorando o meu perdão.
    Em maio, a vida mundana se separou de vez da vida mística. Creio até mesmo que fui parar em Sete Além. – Era de manhã, apesar do desgaste emocional fui para a faculdade, pois estudar e tentar manter uma vida fora de casa, me ajudava a tentar controlar os meus impulsos agressivos. Cheguei no bloco D, tudo estava desertíco. Pensei que fosse pelo horário, pois tinha ultrapassado o limite de tolerância 8:15. Subi as escadas até o andar da minha sala, e quando cheguei lá, a mesma estava vazia. Fiquei emputecida, e até gravei um vídeo para provar que tinha ido, e ninguém havia me avisado, que não teria aula. Desci e fui pegar um ônibus para chegar ao centro, onde entraria em outro para chegar em casa. Ao sair, fui atravessar a rua, e um carro branco antigo quase me atropelou, e quando cheguei ao meu destino, vi o mesmo modelo que agora era preto. Estranhei aquilo, só que ao chegar em casa, adormeci, e tive um sonho esquisito, em que tinha entrado noutro mundo, através de um corredor vermelho, e que quando voltava, as pessoas diziam que tinha havido aula sim, eu que não estava lá. Então pegava o Goiabal, o ônibus conhecido por sempre se encontrar vazio, – o quê o tornava alvo de suspeitas, como “entrou morreu”– e nele ouvia a música Deja Vu da Pitty.  Quando acordei fui no grupo da minha panelinha, e soltei os cachorros para todos, afinal aquilo era um sonho, eu tinha ido para aula, e não havia ninguém lá, mas os meus colegas, – que já me achavam estranha, pelos fortes impulsos nervosos, que faziam a minha caneta girar violentamente, em meio ao tabuleiro manual dos espíritos – Ficaram sem reação, e disseram que “Houve sim aula, e eu não apareci na sala.” – Teria sido este um surto? Ou havia voltado a ter as minhas habilidades de me transportar entre os mundos? Admito não ter dormido bem na noite anterior, então isso pode ter provocado a alucinação, mas onde exatamente eu estava? 
    Em abril estava pronta para deixá-lo, veio a notícia de quê estava grávida, e sabia bem quando a criança havia sido feita. – Ela fora gerada 3 dias antes do evento, no qual faltou luz na hora que cheguei, e me recordo de minha mãe ter me perguntado se não queria voltar para casa, mas fiz uma escolha, que mudaria a minha vida para sempre, quando disse “não”, pois lá bebi um copo de vodca, que deve ter cortado o efeito da pílula do dia seguinte, que tomei quase beirando as 72h, ( ou o óvulo já havia se instalado em meu útero, devido a posição do coito). Independente de ser um menino ou menina, queria abortar, e Soul compreendia o porquê. Se lá em 2015, que nem imaginava as coisas que fazia, já tinha abortado um, pra quê manteria o próximo, naquelas circunstâncias?
    Palavras ácidas saiam da minha boca, eu implorava a Lilith que me atendesse, como da outra vez, porquê não queria trazer uma criança ao mundo para sofrer. – Contudo depois que comecei a falar, com a minha barriga, Soul percebeu que poderia ser uma boa mãe, e entrou para o Time bebê.
    Arakiel não ficou feliz com a gravidez, e me disse para matar, o quê me fazia infeliz. – Logo após lhe falar que não queria ter a criança, num momento de desespero, e depressão pré-parto. – Eu finalmente passei a ter desprezo por ele, assumir que Lord era apenas uma máscara, e que tinha me torturado de propósito era aceitável, porém ceifar a vida do meu bebê?! Isso era imperdoável, e dessa forma acabei por cortar o contato de vez.
    Como em 2015 ninguém despertou na última lua de sangue, perdi a minha fé na magia, e ao saber da realidade terrível em 2016, toda a minha esperança se foi. – O vazio cresceu em mim. Nada do quê o Soul fizesse era o suficiente, para perdoá-lo, pois verdade seja dita, nunca perdoei ninguém que me magoasse. – Normalmente os cortava da minha vida, e cada um seguia o seu caminho, só que agora tinha um laço com ele, que jamais poderia ser rompido.
    Aquilo me assustava de tal forma, que falava muita coisa ruim sobre a maternidade, e parecia sofrer de bipolaridade, ou mania mesmo. – E saber que carregava uma menina, somente piorou tudo, porquê isso era o meu pior pesadelo, temia que o caso com a minha prima se repetisse, e todos voltassem a sua atenção para ela. – Para piorar minha mãe me deixava ainda mais paranoica, dizendo que o melhor para a criança, era colocá-la para a adoção, pois uma mulher que nunca poderia ter filhos, iria amá-la muito mais. – Minha mãe tinha trauma da maternidade ruim, pois a minha avó, havia lhe criado a base de humilhações, tão desumanas, que quando criança, a mesma lhe fez comer o próprio dejeto, para que nunca mais aprontasse. Além de lhe bater sempre que bebia, ou se envolvia com o pai de santo da gira de esquerda. – Novamente eu era vista como um monstro, e me sentia muito mal. Não queria me desfazer da menina, porquê sabia que ela herdaria a minha maldição, e uma pessoa comum não iria aceitá-la, e lhe trataria como uma aberração. Eu a amava, só não suportava a ideia de sair dos holofotes, dos poucos que me viam. – Soul e mãe  viviam discutindo, mas o fato de se opor a algo, depois da minha gravidez, me fazia sentir ainda mais raiva dele.
    Em 23 de junho de 2016, algo estranho aconteceu, tive um sonho de quê era uma das cabeças da besta do Apocalipse, e enquanto estava estressada, e focada numa prova, um tornado passou destruindo a cidade, em pontos que se relacionavam a mim, e os que haviam me feito mal como: Buritizal onde vivem os Marianos, o trabalho da minha mãe, uma boate onde tinham gays de faxada, o Paulo Conrado onde perdi no volêi, e a cidade de uma suposta satanista, descrente dos meus poderes. – Tal fato foi citado junto de uma profecia, que se referia a 7° exintição em massa, sendo que 7, é o número que mais aparece marcado no meu corpo. Ainda no mesmo mês, sangrei após sentir muita dor na gestação, e por isso segui a tradição da família, de colocar o nome da santa no sobrenome. – Como se não bastasse, também vivia sendo atormentada por entidades, que chegaram a tentar me empurrar de barriga no chão, e toda lua cheia eu sentia dores gigantescas, que me faziam berrar.
    Em outubro tive 3 presságios ruins. O primeiro foi em 24/11/2016. Nele uma força me puxava para o palco, mas eu não queria ir, em seguida me via chorando e dizendo “2017 é um ano sombrio, tudo o quê pensei que aconteceria em 2013, está acontecendo em 2017.” e “Pois é, pra quê diabos quis prever o futuro? Foi a pior coisa que poderia desejar.” Então despertei as 1 horas da manhã, e notei em meu braço a marca de um brasão de time de futebol, que até postei na minha antiga página. O foi em 29/11/2016 e acabou marcado pela presença de vozes que diziam “Você é a escolhida, isso não quer dizer que é a mais forte, mas pode se tornar.” E a presença de Lúcifer, que estava envolvendo o mundo numa cúpula de trevas, quando naves espaciais tentavam invadir a Terra. O terceiro se deu em 30 /11/2016, neste o grande símbolo era uma enorme onda, que vinha na direção do Cristo Redentor, onde eu estava pousada, e dizia “Isso não é um bom presságio! Não pode ser!” – O golpe no estômago foi intenso, quando soube que ocorreu o acidente da Chapecoense, exatamente no dia 29/11/2016, por volta das 1 h da manhã, que coincidia perfeitamente com a marca e a hora do primeiro presságio
    Em dezembro daquele ano, tive um sonho, no qual vi um reino mágico, onde vivia junto de Lúcifer, que era loiro como um elfo do Hobbit, e havia me mandado para a Terra num dragão. Eu vivi entre 4 bruxas, e estas resolveram trancar o meu espírito imortal numa boneca russa, por exatamente 500 anos, quando voltaria para cumprir o meu destino junto da minha filha. – Olha o Aprendiz de Feiticeiro aí gente! – Na época achei algo místico, por isso fiz um cálculo numérico, em que subtraia do ano do meu nascimento, o número presente no devaneio. O resultado me direcionou para a Itália, e isso me fez me dar conta, que tudo sobre a minha natureza luciferiana vinha de lá. – Em 2013 por exemplo, recebi o sopro de quê meu nome real era Luciféria, e quando fui pesquisar, somente tinha um conto descrito como “Histórias de não se crer”, e menções nas letras da banda italiana de vampiric metal Theatres des Vampires, que me descreviam como bruxa com o poder do inferno, detentora do livro de Macabria, que em meu sonho aos 17 anos, tinha conhecido como o livro do Diabo, e este me concedia o poder de controlar os mortos, logo depois de ver uma peça do xadrez, que hoje não lembro qual é, mas a única certeza que tenho é que não era o “peão”. Além do mais, meus dois sobrenomes são italianos, mas meus avós tinham me contado, sobre os parentes que tinha na Itália. – Então após o presságio onírico, pensei “Por quê não pesquisar sobre a magia ligada ao meu sangue?” O espanto preencheu os meus olhos, quando vi que lá era o único país, que cultuava Lúcifer como um Deus, que tinha uma filha, que foi enviada a Terra, para ensinar a magia aos humanos. – Tal coisa era surpreendente, pois no livro O Último Portal de 2012, me descrevi como uma bruxa babilônica, que havia aberto um dos “9 portais da destruição”, que libertariam Lúcifer, e os outros demônios, e numa dessas aventuras, era responsável pelo culto gerado pela Ordem da Lua, que era o símbolo de Diana a mãe da menina, que em muito lembrava Lilith, pois era a virgem deflorada. – O nome da filha era Arádia, denominação semelhante a Áquila que minha mãe queria me dá, mas como meu pai era um bunda mole, não permitiu. – Ela nasceu em 13 de Agosto, eu em 15 de Fevereiro, ambas tínhamos conhecidos números diabólicos no nascimento. – Ela parecia ter Sol em Leão Lua em Aquário, já eu sou Sol em Aquário Lua em Leão. – Era conhecida como o Equilíbrio entre luz e trevas, era boa e má ao mesmo, tal como eu mesma, que apesar dos pesares tinha um código ético. – Ela tinha estado na Terra há muito tempo, assim como sentia que eu também. – Ela era visitada por uma mulher, que era a própria Diana, e lhe ensinava sobre a magia, semelhante a mim com Layla. – Ela escapou várias vezes da morte, eu também. – Ela foi perseguida por religiosos, eu também. – Ela tinha afinidade com o Arcanjo Miguel, eu também. (Michael Kovat era inspirado nisso) – Ela estava na Terra, como mensageira de seu pai. Eu também. – Ela defendia a natureza, e dizia que a natureza era a grande professora da magia. Eu havia entrado em ciências biológicas, acreditando no mesmo conceito, e pelo fascínio pela diversidade natural. –Ela era a primeira filha, eu também. – Ela era Arádia de Toscano. Eu sou Thaís Mariano. – Isto por si comprovou que éramos a mesma pessoa, em tempos e localidades totalmente diferentes. 
    O parto de Rá, foi totalmente normal, mas dias antes de acontecer, sonhei que dava luz a um menino, que queria roubar o seu lugar, e era bastante cruel. – O dia se iniciou como qualquer outro, mas o tampão se distendeu,  e tive certeza de quê naquele dia deixaria de ser uma gata buchuda. Ás 8 da manhã, fui para o Hospital São Camilo, onde foi feito o detestável exame de toque, e ainda não tinha dilatado nada. Voltei para casa, as dores foram se intensificando quanto mais andava, e por isso pedir para irmos ao Poeirão (pois era próximo a maternidade) , no qual fiquei andando, seguindo o conselho do médico, para ter um parto rápido.
    Soul de canalha maldito, voltou a ser o meu príncipe do cavalo negro, e me ajudou bastante nestas horas, me dando apoio ao caminhar. Quando deu 13 horas, resolvi ir almoçar, mas as contrações aumentaram, e tive de correr para o S.C. – Pedi para o meu marido entrar, porquê esse era o nosso momento.
    Ficamos na espera, e as 14 horas tinha dilatado 4 cm apenas, por isso decidi continuar caminhando, até fazer os 10. – Queria muito uma Cesária, mas apesar da menina ter 3,77 kg, eles me colocaram para o parto natural.
    Sofri para caramba naquele dia, e não pude receber anestesia. – Eu tentava não gritar, não chorar escandalosamente, mas era impossível, quando demorava tanto para dilatar. 
    Soul me dava apoio, chamava as enfermeiras, e tudo mais, e até tentava me acalmar, só que aquilo era horrível demais. – Era como as cólicas que me faziam parar no hospital, quando tinha 16 anos.
    As 16 horas, após uma caminhada na sala, a placenta se rompeu, e quando isso aconteceu, urrei “A minha bolsa estourou!” Exames foram feitos, e já estava com 8 cm agora, só precisava de um banho quente, para me abrir de vez. Soul me ajudou, me molhando nas costas, e quando sai de lá, senti mais uma dor, que quase acabou comigo. – De alguma forma sabia a hora exata, pois pedi para chamar a enfermeira, que trouxe o médico, e após mais um exame de toque, ficou claro que estava pronta para dar a luz.
    Deitada naquela cama, via nos pés o meu marido e a atenciosa enfermeira, que fazia uma torcida estilo – Vai torta vai Dos Padrinhos mágicos. – Eu pressionava demais a minha garganta, e ela me mandava direcionar a minha força no útero, pois já podia ver a cabeça do bebê, e o meu marido confirmava. 
    As 18:10 de 9 de Janeiro de 2017, Rá nasceu, e até a minha bunda foi costurada, pois me rasguei todinha, mas nem senti na hora. Aquele rostinho roxo, igual a um zumbi do Dead Space 2, me conquistou tanto, que beijei a sua cabeça toda suja de restos de parto, e mandei tomarem cuidado com a minha princesa. Soul me agradeceu por aquele momento único, me abraçou, me beijou, e até cortou o cordão umbilical dela, assim que esta passou a respirar pelo nariz.
    Passei 3 dias no hospital, e os 2 últimos foram ruins, pois ela chorava de fome, e eu achava que não estava dando leite o suficiente, por ter seios pequenos. – As peitudas reforçavam meus temores, enquanto o meu marido tentava me acalmar, me dizendo para não ouvir as palavras delas, pois grande parte de quem estava ali, não estava recebendo a atenção que eu tinha, com praticamente a família inteira vindo visitar.
    Quando saímos de lá, e fomos para casa, a Rá ainda não mamava direito, e vivia sugando o bico do meu peito até sangrar, de tal forma que chegou num momento, em que me neguei a amamentá-la. Minha mãe falou logo que ia matar a criança de fome, e comprou um pote de leite, que servia apenas para crianças de 6 meses, o quê resultou numa diarreia na minha pequena, tão brava, que me senti culpada, ao ponto de ir ao banco de leite, para ela ser alimentada.
    Não era como eu pensava, outras mulheres providas de leite, não iriam lhe dá o peito, pelo contrário, somente nos ensinavam a amamentar, e ainda ficavam com o leite que era ordenhado. Tive de ir 2 dias para pegar o jeito, porquê aquela sem dente, só ficava cheia quando tinha uma enfermeira para me ajudar, a achar a pega certa. – A minha falta de instinto materno era um horror.
    Na última ida, de tarde a pequena criatura cabeluda, fez um berreiro antes do teste do pezinho, e tive de lutar contra o meu temor, lhe servindo o meu peito. – Fui louvada como uma heroína pela minha mãe, e desde então a bebê passou a se alimentar da devida forma. 
    Infelizmente depois que a tive, fomos as duas atormentadas por uma entidade, e o namorado fanático da minha mãe, sugeriu que ela precisava ser batizada. – É claro que me opus, mas depois da extensa pesquisa que fiz, sobre a razão do batismo, concordei, e ela foi abençoada na mesma igreja, onde a minha mãe fez a promessa, que supostamente me trouxe a este mundo. – Na hora que disseram “Você nega as armadilhas e as forças de Satanás...” Soul e eu dissemos não, mas como tinha muitas crianças, nem perceberam. Rá odiou receber a água benta, ela não costumava chorar muito, só que quando o padre lhe benzeu o fez.
    Quase um mês depois de dá a luz, eu ainda sentia dores intensas, por isso o médico me passou exames para ser assistida corretamente. O resultado foi, que sofria tais dores, por conter restos de parto no útero, que estavam apodrecendo, e poderiam me matar. – Fui imediatamente para o hospital da mulher, onde fiquei 3 dias na cadeira, antes de ser atendida. – Algo que só aconteceu, porquê a minha madrinha mexeu o pauzinhos, e me encaixou logo na próxima turma para a cirurgia.
    Fazer a operação foi a coisa mais bizarra do mundo. Entrei na sala do hospital, conversei com o médico, e desmaiei de tal maneira, que assim que o efeito do sonífero passou, fui uma das primeiras a acordar, e tive a sensação de que era uma zumbi, recém acordada do necrotério. – Rá não parava de chorar, nem mesmo com a mamadeira cheia de NAN, e quando cheguei, ela se ajeitou no meu colo, agarrou o meu peito, e adormeceu comigo. – Quase não saio de lá, antes do meu aniversário de 22 anos, pois desta vez fiquei internada por mais dias. 
    Ter um bebê em casa não é fácil, principalmente quando pensamentos sádicos se passam pela sua cabeça, por quase ter matado a sua prima antes. – Com medo de machucar o meu bebê, como via a maioria das mulheres mal-amadas fazer, decidi ir buscar um tratamento psiquiátrico adequado. Só que o quê achei que seria uma enxurrada de preconceitos, acabou por me deixar muito feliz, porquê apesar dos insultos do Nerd, minha inteligência era acima da média, e isto foi testado pelos especialistas, que notaram também alguns traços de manipulação. – Eu lhes contei tudo de ruim que fiz, e conseguia me lembrar, além das visões de céu e inferno, mas não deu nada demais, somente que sofria de depressão profunda. – Todavia quando meu marido e minha mãe ficaram a sós, lhes contaram que precisava de um tratamento psicoterápico urgente, ou desenvolveria um mal patológico, devido aos prováveis apagões.
    Fui para a terapia por meses, conversar com a Anelise, uma psicóloga excelente, que notou que grande parte dos meus relacionamentos eram destrutivos, e que isso precisava ser corrigido, tinha que ficar com quem me amasse, e o Soul por mais bizarro que possa parecer, realmente era o cara, que deveria me ajudar. – Houve uma vez que tentei usá-la para o analisar, e saber se tinha me traído,  mas ela era tão excepcional, que descobriu tudo, e desarmou a minha bomba. 
    Naquele ano recebi um ataque, após ter tido um sonho esquisito com o arcanjo Gabriel me caçando, e me chamando de filha de Satanás. – Exatamente como em 2013, quando o vi como meu inimigo pela primeira vez. Acordei acorrentada, num lugar semelhante ao cenário do Jogos Mortais I. Me soltei imediatamente, e corri para o portal que estava aberto, em direção ao Parque do Forte. Procurei por uma moto, e subi na mesma, dirigi tentando escapar de um homem moreno. Ele me perseguiu pelo centro, numa viajem frenética sob duas rodas, que resultou num acidente, em quê fui atirada contra a quina de uma escada de ferro, que fez a minha cabeça se partir ao meio. Eu morri, pela primeira vez em sonho, só que meu corpo virou energia, e a mesma se massificou, fazendo-me voltar. As roupas estavam rasgadas, mas a pele intacta, então sai caminhando meio abatida, pelas escadas do Teatro das Bacabeiras, e lhe disse “Você até tentar. Mas nunca conseguirá me destruir Gabriel!” – Despertei do segundo ataque, e a música Man in the box não saia da minha cabeça, por isso voltei a ouvir Alice in Chains. Tudo parecia comum, quando do nada comecei a vomitar a noite, depois senti uma dor infernal na costela inteira, e sem saber como parar, pedi pra minha mãe me levar ao pronto socorro, e quando sai do carro vi a data, que era 27/03/2017 então disse “Hoje é dia 27 algo importante vai acontecer”. – A UPA estava fechada, e tive de ir no posto, no qual coloquei tudo para fora, e recebi 3 injeções, para aliviar a dor. – Achava que era consequência do anticoncepcional, por isso não liguei, só que era ruim demais. Após receber o remédio, dormi, e quando deu 3 horas da manhã do outro dia, a dor voltou com tudo. Até liguei para ambulância, só que eles não vieram, e fiquei por conta. Soul então sugeriu colocar a toalha morna no meu tórax. Entretanto para realmente cessar o meu sofrimento, precisei colocar o ferro no nível ardente, de tal maneira que minha barriga ficou vermelha, quando coloquei o bendito tecido. – Então algum tempo depois, saiu a notícia de quê o menino do Acre, tinha misteriosamente desaparecido. A coincidência foi tanta, que Soul não me permitia ficar a par do caso, porquê tinha receio do rapaz ser minha alma gêmea. – Calma, ele não era, o máximo que poderia ser era outro Índigo, por isso havia uma conexão.
    Naquele ano precisei fechar de vez a história da traição, pois as palavras da minha mãe, ressoavam na minha mente “A gente transmite para os filhos, o quê sentimos por nossos parceiros.” – E eu ainda me sentia muito magoada por causa do Soul.
    Fui atrás de cada uma das envolvidas, saber até onde a história ido, pois sem um desfecho final, não conseguia seguir em frente. – A amante com quem traiu a japonesa do Paraguai, era gentil, só que não tinha ouvido falar de mim. A japonesa virgem e ignorante, e a minha xará era tranquila. – A questão é que não conseguia perdoar, depois de tudo o quê vivemos, quase ninguém sabia ao meu respeito, somente se lembravam da maldita virgem, e isso me doía bastante, pois significava que falava a respeito dela, e quem dera que fosse mal, mas eram coisas como “Preciso mudar por ela.” e outros romantismos insuportáveis da TV. A xará também não sabia de nada, somente que ele ia parar de fazer certas brincadeiras, porquê estava começando a gostar de uma garota, e que nunca tinha o visto gostar tanto de alguém assim, o amigo dizia que fui a garota com quem ele passou um tempo. O melhor amigo era o único que dizia que nunca o tinha visto tão feliz, quanto como quando Soul estava ao meu lado. Por ironia da vida, o melhor amigo que me detestava no passado, por conta da minha conduta like a Yuno Gasai de Mirai Nikki. Mas foi o primeiro a me estender a mão, quando surtei entre os outros, e hoje me sinto ainda mais culpada pelo acidente do círio fluvial, porquê a mãe dele se foi ali.
    Além do mais, Soul sempre falava comigo, e tinha guardado a minha música “Suicida” em vez dos vídeos eróticos, e enquanto ele falava palavras vazias sobre a outra, por mim realmente mudou. – Para ser sincera, até atualmente ainda sigo com dúvidas sobre o quê aconteceu, só que verdade seja dita ele suportou muita coisa, antes de aprontar para mim. Lógico que o ideal era não ter havido nada, mas isso só seria possível, se partíssemos do principio de  quê sou perfeita, o quê sabemos que não sou.
    As crises alternavam bastante, está com ele não me fazia bem, por isso decidi que o melhor era nos separarmos, e ele ir morar com a Rá, junto da sua mãe em Goiânia- GO. – A notícia chegou como uma explosão nos ouvidos do Drácula, que falou um monte de coisas para mim, mas as piores foram “Não importa o quê você quer da vida, mas estamos falando da Minha Neta!” “Você é mente fraca mesmo!” “Depressão é frescura!”  Não consegui me aguentar, ele mandou o Soul calar a boca, e eu ordenei que saísse da minha casa. – “Essa casa só é tua por quê eu te dei!” ele disse. “Não me importo, deu por quê quis agora vai criar a tua filha favorita e me deixa em paz!” Gritei estridente, e no mesmo dia, decidi que ia para Goiânia também, e não ficaria mais nem um minuto naquela cidadezinha, na qual poderia dar de cara com ele.
    Soul foi na frente, e assim percebeu logo o tipo de cobra, que era o namorado da minha mãe, pois o cara queria praticamente tomar a guarda de Rá, para ele e a minha mãe. – A nova guerra se iniciou, por quê ela me colocava depois do moleque, que se chamava Ren, e tinha o mesmo jeito do Arakiel, só que a diferença, é que não fingia ter dupla personalidade.
    Quando Soul estava em Goiânia, decidi deixá-lo, após ter chegado ao ponto de tomar minha caixa de comprimidos de cloridrato de sertralina. – Senti apenas a minha mão formigar, e quando cheguei ao hospital, completamente normal, os médicos brincaram a respeito da minha resistência. “A gente devia chamá-la para beber conosco. Tomou uma caixa inteira, e ainda nem desmaiou!” A consulta foi feita, nos deslocamos do interior para a cidade a toa, pois outra vez não conseguia morrer.
    A minha despedida foi muito boa, reencontrei uma velha amiga, e o meu amigo que quase morreu para um caminhão. – Eu realmente senti alegria por poder me despedir deles, pois eram pessoas maravilhosas, que não colocariam “medos” na minha cabeça.  
    Deveria ter chegado solteira a Goiânia, mas a verdade é que com todos os meus transtornos, não conseguia ficar longe do Soul. Não importava quem aparacesse agora, por isso quando cheguei em Goiás, prometi a mim mesma, que faria de novo o quê estivesse ao meu alcance, para sermos felizes.
    A presença de Ren, fortaleceu muito a minha união com o Soul, pois juntos tínhamos o propósito de proteger a nossa filha daquele moleque insolente, que não só não queria nada da vida, como também era um verdadeiro fifi, cheio de leva e traz, algo que me dava nos nervos, pois estava ajeitando a minha situação com a sogra, e ele criava atritos, sempre que eu brigava com o Soul, dizendo que a mulher o mandava me deixar, que eu não o amava, que era melhor ir atrás de outra. – O quê provavelmente foi dito, para ele encontrar a virgenzinha odiosa, que na visão da mãe de Soul, supostamente o salvou de cometer suicídio por minha causa. É? Mas ela fez ele arranjar emprego? Terminar os estudos? Virar um homem em vez de um cafajeste? Não fez.
    Goiânia era o lugar perfeito para recomeçar, mas a teoria de quê o problema não era o ambiente, e sim eu, se fortalecia bastante. – Queria mesmo esquecer, fazer fotos maravilhosas, e esfregar na cara da menina, o homão da porra que ela perdeu, mas bater fotos românticas, me dava calafrios, porquê tudo me lembrava, a foto dos dois que tinha estado no perfil, coisa que ele nunca fizera por mim, e que o Dr. Arthur meu psiquiatra, entendeu como uma paixão que foi muito mais forte do quê por mim, algo que me fez surtar ali mesmo, pois não queria ser mulherzinha de amorzinho, preferia ser a vadia destruidora de corações, do quê mais uma trouxa que cedeu ao amor. – Algo que me levou a procurar pela “puritana inquisidora” para lhe dizer umas verdades. Infelizmente não tinha forças para aguentar a briga, por isso ler a mensagem de que ela se dava bem com a minha sogra, e que esta “sempre seria a sua mocinha” Não foi algo fácil de tolerar.
    As crises voltaram com intensidade, e por isso comecei a usar meus poderes contra mim. – Nesta altura tinha me dado conta, de quê tudo o quê escrevia se tornava real, por isso passei a descrever a minha morte, em um dos meus projetos, e então no dia seguinte um homem armado, passou na rua de casa, e por pouco não morri. – Tudo se realiza menos a minha morte, como se jamais fosse descansar em paz. Dádiva? Ou Maldição? 
    Certa vez, após discutir com a virgiranha, fugi de casa, queria me matar, mas acabei no Capes, pedindo ajuda, porquê a vontade de me destruir, e destruir os outros não passava. – A puritana era como uma pessoa tóxica, mentirosa, e sem escrúpulos, que me fazia parecer um anjo de tão má que era.
    Lá contei as psicólogas, sobre ser filha de Lúcifer, e encarar isso como um problema, que precisava ser resolvido, pois como alguém como eu, poderia acreditar em tal coisa? Mas elas me aconselharam a não abandonar a minha crença, e que cada um seguia, a filosofia que lhe cabia melhor. – E vendo o quanto tentava ser racional , mesmo quando minha consciência estava prestes a se dissolver, disseram que deveria continuar a escrever o livro da minha história de vida, pois  quando lhes contava sobre os fatos, não sabiam se era alucinação, ou se algo sobrenatural havia mesmo acontecido, já que parecia-lhes inteligente demais, para aceitar algo, que não pudesse ser legítimo. – Impressionado? Brincadeira!
    Como se não bastassem os problemas mundanos, ainda haviam inimigos do passado, que voltavam como amigos. – Certo dia fiz uma projeção forçada, e me deparei com uma enorme cobra negra, de cabeça triangular, que se rastejava por cima do guarda-roupa, até chegar a borda do colchão, onde se ajeitava para saltar de boca aberta para cima de mim. Acordei trêmula, mesmo que a esta altura, já não conseguisse ser assustada por qualquer coisa.– Minha protetora era um polterguist lembra? – No mesmo dia, a mensageira Maria enviou mensagem, e bem devido ao fato de quê ela trabalhava com o Kimbandista, que me fez muito mal, apenas porquê fui fria com ele, havia cortado laços com a mesma. Todavia quando o comunicado de quê meu antigo mentor – O mesmo do qual a voz de trovão me afastou – andava matando todos os antigos membros da seita, e que Asmoday e Solomon haviam partido por sua intervenção, tive de ouvir, e aceitar uma trégua por sobrevivência. 
    O centro-oeste é considerado por alguns conspiradores, como o berço da sétima raça, e em Goiânia, há uma estátua representando 3 das 7. – E isto foi uma enorme surpresa para mim, pois me mudei para GO, por puro intuito, de ficar o mais longe que pudesse do Drácula. A quem jamais perdoarei. – Ao acaso acabei por ficar numa das cidades, onde há o maior número de avistamento de Óvnis.

    O relacionamento abusivo em quê minha mãe vivia, estava se tornando vergonhoso e insuportável, e a situação somente piorou, depois que invoquei demônios no seu quarto, para quê caçassem o Ren, porquê eu já tinha colocado até uma faca no pescoço do infeliz, e minha protetora, continuava a ser humilhada por ele. – O problema é que por causa dele, ela me fazia mal, dizendo que tudo o quê acontecia de ruim na sua vida, era obra do demônio, e vivia colocando hino de igreja para a minha filha. Algo que me irritava muito, pois detesto fanatismos, e sei que a música tem o poder de alterar a consciência, e literalmente lavar uma mente despreparada. – Todo dia ela esfregava Deus na minha cara, e apesar de não ter muito a reclamar dele, porquê me deu um sinal sobre o Apocalipse em 2013, estava voltando a odiá-lo.
    Meus demônios se vingaram de ambos, e por causa disso, a minha mãe surtou de vez, ao ponto de ouvir vozes, fazer papelões, alegando que tinha levado chifre, e eu não a aguentava mais, porquê era óbvio que estava alucinando, e pior ainda que o meu título de Louca da família, agora era totalmente seu. – Eu já tinha surtado, me tornado violenta, mas neste ponto em quê literalmente saia realidade, e não tinha controle jamais.

    Sempre ouvia gritos e mais gritos, e aquilo me envergonhava. Por isso quando ela quis mudar de casa, aceitei de imediato, porquê queria mesmo aqueles shows acabassem. – Era ridículo demais, vê-la chorando aos 4 ventos, por um cara que tinha dito, que preferia que a mãe tivesse lhe abortado. Ela tinha apanhado. Tinha sido humilhada, e ficava “lambendo as botas do cara” A onde estava seu amor próprio?! O quê tinha ocorrido com a mulher que me criou? A gerente, a promotora de vendas, a diretora do DAF, a que trabalhava na SEMA? Agora tinha sido reduzida a uma mulher qualquer, incapaz de se livrar de um relacionamento bosta, e por isso foi perdendo o meu respeito. – Eu a amava, mas apesar do episódio com Arakiel, jamais tinha baixado a minha cabeça, permitindo que um homem me pisasse daquela forma.

    Capitulo 6- 2018
    Em 2018 fiz 23 anos, e como presente, ganhei mais uma seita que afundou, por conta do descaso dos participantes. – Seu nome era Ludac e significava Luz do Amanhacer Cósmico. A ideia a príncipio era minha e de Maria, com quem fui desenvolvendo alguns laços, tentando me opor a minha natureza vingativa e cruel.
    O propósito era reunir todos os filhos cósmicos, que se encontravam perdidos, e precisavam encontrar a iluminação, antes que fizessem parte do exército do anticristo brasileiro. – O meu antigo mentor, que criou um enorme grupo de fanáticos e covardes, que temem os demônios, e abraçaram o satanismo, somente para fugir de suas vidas miseráveis. – Acho que exagerei.
    É claro que falhou, pois o homem tem o aporte de verdadeiros demônios, que precisam do fanatismo para sobreviver. – Por quê são ainda mais inferiores do quê a gente, e precisam da adoração cega, para sentirem-se deuses.
    O grupo era composto por mim, Maria, Lua Negra, Felipe, e a Pleiadiana. Maria usava Felipe, para me atingir, pois pouco antes do seu aparecimento, havia lhe dito que logo me encontraria, com um velho amigo dos meus pesadelos, que era um arcanjo. – Não, não era Gabriel, mas sim o outro de quem já falei.
    Ela sabia que a presença do arcanjo me afetava, por conta de um sombrio passado da outra vida, em que tinha sido torturada pelo mesmo. Por isso sugeria que era um arcanjo, só não o quê iria surgir. – Por ter ciência de quê odeio não ter razão. Mas pelo contexto das conversas, lhe entregava pistas do meu passado. Já que o sujeito supostamente escrevia poemas, sobre uma pequena Lilith, sendo esta a minha fama no inferno, e que a mensageira sabia. – Eles jogavam com a minha sanidade, e me faziam sofrer.
    Porém com a ajuda de Lua Negra – um rapaz que notei ser nobre de imediato, por ser o único com o qual podia debater, sem descer o nível a humilhações. – Acabei por conhecer uma moça, que chamarei de vampira, apenas por ser o seu nick no WhatsApp.
    De imediato reconheci a minha irmã doutro tempo, que lá se fazia de boa, mas era extremamente ruim, como sou nesta vida, só que sem escrúpulos mesmo. – No meu lugar entre matar ou não minha prima, ela teria ido adiante, mesmo que isso lhe fizesse parar no Inferno como criminosa.
    Quis manter distância dela, pois Maria dizia que a mesma me machucaria. – Não acreditei, por conta das suas armações, mas ainda sim, devo admitir que não estava errada. Ficar perto da garota, me deixava doente, ao ponto que a crueldade, que lutei para manter sempre presa, começava a sair, e eu sentia prazer nisso.
    vampira no ínicio parecia mesmo ser uma boa pessoa, e para ser sincera, seria bom se assim continuasse. Porém depois que ela se tornou namorada de Felipe, que apesar de mal falar comigo, vivia perguntando a meu respeito, ela se tornou uma outra mulher. – Todo tempo ela mencionava o quanto o namorado era “lindo”, e esta parecia ser a sua única qualidade, pois de resto nada tinha. 
    Como eu já havia namorado alguns garotos fora da esfera virtual, beleza não me parecia muita coisa. –Sou casada com um cara semelhante ao Pen Badgley, então não tenho do quê reclamar. – Só que ainda sou uma ex patinho feio, e ver tanta superficialidade, me dava nos nervos. –Posso não está com o tal “deus grego” mas o quê importa para mim, é que meu marido me ama, me aceita, e me ajuda a ser uma pessoa melhor.
    Agora jogavam com nós duas. Onde já se viu um cara ignorar uma mensagem de morreria por você, para atender o choro de outra? Foi exatamente o quê aconteceu, quando tive o presságio terrível, de quê o menino Felipe, iria se tornar a casca de Belzebu, se tatuasse o sol negro em seu corpo. – Afinal tinha umas contas para acertar com o deus, desde 2013, e não queria que fosse ali.
    Ao tocarmos no nome da criatura, comecei a receber manifestações fortes da sua presença. Em casa as brigas entre a minha mãe e o Ren só pioravam,  apesar deste está longe. Chegou num ponto que tivemos de mudar de casa, porquê a minha progenitora jurava que tinham câmeras, e caixas de som por todo canto. – Ela tinha surtado, e eu não conseguia fazê-la voltar a realidade.
    Na casa verde, as coisas deveriam melhorar, mas só pioravam. Minha mãe não conseguia nem mesmo ficar sozinha no quarto, que ficava de frente para o meu. – A presença de Belzebu tinha crescido na minha vida, e o ouvia como uma terceira voz, ou extra consciência.
    Não era como o caso da minha mãe, que ouvia vozes xingando-a através de aparelhos mecânicos. tinha a impressão de quê estivesse dentro de mim, como uma terceira personalidade se manifestando.
    Bael dizia coisas como ser a sua 4° esposa, que o mito de Samael como o próprio escuro, era uma farsa. Ele era o diabo, e as 4 esposas eram dele. – É claro que eu duvidava. Mas a filha plediana, que me odiava por ser alvo de interesse de Michael, o amava, e vampira achava que estava incluída na jogada, por conta do seu par.
    Certa vez num domingo ouvi Bael dizer “Felipe não mantém contato contigo porquê não quer ser mal interpretado.” E então mais tarde, vampira me enviou um print do seu par, no qual o mesmo dizia “Eu não posso manter contato com ela, ela é casada, e isso não é certo”. – Meus olhos se engrandeceram com isso, pois eu não tinha acesso a tal informação, e ainda sim, havia acertado em cheio.
    Bael era real? Ou somente uma forte alucinação, de uma bruxa que era filha de Lúcifer? Isto era o quê me preocupava dia após dia, mas quando ele disse que em breve apareceria, e nunca chegou, tive certeza que estava enlouquecendo. – Se fosse verdade teríamos nos visto não é? Porém nunca aconteceu.
    Já teve a impressão de quê o Inferno, está dentro da sua própria cabeça? Era assim que me sentia ao embarcar na fé da vampira, de quê os nossos piores medos iriam se manifestar. – Os medos dela eu não sei, mas os meus se concretizaram.
    Naquele ano foi lançado o filme Luciferina. Que me parecia bastante familiar. O filme contava sobre a história de uma freira, que após perder a mãe, embarcava numa aventura, para saber porquê a mesma havia se matado. Spoiler: Natalia (a freira) tinha um poder sobrenatural, que a deixava cega por segundos, e assim a mesma enxergava a luz ou escuridão nas pessoas. – Após as inúmeras tentativas de suicídio, as consequências vieram. Comecei a perder a visão, e por isso em 2016 resolvi me consultar. Só que no dia em questão, logo após sair do consultório ás 7 da manhã, a rua estava deserta, e um homem meio bêbado me abordou. Eu estava com muito medo, por conta das notícias que havia lido sobre estupros. – Como pareço uma garotinha adolescente, sempre sou um alvo perfeito para eles. – Ele estava começando a se aproximar, quando olhou através de mim, e ficou frustrado. Olhei para a mesma direção, e tinha um homem parado ao lado do lixo. Ele era musculoso, com dreads amarrados num rabo de cavalo, vestido de camisa verde e calça preta, como se fosse um guerreiro africano. O moreno ficou parado ali, como se esperasse o bêbado se retirar, e como resultado o mesmo seguiu o seu rumo. Quando me virei outra vez, o sujeito havia sumido, como se tivesse aparecido somente para me ajudar. Por isso decidi caminhar para onde houvesse movimento, e quando encontrei uma mulher da vida, me agarrei a ela, pois apesar de sua profissão sentia nela tanta segurança, quanto quando o moço de verde apareceu. – Essa capacidade de ver quem é bom ou ruim, condiz muito comigo. 
    A freira supostamente era virgem, mas tinham cenas quentes, em quê ela se masturbava, exatamente como eu fazia, antes de me entregar a um homem. Além do mais, apesar de não ser intocada, nunca ultrapassei o limite de 4 homens, e até hoje não sou casada por cerimônia. ‐Sempre algo dá errado, quando estou prestes a virar a mulher do Soul, então não sou pertecente a um homem.
    O namorado da sua irmã, é um idiota, e isto fica claro depois que eles fazem o ritual na ilha de Índios, onde a mesma tem diversas visões infernais. – Macapá- Ap é uma ilha de índios também, embora possua uma civilização, e você sabe das visões que tive lá.
    O par dela é o Abel, um rapaz magro de cabelos enrolados, que é conhecido entre os amigos por ser o esquisito como ela, já que tem apagões. Ambos são virgens, e é o destino deles se unir. – Soul em muitos aspectos se compara ao mesmo, principalmente pela falta de memória, já que tem inclusive tendência a Alzheimer. Os virgens na magia, são aqueles que não são casados, e que nunca praticaram a magia sexual. – Ele foi o único com quem pratiquei este ato em específico.
    Abel tinha problemas para lembrar, porquê era a verdadeira casca do diabo, que queria gerar uma criança mágicka com a freira, usando a sua alma gêmea para seduzi-la. – Medo. É só o quê tenho a dizer.
    É descoberto que a mãe de Natalia, foi escolhida por uma seita satânica, para dar a luz a filha de Lúcifer, mas a mulher mesmo sabendo do destino sombrio, pede ajuda as freiras para proteger a criança. – Alegoria ao aborto que minha mãe se recusou a fazer, e o pedido que fez a santa?
    No fim a única forma de exorcizar o demônio, era literalmente copulando com o mesmo, e o quê deveria ser um abuso, acaba por se tornar erótico, e desta forma Natália salva alma de Abel, mas ele morre, e o filme termina com ela grávida de outra criança mágicka, indo a igreja para protegê-la. – Nem preciso dizer nada.
    A príncipio quis passar a bola para vampira, afinal ela é a virgem de hímen, mas o próprio contexto do filme retrata, que é a virgem sob a ótica do ocultismo, e não a cristã. Sendo assim embora decretem a virgindade santificada, é santificada de acordo com o olhar de Crowley, não de Constantino. – Luciferina é o nome satânico da freira, e ela diz que o significado é “A portadora da luz”.  Sendo o meu Luciféria, “A luz que parte”. – Fim dos Spoilers.
    vampira se identificou de imediato, porém ela olhou apenas para o meio das suas pernas, e só isto não era o suficiente para preencher os requisitos. – Um filme assim, tão estranhamente ligado as minhas particularidades, me deixou preocupada, principalmente porquê foi lançado no dia 15 de março. – Seria um sinal de quê a extra consciência falava sério? Nem eu sabia.
    O ano seguiu-se de maneira comum, mas o entusiasmo de vmpira pela suposta aparição do seu grande amor, me fazia ficar em alerta para o Senhor das Moscas. – Houve uma vez que me senti vigiada, pois enquanto fazia amor com o meu marido, ouvi o barulho de um carro, que só saiu da porta, depois que paramos.
    Se tinha segurado as pontas até ali, certamente agora perderia o fio da meada. – Lembranças de sonhos com o anticristo se tornavam frequentes, sempre que tentava ver alguma fraqueza do demônio. – Aos 14 anos tive o sonho com o menino da profecia. Aos 21 havia sonhado que nos encontraríamos diante de um anjo, ele agora estava mais velho, mas mesmo assim se tornava o meu par. – E é lógico que tinha ignorado tais coisas, pois onde já se viu? Eu sou a mulher do Soul, mesmo sem cerimônia. É a ele que meu coração pertence.
    Tentei seguir ignorando sequer a possibilidade, mas a situação somente se tornou mais evidente. – Não importava o quê fizesse, a sua chegada era cada vez mais fácil de provar.
    Num dia qualquer uma barata avançou na minha direção, mas quando ergui a palma em defesa, ela abaixou as asas. – Isso seria totalmente natural, se não fosse pela presença das moscas, que seguiam a minha mãe, não importava o quanto mantivesse a sua assepsia intacta.
    Fingi que não era nada, usei veneno para afastar os insetos, nada melhor do quê boa e velha ciência não é? – Não quando se trata do paranormal. – Certa vez o ralo entupiu, e a água começou a transbordar acima do piso alto. Para resolver o problema, Soul abriu o buraco, com a ajuda de um ferro, e várias baratas ficaram a flutuar entre as ondas.
    Ignorei mais uma vez, embora estivesse em alerta agora, e algo ainda maior aconteceu. A mente da minha mãe se degradou de vez. A sua insanidade era tanta, que todos os dias alegava ver Óvnis, mas depois de ler um estudo, que relacionava a aparição dos mesmos, como resultado de um intenso abuso emocional, eu acabei deixando de acreditar nela. – Todavia houve um fato que mudou a minha perspectiva. 
    Eram 7 horas da manhã, minha mãe estava se entretendo com a Rá, quando de repente me chamou. Sai do quarto com preguiça para as suas teorias malucas, e achei que ela tinha gritado, apenas porquê estava passando uma matéria sobre aliens na TV. Mas quando cheguei a tela estava congelada, e era como se alguma vida inteligente, interagisse através dos sons do aparelho. – Eu gravei a última parte, só que não foi o suficiente, por isso torci para que retornassem em breve.
    Levou algum tempo para o fato se repetir, mas quando ocorreu gravei. – Eram 3 horas da manhã, quando Rá se encaminhou até a tela da TV, de onde saiam vozes distorcidas como a intro da Iron Man do Black Sabbath. – Depois de tudo o quê passei, não era qualquer coisa que me assustava, por isso assim que notei tal presença, fui logo filmar.
    No final daquele ano, vários pássaros pousaram na árvore ao lado da minha casa, e começaram a grasnar sem parar. – Realmente não há nada certo? É tudo normal, ou ao menos é para mim, devido a cada desafio que já enfrentei.
    As perturbações não pararam, nem mesmo quando minha mãe se mudou. A luz da cozinha onde mais conversava com a extra consciência – por quê a água funcionava como um portal entre os mundos – entrou em curto, e os demônios começaram a fazer uma rave em casa. – Sendo que me recusei a ir para uma, por causa de um mal pressentimento, que tive assim que os novos vizinhos chegaram, e não fui a única, Soul falou para evitar contar as minhas experiências em voz alta, pois também estava se convencendo, de quê eu era o alvo de Belzebu. Meus maus pressentimentos, não eram por acaso, pois alguns dias depois, acordei de madrugada, e quando foi de manhã, soube que o comércio que ficava a frente da nossa casa, foi roubado após ser arrombado. “Eu sacrifiquei uma família para salvar a sua.” A voz disse. Então fiquei sem reação, era como se tivesse sendo protegida pelo mal, e embora me garantisse a sobrevivência, não me sentia bem com isso.
    Somente eu e vampira sabíamos que Bael agora era o meu protetor, mas ainda sim Maria apareceu amedrontada, porquê do nada sofreu a paralisia do sono, e viu o próprio diante dela, totalmente dominado pelo ódio. – Seria pelo quanto ela me artomentou antes?
    Tinha a impressão de quê não era qualquer uma para Bael. Portanto não iria me deixar em paz tão facilmente, e tive de me precaver. – Se o garoto Felipe, iria ser a sua nova casca, não podia falar com o mesmo, por isso o bloquiei, e pensei que seria o suficiente. Mas um vigarista que queria saber sobre o quê eu escrevia apareceu. – Ele era estranho, dizia ter sido amigo de um maçom, e quê conhecia sobre Goétia e os Druídas, em seguida me enviou um pdf de Cipriano, mesmo que eu tenha deixado claro, que Cipriano para mim é um covarde, fanático, e farsante. O homem se aproximou de minha mãe, e no fim depois levar o seu dinheiro, soubemos que o mesmo estava sob ameaça de morte, e era totalmente insano, ao ponto de repetir as palavras do meu avô “Eu vou para o Inferno para comandar.” Algo que me fiz rir, pois Lúcifer é o meu pai, e nunca deixou uma pessoa que tenha me feito mal, passar impune. – E quando não é ele, é o Belzebu, então me pareceu cômico.
    A entrada do ano de 2019 foi diferente, em 21 de janeiro houve uma lua de sangue, que caiu no eixo Aquário (sol) e Leão (lua) como no meu mapa, e perto do meu aniversário de 24 anos. – Sendo que vez ou outra algo grandioso (e catastrófico) ocorre neste dia. – Minha filha teve de ser levada ao hospital, porquê a dias não evacuava, mesmo com as frutas que lhe dávamos para facilitar.
    Sai as pressas, e deixei uma mensagem para a vampira, não me lembro qual, mas me recordo da resposta que tive. – A menina estava convencida, de que era a escolhida do Anticristo, que teriam um filho, e entraria para a história. – Não preciso falar da minha reação não é? Alegria por ela ser alvo dele, mas raiva por quê quem sempre quis entrar para a história era eu, e pelo amor dos deuses do abismo, se chegou até aqui, é porquê acredita no meu destino também. É inegável que tenho um significado único dentro desta sociedade.
    15 de fevereiro estava se aproximando outra vez, e como vampira parecia disposta a roubar o meu lugar, tive o prazer de reunir 10 fatos associados a data, e por quê isto me tornava a perfeita filha de Babalom.
    Em 10° lugar – A atriz que fazia a Huntress, a minha primeira personagem favorita da série Arrow, dividia o aniversário comigo.
    Em 9° lugar – O Eniac o pai dos computadores modernos, foi revelado neste dia, e trouxe uma Nova era computacional.
    Em 8° lugar – A intérprete de Gabrielle em Xena, que deu a luz a Hope, com um ser das trevas, também era minha xará de data de nascimento.
    Em 7° lugar – Outra referência a DC comics, O César Romero, o primeiro Coringa da TV fazia aniversário neste dia.
    Em 6° lugar – O primeiro esboço do genoma humano, foi publicado pela revista Nature.
    Em 5° lugar – A primeira nebulosa a ser vista, e batizada de “olho de gato” foi descoberta neste dia em 1786, e ficava localizada na Constelação de Draco. – Fato interessante em 2013, encontrei uma das minhas irmãs, e como os demônios a amavam ao ponto de me ignorar,  larguei o satanismo, para me dedicar a magia draconiana, por ter uma enorme afinidade com dragões, desde os 9 anos. – Quando sonhava que sobrevoava uma cidade em ruínas, montada num dragão ocidental, branco azulado, que se chamava Graham. – Por quê acreditava que somente eles me aceitariam.
    Em 4° lugar – Galileu Galilei nasceu neste dia, e ele foi responsável por inúmeras descobertas, além de ter sido tratado como herege, por defender a teoria heliocêntrica.
    Em 3° lugar – Matt Groening o criador dos Simpsons e Futurama, é do dia 15. – O gênio incompreendido, hoje é visto como um dos grandes profetas da atualidade, pois a sua série mais conhecida, previu diversos acontecimentos.
    Em 2° lugar – O meteorito que caiu na Rússia, logo após a renúncia do papa. – Aos meus 18 anos.
    Em 1° lugar– A Lupercália, evento dedicado ao deus Lupercus, que é tido como uma faces do Deus Lúcifer na Itália, e a fundação de Roma por Rômulo e Remo. O evento funciona como o Dia dos Namorados pagão, mas deixou de ser divulgado há muito tempo, por quê a igreja tentando sufocar a tradição, criou o dia de São Valetim, que é comemorado no dia 14, para quê o 15 passe em branco. – É nestas horas que o desprezo pela igreja cresce.
    Algumas coisas são bobas, outras tem enorme significado para mim, e ao analisar tais fatos, tenho a forte impressão de quê a data foi propositalmente escolhida. – Afinal de contas 15 é o arcano do Diabo original.
    Tudo isso deveria me animar, mas quanto mais o dia se aproximava, menos feliz eu ficava. Mais um ano estava ficando mais velha, e Lúcifer não tinha aparecido, quase ninguém sabia quem era, então como este tão falado destino poderia me pertencer? A tristeza invadia o peito, talvez a resposta fosse esta, todo o meu sofrimento, e vida paranormal por nada mais, que ter entrado no caminho mais denso, ou ainda não estava pronta, para ser reconhecida. Será que agora é a hora? Em breve saberemos.
    Duas séries seriam lançadas em 15/02, e elas eram do meu gênero favorito super heróis, e apesar de parecer um presente, não sentia ânimo para assistir. Só que um comunicado, mudou a minha perspectiva, Lua Negra disse “Assista-as. Se é exatamente do jeito que gosta, pode ser que tenha uma mensagem para ti lá.” Então me preparei para fazê-lo, mas no dia mesmo, fui tirada de casa, para ir no Escape Room, onde tive de resolver um crime satânico junto de Soul, mas nós falhamos e rimos sem parar na hora de “morrer”. – Foi um dos melhores dias da minha vida. Eu sei sou estranha, mas você já deveria saber.
    A série lançada pela Netflix se chamava The Umbrella Academy, e pertencia a editora Dark Horse, a premissa era simples: Mulheres deram a luz a 7 bebês, mas antes do dia começar elas não estavam grávidas. As crianças cresceram, mas apenas 6 delas desenvolveram dons, e se tornaram super-heróis. O foco da trama? Era o Apocalipse, e eles precisavam impedir.
    Spoiler: A série tratava a número 7, como uma inútil violinista, que tinha de viver tomando remédios, para não comprometer a sua saúde mental. Seus 6 irmãos eram deuses, por onde iam tinham reconhecimento, e ela sempre era jogada no canto, sendo lembrada apenas por escrever um livro, sobre como era a vida deles, por trás das câmeras. – 7 é o número que estava na minha testa, no meu joelho, eu era a 7, a mensagem era esta, eu era a única criança, que jamais atingiria aos palcos, como Asmodeus, Mammon, Belzebu, Caim, Azazel, e alguma irmã qualquer. Pois todas nascem com um forte apelo sexual, e poucas herdam o cérebro como eu – Continuo sendo ácida.
    Assisti até o fim somente por causa do número 5, o homem preso no corpo de um menino, e Klaus o rapaz que tinha poder de falar com os mortos, mas temia as suas habilidades de tal forma, que preferia se drogar para não ver os fantasmas. – A destruição mundial era obra de um grupo seleto, que queria proteger um rapaz, que apesar de nascer no dia dos heróis, não tinha poder algum, mas era um sociopata de mão cheia, bastante interessado na número 7. – Claro para ser a vítima dele pensei.
    Mas no fim, foi mostrado que 7 era a mais poderosa dos irmãos, e o pai não a deixou desenvolver seus dons, porquê temia que a mesma matasse os outros. O tratamento desumano que ela recebeu do homem, a deixou transtornada, ao ponto de desenvolver uma extra consciência maléfica, dominada pelo ódio, que lhe disse as mesmas coisas, que costumava dizer em momentos de raiva, sobre jamais ir para o palco. – É isso. Nesta peça de teatro, eu sou aquela que nunca sai de trás das cortinas. – Coincidência? Quem sabe.
    Fim dos spoilers. 
    A outra série se chama Doom Patrol, e é da DC comics. A premissa é bem diferente, não se trata de heróis, mas fracassados, que foram escondidos do mundo, porquê o Cliff não achava que os aceitariam. Sua estética é abstrata e dadaísta, o quê a torna revolucionária em relação as outras obras da DC. 
    Mas não assisti de imediato, apenas esses dias, depois de fatos estranhos que aconteceram comigo. – Novidade não é? – Sei que ao ler a minha história, irá comparar com uma série conhecida, por isso embora o livro “Sobre mim” seja uma vergonha nacional, deixarei disponível, apenas para quê tenha certeza de quê é um relato legítimo. – Aquele final me deixou assustada, pois parecia condizer com o meu destino, porém não com o Senhor das trevas, e sim Das Moscas. Por isso num sábado tive de fazer um ritual para Tiamat, para saber o significado disto. – Me senti nua diante do mundo, como se algo estivesse contando 70% da minha história, através da famosa personagem. Não foi uma sensação agradável, só me vi assim quando fizeram Luciferina.  – Tiamat me enviou um presságio onírico, no qual eu tinha um marido monstruoso, que tentava me afastar do Soul. – Pelos deuses! De novo essa história? – Mais tarde ainda no mesmo sonho, aparecia um crítico de arte, vestido de terno, para o qual queria vender um cd chamado 1574, que havia sido feito em 1574. Eu tinha vários cds originais em mãos, e somente um falso. Mas o quê me chamava a atenção era o 1574, ao qual o crítico não me permitia vender, pois na visão deste era algo valioso, que me faria falta no futuro. Acordei e enviei o sonho para uma amiga bruxa, e quando foi de tarde Notredame apareceu queimada nas notícias, era o dia 15, do mês 4, e talvez o 7 no sonho, tivesse alguma ligação comigo. (Afinal o 7 estava sempre presente.) No dia 17 tive um outro presságio, nele estava numa festa de luxo, onde recebia uma proposta indecente, que recusava, e uma mulher invejosa, me chamava de gorda. Até aí tudo bem, mas quando sai do local, o alarme soou alto, então avisaram que os animais tinham fugido do zoológico. As portas de aço se fecharam, senti como se estivesse na série Zoo. Eu me bati contra as mesmas, e então alguém soltou cachorros raivosos na minha direção, mas um vigilante me salvou, e acordei dentro da sua cabine, enquanto ele dizia em desespero “Escreva! Escreva! E eles vão parar!” então me deu uma caneta, e uma caixa para apoiar o papel, onde iniciei a escrita com “A”. – Conclui após muito analisar, que os animais no zoológico, eram demônios saindo do inferno, mas não sei quem era o meu salvador. Ao apresentar o sonho para um novo amigo, – Que estuda magia desde os 10 anos, e para o qual somente revelei a meu respeito, porquê as cartas disseram “Comunica-te com aquele que fala com a divindade.” – Ele chegou ao mesmo resultado, muito antes de lhe mostrar a minha conclusão.
    Certo dia estava online, comentando que não tenho medo dos demônios, afinal já tive o desprazer de conhecer os piores, e estou claramente sendo cogitada para algo. Foi então que uma mulher veio e disse: “Você é como eu, é uma escolhida.” Achei aquilo incomum, por isso resolvi conversar com a mesma. Foi uma total perda de tempo, embora seja médium, é ainda mais louca do quê transpareci nestas páginas. Falou-me coisas como “Sou a filha de Lúcifer e Lilith, meu irmão é Mammon,  sou Asherah a deusa perdida, e Bael é o meu marido.” Tentei lhe explicar a impossibilidade de assim ser, mas ao mesmo tempo me questionei também, estaria eu inerte na loucura como ela? Preciso voltar a terapia! Ela me chamava de a irmã mais nova, filha de Maria Padilha, não um demônio como a própria. Mas esta me parecia a sua realidade, não a minha. Em algum ponto da vida, ela teria acabado por libertar muitos demônios, e os mesmos agora dominavam o seu corpo. Era como se andasse com uma legião, pois a sua fala era desconexa, fanática, e imprecisa. – Isso é um roteiro de filme de terror Nammu? É como se eu fosse o rapaz de Dagon tentando viver a vida de 0 e 1, e o deus antigo me atraísse para a sua cidade. A mulher diz que é rica, mas pelo grau da sua insanidade, fica difícil saber se é de fato ou é mais uma alucinação. 
    Como se não fosse o suficiente, uma bruxa me alertou para tomar cuidado, com qualquer feiticeira que oferecesse dinheiro em troca de dinheiro. Então quando fiz uma evocação a Marbas, o demônio leonino, que tem me dado uma força quando piso no Inferno, e é responsável pela revelação de segredos ocultos. Descobri que meu nickname “Carry” era semelhante a “Carreau”, a potestade que “endurece o coração dos homens”, e fui atrás de uma bruxa que parecia humilde. 
    Ao contrário da outra “princesa”, ou – como chamarei a partir daqui – Legião. Esta não era perturbada, e quando lhe mandei a mensagem, explicando que era filha de Lúcifer e Lilith, mas não me opunha a religiões, e sim aos líderes ambiciosos. Ela me falou logo “Você está assustada por causa de visitantes em sua casa.” e eu enviei sobre “Carreau” ela falou para chamar-lhe no Whatsapp, pois era a escolhida para isso.
    Conversamos, e ela disse que Luciféria não é real, é tudo manipulação de Carreau, que toda a minha vida foi uma mentira, mas sou uma bruxa poderosa por conseguir libertá-lo. No início propôs viajar a minha cidade, mas não tinha dinheiro para tal, por isso ofertou entregar a conta, para lhe enviar o dinheiro da passagem. Depois conversamos mais, e ela falou coisas esquisitas, como a forma de um anjo de asas rosas, é a minha verdadeira, e que para me livrar de Carreau, teria de invocar a Mikael, e agiu dizendo “é eu sei que sabe bem quem é”. Então ela abriu um portal, e supostamente tirou Carreau, mas seu celular caiu mais tarde, e ela precisava de 30 reais na conta, para fazer um banimento completo, não era grande coisa, mas eu realmente só tinha 10 reais. Ela parou de responder, ficou bem, e minha filha voltou a surtar, tinha lhe pedido para libertar o ser, pois convivi 9 anos com ele, saberia lidar. Então quando disse que ele voltou, ela me bloquiou sem mais nem menos. – O quê mais tem acontecido é fazerem isso. Falar, criar amizade, e sumirem.
    Por sorte havia seguido os meus instintos, e preparado um ritual, para me livrar de Carreau. – Eram 3 horas da manhã, não havia sinal da lua minguante no céu, e eu estava com um portal aberto, sob o uso do mesmo símbolo que o trouxe, enquanto ouvia a música Sitra Ahra da banda Therion, porquê queria mesmo me conectar com o outro lado. Comecei a meditar chamando Lilith, então quando a senti ali, chamei o demônio para fora de mim, e o peguei pelo pescoço, enquanto usava a minha linguagem Lovlicos. – Com a qual fiz um símbolo a esquerda, e no dia seguinte apareceu a direita. – Meditei para transferi-lo para o portal de Apsu, e chegou num momento, que nem sequer consegui ouvir a melodia, era somente eu e ele. Senti uma verdadeira onda de energia brigar em mim, tentava levantar a cabeça, mas ele não deixava, e quando consegui, e senti meu corpo mais leve, fechei o portal. Achei que 7 minutos tinham se passado, mas na verdade foram 47. Por 40 minutos estive do Outro lado, e não sabia se tinha o vencido, até que olhei para o céu, e a lua tinha deixado de ser encoberta pelas nuvens. – A noite voltou a brilhar – Titans Go.
    Esses tempos enfim assisti Doom Patrol. No início pensei que a mensagem para mim, se relacionava a Crazy Jane, pois a mesma tem 64 personalidades, e o meu último relatório psiquiatrico, resultou em transtorno de personalidade com instabilidade emocional, podendo ser boderline ou impulsiva. Spoiler: Jane não é a personalidade matriz, assim como a minha atual persona, mais justa e sensível, também não é a minha original.
    Mas de acordo com que a série segue, há uma mensagem sobre o Anticristo, que é um garoto depressivo, por ter que destruir o mundo, e é socorrido pela Rita Farr, uma mulher cuja a habilidade, lhe transforma num monstro, apesar de não envelhecer. – Esta mensagem não ficou clara, mas o fato do menino ser chamado de “o livro nunca lido” me deu um frio no estômago. Fim dos Spoilers.
    Recentemente tentei entrar numa audição de talentos do Projeto Passarela, e consegui passar, mesmo sem o treinamento exemplar de teatro. – O número final da minha inscrição chamou-me a atenção, pois terminava em 777, um número significafivo para Crowley.
    Lá também soube que tinha de falar inglês se quisesse o sucesso mundial, algo que me deixou intrigada, pois desde o ínicio do ano tenho estudado a lingua, porquê a extra consciência me prometeu, que o meu tão sonhado sucesso víria, após aprender exatamente essa expressão. – Eu sei que é a lingua universal, mas quando ouvi a voz, ainda nem sabia da iniciativa. Além do mais fui até lá, apenas para realizar sonhos mundanos, de enfim ter algo que será visto por todos, e entrará para a história seja como heroína ou vilã.
    Há algum tempo passei a desenvolver um livro de magia para iniciantes, e estou muito feliz com a obra. Vai servir para os filhos dos cosmos, que realmente tiveram experiências paranormais, e quê precisam de um manual, para não libertarem seres perigosos neste mundo. – Entendeu a referência?
    Lá estou me focando apenas no aprendizado dos demais, e de forma bem superficial, retratei um pouco das minhas experiências como filha de Lúcifer e Lilith.  – Apenas porquê o contexto era adequado.
    Mas estes dias vi uma sequência de números inesquecível. Fui deixar Soul no laboratório, e quando olhei para o ônibus a minha frente, tinha o número “20290”. 02 – Fevereiro 90 – Década que nasci. Tudo bem é uma linda coincidência, por isso segui meu rumo. Um ônibus passou ao meu lado, com o número “011” na placa, e devido a um rapaz que chamarei de Art, soube recentemente que 11/11, é o portal dos “Humanos angelicais”.  – Obrigado força oculta, por me lembrar das minhas asas de penas. Tudo bem, mas em seguida vi uma placa com o fim 33. – 33, o grau mais elevado da maçonaria, o numero sagrado. – Legal ué. A próxima placa era 5888, e este é um mistério, contudo no livro descrevo que é preciso haver a repetição de presságios, para se iniciar uma investigação sobre os sinais. Então próximo de casa, apareceu um carro de placa 93, próximo a um lava rápido de carros, com o número 1515 pintado na parede. – 93,93,93, 15, o meu número. – Coincidência? Espero que sim.
    Esses dias estava terminando o relato de 2017, e tentei não mencionar a ex de Soul, mas só de lembrar das coisas que ela dizia, era impossível não sentir a minha real natureza sair, por isso tentei me controlar. Mas toda a raiva que contive, foi para o ambiente. Enquanto a minha mãe cozinhava, o fogo se alastrou na boca do fogão, e por pouco não iniciou um incêndio. Então quando cheguei para almoçar, ela falou para mim, que tenho de mandar o meu Pai lá parar de perturbá-la, pois o espírito imundo que lhe castiga, é o meu protetor. – Quase deixei o prato cair de minhas mãos, e fiquei catatônica. Não é de Lúcifer que ela estava falando, mas sim de Bael.
    O quê isto significa? Nem eu sei, e para ser sincera, prefiro continuar sem entender, pois as possibilidades, são todas negativas. – Eu entrei em alguma realidade alternativa de Terror? Aqui ainda é Sete Além? Não sei. 

    Mas sei de uma coisa, se a mente humana é poderosa, imagine a mente de um anjo? Por isso vou continuar seguindo a minha vida, como se nada estivesse acontecendo. – Tudo o quê vi é real ou Eli estava certa? O quê é a realidade? Apenas o quê pode ser tocado? Ou o quê é sentido através de outras percepções? O concreto é verdadeiro? Ou é apenas um aglomerado de energia densa, que limita o olhar sobre o mundo? Você me verá nos palcos, e ficará surpreso por conta da minha história? Ou morrerei como oculta? Em breve saberemos, e teremos todas as respostas. Se a minha realidade caótica, é apenas um filme, a única coisa que posso afirmar, é que está perto do próximo ato, e nas últimas cenas, terei certeza do quê tudo isto se trata. Se viver para contar história, terei o prazer de lhes escrever um segundo livro, se não, obrigado por terem lido até aqui, e por me guardarem em seus inconscientes, mantendo a minha lembrança viva. Até a próxima, Lux Burnns.
  • Tráfego de Corações

    Sempre soube que calor é energia em trânsito. No tráfego caótico de São Paulo, na hora do rush carioca ou no fluxo intenso da ponte rio-niterói. Estou nesse carro há algumas horas e o ar-condicionado nem da conta. Afinal, o que é convecção aos perfeitos 40º Celsius que enfrento todo dia neste caminho de volta à casa? É, disso nada sei, mas tenho convicção de que tudo ficará bem, porque você sempre está em meu aguardo. Meu corpo só atinge o equilíbrio térmico com o teu, isso que é fisicamente impossível, mas eu não ligo. Termicamente dizendo, a gente troca calor só entre nós mesmos. Eu te amo com todos os meus 40º Celsius. Nosso amor é trifásico. Coração sólido como pedra este meu, vossa santíssima paciência é liquido que escorre quando posto cara-a-cara com minhas baboseiras, e gás para o nosso amor são as más línguas. Mas vai, me vaporiza da tua vida! (Solido fica) estar contigo. Não obstante, a gente reata e reage e este caminho de volta à casa parece infinito. Chega mensagem tua. Pensei em ignorar. Quase esqueci que nunca te ignoro. Eu preferia que a luz não tivesse propagação retilínea, ou que um outro meio material interrompesse a minha visão. Só queria que todos aqueles raios de luz que vieram do celular refratassem. Mas foi como um clarão e eu não pude evitar. Parecia que as estrelas explodiam ao meu redor. Era o fim do mundo. O fim do (meu) mundo. Por um momento tinha muita física em volta de mim. Eu entendi o porquê daquela matéria ter sido tão importante. Sabe? Eventualmente as coisas fazem sentido. O tráfego sempre esteve na minha mente por acreditar que o caminho entre nós dois era livre. É amor, por você, eu me tornei, mesmo odiando a física, o mais conceituado físico do mundo. Confirmei e atingi, empiricamente, a propagação retilínea, a gravidade e o zero absoluto. Sem agitação, isso mesmo! Eu nem precisei estar parado para minhas moléculas atingirem tal estado. Eu estava caindo, amor! Caindo num abismo sem fim. Estagnado, lá estava: eu, o carro, meu amor por você, o mar e sua mensagem: me esquece, não tá dando mais, acabou tudo. Obrigado pelo sensato fim do mundo que me destes. Serei eternamente grato.
  • Trancafiados Vol.1

      Lembro-me muito bem, em que em janeiro de 1945, estava eu com a minha família em casa ainda morávamos em Desden na Alemanha, eu meu pai e minha mãe, em meio a guerra estávamos economizando uma quantidade significativa de comida e água.. porém em meio a guerra, a comida e bebida iriam acabar alguma hora sem dúvidas, todas as manhãs eu acordava e sempre olhava para minha janela que estava na esquerda da minha cama, sempre olhava e ficava pensando até quando aquela guerra iria durar, levariam, anos.. meses... décadas? Essa era uma das perguntas que eu não conseguiria responder, meios os dias iriam passando.... no fim de janeiro de 45 meu pai ficou extremamente doente, ardia a febre, ficava de cama o dia inteiro sem ter forças pra nem sequer levantar um copo, fiquei muito preocupado com ele e sabia que deveria tomar alguma ação rapidamente... então me lembrei que havia antes do início da guerra uma espécie de farmácia no final do meu bairro, porém em tempos de guerra era extremamente proibido e perigoso sair nas ruas, porém não pensei duas vezes em tentar pegar algum remédio, peguei o mínimo de coisas possíveis para ir até a farmácia, saindo de casa a rua está totalmente vazia, algumas casas destruídas ou abandonadas por suas famílias, não muito longe da farmácia escuto um barulho de alguma coisa batendo.. então percebo que está vindo da casa na minha direita, poderia simplesmente ignorado e ter ido até a farmácia, mas fiquei intrigado com o barulho, entrei na casa que aparentava estar abandonada, abri a porta e o barulho continuou, subi no 2° Andar e vi que o barulho estava vindo da porta no fim do corredor, me aproximei e perguntei.. "Oi?... Tem alguém aí?". Então uma voz respondeu.. "Olá!! Por favor me ajude.. estou presa aqui!!". Com um pouco de receio perguntei.. "O'que aconteceu aqui?". Ela um pouco mais calma me explicou.. "Eu estava aqui em casa, quando derrepente escutei alguém batendo na minha porta, quando olhei pelo olho mágico para ver quem era.. percebi que eram 2 soldados nazistas que estavam fazendo uma varredura em todas as casas". Muito preocupado perguntei se ela estava ferida, porém ela me disse que estava muito bem... então tentei pegar um pé de cabra que havia na garagem da mulher e arranquei as tábuas que a impediam de sair, então ela me agradeceu e perguntou se poderia me ajudar de alguma forma, então respondi; "Na verdade tem uma coisa... meu pai está muito doente gostaria de saber se você teria algum remédio..?". Ela me respondeu; "Infelizmente não tenho remédios mas eu sou médica, e trabalhava na farmácia no fim do bairro, se quiser posso lhe emprestar a chave da farmácia, você vai, pega os remédios e trás pra mim para podermos tentar ajudar seu pai.." eu muito agradecido aceitei a oferta e fui até a farmácia, chegando lá eu abri a porta e percebi que estavam com poucos remédios porém já conseguiria pegar apenas o necessário para ajudar meu pai... peguei o Último medicamento e quando olhei para a porta da farmácia, vi um soldado nazista entrando, totalmente armado, sem dúvidas se ele me visse, atiraria primeiro e perguntaria depois, então com muito cuidado me aproximei da porta dos fundos e consegui sair de lá..... Chegando em casa com a médica, ela olhou meu pai e me disse que se esperasse mais algumas horas meu pai provavelmente não teria sobrevivido, foi uma das coisas mais terríveis que aconteceram comigo naquele ano, isso que eu nem sabia por oque estava por vir..



  • Tudo o que eu quis

    Tudo o que eu quis era ser amada
    Ser retribuída com todo amor que eu dei
    Tudo o que eu quis foi te fazer feliz 
    Mas seu sentimento ruim prevaleceu 
    Tudo o que eu quis era calmaria
    E você veio pra conturbar tudo
    Tudo o que eu quis foi seu corpo quente
    Mas você virou pedra de gelo
    Tudo o que eu quis foi você, e mais nada
    Mas você sempre quis me deixar, escolheu não me amar.
  • Último nascer do sol

    Ele não tinha diários. Eu era sua confidente. A vida era só pesquisas, se alimentar de mim e sair à noite.
    Reclamava por existir, por eu o amar, pelo sol ser destrutivo. A cura era um sonho impossível.
    Na festa ele me traiu, bebendo sangue de 40 garotas. Nossa dança durou até o merecido amanhecer.
  • Um conto que já passou

    O garoto que nunca foi idolatrado
    Muito menos notado, se irritou.
    Pelo incrível que pareça ele cansou
    O "Amigo da vizinhança" havia morrido
    Ele já estava muito ferido
    Seu coração não poderia ser compreendido
    Seu mundo era corrompido
    Ele só fingia que ria
    Só que por dentro não entendia
    "Por que assim?."
    "Já chega agora é o fim." 

    Era algo em seu coração
    Criado pela mais pura solidão
    "Ter coração? Eu não!"
    Era o que dizia
    Só que na verdade isso era o que ele mais temia
    Toda noite ele chorava e tremia
    Sua mascara era seu falso rosto que sorria
    Todo dia tem que se preparar
    Só para não chorar
    Estava prestes a acabar
    Desse prédio que é a vida ele ia pular
    Sim, ele ia se matar.
    Só que ele ouviu alguém falar:
    "Você vale a pena, tente não se matar"
    Ele pensou em ignorar
    Só que mal sabia que era isso que ia lhe salvar
    A felicidade ele começou a caçar
    Só que ele não conseguia a encontrar
    Sua mente era muito conturbada
    Ela era isolada
    Muito abalada
    Demasiada cansada
    Mas finalmente acabou a caçada
    Ele achou alguém que poderia chamar de amada
    Muitos anos depois ele acabou sua jornada
    Ao ver sua amada
    Amando outro cara
    Sua mente voltou a estaca zero
    Ele sentia seu sangue ferver
    E sem ver
    Fez o maldito sofrer
    Esse desgraçado acabara de morrer
    "Agora é sua vez" disse para a mulher
    Que para revidar não tinha ao menos uma colher
    Ele a esfaqueou
    Seu sangue estava tão fervente que seu coração se queimou
    "Agora sim, acabou"
    Depois de tal ato ele se matou
    No inferno ele parou
    Sofrendo por tudo que causou
    E jamais ele descansou
    Pois afinal. Ele é somente um conto que já passou


  • Uma Crônica Carioca

    Este livro é uma obra de ficção que se passa numa versão ficcional do municipío de Nilópolis, na baixada Fluminense do Rio de Janeiro; qualquer semelhança com pessoas, eventos ou locais reais é mera coincidência.
    A cultura local foi usada para compor esta obra, o autor é um morador de Nilópolis, logo tudo que encontrará aqui foi inspirado por uma vivência real.
    Tenha uma boa leitura. 
                Capítulo 1
       Nossa cidade, nosso orgulho 
    Pedro vinha pela Via Light sentido Nilópolis as seis da noite, estava voltando da festa de aniversário de oito anos de seu sobrinho Vitor, não porquê a festa acabou e sim porquê Pedro fez uma merda, ele tentou pegar a cunhada da sua irmã.
    Sintonizado na rádio 102.1 (Mix FM) enquanto dirige seu Fiat Uno 2005 vermelho, batucando seus dedos no volante.
    Lê lê lê lê lê Lá em casa! 🎶
    Lê lê lê lê lê Na cama! 🎶
    Lê lê lê lê lê lê Tirando a roupa toda! 🎶
    Mesmo ao som incondicional da voz de Thiaguinho (cantor que gosta muito), Pedro não consegue tirar da sua cabeça o que aconteceu na festa:
    No quintal estavam os adultos bebendo e conversando enquanto crianças corriam molhadas e pulavam na piscina, com os pais sempre atentos e uma ou outra mãe maluca gritando pro seu filho parar de tentar se matar; Pedro estava odiando isso, mesmo amando sua irmã ele sabia que uma hora ou outra iria embora antes de cortar o bolo; A festa era na casa dela e do esposo, em Nova Iguaçu, e apesar de gostar da cidade, ele detesta os “riquinhos” (Pedro se perguntava se poderiam ser chamados de ricos quem mora até mesmo no mais caro dos apartamentos de Nova Iguaçu) que moram nela, gente meio babaca sabe?
    Ninguém falava do que tinha acontecido no episódio de ontem de ‘Avenida Brasil’, Carminha tinha descoberto que a sua empregada era a Nina, a menininha que ela havia abandonado no lixão; Pedro nem curtia muito novela (segundo ele) mas porra, isso foi foda pra caralho, e esses Nova Iguaçus? Novaguanos? Sei lá, esses caras estão falando do carro novo da Ford?! Fala sério…
    Ao chegar em casa e pesquisar, Pedro descobriu que quem mora em Nova Iguaçu são Iguaçuano.
    No meio da festa e no papo ruim ele viu uma loirinha super gostosa, não viu aliança no dedo então foi falar com ela (não que isso o impedisse de verdade, mas na festa do sobrinho não seria uma boa ideia), e ao abordá-la e rirem um pouco no canto da casa, Pedro mandou a clássica: 
    — Tá afim de sair dessa festa?
    — E ir pra onde? — Ela disse rindo, bom sinal.
    — Pro meu apartamento, podemos ver o Shrek lá —Isso não parece uma boa cantada mas foi, a conversa deles por incrível que pareça havia chegado no gosto dela por Shrek três, que Pedro não curte muito, acha a história do Arthur muito brocha, mas gosta bastante do primeiro e do segundo, acha uma boa trilogia (ele ignora o quarto filme).
    — Queria muito, mas meu noivo tá olhando pra gente.
    Noivo?! Caralho! — Ele pensou.
    — Noivo?! Cadê sua aliança!?
    — Ele não comprou ainda — Ela respondeu com um leve desdém, dando de ombros. Pedro olhou ao redor procurando o noivo dela, mas não achou ninguém.
    Voltou a olhar para ela e pensou se valia ou não a pena falar “Foda-se seu noivo, se fosse macho mesmo tu já estaria com aliança na mão e talvez até casada, vem na minha”, isso poderia dar uma merda do caralho (o que deu) mas a loira era muito gostosa, então ele mandou:
    — Foda-se seu noivo, se fosse macho mesmo tu já estaria com aliança na mão e talvez até casada, vem na minha.
    A loirinha olhou pra ele como se não acreditasse no que estava ouvindo, mas ainda assim gostando; antes que ela pudesse responder, seu noivo pegou Pedro pela gola da camisa e jogou no chão, a festa inteira parou na hora.
    Pedro se levantou e tentou apaziguar a situação, o que não deu muito certo, entre palavrões e ameaças próximas da beira da piscina o corno nada mansotentou dar um soco no rosto de Pedro que apenas saiu da frente e o deixou cair na água (com um empurrãozinho e uma perna na frente), depois é só confusão, gritaria e briga.
    Pedro nem é um cara bonito, nem feio, só bem normal, tem um cabelo curtinho, pele morena, um bigode fino junto de uma barba mal raspada e veste camisa amarela e calça jeans, mas sua lábia com as mulheres é invejável.
    ••
    Pedro segue na Via Light quando entra na direita e vê a entrada de Nilópolis, uma pedra retangular num planalto escrito “Nilópolis” e abaixo: Nossa cidade, nosso orgulho!
    Enquanto olha a placa pela segunda vez hoje, um cara numa Doblò passa do seu lado e grita “Freio tá ruim!”, e já é o terceiro a te falar isso desde que saiu da sua irmã.
    Puta merda… dia tá bom pra caralho…
    Ele aproveita o caminho e vai direto para seu mecânico, segue a principal, passa pela escola laranjinha lá que ele nunca lembra o nome, grita “Tonin!” Quando passa pela ‘Aviário, loja de frangos’ (bom nome), segue em frente ao cristal, passa direto pelo posto, quis evitar ouvir um monte de especialistas em porra nenhuma falar do seu problema no carro e vira a esquina na Av. Carmela Dutra, em direção a praça do chafariz.
    A praça do chafariz é o lugar favorito de Pedro, mas se sente um pouco envergonhado por não saber quem é o cara da estátua.
    É um maluco de bigode e roupa meio militar, devia ser alguém bastante importante e Pedro sente um pouco de pena por seu monumento estar meio pichado, e principalmente pela praça ser mais conhecida por seu chafariz do que pela memória do cara… mas não se dá o trabalho de procurar no Google.
    Mais à frente, logo depois da LifeFit e antes da passarela do trem (a perigosa, não a segura), Pedro entra no seu mecânico, um armazém aberto pra cacete com peças de carro pra tudo quanto é lado, e com os funcionários mais gente boa do mundo.
    — Fala aí Marcão! — Grita Pedro pro seu amigo, o dono — Boa tarde aí pessoal!
    — Fala piroca! — maldito seja o dia que te contei essa história — o que houve aí?!
    — Porra cara, tava voltando da minha irmã e uns dois caras me avisaram que o carro tava fazendo barulho ou sei lá — Pedro não entende nada de carros, se sente meio burro por causa disso e até inseguro em visitar mecânicos, só confia no Marcão.
    Marcão analisa o carro, manda um funcionário por no levantador pra verem por baixo e depois da uma olhada no motor.
    — Porra piroca, teu carro tá todo zoado, vai ter que trocar o alternador.
    Pedro nem pergunta o porque pois é um ignorante, o que Marcão falar ele acredita.
    — Quanto da isso aí?
    — Cara, um alternador pra tua carranca tá custando uns setecentos a oitocentos reais por ai, vai dar um preju pra tu.
    Porra…
    — Porra… — Pedro lamenta.
    — Pra alimentar o sistema — Diz Marcão tentando explicar — vou ter que trocar teu alternador, ele tá muito fudido.
    — Peguei a visão… — Mente Pedro — Mas eu consigo andar com ele ainda?
    — Cara… já consertamos o freio aqui então consegue, mas recomendo trocar logo o alternador porquê se der merda na rua vai ter que chamar o reboque, quando tu consegue comprar?
    — Essa semana ai, até quarta eu consigo sim.
    — Show cara, vou nem te cobrar a instalação.
    — Que isso Marcão.
    — Isso mesmo ‘cah’, tu é parceiro, faço isso aí de graça pra tu.
    “De graça” é como Marcão chama “Enganar otário”, de fato a instalação foi de graça mas alguns dias depois, após ir pro cinema e voltar pra casa, o carro de Pedro começou a dar problema de novo, e dessa vez Marcão cobrou pra consertar um problema que ele mesmo havia inserido, mas Pedro jamais desconfiou disso. Não deveria confiar tanto em Marcão.
    Voltando para aquele dia, o da confusão na festa e do alternador quebrado:
    — Brigadão cara, — Disse Pedro — qualquer coisa eu volto aí, e aí, tu continua jogando na loto? 
    — Sempre, tô sabendo que o próximo prêmio passa de cinquenta milhões, mas nunca ganho né cara, tá difícil!
    — Faz o seguinte cara, todo jogo teu, tu aposta duas vezes.
    — Porquê?
    — Porquê tu vai ganhar mais, porra!
    — Não faz sentido isso!
    — Não faz?! Se sair pra três ganhadores tu fica com quanto?
    Após pensar alguns segundos Marcão concluiu: 
    — Realmente…
    — Tô te falando garotão, se tu ganhar eu quero um milhão!
    — Só se tu passar o número das piranhas!
    — Que piranha Marcão? Pego ninguém não!
    Após algumas risadas Pedro foi embora com o sentimento de “tá andando tá bom”, mas receoso disso não durar muito tempo, e ao olhar pra praça do chafariz ele fica ainda mais.
    Vamo lá garota — Ele pensa enquanto esfrega sua mão no volante de forma carinhosa — não me deixa na mão, não na noite das viúvas!
                                  Capítulo 2
               A noiva do Carlinhos
          
    Eu não sou a porra da noiva do Carlinhos — Pensa Paulinha enquanto olha pra mulher que acabou de te chamar disso ao encontrá-la saindo do seu trabalho no Bob’s
    — Eu me separei dele tem seis anos, sou Paula, noiva de ninguém — Diz tentando não soar incomodada.
    — Ah sim, — Disse a dona — sabia que tinha te reconhecido, frequentei muito a escola dele lá, meus pêsames pela perda.
    — Ok, obrigada, tenha uma boa noite — Disse e saiu andando, a senhora claramente tinha mais coisas para falar mas Paulinha odeia quando a reconhecem por “noiva do Carlinhos”.
    Carlos Guimarães Luiz de Souza (Carlinhos) foi um dono de escola de samba em Mesquita, a “Barreirense de Mesquita”, Paulinha o conheceu num ensaio, na época que a escola ainda estava começando; Eles passaram meses namorando e se ajudando, ele pagando pra Paulinha suas dívidas e ajudando sua mãe, e ela o auxiliando na administração dos ensaios da escola.
    O relacionamento de Paulinha e Carlinhos começou a ruir quando ele fez algo que ela desprezou, tomou o terreno de uma senhora idosa pra si. 
    A senhora morava num terreno logo abaixo do viaduto de Mesquita, na Estrada Feliciano Sodré, ela dizia que seu marido havia trabalhado na construção do viaduto e por isso havia ganhado aquele terreno para viver com ela na juventude do casal, mas após o marido falecer e a senhora começar a ficar cega, bandidos a viram vulnerável e não demorou para invasões acontecerem, até que a escola de Samba de Carlinhos concretizou a tomada por completo, se instalando dentro do terreno da idosa e realizando seus ensaios e shows ali.
    A idosa foi tentar reclamar com Carlinhos que na frente de todos disse “A senhora não tem ninguém e está cega, daqui a pouco você vai morrer e a gente vai ficar com tudo, sinta-se feliz por deixarmos você com sua casa!”.
    Uma semana depois do término, Carlinhos já assumiu outra, uma piranha qualquer, e um ano após isso Carlinhos morreu, depois de se envolver com milicianos, sua escola foi saqueada por invasores e o que restou está lá até hoje, junto da senhorinha cega.
    ••
    Paulinha desce a escada rolante da praça de alimentação para o primeiro andar do shopping, saindo logo à frente da ‘Casa&Video’.
    O shopping de Nilópolis é o shopping mais humilde dos demais shoppings daquela região do Rio de Janeiro, três andares de um edifício não muito grande e com lojas sem grande conglomerados por trás, exceto o Bob’s que no ano seguinte iria sair dali e trocar de lugar com o Burger King, fazendo os nilopolitanos ganharem uma profunda admiração por um restaurante de fast food levemente menos fastque o anterior e tão gorduroso quanto; O shopping de Nilópolis também possui um cinema com três salas que possuem uma qualidade de som duvidosa e uma telona que não casa bem com seu projetor, Paulinha descobriu isso no dia que foi num encontro com um cara, o encontro foi péssimo e talvez isso tenha sido o motivo dela ser tão crítica com a sessão.
    Paulinha desceu a escada rolante novamente para o térreo onde na porta automática do shopping esperava sua melhor amiga: Brenda.
    Diferente de Brenda, Paulinha era gorda, não tão gorda mas o suficiente pra não aguentar se olhar no espelho; Diferente de Brenda, Paulinha era branca e também loira de cabelos meio longos, e também diferente de Brenda, Paulinha não dirigia, por isso sempre pegava carona na Shineray Jet 125 azul de sua amiga na volta pra casa.
    — Tudo pronto? — Pergunta Brenda, já com o capacete e com a moto preparada esperando sua amiga em frente à entrada do shopping que conectava com a Rua Professor Alfredo Gonçalves Figueira, que ia direto pro centro do calçadão.
    — Sim, ‘vambora’! — Ela responde colocando o capacete e se sentando atrás da sua parceira.
    Brenda acelera e entra na Alberto Teixeira da Cunha, parando no sinal logo à frente da padaria Topázio, o trânsito hoje está cheio (como sempre) e Brenda não espera sinal verde para ultrapassar os carros parados e ir embora, ela vira na esquina na subida da Avenida Getúlio Vargas e vira à esquerda na Antônio João Mendonça, passando com sua moto por cima de uma poça d’água fazendo Paulinha dar um grito de empolgação.
    Elas atravessam o viaduto (o velho do centro, não o novo lá de Nova cidade) e viram na esquina do Aydano, onde Paulinha mora.
    Paulinha mora nos prédios gêmeos de frente a frente no fim da rua, bem próxima ao Fantasy (casa de festas infantis bastante renomada e cara pra caralho), ela desce da moto de Brenda e devolve o capacete para a amiga.
    — Brigadona amiga — Diz a abraçando e beijando na bochecha — Me liga assim que chegar lá, tenho um negócio pra te falar.
    — Tem haver com homem?!
    — Porra, tem isso também!
    — Já estou ansiosa, beijos.
    — Beijos.
    Brenda espera Paulinha fechar o portão da portaria para poder ir.
    Paulinha sobe as escadas, justamente por odiar andar ela escolheu o primeiro andar para morar, seu apartamento é o 06, seu sofá é onde ela depositou suas economias, nele e em sua cama, o resto ela economizou ao máximo, seu sofá é bem próximo à porta da frente, que por sua vez fica ao lado direito da televisão de 40 polegadas (dada pela sua mãe), seu banheiro é com porta de correr (aquelas que fazem barulho infernal) e o resto é como você pode imaginar, simples e meio desarrumado.
    Paulinha liga sua televisão que está passando a novela das seis: Amor Eterno; Ela aumenta o volume e vai direto pro banheiro.
    Já durante a novela das sete: Cheias de Charme, Paulinha estava fumando seu cigarro Hollywood quando Brenda ligou:
    — Demorou pra caralho hein! O que houve?!
    — Tive que buscar o Fernando na casa da Bianca, tavam fazendo um trabalho de escola lá
    — Sei… — esse muleque vai engravidar essa menina ainda — Já tomou banho?
    — Sim, já tô na cama, o que você queria me contar?
    — Uma piranha me reconheceu quando saí do trabalho, me perguntou “Você é a noiva do Carlinhos?!” Com a cara lavada.
    — Meu deus, ainda? 2012 e essa gente comentando coisas de outra vida.
    — É porquê são um bando de filhos de uma puta isso sim, ainda me disse “meus pêsames”, pêsames o cacete, espero que ele esteja no quinto dos infernos, vou ter pêsame por ‘homi’ que me traiu com piranha?! Com vagabunda?!
    Brenda ri, já esta acostumada a ouvir absurdos.
    — E o tinder? — Brenda tenta mudar de assunto — Como ficou?
    — Tô ganhando curtidas aqui, mas a são tudo feio demais pra mim, ou é feio ou é negão — Paulinha não curte dormir com o que ela chama de “escurinhos”, não tem preconceito, só não rola — Tô numa maré de azar quanto a isso, mas tô conversando com um cara legal… — Ela diz essa última parte com mais desânimo.
    — De onde ele é?
    — Nova Iguaçu, tem carrão, é engraçado, acho que vai dar certo.
    — Tô na torcida — Brenda respondeu enquanto bocejava — Vou lá amiga, tô cheia de sono, amanhã a gente se vê.
    — Tudo bem minha linda, boa noite.
    — Beijinhos.
    Grande amiga…
    Após a chamada, Paulinha abre o tinder e checa suas curtidas, que continuavam no zero.
                          Capítulo 3
           O professor de kickboxing
    Brenda chegou em casa com seu filho às seis e cinquenta, eles moravam na ‘Rua do Valão’, como os moradores chamam a Avenida Periperi, por conta do rio imundo que corre no meio da rua e que os moradores nem sentem mais o cheiro.
    As sete e quinze ela saiu de seu banho, a casa de Brenda é bem mais arrumada que o apartamento de Paulinha, além de bem maior com um andar sendo somente para os quartos, e Brenda seu filho e seu irmão que acabou de chegar às sete e vinte se juntaram a mesa para um jantar em família (miojo).
    — Como foi no trabalho hoje, Marcos?
    — Um cliente lá levou o carro com problema no freio, fui dar uma olhada no motor e o alternador dele tava ‘ferradasso’!
    — Qual cliente? — Perguntou Fernando.
    — O piroca.
    — Que tipo de apelido é esse? — Disse Brenda.
    Após algumas risadas, Marcos explicou por alto:
    — É uma história que ele me contou de uma parada que ele fez, um dia eu conto com mais calma, — Olhou pro Fernando e levantou o tom de voz para um mais hostil e brincalhão — e tu muleque?! Tô sabendo que tava na casa da namorada né! Fazendo o que lá?!
    — Que namorada o que! — Disse o garoto, Fernando tem quinze anos, idade propicia a garotos, quando atraentes, a namorar, e Fernando não era feio, era um dos mais inteligentes da classe e estava estudando pra entrar num preparatório militar, e Brenda, como uma mãe extremamente protetora que é, já disse várias vezes que bateria em qualquer “Vagabunda que tentasse pegar meu filho”, no fundo isso não é tão verdade, mas ela jamais deixaria de compor essa personagem:
    — Acho bom não ser namorada mesmo! Se não meto a porrada nos dois!
    Marcos riu e Fernando corou.
    — E tu irmãzinha, — Disse Marcos — Como foi no trabalho?
     O de sempre…
    — Foi legal… o de sempre.
    Brenda trabalha numa loja de perfumes baratos no térreo do shopping, logo abaixo das escadas rolantes, começou como um bico mas a comodidade de ser próximo do colégio de Fernando e duas subidas do trabalho de Paulinha a manteve ali, Brenda queria ser rica (como toda boa Nilopolitana) e esse pensamento a levou a mudança repentina de assunto:
    — E a ‘loto’? Fez o jogo? 
    — Só comprei o Rio de Prêmios, — Disse Marcos — registra o número lá depois Fernandin!
    — ‘Jaé’
    — Pô falando nisso — Disse Marcos — sabe o que eu realizei hoje? Se jogar o mesmo jogo duas vezes, tu ganha mais se sair pra mais de um ganhador, tipo, pra três ganhadores, eu tendo dois jogos ganho mais!
    — Isso já não era óbvio? — Perguntou Fernando.
    — Porra muleque! — Voltando a fala hostil e brincalhona — tá me chamando de burro?!
    — Óbvio!
    Depois de rirem bastante, Fernando aproveitou o alto astral que sua mãe estava pra mandar:
    — Mãe, pode me colocar no karatê ali perto da Vila?
    — Fernando, já te falei que quando acharmos um barato eu te coloco
    — Mas lá é barato.
    — Não tanto quanto era na vila olímpica!
    — A vila era de GRAÇA mãe!
    — Vai esperar e acabou, Fernando.
    Com esse fim de janta frustrado e com Marcos lavando a louça Brenda foi para seu quarto, pequeno e mal iluminado, deitou em sua cama King Size e ligou para Paulinha, mas enquanto escuta sua amiga falar da vida, fica lembrando com certo rancor o porquê de Fernando não poder mais fazer kickboxing na vila olímpica.
    ••
    Algumas semanas atrás, Paulinha foi com ela buscar Fernando assim que ele acabasse a aula, elas estavam levando para ele um headset novo para entregá-lo de presente na frente dos colegas, o que seria bastante especial para ele certamente (a ideia foi da Paulinha), entretanto, elas chegaram mais cedo do que o previsto.
    A vila olímpica de Nilópolis é um dos locais mais famosos do município, sendo um ótimo lugar para lazer e esportes, o problema é que está localizada muito próxima da vila de Mesquita (que é bem melhor, mas não diga isso pra nenhum nilopolitano).
    As aulas acontecem dentro do pequeno edifício bem na entrada da vila, Paulinha e Brenda passaram pela entrada gradeada e quando entraram no salão de treinamento elas viram a merda: O professor estava dando uma banda pra machucar o Fernando.
    — Que porra é essa?! — Gritou Paulinha antes de Brenda pensar em dizer algo — É assim que você ensina seus alunos?!
    O professor corou na hora e os demais alunos ficaram observando a malucona loira gritar com ele.
    — Minha senhora, eu só estava mostrando pra ele como ele NÃO deveria fazer, ele havia feito errado o movimento, machucando o colega e eu só estava o corrigindo.
    — Não machucou não mestre — o “colega machucado” o corrigiu — E eu que atrapalhei o movimento, eu te falei.
    — Silêncio quando os adultos estão falando, Guilherme!
    — Silêncio nada! — Gritou Paulinha — fala mais aí Guilherme, o que houve?!
    A confusão atraiu a atenção de funcionários e outros pais que esperavam do lado de fora.
    Guilherme nem teria falado mais nada, mas os olhares de todos acabaram o fazendo dizer:
    — O… o Fernando tava… tava fazendo o movimento em mim mas eu acabei me desequilibrando e ele me derrubou da forma errada… o mestre veio intervir e repetiu no Fernando o que ele fez…
    Paulinha andou pelo tatame até o Fernando que estava ainda no chão e o levantou:
    — Tá tudo bem Fernando?! Vem, ‘vumbora’! — Disse puxando ele pra junto da Brenda.
    Ok, Brenda ficou puta, ela não gostou de saber que o professor tava fazendo isso com o Fernando, mas ela tava disposta a esquecer tudo aquilo e apenas dar uma bronca no cara, mas Paulinha foi longe demais…
    A verdade é que o professor havia descoberto naquele dia mais cedo de que estava sendo corno, sua esposa tava se encontrando com um cara na sua casa já fazia algumas semanas, ele nunca soube quem era o cara, mas tinha suas suspeitas; Ele levou a raiva pro trabalho e na primeira oportunidade que viu acabou descontando a raiva nos alunos, mas porra, tinha que ser justamente no aluno com uma tia maluca?!
    Ele tentou puxar o Fernando de volta pra continuar a aula e Paulinha soltou sua mão dele.
    — Tá maluco porra?! Tira a mão dele!
    Paulinha deu um empurrão no cara e jogou Fernando pra perto da Brenda.
    Porra — Pensou o cara — foi só uma banda caralho, quem é essa maluca?!
    E depois pensou:
    Caralho, eu não posso apanhar de uma loira gordinha na frente dos pais e alunos, eu sou a porra do mestre desses muleques!
    E quando Paulinha foi colocar a segunda empurrada com sua mão, ele usou uma técnica para virá-la de costas e empurrou levemente Paulinha pra trás para evitar confusão (tarde demais) dizendo:
    — Pra trás senhora, não quero te machucar.
    Agora sim, mandei bem — Ele pensou.
    Esse cara tá fudido — Pensou Paulinha.
    O que ele não sabia, era que Paulinha treinou boxe pela maior parte de sua vida, tento sido campeã de uma competição estadual em 2004, e outra coisa que ele não sabia, era que Paulinha amava pra caralho bater em homem.
    Paulinha virou pra trás num movimento rápido dos pés e se pôs em movimento de combate, com os pés justos e mãos levantadas, naquele momento o professor sabia que ela não era uma gordinha maluca… ok, ela não era SÓ uma gordinha maluca.
    Paulinha meteu um jab direto no cara, seguido de um cruzado esquerdo, o professor sentiu o sangue caindo sobre seu queixo: quem é essa mulher?!
    Paulinha meteu um jab direito mas ele esquivou, dando nela um jab esquerdo, e isso era exatamente o que Paulinha queria, ela tinha essa tática de fazer o óbvio para seu inimigo realizar um jab direito ou esquerdo, e ela sempre aproveita muito bem:
    Ela abaixou seu tronco e levantou com um uppercut direito, que deixou o professor desequilibrado, prontinho pro golpe final: a porra de um gancho bem dado.
    Paulinha foi com toda sua força num gancho bem no queixo do mestre de meia tijela, lançando o homem de quarenta anos e mais de 100 quilos no chão.
    — Me machucar é o caralho — Disse ela antes de ir embora com Brenda e Fernando, deixando o professor no chão, desacordado e com os alunos sem saber o que fazer; Desde então Fernando nunca mais pisou na vila olímpica… e nem Paulinha.
    ••
    — Vou lá amiga, tô cheia de sono, amanhã a gente se vê — Brenda não estava com sono, só lembrou da raiva que ficou de ter perdido o kickboxing de graça do Fernando e quis parar de falar.
    — Tudo bem minha linda, boa noite.
    — Beijinhos.
    No fim, até que é uma grande amiga…
                     Capítulo 4
                 A noite das viúvas
    Pedro sai da sua casinha humilde, entra na sua carranca já arrumado pra noite das viúvas: Jaqueta de couro, camisa branca com gola V, calça jeans e tênis da adidas.
    Ele da partida no carro e segue viagem, Pedro passa devagar sem abusar da segunda marcha pelas ruas de Nilópolis pois ele gosta de ver a cidade acordando a noite, e deixa eu te contar uma parada leitor: Nilópolis a noite é bonita pra caralho…
    Lua brilhando no céu sem nuvens, luzes dos postes batendo nos carros parados nas calçadas, lojas fechadas ou prestes a fechar com os portões já fechados mas com portinholas abertas atendendo os últimos clientes, o vento movendo os papéis de vereadores e prefeitos da eleição passada, poças de água parada nos buracos das principais, padarias e bares abertos com dezenas de cadeiras vermelhas de plástico com pessoas dos mais diferentes gabaritos conversando e bebendo, o som de televisões ligadas passando o jogo ou algum programa de tv aleatório e o cheiro confortável da brisa pós um gramado molhado, isto são as noites de Nilópolis.
    Pedro passa pela Mirandela, vira a esquina na Avenida Getúlio Vargas (a principal), segue reto até virar novamente na Antônio Mendonça e passa pelo viaduto, do viaduto da para ver grande parte do centro, de ambos os lados da linha do trem, o grande prédio amarelo do shopping, a primeira e a segunda estação de trem (a perigosa é a mais próxima), o prezunic, a rodoviária com suas colunas gigantescas e também a praça do chafariz, local para onde Pedro se desloca.
    Após o viaduto Pedro vira a esquina na Avenida Francisco Nunes, subindo o (Morro da cedae) onde ele vai virar à direita e descer a rua Senador Fernando Mendes e finalmente entrar à direita, abaixo do viaduto, e seguir até a praça do chafariz, onde está tocando bem alto ‘Aí se eu te pego!’ de Michel Teló, mas Pedro não identifica de onde o som está vindo exatamente.
    Ele deixa seu Uno vermelho 2005 na esquina da LifeFit e vai andando até a praça do chafariz, se senta num dos bancos de pedra que estava sem ninguém que ficam logo abaixo de um pequeno teto de madeira, e com seus óculos escuros ele analisa qual será seu primeiro alvo.
    Bem do outro lado da rua está o bar e Pedro sabe que ali está cheio de cornos em potencial, ele sabe identificar cornos, uma boa maneira que ele desenvolveu pra detectar dos do tipo motoqueiros por exemplo é pelo tipo de moto que ele usa, as que fazem barulho são pra avisar a esposa de que estão chegando, quanto mais barulhenta a moto mais chifrudo o cara é.
    Mas depois de uma merda que deu algumas semanas atrás com um professor da vila olímpica ele evita esse tipo de problema.
    Viúva não tem marido pra me bater 
    Observando as mulheres sentadas nos bancos da praça, a maioria com seus namorados ou só amigos, algumas até com crianças, Pedro procura alguma que esteja sozinha.
     Demora bastante pra encontrar, tenta olhar na direção de onde fica a rampa de skate, mas só acha mães esperando seus filhos pararem de tentar se matar (Pedro acha skate muito perigoso), olha pro quiosque em sua frente mas só encontra mulheres acompanhadas, olha pro bar e, porra, no bar eu não vou achar nada, e depois de alguns minutos de concentração ele encontra uma coroa.
    Ela é morena, parece ter uns quarenta anos, sem aliança e com uma boa bunda (típico de solteironas nessa idade).
    Segundo ele, as coroas são as mais fáceis principalmente as viúvas, pois:
    Elas já passaram por casamentos longos com um homem, por isso estão doidas por uma pica nova, um novo frescorEstão velhas e no fundo toda mulher quer um homem pra terminar sua vida ao seu lado, e quanto mais velhas menos oportunidades surgem, por isso o filtro delas é bem mais liberadoQuanto mais velha mas exige um homem homem mesmo, nada de fresquinhos e duros, elas querem homens que usam jaqueta de couro, óculos escuros e que tenham uma carreta da boa, tipo minha uno!
    Essa morena aí que eu vou carcar!
    Ela está de pé ao lado do chafariz, bebendo um copo de cerveja e mexendo no celular, poderia estar esperando alguém mas porra, vale arriscar.
    — Boa noite — Diz Pedro tirando seus óculos e colocando na gola — está esperando alguém?
    Ela não virou o rosto pra evitar o contato, o que para Pedro é um ponto positivo, apesar dela não sorrir:
    — Não estou não, só aproveitando a noite.
    — Noite bonita mesmo, ai, sabe de onde essa música tá vindo?
    Ela faz uma cara de “Porra, pior que não sei” e diz:
    — Porra, pior que não sei!
    Ela xingou, só preciso acompanhar.
    — Nem eu, estacionei meu carro ali e vim ouvindo essa caralha e sem saber de onde tava vindo!
    Ok, agora eu sou o cara que acompanhou o raciocínio dela e tem carro, tá mandando bem Pedrão, tá mandando bem!
    — Estranho mesmo. — Ela disse.
    — Mas e aí, qual é a do contemplar a noite sozinha, faz bastante isso?
    — Na verdade não, comecei recentemente.
    — Recentemente? — tem história aí — Porquê?
    — Eu… sei lá, só comecei.
    Mandou mal Pedro, isca errada! Isca errada!
    — Eu faço isso às vezes também, só começo as coisas… acho que veio com a idade sabe? Tentar coisas novas, sair da rotina… — Pega essa isca aí! Minhas iscas são verídicas porra! 
    Ela deu um sorriso:
    — Sabe, você deve tá certo, vem com a idade mesmo, — Consegui — Quantos anos você tem? 
    — Quinze — cinquenta e um
    Ela riu:
    — Sei, e eu tenho quatorze — Quarenta e um, gostei
    — Estamos na flor da idade! Qual seu nome? — Disse erguendo a mão direita e apertando a mão dela com força (só o bastante pra passar rigidez, não pra machucar).
    Isso aí foi seu pai que o ensinou, Pedro tinha realmente quinze anos quando seu velho o pegou batendo uma no quarto a noite.
    Eles ficaram um olhando para o outro com o pequeno Pedro sem ter mais como disfarçar, o cara entrou no meio da parada! Bate na porta porra!; Até que o velho disse:
    — Trate mulheres como se elas fossem as coisas mais interessantes do mundo, mesmo quando não forem, principalmente quando não forem, pergunte sobre elas e seja um cara gente boa e engraçado, antes de se apresentar faça ela ter uma palhinha de como você é, do seu senso de humor e de como você pensa, mas não o suficiente pra quebrar o mistério, e depois disso, quando for se apresentar, aperte a mão dela com força, a força que ela vai ter quando for pra cama, é sempre mostre sua força pra elas, mulher gosta de força, faça ela saber que se te trair, vai sentir sua força sem o carinho da cama, faça ela saber que tu é o macho alfa dessa porra, pra ter um bom aperto treine com um hand grip de academia e não com sua pica, tendo uma boa mulher não vai precisar mais bater punheta toda noite achando que nós não sabemos disso… sua mãe tá chamando, jantar está na mesa — e fechou a porta; O pai de Pedro faleceu divorciado e sozinho.
    Pedro aperta a mão dela com rigidez e ela diz:
    — Helena, o seu?
    — Pedro, Pedro Cunha — Porquê eu disse meu sobrenome?!
    Pedro comeu ela naquela noite, lá no motel Fluminense, próximo a Chatuba (a vendedora de materiais de construção, não o bairro de Mesquita), e depois de deixar ela em casa e voltar pro seu lar pra tomar um bom banho, seu carro deu pau na calçada,Você foi guerreira garota, obrigado por resistir até o fim, até a noite das viúvas acabar.
                         Capítulo 5
                Sobre arroz e feijões
    Paulinha era muito gostosa a uns dez anos atrás, desde novinha era a loira mais linda da baixada, vivia andando pra cima e pra baixo com as amigas e os ‘contatinhos’.
    Aos dezessete anos quando estava com as amigas numa festa na beija-flor conheceu um cara chamado Alexandre, mas todos o chamavam apenas de “Tinho”, e eles ficaram durante a festa; Após ficarem mais alguns dias, começaram a namorar, a mãe de Paulinha não aprovava isso, mas ela e sua mãe nunca tiveram uma relação tão boa.
    Na festa de aniversário de dezoito anos de Paulinha estavam todos bêbados, suas amigas Michele, Anjelica, Eduarda, Camila e Brenda (outra Brenda) estavam jogando o jogo da garrafa com os rapazes enquanto Paulinha lavava a louça.
    A festa estava ocorrendo na sua casa, e era pequena, sua mãe havia concordado com a festa em uma condição: A louça estar sempre limpa.
    Enquanto as amigas e amigos estavam na sala, Paulinha fechou a torneira e começou a reparar na água indo pelo ralo, ela não sabe bem o que te chamava atenção ali, apenas gostava de observar, foi quando percebeu que não estava ouvindo a voz de Tinho que deveria estar rindo com os outros enquanto os demais jogavam o jogo.
    Paulinha saiu da cozinha e viu todos sentados quietos em frente a tv de sua mãe, menos Tinho e Michele.
    — Cadê o Tinho?
    As amigas olharam umas pras outras e os caras riram, Paulinha deu uma corrida para o corredor dos quartos até que abriu a porta do seu e viu Tinho beijando Michele.
    ••
    Ela odiava essa memória, mas estava com ela em mente agora enquanto olhava a água da pia do Bob’s descer pelo ralo, até que seu celular vibra em seu bolso:
    — Oi, Brenda.
    — Vai vir ou não? Vamos almoçar ali no ‘sefieselvi’ em frente a Cacau-Show.
    Paulinha ri da amiga por não conseguir falar “self-service” e responde:
    — Tô indo.
    Elas saíram do shopping e cortaram caminho por dentro da Leader, Brenda ficava sendo chamada pelas roupas mas sempre tinha que ser rápida em acompanhar Paulinha que detestava esperar por causa de roupas caras.
    Elas passaram pela calçada do Bradesco e Itaú (que ficam lado a lado) e entraram no restaurante; Pegando a comida, Paulinha sempre reparava que o feijão vinha antes do arroz na fila, o que pra ela não fazia sentido nenhum!
    Após prepararem e pesarem seus pratos, escolheram uma mesa e começaram a conversar:
    — Devíamos ter ido lá no coxinha, lá eles não colocam o feijão antes do arroz.
    — Você sempre diz isso e eu nunca entendo o porquê.
    — Porquê isso tá errado! Não faz sentido nenhum você por um alimento sólido por cima de um líquido, vira uma sopa bizarra no seu prato!
    — O que propõe? — Brenda diz dando uma garfada numa banana frita.
    — O certo.
    — Que é?…
    — O arroz por baixo do feijão, isso molha o arroz sem o transformar numa sopa bizarra.
    — Mas após misturar, eles ficam do mesmo jeito.
    — Mas antes da mistura você pode escolher se vai ter um monstro no seu prato ou um alimento minimamente estruturado!
    — Eu acho que você tá exagerando, além do mas, você pode escolher pegar o arroz antes.
    — Posso, mas irritando o maldito que está atrás de mim na fila, “Foi mal aí gente, voltem a fila aí, é que eu não quero comer que nem uma filha da puta por causa do imbecil que colocou a porra do arroz depois da caralha do feijão!”
    Brenda ri pra cacete antes de mandar um:
    — Porra eu te amo, amiga!
    Paulinha da um sorriso e da uma garfada no seu nhoque de frango com gosto de purê gelado, e diz:
    — E a viagem, vai rolar?
    — Pra Rio das Ostras?
    Paulinha diz um “uhum” com a boca cheia.
    — Vai sim, já falei com o Antônio e ele disse que pode ir todo mundo, o problema é o dinheiro.
    — Tá apertada?
    — Poxa Paulinha, tô sim… eu não aguento mais esse emprego.
    Paulinha se sente meio culpada por ela ter arrumado o trabalho ali no shopping e a presença dela ter meio que prendido Brenda lá.
    — Já falou isso com seu irmão? Fala com o Marquinhos, ele conhece uma porrada de gente, com certeza consegue pra tu uma entrevista.
    — Ele já sabe, falei com ele ontem a noite depois de ligar pra você.
    — E aí?
    Brenda evitou dar detalhes, ela detesta preocupar sua amiga sobre essas coisas, a verdade é que depois de dizer:
    — Beijinhos — Pra Paulinha e desligar o telefone, ela chorou, depois de lembrar da parada do kickboxing e de não ter dinheiro pro karatê, Brenda começou a chorar no travesseiro, pensando na vida, pensando no seu emprego que odeia e pensando se seria forte suficiente pra ajudar Fernando depois que terminar o ensino médio, foi quando Marcos entrou no quarto com uma jarra de suco quebrada e viu sua irmã com os olhos molhados: 
    — O Fernando quebrou a ja… Que foi irmã?
    Entrou e fechou a porta, e disse:
    — O que houve? Aconteceu algo com a Paulinha?
    — Meu emprego Marcos, meu emprego é uma merda! 
    Marcos viu que era seríssimo quando ouviu a irmã xingando(Para Brenda, ‘Merda’ era palavrão); Ele colocou a jarra no chão e se sentou ao lado dela na cama.
    — Vai ficar tudo bem, eu… eu vou arrumar alguma coisa pra você.
    — Arrumar em que?! Eu não tenho estudo, não tenho nada!
    — Tu tem sua garra mulher, tem seu irmão pra te ajudar e seu filho pra te dar força, relaxa, vai dar tudo certo, tu vai conseguir um emprego melhor e vai conseguir pagar o karatê do muleque, eu vou te ajudar pow, olha pra mim, para de olhar pra baixo e olha pra mim… vai dar tudo certo. — E Brenda o abraçou.
    Foi isso que aconteceu, mas Brenda apenas disse pra Paulinha:
    — Ah, ele disse que vai ver.
    — Vai dar tudo certo pow, sei que vai…
    Paulinha era péssima em confortar, por isso acabou mudando de assunto:
    — E a loto hein? Viu quanto vai ser? Cinquenta milhões!
    — Vi sim, Marcos ficou de comprar hoje, tu acredita que ele descobriu só ontem que se apostar duas vezes no mesmo jogo tu ganha mais se sair pra mais de dois ganhadores?
    Elas riram e Paulinha disse:
    — Só teu irmão mesmo.
    — Da uma chance pra ele!
    — Sabe que eu não curto neguinhos, sem preconceito.
    — Sei… — Disse Brenda, sorrindo.
    — Mais aí — Deu uma pausa pra beber um gole do seu guaraná antártica — o que tu faria se ganhasse cinquenta milhões?
    — Compraria uma casa pra mim e uma pro Marcos, investiria na educação do Fernando e nunca mais trabalharia na vida.
    — É, é um bom sonho.
    — Sonho não, possibilidade… mas e você? O que faria com cinquenta milhões, ‘loirona gostosa’?!
    — Ninguém me chama assim a anos! Ah… acho que eu… nunca pensei nisso.
    — Sério?
    — Sim… sei lá, compraria um carro e… não sei, não sei o que faria, acho que só daria pra você e iria morar na sua casa nova.
    Elas riram da resposta e após acabarem o almoço voltaram pro trabalho, Paulinha deixou Brenda no térreo na lojinha de perfume e subiu as escadas rolantes pro seu trabalho; Assim que entrou no Bob’s o gerente disse:
    — Já tava quase te demitindo por justa causa! Bota seu avental e vai trabalhar!
    Vai se fuder seu filho da puta!!! — Foi o que ela quis dizer, ao invés disso, apenas ficou em silêncio.
    Quando chegou no seu armário e pegou o avental, seu celular vibrou de novo, e era uma notificação do Tinder: It’s a Match!
                            Capítulo 6
                    A vila olímpica
    Depois da noite das viúvas e de ter deixado seu carro quebrado na calçada, Pedro entrou em casa para tomar seu banho; Sua casa é pequena e humilde, não tem muitos cômodos e possui pouquíssima mobília, o que é típico de um homem solteiro. Na sala, há somente um rack onde está a enorme e pesada TV de tubo que sintoniza apenas dois canais: Rede Globo e Canal Oração.
    Ao entrar em casa, ele deixa sua jaqueta no sofá velho, os tênis sobre o pano de chão e o seu revólver .38 na cômoda (ele costuma deixá-lo no porta-luvas durante o dia e na cômoda da sala à noite), depois segue para o banheiro para tomar seu banho.
    No banheiro, ele liga a torneira da banheira e o rádio que está sobre o espelho. Ele sintoniza na 89.0, a Rádio Rock!, que está transmitindo "Your Love" dos The Outfield, justo na parte do refrão:
    I Just Want to use your Love Tonight 🎶
    I Don’t Want to lose your Love Tonight 🎶
    Pedro da uma dançada com o refrão e enquanto a banheira ainda enche ele vai até a cozinha, pega do congelador uma caixa já aberta de nuggets e põe numa forma, coloca no fogão (sem tirar as panelas sujas de dentro) e aquece a duzentos graus; No banheiro ele tira sua roupa e desliga a torneira, se deita em sua banheira fazendo a água subir até quase a borda e começa seu banho, enquanto a rádio agora toca ‘Blue Suede Shoes’ versão de Carl Perkins da clássica do Elvis.
    Após o banho Pedro comeu seu nuggets em seu sofá enquanto assistia ‘Chacrinha: O Velho Guerreiro’ no SuperCine; Pedro foi dormir as duas da manhã sabendo um pouquinho a mais sobre o Chacrinha.
    ••
    No dia seguinte, chamou o reboque pra levar seu carro até o Marcão, que disse para ele “Te falei que ia dar merda” e Pedro respondeu “Tô ligado Marcão”, o carro ficou na oficina enquanto Pedro teria que arrumar um jeito pra conseguir a grana do material, de algum modo tava aliviado por Marcão também não cobrar a instalação (o que teria suas consequências mais tarde), e por conta de perder sua maior companheira, a Uno vermelha 2005, ele decide ir andando até em casa.
    Pedro saiu do Marcão e foi andando o caminho de volta, passou pela estação da praça do chafariz, passou pelo calçadão de Nilópolis e quando chegou na Mirandela, na calçada das Lojas Americanas que viu fechando na noite anterior, ele já estava cansado pra caralho.
    Caralho… tô enferrujado… 
    Pedro sabia que seu eu de quinze anos atrás, quando ainda estava no exército, com certeza nem soaria ao voltar pra casa, até mesmo correndo, mas o eu de agora que só anda de carro pra cima e pra baixo e que trabalha cortando cabelos dia sim dia não tá zoado pra cacete.
    Preciso ir correr na vila olímpica…
    Pedro pegou um dos táxis do ponto ali da rua e foi até sua casa, vestiu sua roupa de exercícios que não usava a muito tempo:
    Camisa regata verde Short azul escuro da NikeMeias brancasTênis preto da Olympikus
    E com essas roupas, pegando sua carteira e chave e deixando o revólver em casa, Pedro partiu pra vila olímpica… de táxi.
    ••
    Ao redor do campo de futebol da vila olímpica tem um circuito onde algumas pessoas estavam andando, Pedro começou na pista de caminhada, deu cinco voltas e então entrou na pista de corrida, no final da primeira ele já estava respirando pesado e seu suor já estava entrando em seus olhos e ardendo levemente, demonstrando algum esforço ele limpou a testa e permaneceu correndo tentando pelo menos realizar mais duas voltas, mas ao chegar na metade do caminho ele tornou a andar, e foi assim que terminou o circuito.
    No bebedouro ele encheu um copo descartável de água gelada e deu três goles, deixando um restinho para jogar no rosto, e foi depois de sentir a água gelada em sua pele que ele viu Antônio… o professor de Kickboxing.
    Porra, esqueci completamente.
    Pausa aqui, tenho que lhes contar uma história: Pedro já foi dono de um bar!
    ••
    Em 2008 ele havia começado sua nova empreitada logo depois de ser suspenso do exército por uma outra merda, na época do bar o Pedro não sabia absolutamente nada sobre empreendedorismo, tanto que o bar faliu no mesmo ano, foi o que o fez virar barbeiro, mas o bar rendeu a ele algumas experiências, principalmente na “arte” de pegar mulher casada.
    Ficar atendendo vários homens casados o dia inteiro deu pro Pedro a chance de ouvir suas conversas, dentre as falácias sobre o Neymar ser o melhor jogador do Brasil (Pedro sempre foi muito mais fã do Hugo Souza, “esse muleque tem futuro” ele sempre diz), e conversas sobre seus trabalhos, eles sempre comentavam sobre suas esposas, claro que muitos falavam bem das patroas e sobre como gostavam de ser casados, Pedro respeitava esses, mas sempre tinham os que reclamavam e falavam de como as manias delas os incomodavam; Logo Pedro chegou a seguinte conclusão:
    Se eles não querem, tem quem queira! — Ele diz que foi ele quem inventou essa frase, mas provavelmente apenas viu alguém dizer no ‘Amigos de Nilópolis’.
    Em algumas semanas Pedro sabia os horários de serviço dos seus clientes, sabia os horários que eles bebiam e sabia quando suas esposas estavam sozinhas em casa, porra, sabia até do que elas gostavam!
    Ele contratou um garoto pra ficar atendendo por ele sempre que ele precisava “sair”, e nessas saídas ele sempre ia nas ‘casadas carentes’; Pedro comeu muitas bucetas nessa época, já fugiu pela janela centenas de vezes, já se escondeu em baixo da cama dezenas de vezes e já apanhou algumas vezes.
    Depois da ultima surra ele tinha prometido a si mesmo que nunca mais pegaria casada, por coincidência foi na mesma semana que o bar faliu.
    Ao abrir seu salão de beleza, algumas casadas que ele já tinha comido iam até ele pra “fazer o cabelo”, depois de comer mais algumas bucetas novamente, um corno foi lá e deu uma merda enorme.
    “Ok! Dessa vez acabou!” ele disse pra si mesmo num espelho, “Você não vai mais pegar casada nenhuma seu imbecil de merda! Tá me ouvindo seu imbecil de merda?! Hein! Você é um imbecil sim! Comeu bucetas até a porra do seu bar falir! FALIR PORRA! Você é um imbecil de merda que não arruma mulher nenhuma e vive sozinho na porra de uma casa desarrumada! É ISSO MESMO QUE VOCÊ É! Tem inveja da sua irmã é?! FODASE!”
    Naquele dia, ele havia bebido demais, mas seu discurso “motivacional” realmente funcionou… por algum tempo.
    De vez em nunca ele pegava uma casada, mas tomando bem mais cuidado, nesse meio tempo ele criou o prazer por viúvas, entretanto algumas semanas atrás ele conheceu uma loirinha sensacional lá na praça do DPO, ela não era muito inteligente nem nada, mas era uma baita duma gostosa, mas ele descobriu que ela tava namorando um professor da vila olímpica.
    Ok, Deu pra mim mas ela continuou ligando pra ele, chegou num ponto que ele não aguentou mais e foi pra cima, foi pra casa dela e pegou ela lá, supostamente ela havia pedido um tempo pro namorado, mas Pedro veio a descobrir que o cara não tinha interpretado dessa maneira.
    E foi ali, só de cueca samba-canção escondido no banheiro de um apartamento barato no centro de Nova Cidade (bairro de Nilópolis) que Pedro estava ouvindo a discussão:
    — Você é minha, Rebeca!
    — Eu pedi um tempo, Antônio!
    — Um tempo é pra você pensar na vida, pensar no que vai fazer, e não sair dando pros outros por aí!
    — Eu faço o que eu quiser da minha vida cara! Quem é você pra me dizer o que fazer?!
    — Eu sou o homem que tá pagando seu apartamento, caralho!
    Pedro sabia que o cara tava errado, sendo um controlador do cacete e tal, mas porra, ele entende o lado dele:
    O cara tá pagando o apê?! Pelo menos a mina tinha que ser clara em terminar logo né?!
    — Tá pagando porque você quer! Eu não te pedi nada!
    — Ou eu pagava ou você era expulsa! Tu não arruma emprego em lugar nenhum porque é uma burra do caralho! Uma inútil!
    Pegou pesado
    — CALA A PORRA DA BOCA!
    — ALGUÉM TEM QUE TE DIZER A VERDADE! SE NÃO VAI SER AQUELA MERDA DA SUA MÃE, VAI SER EU!
    — QUER SABER! EU DEI SIM, EU DEI PRO SEU MELHOR AMIGO, TAVA DANDO PRA ELE AGORA ALI NAQUELA CAMA QUE VOCÊ PAGOU!
    Agora ela pegou pesado, eu nem conheço o cara, golpe baixo, foi então que Pedro ouviu o barulho de um tapa, tava quase abrindo a porta pra ajudar ela quando ouviu o cara dizer:
    — Bate em mim mesmo, pode bater, bate no único homem que te ajudou nessa vida!
    Ah, foi ela que bateu!
    — Vai embora Antônio!
    Pedro tirou o ouvido da porta e instintivamente colocou a mão na maçaneta e quase abriu, Que merda que eu fiz?!
    — Quem tá aí?! Tem alguém no banheiro?! — Pedro ouviu o cara dizer. Nesse momento ele correu pra janela, abriu e pulou!
    A queda não era muito grande, só doeu o ombro pra cacete, correu pro seu carro, pegou a chave que escondia presa em cima do pneu, deu partida e foi embora ouvindo o cara dizer lá atrás: “Volta aqui seu ‘fela da pulta’!”
    E esse cara, era o Antônio, professor de kickboxing da vila olímpica que suspeitava do Pedro desde que o viu na mesma uno vermelha parado em frente a fábrica da Moleka, e que agora estava o vendo beber água no seu ambiente de trabalho.
    ••
    — Bom dia — Disse Pedro.
    — Boa tarde — Antônio o corrigiu.
    — Já passou de meio dia? Nem reparei…
    — Já… se exercitou bastante?
    — Sim, um pouquinho, sabe como é, tentando voltar a ativa.
    — Sei… você era do exército né? Dez anos atrás?
    — Sim, porquê?
    — Ouvi o pessoal falar por aí… foi dispensado?
    — Na verdade eu quis sair, tava cansado da vida lá.
    — Saquei… mas não é isso que falam.
    — Eu sei o que falam, não acredita neles não!
    Os dois ficaram se encarando, Pedro tava quase falando “Então vou lá, valeu valeu” quando Antônio disse:
    — Tu dirige uma uno vermelha né?
    Porra…
    — Dirijo sim.
    — Não vi ela por aí, veio a pé?
    — Sim.
    — Porquê?
    — Minha caranga tá quebrada, deu merda no motor, tenho que arrumar uma grana pra consertar, sabe como é.
    — Ah sim… gosta muito dela?
    — De quem?
    — Do seu carro.
    — Sim! Gosto muito, adoro ela, meu carro, ele, adoro ele.
    — Hum… qual seu nome? 
    — Pedro.
    — Prazer Pedro, sou Antônio.
    Apertaram as mãos e Antônio apertou com bastante força.
    — Prazer cara, é professor aí né?
    — Sou sim, sabe lutar?
    Pior que não
    — Pior que sim, manjo um pouco de karatê.
    — Que bacana… porquê não fica pra uma aula? Da uma olhada, só um teste pra testar seus músculos e tal, é de graça!
    Esse cara quer me encher de porrada
    — Não, valeu, quem sabe outro dia? Hoje eu tô bem cansado.
    — Que isso pow, é só um treininho, fazer um alongamento antes e tá joia, até pras crianças verem como é uma luta com artes marciais diferentes.
    — Não, valeu, fica pra próxima.
    — Tem certeza?
    — Tenho.
    Um silêncio constrangedor pairou até um faxineiro dizer:
    — Ô da água na cara! Tenta não machucar nosso professor, a gordinha loirinha já feriu ele bastante!
    Gordinha loirinha? A Rebeca era loirinha mas gordinha? Os padrões de beleza hoje tão muito bizarros…
    — Há há há! — Disse Antônio para as risadas que se seguiram dos colegas de trabalho.
    — Mas sério, valeu, quero não, tudo de bom aí professor! Boa aula! — Disse passando pelo portão e indo embora.
    Escapei de uma das boas agora… acho melhor eu andar só lá na mata por enquanto.
             
                              Capítulo 7
                Loirão gostoso
    Camila havia tido um péssimo dia, ela e seu namorado Jhonatan (ambos de dezessete anos) brigaram naquela mesma manhã por um motivo super idiota.
    Eles haviam feito uma descoberta sensacional de foda na noite anterior no drive-thru do Mc Donalds ali de Anchieta (na Rua Cardoso de Castro), enquanto ele dirigia e ela escolhia o pedido na placa, Camilla teve uma ótima ideia: 
    Se escolhermos um hambúrguer simples e pedirmos pra aumentar as quantidades e adicionar ingredientes, será que conseguimos montar um Cheddar McMelt sem ter que pagar o preço de um Cheddar McMelt?
    E levou essa dúvida para seu companheiro:
    — Jhon! — Ela disse fazendo ele desviar o olhar dos atendentes do outro lado do vidro para ela — Se escolhermos um hambúrguer simples e pedirmos pra aumentar as quantidades e adicionar ingredientes, será que conseguimos montar um Cheddar McMelt sem ter que pagar o preço de um Cheddar McMelt?
    A pergunta fez ele erguer as sobrancelhas em surpresa:
    — Porra, será?! Nunca pensei nisso!
    — Faz todo sentido né? A gente pede um Cheddar normal, pedimos pra adicionar mais cebola, mais carne, mais… mais tudo! Cada extra é só um real a mais, sai mais barato que o Cheddar McMelt!
    — Puta que pariu, por isso que eu te amo, vamos ver se dá certo!
    Deu certo.
    — Caraaaalho! Deu certo! — Ele gritou no carro, na volta pra casa — Isso foi genial!
    — Sim!!! — Disse ela rindo — imagina o que podemos fazer?! Tipo, um Quarteirão num DUPLO Quarteirão!
    — Duplo quarteirão?! Camila, eu tô falando de um Mc Lanche feliz num B-I-G M-A-C!
    Ela começou a rir com a ideia:
    — Sim!!! Vamos fazer isso! — Pegou o celular — Deixa eu falar isso pro pessoal!
    — Não faz isso não.
    — Porquê?
    — Pra ser uma sabedoria nossa, mô.
    — Saquei, saquei! 
    Camila continuou mexendo no celular.
    — Tá fazendo o que? — Perguntou Jhonatan.
    — Mexendo no insta…
    — Hm… tá falando com ninguém sobre isso não né?
    — O que? Eu acabei de falar que saquei.
    — Tudo bem.
    — Não confia em mim?
    — Confio.
    — Então porquê me perguntou isso?
    — Só pra checar.
    — Checar o que? Se eu tô mentindo pra você?
    — Camila…
    — Não vou mandar cacete, vai ser nosso segredinho idiota.
    — Idiota? Como assim idiota?
    — Saber como manipular o Mc Donalds é idiota.
    — É uma parada nossa, não fale simplesmente que é idiota!
    — “Parada nossa”? Parada nossa não é saber o preço das coisas do Mc Donalds.
    — Eu acabei de falar que é!
    Quando ele a deixou em casa ainda estavam discutindo, ela bateu a porta do carro e entrou; Na manhã seguinte ela havia ido na ‘Mata’ (como chamam o Park do Gericinó), onde Jhonatan estava andando de Skate com os amigos, ele a viu e correu pra abordá-la.
    — Porquê me bloqueou no zap? — Ele perguntou.
    — Porquê não tava afim de discutir.
    — Essa briga foi muito idiota Cah, vamos conversar? Parar com isso?
    Camila estava prestes a perdoa-lo quando ele disse:
    — Hein, Caro-Camila?
    — Quem é Carol?
    — Colega da gente que anda de Skate, foi sem querer desculpa.
    — Desculpa o caralho, sai de perto de mim — E seguiu andando sozinha a passos rápidos pela pista que leva ao mais fundo da mata.
    — Camila! — Disse Jhonatan chegando de skate nos pés — desculpa bebê!
    Camila se virou, empurrou ele e gritou:
    — Vai de skate lá pra Carol! Enfia o skate no rabo e vai andar sentado!
    E foi assim que Camila foi parar andando sozinha nos fundos da mata, com raiva e cansada.
    Ela havia acabado de passar pelo ‘Pau do Jacaré’ (apelido de uma trilha fechada na mata) quando um cara loiro e muito bonito a abordou.
    — Bom dia, tudo bem?
    — Ah… oi, tudo sim.
    — Eu acho que me perdi, estava procurando…
    Carol parou de prestar atenção no que o cara tava falando depois que ele disse “procurando”, ele era gostoso pra cacete, loirão de uns trinta e poucos, talvez trinta e cinco, alto e vestindo uma regata branca e jeans, com tênis da Nike.
    — Eh… sim, o que deseja?
    Ele sorriu e disse:
    — Me ajuda a sair daqui?
    — Claro! pode me seguir.
    Depois de alguns passos ele mandou:
    — Tu mora por aqui?
    — Moro aqui do lado, por isso venho sempre que posso.
    — Ah sim…
    — Gosta daqui?
    — Curto sim, é a segunda vez que venho, é bem bonito.
    — Demais né? Ver o sol se pôr aqui é muito rei leão.
    Ele riu e disse: “Tudo que o sol toca…”
    — Sim! — Ela exclamou rindo — eu amo demais.
    — É incrível mesmo, minha irmã tatuou o Simba bebê no braço.
    — Que lindo! Eu queria tatuar mas… meus pais são muito duros.
    — Ainda mora com eles?
    — Sim… tenho dezenove — mentiu — moro com eles ainda.
    — Bem, isso é ruim mesmo mas enquanto tu morar no teto deles, é melhor seguir as regrinhas, depois que envelheci vi que da adolescência pra cima, morar com os pais é o mesmo que morar de favor.
    — É uma merda mesmo, você mora sozinho?
    — Moro sim, em Nova Iguaçu.
    — Adoro lá.
    — Sério?
    — Sim, sei lá, parece ser tudo mais chique do que aqui, é a maior cidade da baixada né?
    — Deve ser… porquê tu tá andando sozinha por aqui?
    — Como assim?
    — Não quero me intrometer em nada, mas seu semblante é de alguém chateado, brigou com alguém e por isso tá aqui sozinha?
    — Cara… sim, briguei sim.
    — Hm…
    — Foi com meu namorado, meu ex namorado, ele fez merda atrás de merda aí eu só me desliguei dele.
    — É complicado isso mesmo, os caras perdem demais as oportunidades de não fazer merda, imagina perder uma mulher como você?
    Ela riu e disse: 
    — Obrigada, mudando de assunto, o que tu tava fazendo por aqui?
    — Vim arrumar meu esconderijo.
    — O que?
    — É, eu fui do exército há alguns anos, tenho bunker por aqui, mas admito que fazem anos que não visitava a mata, por isso me perdi depois que sai dele.
    — Pow que maneiro, mas o que faz nesse esconderijo? É pra algum ataque nuclear ou sei lá?
    Ele riu e disse:
    — Não não… só pra dar uma dormida, ouvir uma música em paz, assistir Rei Leão, essas coisas.
    — Poxa, que foda… posso ver?
    — Quer ver o bunker?
    — Um bunker na mata com música, cama e televisão? Claro, posso entrar lá?
    — Pode sim, vamos lá.
    — Pera, qual seu nome?
    — Jailson das Graças.
    — Eu sou Carol do Nascimento, prazer.
    — Nome bonito, prazer Carol.
    Ela riu antes de dizer: “Obrigada”
    — Bem, — ele disse — Só me seguir que eu mostro o caminho.
    Carol nunca mais foi vista.
                
                         Capítulo 8
               Tigres e esquilos
    Brenda deixou Paulinha em casa, a amiga loirinha havia dito que iria se arrumar pra sair com um cara novo do tinder, “Neguinha, eu vou transar!” ela gritou quando Brenda a deixou em seu prédio, fazendo Brenda corar por baixo do capacete preto.
    Ás 18:45 Brenda deixou sua moto em casa e entrou no carro de seu irmão para irem ao mercado, chegando no cristal as 18:47 (é bem do lado da casa deles), Marcos estacionou seu Palio ali no estacionamento em frente ao cristal.
    Brenda segurava a lista de compras que havia feito na noite anterior, logo após chorar no ombro do irmão e lembrar que precisava organizar as compras de amanhã, enquanto Marcos levava o carrinho.
                           “Lista de compras”
    Ovos (no sacolão é mais barato?)
    Batata pro purê com ovos
    Feijão e arroz
    Omo
    Amaciante da ipê
    Duas giletes
    Batata frita
    Dois óleos
    As caixas de leite
    1k de picanha (no cristal tá mais barato)
    Se sobrar dinheiro: Sucrilhos do Fê
    Brenda e Marcos já haviam completado a maior parte da lista quando finalmente chegaram na carne; Brenda havia ouvido alguns murmúrios dos clientes sobre o preço, uma senhora que estava conversando com uma amiga no telefone enquanto comprava biscoitos disse “O quilo da carne tá quarenta reais!” E também havia ouvido um casal discutindo depois de voltar do açougue “Cinquenta reais é um absurdo!” “Sim, demais”, e também havia ouvido um senhor dizer pra ela quando estava pegando as batatas e colocando na sacola:
    — A carne tá cara, absurdo isso, como que pode né?
    — Sim, absurdo… quanto está a carne?
    — Não viu? Meu sobrinho disse que tá sessenta reais o quilo!
    A verdade é que ninguém havia de fato visto o preço da carne, apenas murmurado a partir da reclamação de uma cliente de mais cedo que havia perdido sua carteira e se queixou da “falta de humildade” dos funcionários ao não abaixar o preço para ela ou vender fiado, mas diferente dos outros, Brenda foi ver o preço.
    — Trinta reais o quilo, senhora. — Disse o açougueiro.
    Ok, não é tão caro quanto quarenta ou cinquenta ou até mesmo sessenta, era um preço que Brenda e Marcos poderiam pagar, mas ainda assim não sobraria mas nada na carteira.
    — Vamos levar? — Perguntou Marcos.
    Brenda quer levar a carne, quer fazer o purê de batatas com ovos mexidos acompanhados de picanha pro almoço em família, mas ao mesmo tempo… fazia alguns meses que Fernando não comia sucrilhos, ele adorava desde mais novo os cereais com leite que aprendeu a comer com seus tios, antes do tio Aldemir falecer; Brenda esperava que dessa vez sobrasse dinheiro para comprar, ela até tirou seu hidratante da lista pra conseguir levar o cereal.
    — Irmã?
    — Ah… não, vamos comprar salsichas e o sucrilhos do Fernando.
    Marcos olhou para ela, olhou para a carne e tornou a olhá-la nos olhos e deu de ombros.
    Eles levaram o cereal.
    Ás 19:48 eles chegaram em casa, Fernando ainda não tinha chegado da casa da colega de trabalho.
    Marcos foi tomar banho enquanto Brenda ficou de guardar as compras; Batatas fritas no congelador, batatas normais no pote pra descascar, ovos na geladeira, feijão e arroz em seus respectivos potes, leite no armário… Fernando chegou.
    Da cozinha Brenda escutou ele fechando o portão e colocando a chave na porta de casa, ela pegou o sucrilhos da sacola e escondeu dentro do fogão. Na sala ela se apoiou nas costas do sofá enquanto Fernando abriu a porta e colocou as chaves sobre a estante.
    — Boa noite, sumido.
    — Boa noite, mãe. — Ele disse meio frustrado.
    — O que houve?
    — Nada não.
    — Nada não nada, o que houve? 
    — Nada mãe, vou tomar banho.
    —ok— Melhor não pressionar, pelo menos não agora — Fiz as compras.
    — Que legal. — Ele disse antes de virar o corredor e fechar a porta do banheiro.
    Adolescentes sabem ser irritantes…
    Terminou de guardar as compras enquanto ele tomava banho, ligou a televisão na Record e ficou ouvindo o jornal enquanto via stories de famosas fazendo coisas cotidianas; Fernando saiu do banho e subiu as escadas, sem olhar para ela…
        …Brenda foi atrás, quando abriu a porta ele estava com um short de dormir e passando desodorante.
    — O que houve? — Ela perguntou fechando a porta.
    — Nada.
    — Eu não vou sair desse quarto até você me dizer o que houve… foi a…
    — …A quem? Não tem ninguém, não tem menina nenhuma, não tem nada, já disse.
    Foi ela.
    — Sou sua amiga, sabe disso né? Além de sua mãe sou sua amiga, se você não me conta as coisas como eu poderei te ajudar?
    — Não quero ajuda.
    Você acha que não, sempre acham que não.
    — Ok… vou te deixar dormir, comprei seu sucrilhos!
    — O do tigre?
    — Tigre?
    — sucrilhos é o nome de uma marca que tem um tigre na embalagem, o nome do alimento em si é cereal, a senhora comprou o que tem o tigre?
    Brenda ficou em silêncio, não tinha visto tigre nenhum na embalagem apenas pegou um dos que apareceram, um com um esquilo ou algo parecido, e então disse:
    — Não, peguei um mais barato.
    A decepção nos olhos dele foram claras.
    — Ok, obrigado.
    Ela fechou a porta com o coração um pouco mais partido.
                       Capítulo 9
                   O espelho
    Paulinha se arrumou pro encontro, ao chegar em casa tomou um banho mais esforçado que o normal, enquanto ouvia em seu celular deixado em cima da pia, com o som virado para o chuveiro: ‘Hoje a Noite é Nossa’ do Jeito Moleque.
    Depilou as axilas e seu órgão, lavou o cabelo, bochechou a boca com o Listerine que comprou depois que saiu do trabalho (fazendo Brenda esperar do lado de fora da Pacheco bem na principal), passou ele antes e depois de escovar os dentes.
    “Só por precaução” pensou.
    Experimentou várias roupas do seu armário (e descobriu que odiava todas é que teria que fazer compras… o que também odiava) e acabou escolhendo seu vestido preto, foi com ele é uma sandália preta.
    Se olhou no espelho e pela primeira vem em algum tempo se achou gostosa.
    “Caramba, eu tô gostosa, até eu me comeria agora!”
    E se sentou no sofá para esperar pelo cara; faz tempo desde a última vez que Paulinha ficou com alguém, há oito meses ela saiu com um colega de trabalho, o Júlio, na época ele trabalhava com ela na montagem dos hambúrgueres, ela já havia reparado que ele olhava pra ela com certa luxúria, olhando pros peitos e pra suas coxas, ela ignorava o máximo que podia mas após algum tempo cansada de ficar recebendo as encaradas, ela disse pra ele “Seguinte Júlio, não quero você olhando pra mim, tô ficando incomodada” e a resposta dele foi um sorriso safado e os dizeres: “É difícil parar de olhar, são tão lindos”, nesse momento ela decidiu que daria uma chance pra ele.
    Eles saíram umas três vezes, na primeira, no hotel Fluminense, na segunda na casa dela e a terceira foi na escadaria do shopping, em todas as vezes Júlio gozou rápido demais; o que fez Paulinha parar de sair com ele e se afastar na hora do serviço, chegando até a trabalhar como faxineira pra se afastar do cara (não queria sair do trabalho, talvez por inércia, talvez pela amiga estar no mesmo prédio, talvez por não acreditar que trabalharia em outro lugar, ela não sabe ainda porque não saiu de lá).
    No mês seguinte a ela ir para as faxinas, Júlio virou gerente, trouxe ela de volta para a montagem de hambúrgueres e começou a cobrar ainda mais empenho dela, é um filho da puta.
    Mas isso foi a oito meses, desde então Paulinha tá no tinder mas só dá match em conta de adolescente punheteiro que ela acaba curtindo quando passa muito rápido e em idosos estranhos, mas finalmente deu match num cara agradável, pensa ela, num cara que pode ser aquele cara; e ele acaba de chegar no prédio.
    ••
    Paulinha passa o batom na boca mais uma vez e desce as escadas, quando chega no saguão e vê o cara parado ao lado do porteiro ela se anima:
    Quarentão, branco, cabelos castanhos bem arrumados, olhos pretos, gordo/forte, ombros largos, queixo protuberante e nariz largo, um homem bruto, charmoso e bem macho.
    — Boa noite rainha — Diz ele beijando as bochechas dela — vamos?
    “Não disse que estou linda…”
    — Boa noite meu rei, vamos sim.
    Ela se sentou no banco da frente, um HB20 branco, e seguiram viagem, ele a levaria até um restaurante de comida japonesa em Mesquita chamado ‘Jappa Temakeria’, haviam poucos pratos que Paulinha gostava da culinária nipônica, mas aceitou sem dizer nada pois o cara parecia entusiasmado em levá-la lá.
    — E ai, animada pra essa noite? — Ele perguntou meio que dando de ombros.
    — Aham, faz tempo que não como comida japonesa — Ela comeu um temaki há três semanas quando Brenda comprou um por entrega e deu pra ela provar e achou horrível, tempo faz é que ela não sai com alguém — tô com saudades.
    — Vai adorar o lugar.
    — Espero que sim, você parece animado em ir pra lá.
    — É, eu gosto bastante.
    — Hum…
    A viagem foi silenciosa, na verdade, o silêncio era muito confortável para Paulinha, ela gostaria mesmo de um companheiro que falasse pouco, mas… sentia que não era isso que estava precisando agora, ele falava bem mais no tinder, será que não gostou de mim?
    Como toda pessoa feia, Paulinha usava fotos antigas em suas redes sociais, talvez nem tão antiga assim mas fotos que elas se sentem “menos feias”, e Paulinha sentia que isso talvez fosse um problema nesse caso: “Ele me viu diferente da foto, viu como na verdade sou horrorosa, com essa banha, essa barriga grande e horrível, essa bochecha gorda e essa cara feia, quem gostaria de alguém assim? Deve estar se sentindo mal por isso…”
    Eles chegaram no restaurante, era um lugar pequeno, um restaurante de beira de rua, sem muitos lugares e meio apertado… mas a comida era realmente boa, ele escolheu todos os pratos do rodízio e Paulinha gostou de tudo que provou, não sabia o nome de nenhum deles e a forma como ela pronunciava virou uma piada entre os dois, uma piada que apesar de Paulinha rir, ficava super incomodada em ser ridicularizada.
    — Como descobriu esse lugar? — Ela perguntou entre uma risada e outra.
    — Meu amigo me trouxe aqui uma vez no aniversário da prima, achei meio pequeno mas a comida sempre me trouxe de volta — Na verdade ele comia uma funcionária, havia conhecido ela no tinder e vinha sempre pra cá buscar ela depois do trabalho, depois que terminaram ele ficou com receio em voltar a frequentar (terminaram mal) mas ao saber que ela havia saído decidiu que seria um bom lugar pra levar mulheres no primeiro encontro, mas essa história não pega bem não é? — gostou daqui?
    — Sim, a comida é ótima e acho que por ser pequeno, os funcionários podem atender mais rápido os clientes.
    — Poxa, não tinha pensado nisso, você tem razão.
    — Claro que tenho — Ela respondeu com um sorriso fechado, não mostrando os dentes “horrorosos! Horríveis! PÉSSIMOS!!”
    Ele sorriu de volta, um sorriso cheio, vivo, talvez sincero; eles conversaram sobre muitas coisas naquela noite, Paulinha contou a história do professor de kickboxing, contou sobre seu pai ter ensinado a ela o Boxe é incentivado ela a treinar, diferente de sua mãe que nunca gostou disso, e contou sobre seu trabalho, pulando a parte do gerente abusador.
    Foi uma noite agradável, comida boa, risadas, sorrisos… “e agora vem a melhor parte.”
    Após ele pagar a conta, entraram no carro e seguiram em direção a Nilópolis, novamente numa viagem silenciosa, tirando um ou outro comentário sobre a noite que ela fazia e ele concordava, passaram pelo centro de Nilópolis, Paulinha já estava preparada para entrar em um dos motéis da região quando ele passou direto, “pra casa dele então!”
    Ele passou pelo viaduto com ela, foi até a rua que ela mora e então… parou em frente a seu prédio.
    — Pode estacionar aqui na rua, ninguém vai multar não.
    — O que? Não não, eu tô indo, só vim de trazer.
    — O que?!
    — Vim te deixar em casa.
    — Você tá falando sério?
    — Como assim?
    — Não gostou da noite?
    — Adorei.
    — Não gostou de mim?
    — Gostei.
    — Teve um dia aborrecido?
    — Não, foi tudo bem.
    — Então porquê não quer me comer?
    Aquilo o deixou sem resposta.
    — Foi a foto não foi? Me achou diferente.
    — Não é iss—
    — Fala logo o que é! — Ela o interrompeu.
    — Olha, você é uma mulher engraçada, gente boa, inteligente, a noite foi ótima, mas… 
    — Mas?
    — Mas eu achei que você era diferente.
    “Não.”
    — Na foto você tá diferente — Ele continuou — Não é que eu não gostei de você, só esperava outra pessoa mais…
    “Gostosa.”
    — Diferente. — Ele concluiu.
    Paulinha ficou olhando para ele pensando “é claro que isso ia acontecer, era óbvio, sempre foi, ninguém fica com alguém gorda e feia que nem você, NINGUÉM, quando aprenderá isso?!”
    Ela então disse: 
    — Ok, boa noite.
    Saiu do carro, entrou no prédio e subiu as escadas.
    ••
    Na manhã seguinte ela acordou com seu despertador para o trabalho, dormiu sem tomar banho, de baixo da coberta estava nua, a roupa que foi para o encontro estava jogada pelo chão da casa e seu espelho estava todo quebrado e espalhado pelo chão.
    Ela desligou o despertador e se levantou, sua coberta caiu no chão quando ela se ergueu para se sentar na cama e enquanto olhava para seus seios e rosados e estrias na barriga, pensava em Tinho.
    “Eu deveria ter o perdoado, deveria ir até ele agora”.
    Ela se cobriu novamente e voltou a dormir.
                           Capítulo 10
                     Excentric
    Durante a noite de encontro de Paulinha e a ida as compras de Brenda, Pedro estava em casa assistindo novela enquanto pensava na vida sem sua caranga.
    Havia comprado o carro a sete anos e desde então foi seu novo melhor amigo, ele que ouvia suas lamentações, que ouvia seus desejos, seus segredos, que o levava até as casadas, até as baladas, até as festas de aniversário do sobrinho, ele que escondia sua arma! Seu revólver que agora fica sem segurança na prateleira de sua sala.
    Obviamente não foi a primeira vez que ele deu problema, Marcão já disse para ele diversas vezes que deveria trocar de carro, ‘Essa bicha é muito velha, Piroca!’ mas Pedro sempre ignorava seus conselhos, tinha carinho pelo carro, ainda tem.
    A novela tava boa quando Pedro decidiu que queria ir na balada no centro de Nilópolis, a Excentric; uma casa noturna com muita música, drogas, sexo e bebidas, tudo de bom! E Pedro tava com saudade de ir lá já havia algum tempo, claro que escolheu um péssimo dia pra matar essa saudade, “justo no dia que a caranga tá ruim?! Porra! “ Mas quem culpa os desejos do coração? ou no caso, os desejos do pau? Tomou um banho, botou uma roupa discreta e foi andando mesmo.
    A Excentric fica próxima ao shopping, na esquina da rodoviária, um prédio grande e bonito, com a faixada de madeira (pelo menos Pedro acha que é) com o nome em prateado; chegou lá as 22h, horário bom pra “observar a floresta.”
    Na fila tem gente de todo tipo, puta, ladrão, estelionatário (ladrão vem vestido), traficante, viciado, mulher bonita e gente de bem; o pai de Pedro havia dito pra ele que uma boa forma de conhecer o povo de uma cidade é olhando pra fila de sua balada, sempre tem um resumo dos moradores lá, é pra Pedro, essa é uma verdade absoluta (assim como muitas das coisas ruins que seu pai havia lhe dito).
    ••
    Não demorou muito para a fila andar e Pedro se deparar com o interior da balada: Som altíssimo, luz baixa, paredes e chão preto, um segundo andar lotado, uma pista de dança no centro menor do que deveria, um sofá preto na parede esquerda (nunca sente lá) com uma esquisita sentada e um barzinho na direita da entrada, “não é a balada que queremos mas é a que merecemos…”
    Dança, álcool e mulher “tudo que há de bom!”, era isso que Pedro queria pra esquecer a briga com a Irmã depois de ter estragado a festa do sobrinho, o muleque não merecia isso mesmo, festa estragada pelo tio vagabundo, ao invés de ir lá e ser um puta tio foda com uma tia tão foda quanto e uma prima gente boa, eu fui lá como um… “Porquê eu tô pensando nisso?! Vamo beber porra!!!”
    E durante uma hora e quarenta e três minutos, após seis cantadas bem sucedidas e dois peitos mamados, Pedro esqueceu seus problemas, esqueceu até mesmo de que não deveria sentar no sofá.
    — Caralho… — Disse numa tentativa de racionalizar a merda que havia acontecido na última hora — Caralho…
    Ele estava balbuciando e voltando a consciência quando olhou pra esquerda e viu aquela mulher esquisita que viu antes; Ela era branca, olhos castanhos escuros, cabelo preto com algumas mechas azuis e vestia preto, deveria ter uns vinte cinco ou trinta anos e tava bebendo cerveja.
    — Boa noite… — Disse Pedro.
    — Boa.
    — Vem sempre aqui?
    — Não.
    — Hm… nem eu, primeira vez…
    Ela permaneceu em silêncio, olhando pro próprio copo.
    — Me diz uma coisa, seu cabelo tá azul ‘memo’ ou são meus olhos?
    Ela sorriu e disse: São seus olhos.
    — Sabia que não podia confiar neles… já me traíram diversas vezes estes pilantras!
    — Deveria procurar um oftalmologista.
    — Um o que?!
    — Um o f t a m o l o g i s t a!
    — Ah, médico de olho! Deveria mesmo, mas já fui enganado por um deles!
    — Sério? Como?
    — No detran! — Pedro odeia o detran — fui fazer o exame pra tirar habilitação e o filho dá puta me fez voltar lá quatro vezes! Quatro! Sessenta reais cada consulta, tudo pro bolso dele!
    — Mais isso aí foi um caso do detran — Disse rindo — outros oftalmologistas não fariam isso.
    — Talvez, mas deixa feia a indústria né?
    — A indústria de médicos…
    — Não, a indústria de médios DE olho! Indústria médica é outra parada.
    — Como assim?
    — Medico de olho não é médico.
    — Ham?! — Ela exclamou, com uma cara de “Me explica isso aí, tiozão”.
    — Medico é o cara que trabalha no corpo todo, se o cara só trabalha com um órgão ele não é médico, no máximo um… mecânico, um pseudo-médico, um médico de olho!
    — Um mecânico! — Ela exclamou rindo pra cacete.
    — É forma de dizer — respondeu rindo também.
    — Tu deve fazer parte da galera que acha que veterinário pode cuidar de uma pessoa.
    — Mais é claro! — Pedro disse sério — Se tu pode cuidar de um macaco tu pode cuidar de humano!
    Ela riu ainda mais e Pedro começou a ver ela com outros olhos.
    “Que sorriso lindo, não tinha reparado nisso… e o cabelo dela é azul mesmo?… ou é a luz?… não, é azul sim.”
    — Qual seu nome? — Ele perguntou.
    — Débora, pode me chamar de Debra.
    — Prazer Débora — Disse extendendo a mão — sou Pedro, pode me chamar de Pedro — Ela não riu, “óbvio, piada de merda!”
    Eles apertaram as mãos e Pedro apertou com firmeza, como seu pai lhe ensinou.
    — E o que você faz, Debra?
    Debra se espreguiçou no sofá e colocou os braços por trás do encosto.
    — Eu sou animadora.
    — Que maneiro! Tu trabalha no que?
    — Faço colorização pra Cartoon Network, mas meu trabalho principal é com tatuagem.
    Pedro reparou que não viu nenhuma tatuagem nela.
    — Nunca vi uma tatuadora sem tatuagem.
    Debra levantou a camisa até a altura dos seios e mostrou na barriga uma tatuagem de uma cobra cercando um mundo, além de reparar na tatuagem, Pedro viu o quanto ela era gostosa, tinha a “barriguinha perfeita” sabe? Nem tão magrinha e nem tão gordinha?
    — Que maneiro! Que bicho é esse aí?
    — É a Jörmungandr!
    — Saúde!
    — Porra — Disse rindo — é a ‘iômungandir’! A cobra da mitologia nórdica que cerca o mundo!
    — Ah, maneiro, muito foda! — Pedro não entendia nada sobre mitologias — ela é gente boa?
    — Depende — Respondeu abaixando a camisa — Tudo depende na mitologia nórdica.
    — Porra, tudo depende até na vida real né.
    — Vida real? — Disse ela franzindo o cenho.
    — Sim ué, vida real.
    — É que pra mim isso é real, a Jörmungandr existe assim como os deuses.
    Pedro ficou chocado e apesar de achar que sim, não conseguiu esconder isso.
    — Você acredita nisso? — Apontando pra barriga dela — Na MITOLOGIA nórdica?
    — Claro, porquê eu tatuaria algo em mim que não acredito?
    — Pessoas tatuam pokemons no corpo e eu duvido de que acreditem que eles sejam reais.
    — Pessoas estranhas.
    — Ok… porquê você acredita?
    — Porquê faz todo sent— Ela se interrompeu com a própria risada — É claro que eu não acredito porra — Disse entre os sorrisos e risadas.
    — Porra — Disse Pedro também rindo muito.
    — Tu levou muito a sério!
    — Você é uma ótima atriz.
    Eles riram tanto que começaram a deslizar pelo sofá até se acomodarem novamente.
    — Graças a deus que tu não acredita nisso, graças a deus.
    Após terminarem as risadas com suspiros de alívios, Debra disse:
    — Eu não acredito em deus.
    — Posso conviver com isso.
    Ela olhou pra ele e completou:
    — Tô falando sério.
    — Eu também.
    Após um silêncio entre ambos que era terrivelmente destruído pelo som da música, danças e risadas da balada, Pedro propôs:
    — Bora no McDonald’s?
    — Bora.
    Pedro e Débora foram lanchar no restaurante que pede moedas para crianças com câncer, ele pediu um BigMac e ela um McChicken por ser vegetariana, após uma longa e divertida discussão sobre se comer animais era ou não imoral (Pedro acredita que imoral não é, mas é de fato ‘zoado’, menos peixes, pois em sua teoria, peixes não tem “alma”), eles foram caminhar pela noite iluminada e badalada do centro de Nilópolis.
    No fim da noite, Pedro a deixou no ponto de ônibus e aguardou com ela o Cabral passar, não tentou dar suas chamadas para motel, não tentou levá-la para seu cafofo, carinhosamente apelidado de “Marmita” e não tentou se convidar para casa de Débora, havia apenas pedido seu número após a conversa sobre peixes terem ou não alma.
                        Capítulo 11
       Uma Cedae abandonada?!
    Paulinha não iria trabalhar hoje, pôs isso em sua própria cabeça, hoje era o dia que começaria sua rotina para se tornar uma linda mulher.
    Ainda sentada em sua cama após acordar se sentindo péssima, ela pegou seu telefone e ligou para seu gerente, demorou um pouco para encontrar pois havia esquecido que tinha salvo o contato como “Demônio maldito” e não seu nome, César.
    — Fala Paula.
    — Bom dia, César. — Não vou dar pra esse cara nenhuma intimidade mínima nessa porra — Hoje eu acordei mal, não poderei ir.
    — Como assim?
    — Tomei uns remédios pra dormir ontem e acordei com dor de cabeça e enjoo, acabei de vomitar meu banheiro todo aqui, sujei tudo, as calcinhas — Íntimo ou não, isso pode convencê-lo — as roupas do varal, tudo tudo tudo! Não tô podendo ir hoje.
    — Pow Paulinha, precisamos de você, não pode ficar faltando assim não.
    — Abre seu computador aí e vê quantas faltas eu tenho cacete! 
    — Acalme-se!
    — Nenhuma! Zero! Nenhuma falta! Tô passando mal, não vem me comprar como se fosse uma funcionária ruim não! Não posso trabalhar hoje e nem pense em me demitir por isso… a meu Deus…
    — O que foi?
    — Vou vomitar.
    Nesse momento ela realmente vomitou, a parte dos remédios e dor de cabeça era mentira, mas a comida japonesa de ontem era verdade suficiente.
    O vômito caiu parte em sua cama parte no chão, sujando o tapete de pano que ela gosta de encostar os pés quando levanta e a fronha que, pra melhorar as coisas, já estava suja.
    — Ah… César… não posso ir, desculpe.
    — Eu ouvi essa… tudo bem, pode ficar em casa, toma um Dramin e se não melhorar vai no Jucelino, melhoras aí.
    — Obrigada, tchau.
    Ele desligou o mais rápido que pode.
    Contornando o vômito, Paulinha se levantou, tentando ao máximo não sujar seu seio esquerdo nem sua barriga com o líquido terrível que saiu de dentro de seu intestino, tocando seus pés no chão frio (bateu saudade do tapete quando limpo), ela foi até o banheiro tomar seu banho antes de sequer pensar em limpar o chão.
    Mais do que muita coisa, Paulinha odiava vômito, seu cheiro, sua aparência viscosa e hedionda, só de ver se sentia suja, e mais do que vômito ela odiava se sentir suja.
    Depois de por a fronha e tapete no lixo e já começar a pensar em comprar novos, Paulinha mandou mensagem para Xandi, seu amigo mototáxi, pedindo para levá-la na mata do Gericinó; Não gostava de lá, por ser muito longe e ter muita natureza pro gosto da Paulinha, mas a vila olímpica estava fora de cogitação.
    Como sempre, Xandi disse que já estava a caminho; Apesar de não curtir pegar um pretinho, Paulinha achava que o real motivo de não ficar com Xandi era esse fato: Ele fazia todas suas vontades, ela gostava de um amigo assim mas alguém pra ser seu homem? “Jamais, um marido que me dê presentes que eu queira seria muito bom, que me leve nos restaurantes mais caros é ótimo, que me leve onde eu gostar de ir e me de as roupas que eu queira seria fantástico, mas literalmente QUALQUER coisa que eu pedir? Como um pau mandado? Não, não curto isso… pelo menos não pra namorar.”
    ••
    Enquanto Xandi passava com sua moto entre os carros com Paulinha sentada na garupa, veio a ela um pensamento: Porquê não ir andando até o Gericinó? Claro que é longe, mas ficar gostosa não era seu objetivo? Talvez andar até lá e lá andar também seja…” não, não faz sentido nenhum, andar lá é o objetivo, andar até lá é suicídio, já é horrível andar com sol quente, pra que andar até lá pra já chegar com vontade de ir embora?”
    Com isso Paulinha chegou à conclusão que fazer exercício para fazer exercício era coisa de idiotas.
    Xandi parou a moto bem na entrada, havia primeiro passado pela entrada lateral, do estacionamento, mas havia inaugurado lá um armazém de peixaria e ele detestava cheiro de peixe, preferiu dar meia volta e vir pela entrada normal.
    Fazia um sol forte nesta manhã e nenhuma das pessoas presentes havia visto que o calor estava a exatos trinta e dois graus.
    — Obrigada, Xandi — Disse ao descer da garupa, ela vestia um short vermelho até o joelho, camisa regata branca e tênis de corrida — quando for embora posso te ligar?
    — Se eu não tiver levando cliente eu venho na hora.
    Pau mandado.
    — Certo, obrigada, tchau tchau.
    — Tchau loirona gostosa.
    Paulinha se virou e foi andando pela entrada gradeada da mata, o caminho sinuoso de asfalto entre a grama aparada e a pequena área de treino logo à frente do edifício de um andar lhe chamaram atenção, ela nunca havia vindo na mata antes? Acha que sim mas não se lembrava, a alameda que se seguia a esquerda era sem fim, com no horizonte um visual bem ‘Rei Leão’, o que já ganhou sua simpatia de cara.
    Enquanto andava pela entrada ao lado do quiosque, viu mais pessoas chegando a pé.
    — Otários… — Resmungou enquanto colocava seu fone e começava sua caminhada.
    Paulinha seguiu pela alameda e viu que o caminho se bifurcava em duas direções, seguiu a da esquerda foi em frente, só parando para trocar de música quando a playlist parava numa chata (e aproveitava esses momentos beeeem devagar, é uma boa desculpa, não?)
    Deem uma folga pra ela, leitores, ela nem sabe que decidiu começar a fazer exercícios no dia mais quente do ano, uma longa pausa pra trocar música é mais do que perdoável.
    Paulinha andou, andou e andou muito, até descobrir que usar camisa branca para isso foi uma péssima ideia, o suor marcava sua pele branca, seu umbigo, sua barriga, suas dobrinhas, tudo; por um segundo ficou preocupada sobre se havia ou não vestido sutiã mas pra sua sorte a Paulinha do passado recente colocou o mais confortável e discreto de todos.
    Neste dia, ela descobriu que havia uma sede da Cedae abandonada por ali, no portão havia uma corrente e o prédio era super sinistro, “daria pra fazer um filme de terror aí fácil fácil” pensou ela, e daria mesmo.
    Quando parou de olhar para a Cedae e olhou para o caminho que teria que fazer de volta… bateu o desespero.
    Calor não definia o que Paulinha sentia, seu corpo estava quente, suas pernas doloridas e sua cabeça não conseguia pensar coisas complexas com clareza, ela só queria beber a água que esqueceu de trazer e pedir pro Xandi… espera… “água que esqueci de trazer?”
    No seu apartamento lá no centro de Nilópolis, próximo ao Fantasy, dentro de sua geladeira da LG, sua água estava gelada, fresquinha e pronta para salvar vidas.
    “Puta que pariu!!!”
    — Ok — Começou a falar em voz alta — Eu posso pedir pro Xandi vir me pegar aqui, talvez possa entrar aqui dentro de moto… faz sentido isso? Entrar aqui de moto? Ah… Paula Guimarães de Mello, você é uma abençoada.
    E começou a andar o caminho de volta.
    Assim como Simba cruzou o deserto para voltar para casa, Paulinha estava cruzando o interminável caminho para chegar a entrada; havia mesmo feito esse mesmo caminho para chegar até ali? Não parecia… estava mais… mais longo.
    Seu joelho estava pouco a pouco se transformando numa máquina enferrujada, movida a poucos movimentos e prestes a quebrar, ela tentava ficar com a cabeça para cima mais sua coluna tendia a posição mais confortável… porquê vim até aqui? Não podia andar até a metade do caminho de e voltar?.. não… todos iriam ver, as mãe com seus cachorros, as crianças com seus skates, as idosas com suas… malditas idosas, como elas conseguem e eu não?
    No meio do caminho Paulinha não aguentava mais, apoiou a si mesma na madeira que separava o além mato do caminho asfaltado, da vida selvagem e a vida civilizada, das aventuras e… espera… Em Senhor dos Anéis, Frodo e seu amigo caminharam de casa até Mordor, (Paulinha não havia lido o livro nem olhado nenhum mapa mas imaginava que a distância deveria ser monstruosa), se aquelas duas crianças conseguiram atravessar um mundo inteiro, eu consigo chegar na entrada do gericinó! Eu consigo!
    ••
    — Um passo de cada vez.. — Era o que Paulinha repetia quase que num sussurro a cada passo dado em direção a salvação (a saída do gericinó), cada passo era mais difícil que o outro, mas pensando em seus personagens favoritos e nos desafios que eles haviam passado, ela continuou andando, andando e andando, até que enfim… chegou na área de treino bem próxima ao portão da entrada, onde uma repórter seguida de uma equipe de filmagem fazia perguntas para alguns transeuntes e pro atendente do quiosque. 
    Paulinha parou para se sentar numa área coberta com duas mesas de Pedra, se sentou na que estava vazia enquanto na outra, adolescentes acompanhavam de longe a reportagem.
    — Aí garotada, — Ela disse — o que tá havendo ali?
    — Uma menina desapareceu, — Disse um menino de cabelo enrolado — dizem que foi por aqui.
    — Com certeza foi por aqui, Daniboy! — Afirmou uma menina magricela de cabelos ruivos — todos viram ela aqui na última vez!
    — Mas ninguém acompanhou ela, pode ter ido embora.
    — Eu também acho que foi por aqui — Disse um meio careca de cabelos platinados — essa mata é muito grande.
    — Tô com o Matheus. — Disse uma branquela de óculos e cabelos negros.
    Ignorando a criançada, Paulinha respirou fundo… um, dois, três… respira… após se acalmar um pouco, pegou seu celular e ligou para Xandi, sem perceber que a bateria estava em 1%, as longas pausas pra música tiveram seu preço, o telefone desligou bem no meio da chamada.
    — O que?! — Disse ao ver a ligação parar de rolar e ao tirar o celular do ouvido e olhar para a tela, viu que seu aparelho salvador havia descarregado.
    Não houve grito de raiva, não houve batida na mesa de pedra e nem mordida no beiço, ela apenas aceitou, com desespero, seu destino.
    — Como cairia bem um sacolé que a Brenda fazia agora… — Disse com uma tristeza genuína.
    Paula Guimarães de Mello se levantou daquele banco como uma nova mulher, uma mulher que seria (teria que ser) capaz de andar todo caminho até sua casa do outro lado da cidade, assim como dois hobbits haviam feito num filme que ela havia assistido.
            Capítulo ‘douze’
                    Malhado
    Pedro acordou com uma chamada de sua irmã, pensou em ignorar novamente, olhou para os lados e percebeu que havia dormido no sofá, quando levantou para se sentar viu umas latinhas de Skol jogadas no chão, “Cara, você é imundo…é, eu sei.”
    O telefone continuava tocando, após uma respirada funda, ele atendeu:
    — Fala mana, bom dia.
    — Bom dia, porquê tá me evitando?
    — Não tô afim de escutar.
    — Ah Pedro… quantos anos você tem? 15?! Não aprendeu até hoje cara? Meio século de idade e continua esse mesmo cara?
    — Era isso que eu não queria escutar.
    — Você tá igualzinho ao papai.
    Isso foi demais pra ele.
    — Ok, tchau mana.
    — Espera… como você tá?
    Observando a latinha de Skol caída no seu tapete, sua arma em cima da cômoda e sua tv desligada na tomada por algum motivo que não se lembra, ele começou a pensar em qual resposta seria a correta, e com um amargor na boca ele respondeu:
    — Indo… e você?
    — Puta, quebrei o carro do Flávio ontem.
    — Cacete, como? — Disse se levantando e caminhando até a cozinha.
    — Fui levar seu sobrinho na pediatra e um cano em baixo carro quebrou.
    — Ué? Como isso? — Disse fechando a porta de seu banheiro no caminho após sentir um cheiro horrível vindo de lá.
    — Eu lá entendo de carro? Flávio levou pro conserto e tão ajeitando lá.
    — Ham… e o Vitinho, como ele tá?
    — Tá bem.
    — Bem mesmo? Pediatra foi para que então? Jogar dama? — Neste momento ele estava com o telefone entre o ombro e a orelha, usando as mãos pra lavar (dar uma molhada boa) na louça.
    — Foi só um exame de rotina, ele vai lá uma vez a cada seis meses… tá com saudade de você.
    — Espero que não só ele.
    — Eu também tô, mas o Flávio ficou meio puto, mais do que eu.
    — Eu também ficaria… quem era o cara?
    — Amigo de trabalho dele, sabe o que aconteceu depois daquela festa?
    — A mulher dele deu uma chave de buceta nele?
    — Quase isso, viajaram pro Caribe, dar uma “Refrescada no noivado” disse ele pro Flávio pelo telefone, noivado? Porquê não casam logo né?
    — O que uma chave de buceta boa não faz, hein? — Disse rindo, ela o acompanhou.
    — Não achei que você fosse dar em cima de alguém na festa.
    — Nem eu, a oportunidade aparece do nada. — Disse secando a louça e abrindo a geladeira, não tinha muita coisa além de meia cartela de ovos, uns saquinhos de hambúrgueres, manteiga quase acabando, metade de um pacote de pão PlusVita e uma caixa de Ades de maçã que ele acabou escolhendo pra matar o amargor na língua.
    — Vem aqui esse final de semana? Bebe uma com o Flávio e eu, assiste um jogo, ficar afastado demais tá parecendo que tu tá com medo de te julgarmos.
    — Eu sei que já julgam, mas relaxa que talvez eu passe ai — De repente se lembrou de Debra na noite anterior — e é… Ana, eu vou poder levar alguém?
    — Desde que não seja uma puta dessas “Boates de Dança” que você visita.
    — Há há, faz anos que não como uma puta.
    — Sei.
    — É sério, pagar é pros fracos — Disse se sentando em seu sofá novamente — Eu conheci uma menina maneira.
    — Menina?
    — Mulher porra — riu — uma mulher maneira, trabalhadora, gente fina…
    — Olha aí, fico feliz com isso, graças a Deus, vai se aposentar com ela?
    Pedro não havia pensado nisso, na verdade, nem gostaria de pensar.
    O que surgiu neste momento em sua cabeça não foi um pensamento de “Me aposentar de comer várias?! Jamais! Solteiro é vida!”, não, longe disso, mas no merecimento; ele merecia uma vida que sua irmã alcançou? Uma família, uma casa, uma mulher que te faça feliz sem que ele a afaste… merece? Fazem anos que não pensa nessa possibilidade.
    Aos 35 ele viu sua irmã se casar, e decidiu que já era hora dele também, porra, já passara da hora; aos 40 viu seu pai morrer, sozinho. A família o amava mas era aquele amor quase que inexistente, entende? Aquele amor que está mais nas palavras do que de fato num sentimento que vem do seu coração, como um primo distante, ou nem distante mas que não mora com você. Você o ama? É seu primo, sangue do seu sangue, mas você o ama? O conhece o suficiente para isso? Sabe de suas ambições, seus desejos, a pessoa que ele é e que construiu para se tornar, seus conhecimentos, preconceitos, maneirismos… saber todas essas coisas e ter um carinho, um afeto por isso, não seria amar? Pedro acredita que sim, e nenhuma dessas pessoas da família realmente sabia sobre seu pai.
    Um homem que afastou sua esposa, seus filhos e parentes, mas que em seu enterro vieram parentes que Pedro nem sabia que tinha, vestidos de preto e sendo gentis com Pedro, sua irmã e mãe, dizendo que os amava e que a família havia perdido uma parte dela, mas que prosseguiria firme e forte após aquele baque; para Pedro, a família nem existe mais, existe uma linha genética bifurcada, com famílias e mais famílias com pequenos núcleos de amor verdadeiro, assim como ele e sua irmã possuem, que sua mãe possuía com eles e que seu pai jamais fez parte.
    “Você está igual o papai… frase cruel de se dizer maninha, cruel.”
    — Espero que sim… vamo vê — Respondeu com um desânimo que veio do nada.
    — Certo, vai trabalhar hoje?
    — Vou, já já vou lá abrir a barbearia.
    — Beleza maninho, vai lá, te amo viu?
    — Também te amo, fala pro Flávio que pedi desculpas pela festa, e diz pro Vitin que na próxima vez que for aí vou levar um presente.
    — Não se promete coisa pra crianças, Pedro…
    — Eu vou levar, relaxa.
    — Ok, beijos.
    — Beijo.
    Desligou seu telefone e ficou sentado olhando pra casinha desarrumada e vazia, como a de seu pai costumava ser.
    ••
    Sua barbearia fica na rua Antônio João Mendonça (em frente ao bar do Sapo Maluco e bem próximo ao gericinó, de onde uma loirona gostosa caminhava para casa); Pedro abriu o salão e deu uma varrida no lugar, por ser seu próprio negócio ele decidia trabalhar só quando quisesse ou precisasse muito, não é uma decisão muito inteligente, mas para um homem que recebe dinheiro do exército por uma aposentadoria acidental, trabalhar quando quer está ótimo.
    O lugar é pequeno, apenas uma cadeira de clientela e cinco bancos de espera, o chão é ladrilhado em preto e branco e o ventilador de teto faz barulho, o que naquele calor de 32° era quase como ouvir o som de uma ambulância, barulhenta mas salvadora de vidas.
    Após arrumar tudo, foi até a entrada e girou a plaquinha para “Aberto” e se sentou no banco de espera aguardando seu primeiro cliente do dia, aquele que irá contribuir para o conserto de sua caranga.
    A clientela apareceu, os muleques de sempre com seus cabelos crespos ou enrolados; Muitas conversas surgiam entre eles e Pedro adorava ouvir e as vezes falar, dizer poucas palavras era o que ele adorava fazer quando cortava cabelo de crianças (com adultos ele mal puxava conversa, a não ser que fossem adultAs), pois dava para elas um ar misterioso, como se Pedro fosse um guru sábio e sempre com boas dicas e poucas (mas ótimas) histórias; elas discutiram sobre os cinquenta milhões da loteria e o que fariam se ficassem milionários, a maioria das ideias era comprar uma mansão, o que para Pedro não teria muito uso, ele não entendia muito bem porquê milionários compravam casas tão grandes, pra quê tanto espaço pra poucas pessoas?! Não precisa ser uma casinha minúscula que ele mesmo mora, mas uma casa maneira com quintal, varanda, talvez um espaço pra piscina, dois ou três quartinhos e uma sala maneira já tá ótimo, sem falar do IPTU que eles devem (ou não) pagar por isso né, mas enfim, ele não quis pensar muito sobre.
    — Pedrão — Perguntou Tiago, um garoto estudioso que morava por ali e que a mãe já havia dado em cima de Pedro — fala aí pra gente, qualé a do teu apelido?
    — Que apelido? — Pedro disse enquanto passava a navalha no pé do cabelo doutro menino — Pedrão? É um aumentativo bem simples.
    — Não se faz de bobo! — Disse um outro rindo como os demais — Tamo falando do Pedro Piroca!
    Alguns riram de soluçar. Pedro terminou em silêncio de cortar o cabelo do menino que já havia quase se cortado de tanto rir e então se virou para lhes contar a história, uma história que ele não se orgulha mas que é até que engraçada e vai dar pra tirar algum aprendizado para esses Zé ruelas.
                    Sub-capítulo
              Muleque piroca
    Seguinte, em 2006 eu tava namorando uma mulher que vou chamar nessa história de… Amendoim. Eu e Amendoim já estávamos ficando desde 2005, mas só assumimos sério mesmo em 2006, quando eu vim a conviver com o…
    “Muleque piroca!”
    Com o filho dela, que vamos chamar de Juninho.
    — Amendoim é mãe do Juninho? — Perguntou um dos garotos.
    Isso ai, agora não me interrompe; a Amendoim havia me dito algumas vezes que tinha receio de levar homem pra casa dela por conta do filho, dizia que ele era “Especial”, eu imaginei uma criança com síndrome de down ou alguma paralisia, ela nunca me explicou muito bem, nem gostava de tocar no assunto pra falar a verdade, o porquê eu só vim a descobrir nos meses seguintes.
    Como eu disse, ela nunca me levava pra sua casa quando ficávamos e nem no início do namoro, era sempre na minha casa ou em hotel, e eu gostava dela pra caralho, de verdade, ainda gosto por sinal mas não tenho coragem de aparecer na frente dela.
    — Terminou tão mal assim?
    O que eu falei sobre me interromper?
    Em 2006 começamos a namorar, bem na época da copa (ela ajudou bastante, tipo casais que se conhecem ou decidem se casar em época de eleição, a festa da euforia altera destinos…) e mais próximo do fim da copa ela finalmente me chamou pra sua casa, onde conheci o Juninho; Corpulento, olhos largos e distantes, barba grosssa e voz atarracada, apesar dos seus quinze anos, o muleque piroca! parecia um homem adulto, porra, ele parecia mais adulto do que eu!
    E não, ele não tinha paralisia e nem síndrome de down, ele tinha… algo mais, eu pesquisei várias doenças mentais que poderiam ser mas nenhum dos sintomas do Google batiam 100% com os dele, Juninho era… alguma coisa bizarra.
    Já vi ele cuspir num cachorro na rua, quebrar o brinquedo que a mãe havia dado pra ele no mesmo dia e começar a gritar e espernear quando trocavam de canal e tiravam do desenho, era um bebê gigante, um bebê cruel e… piroca.
    — É daí que vem o piroca?
    Calma que eu vou chegar lá.
    Bem nessa época fiquei mais na casa dela, fazíamos churrascos com a rapaziada, ficávamos vendo televisão a toa nos fins de semana, algumas vezes eu até dormia lá, e como ela era enfermeira, ficava bastante tempo fora de casa, foi quando passei a conhecer melhor o Juninho.
    Ele não gostava muito de mim, nunca disse isso mas dava pra sacar pelo olhar, quando ela ficava trabalhando eu ia lá dar comida pra ele, fazia um almoço legal pra gente e dava companhia né, mas o muleque por estar acostumado a ficar sozinho só gostava de ficar sentado no sofá vendo desenho o dia inteiro, esse é o mal da porra dessa geração! Escutem o que digo!
    Cansado da televisão pequena da Angé… Amendoim!
    — Angélica?! — Perguntou o garoto antes de começar a rir com os demais.
    Amendoim! Há há! Esqueçam o Angélica! Enfim, eu tava cansado da televisão da Amendoim, pensei em trazer a tv da minha casa que era maiorzinha, mas porra, início de namoro, ela vivia trabalhando, paixonite né, aquela coisa, eu acabei comprando uma televisão pra ela, uma da LG de quase cinquenta polegadas! Enorme! Obviamente eu ia ver o jogo nela, mas o objetivo foi mais agradar ela mesmo.
    Na noite que a televisão chegou ela ficou surpresa pela minha atitude, configurei a tv e fodemos a noite toda como recompensa pra mim, e nada de contar pros pais de vocês que eu disse algo desse tipo hein!
    E foi no dia de um jogo que sinceramente eu nem lembro mais qual foi, a raiva e tensão do dia me fizeram nem prestar atenção, que nosso relacionamento terminou mal pra caralho.
    Eu tava na sala assistindo a copa quando o Juninho saiu do quarto tele, ele disse:
    — Quero ver o ‘cartun netuork’!
    — Agora não Junin, tio tá vendo o jogo aqui, mais tarde a gente vê desenho.
    — Tá passando o desenho que eu quero ver agora.
    — Ele vai passar de novo depois, senta aí, vê o jogo do Brasil com o tio!
    Ele olhou pra tv e sem pensar duas vezes o garoto deu um socão na tela gritando “QUERO VER AGORA!”.
    A tela trincou, a imagem que antes era colorida e bela, estava metade rosa e com linhas brancas subindo e descendo… ah eu fiquei muito puto.
    — Juninho! Que porra?! — Eu disse me levantando e colocando a cerveja no chão quando ele pegou a televisão e tacou no chão pra finalizar o serviço.
    Eu também fiz algo sem nem pensar, eu dei um soco na barriga dele, ele se abaixou resmungando de dor quando eu dei outro no fígado e depois uma cotovelada nas costas, ele se ergueu e cuspiu no meu rosto, foi quando aproveitei o movimento para segurar seu pescoço e empurrar ele de volta pro seu quarto, joguei ele na cama e dei bons chutes na bunda dele e nas costas, quantos foram? Eu não sei, só sei que eu parei apenas quando ouvi ele chorando.
    Tirei a chave da porta e tranquei ele lá por fora, pus a chave no meu bolso e só querendo ir ver o jogo e evitando arrumar a confusão, eu só passei por cima da tv, peguei a cerveja e fui ver o jogo no bar.
    Naquela tarde eu não falei nada, não falei com os amigos do bar, só assisti o jogo mas nem lembro de olhar para ele, pra quem me olhasse de fora veria eu olhando pra tela sem reagir, enquanto aqui dentro de mim eu só tava pensando naquela merda… na televisão quebrada, foi cara aquela televisão, cara pra caralho e a Amendoim não merecia ter sua televisão quebrada, por isso assim que acabou o jogo eu me levantei e voltei pra casa ver se a tv tinha conserto.
    Não tinha, o vidro tava quebradaço e o plástico, ou ferro sei lá, tava todo fudido, aquele maldito tinha acabado com ela e o mais estranho era que ele não tava batendo na porta pra eu abrir nem nada, tava em silêncio lá dentro.
    Por curiosidade eu destranquei a porta e olhei lá dentro, ele tava deitado no mesmo lugar, parado.
    — Só falta você ter morrido agora! Seu viado!
    E ele começou a chorar de novo.
    — Se tá chorando tá bem — Eu resmunguei e voltei pra sala.
    Enfim, quando Amendoim chegou do plantão a televisão velha já tava no lugar, eu disse o que aconteceu sem citar a parte que espanquei o filho dela, ela lamentou o ocorrido, pediu desculpas por ele, ficou quase chorando mas eu dei meu aponho pra ela e mandei aquele papo de “Ele é assim mesmo, tá tudo bem, pelo menos tem você pra cuidar dele” e tal, ela foi lá no quarto dele ver como ele tava e nem reparou nos hematomas, ele tava de cobertor e o quarto tava escuro, naquele momento eu fiquei aliviado por não ter socado a cara do muleque.
    Quando nos deitamos na cama e nos preparamos para dormir, ela veio pedir desculpas novamente, dizendo que eu não merecia isso por ter comprado a televisão, foi quando eu falei o que não deveria:
    — Porquê você não interna logo aquele muleque piroca?
    As reações dos garotos no salão foram diversas, uns ficaram chocados, outro começou a rir e a maioria abriu um sorriso de surpresa.
    — É, eu sei, fiz merda.
    Amendoim gritou:
    — Como é que é cara? Do que você chamou meu filho?!
    — Desculpa — Eu tentei dizer entre os gritos dela, sabendo que eu estava errado.
    — Ele pode ter os problemas dele mas essa casa aqui é dele porra! Minha e dele! Você não vai passar por cima dele não! Antes eu interno você antes de pensar em me afastar dele! Você tá me ouvindo?! — ela se levantou e apontou o dedo pra mim:
    — Quem você pensa que é pra dizer isso pra mim dentro da minha casa?! Falando do MEU FILHO?!
    Enfim, deu uma merda do caralho, ela me expulsou da casa dela e com razão e no dia seguinte me ligou falando que viu hematomas nele e que ia chamar a polícia pra cima de mim, também com razão, por isso eu quebrei meu telefone, joguei ele no rio, troquei de chip e nunca mais apareci em Mesquita.
    Um ano mais tarde um amigo meu, que é meu mecânico inclusive, me perguntou sobre essa minha antiga namorada, e aí eu contei pra ele essa história com a condição dele nunca contar pra ninguém, no dia seguinte Nilópolis toda tava me chamando de piroca.
          Fim do sub-Capítulo
    Os garotos estavam chocados, demorou alguns segundos pra eles começarem a rir da história; Pedro os fez prometer nunca contarem ela para ninguém, e se contarem, trocarem os nomes e não o citarem ele, uma promessa que para qualquer um seria quebrada facilmente, mas para o Pedro, o barbeiro sábio da garotada, seria mantida talvez até aqueles pirralhos virarem adultos.
    Depois de cortar os cabelos dos garotos, Pedro quis dar uma passada em casa para almoçar, almoçaria na rua se não tivesse esquecido a carteira no sofá de casa.
    Ao fechar a barbearia ele olhou para o outro lado da calçada e uma gordinha loirinha estava sentada no chão, suando como se estivesse numa sauna e respirando fundo, ela olhou para Pedro e deu um sorriso que Pedro respondeu com um “Fala aí” e seguiu pra casa sem esperar resposta.
    Ao chegar na calçada de sua humilde residência, novamente reclamando por estar sem carro, ele viu um cachorro parado no seu portão, era um vira-lata preto de olhos amarelos e olhar sorridente; Pedro não o estava reconhecendo até o totó vir correndo na direção dele e pular no seu colo.
    — Ei… Malhado? É você?!
                 Capítulo 13
           Loiros e água gelada
       
    Paula estava cansada, faziam anos que ela não se sentia tão fadigada, a última vez que ela se lembra foi no treinamento antes dum campeonato de boxe que ela participou (e ganhou).
    Sua pele está toda oleosa, sua roupa encharcada de suor e sua camisa branca marcando sua pele, qualquer pessoa de longe consegue identificar o sutiã que ela está usando e as estrias em sua barriga; A pergunta que ela se faz constantemente é: Como eu, uma mulher que pratiquei esporte por mais da metade da minha vida, esqueci desse detalhe da camisa branca?, e essas são perguntas que não possuímos as respostas.
    Seu joelho doía sem parar, aguentar o peso de seu corpo a estava destruindo, cada passo era um esforço a mais que fazia sua alma estremecer e apenas o pensamento reconfortante de que em breve estaria em casa e ia beber AQUELA água, ia comer AQUELE bolo da padaria… espera, teria que passar na padaria antes né? Deixa pra lá então, só água estava ótimo!
    Água gelada, com a crosta de gelo apenas separando a água do plástico, sem pequenos pedaços de gelo quebrado que dificultam o ato de beber, apenas… o gosto da liberdade… da vida.
    Mas isso tinha que esperar Paulinha atravessar metade da cidade, o que estava se provando mais lento do que ela imaginava.
    Ela sabia que bastava seguir uma linha reta depois da saída da mata que ela chegaria em sua casa em algum momento, mas esse ‘em algum momento’ tava foda. Enquanto andava pensava em sua mãe, que assim como as pessoas que olham para ela em sua caminhada, a julgava o tempo todo, desde a loirona gostosa até a atual gordinha ex noiva do Carlinhos.
    — Nunca era o suficiente pra você né, mãe? — Disse em voz alta quando estava mais distante das pessoas nas calçadas.
    Teve um momento em que uma picape passou com quatro caras sem camisas na caçamba, no som deles tocava um funk super alto e o motorista fez questão desbatizar um pouco para buzinar para Paulinha e gritar “Cooorre gordinha! Cooorre!!” Fazendo seus companheiros na caçamba rirem e alguns moradores que observavam em suas varandas e portões disfarçarem os risos.
    Paulinha reagiu com o silêncio, como qualquer pessoa gorda já estava acostumada a humilhações públicas e dessa vez não reagiria diferente, na verdade cansada como estava, até mesmo aceitaria carona daquele escroto se ele oferecesse mesmo que zoando.
    Paulinha não tinha o medo intrínseco a qualquer mulher de andar sozinha, apesar de saber que o mundo é tomado por caras e que qualquer desconhecido é um possível estuprador, ela não se amedrontava, no fundo sentia até que teria o prazer de encarar um de perto pra meter a porrada nele até o cara sangrar, era o que dizia para Brenda sempre que a mesma ficava com medo de andar com ela em alguma rua esquisita.
    Mas essa falta de medo não impediu Paulinha de rezar para nada acontecer no caminho de volta, ela já estava exaurida, dorida e em desespero pleno, não suportaria algo tão terrível, e algo em sua cabeça (que ela preferiu acreditar ser a voz de Deus) disse para ela seguir em silêncio, não falar com ninguém, não responder humilhações ou insultos e apenas seguir em frente.
    Após minutos e mais minutos andando, ela finalmente deu a primeira de muitas paradas para descansar, se sentou num banco de praça. Pegou o celular no bolso e tentou ligá-lo novamente numa vã tentativa e depois olhou para seu reflexo na tela preta, estava toda ensebada e com o cabelo sofrendo por isso.
    Usando o suor para arrumar o cabelo de uma forma menos desagradável, ela guardou o telefone no bolso e olhou em volta, viu uma mãe passar protetor solar no rosto de seu filho, viu uma vendedora trazendo um ventilador pros seus clientes e numa casa de gente rica, viu gente tomando banho de piscina.
    — O quão quente tá hoje? — Perguntou novamente em voz alta mas dessa vez obteve uma resposta:
    — Trinta e cinco graus agora.
    Paula se virou e reparou num homem alto, loiro e bem bonito de pé ao seu lado.
    — Bom dia — ele disse — tudo bem?
    — Tudo sim, bom dia — Disse abrindo um sorriso que foi correspondido.
    — Você veio do gericinó, certo?
    — O que entregou?
    Ambos riram e o cara prosseguiu:
    — Sabe me dizer se tem repórteres mesmo lá? Ouvi dizerem e queria dar uma olhada.
    — Tem sim, pelo menos tinha quando eu estava lá, é sobre uma menina que desapareceu, uma barbaridade.
    — Meu deus, que horrível… espero que encontrem ela, mas acham que foi alguém?
    — Acham sim, esse mundo de hoje tá foda né.
    — Tá sim, tá uma merda — Disse ele com uma empatia sublime, uma preocupação visível nos olhos — Os jovens não podem nem mais andar lá em paz? Que absurdo…
    — É… — Paulinha não soube o que responder, estava ocupada demais encantada com o loirão gostoso.
    — Bem, eu vou lá, e prazer — ele estendeu a mão — sou Léo — mentiu.
    — Prazer, sou Paula — apertou a mão dele com um sorriso verdadeiro — Você vai sempre lá?
    Ele demorou alguns segundos para formatar a resposta:
    — Vou sim, tentar manter o corpo né, e você? Tá indo também?
    — Sim, comecei recentemente, tentando ficar menos horrorosa.
    — Que isso, não fala assim, tu é mó gostosa.
    — Sério? — Disse rindo.
    — Sério pow, loirinha, simpática, não se reprime não.
    — Esqueceu a parte do gordinha.
    Ele sorriu e sussurrou:
    — Mais partes pra pegar.
    Paulinha deu um olhar malicioso e foi respondida da mesma moeda, até que ele finalizou:
    — Mas eu vou lá, quero ver esses repórteres, se um dia a gente se vê lá conversamos mais.
    — Show, vai lá loirão.
    Ele riu e disse:
    — Tchau loirona!
    E essa foi a primeira vez que Paulinha teve contato com Sailson.
    ••
    Sua jornada estava longe de terminar, em uma de suas paradas para aliviar o joelho, ela reparou num cara de talvez uns cinquenta e poucos fechando uma barbearia, também era gatinho por isso Paulinha deu um sorriso pra ele, o cara a encarou por alguns segundos com cara de tacho e enfim disse meio sem jeito:
    — Fala aí.
    E saiu andando.
    — Filho da puta… — Resmungou Paulinha.
    Ao longo do progresso foram muitas paradas.
    Num mercadinho, num bar, na parede do Habibs, na rodoviária, no viaduto, até mesmo na padaria na esquina de sua casa, Paulinha aproveitou cada parada o máximo que pode até que finalmente chegou em seu prédio.
    Olhar para ele era difícil, tão alto e tão… salvador… Paulinha estava já delirando de cansaço, e foi na escada que ela teve vontade de matar um; Em momentos como esse, quando se está muito perto de um objetivo que precisou de muito esforço para acontecer, a ansiedade aumenta até o limite, e quaisquer esforços para te impedir de chegar nesse objetivo você retalha com seu ódio mais profundo, no caso de Paulinha os esforços eram seus ossos.
    Ela chegou a dar um soco em sua própria coxa num excesso de raiva por não conseguir subir a escada como queria, apesar de morar no primeiro andar ela estava demorando mais do que pretendia, e quando finalmente chegou em seu apartamento ela chorou, lágrimas de vitória, finalmente os Hobbits haviam queimado o anel no vulcão.
    Rapidamente fechou a porta, tirou a roupa suada inteira ficando completamente nua e abriu a geladeira e bebeu a garrafa de água inteira, quer dizer, quase inteira, parte da água ela usou pra jogar na própria pele.
    Pós o telefone pra carregar e partiu para tomar um banho que merecia.
    Desse dia em diante, Paulinha nunca mais saiu com o telefone com no mínimo 70% carregado.
                Capítulo 14                       
           Tentando algo novo
    Brenda está na Via-Light, mesma rodovia onde Pedro atravessava no início desta crônica, a diferença é que ela está com sua moto indo no sentido contrário, em direção a Nova Iguaçu, lar dos Iguaçuano.
    Brenda tem uma entrevista de emprego marcada, na noite anterior foi surpreendida por isso quando seu irmão Marcos foi até seu quarto com a novidade, disse que algum cliente estava precisando de uma nova atendente pra loja de roupa dele e que o cara pagava bem, Marcos juntou um mais um.
    Sua euforia foi tanta com a possibilidade de um emprego melhor que aquela porcaria de vendedora de perfume que nem mesmo ligou para seu gerente avisando a falta, no fundo sabia que estava errada mas quis se dar esse prazer.
    Brenda chegou em Nova Iguaçu as 8:27 da manhã, atravessou os corredores de carros com sua moto com precisão (como sempre fazia) e nem mesmo precisou de gps, lembrava o endereço de có.
    Com sua motoca ela passou pela Art-Pão, seguiu à esquerda e entrou nas vielas do centro, entrou no calçadão e passou pelas lojas de beira de calçada até encontrar o estacionamento ao lado da farmácia. Depois de deixar a moto em segurança, seguiu as instruções de Marcão sem pegar no celular para conferir (queria se desafiar), seguiu sempre pela direita, entrou na principal entre os grandes varejos, virou a direita após as Lojas Americanas, virou uma vez para a esquerda e outra para a direita e finalmente alcançou a loja de roupas.
    Foi recebida por uma senhora no balcão.
    — Bom dia, sou Brenda, o senhor Bruno marcou uma reunião comigo.
    — Bom dia Brenda, o senhor Bruno não está, passou mal esta manhã—
    — Ah que pena.
    — Mas seu sócio Felipe está lá em cima, vou dar uma ligada pra ver se ele realiza sua reunião, tudo bem?
    — Poxa, obrigada.
    As duas cruzaram sorrisos e a senhora ligou para o andar de cima, uma voz atendeu e o sorriso da senhora se foi na mesma hora.
    A conversa foi rápida, se resumiu a “Senhor Fernando, a Brenda, que marcou uma reunião com o seu Bruno tá aqui, mando ela subir?” E um rápido “ok, já mando”, ao desligar o telefone o sorriso tímido voltou:
    — Ele a aguardava, pode subir.
    — O nome dele não era Felipe?
    — É sim, mas ele não gosta de ser chamado assim, prefere Fernando.
    — Ok… obrigada novamente.
    Brenda subiu as escadas terrivelmente íngremes que qualquer pessoa mais gordinha desistiria só de olhar, se pegou imaginando Paulinha na sua situação e deu um sorriso quando imaginou ela dizendo “desisto do emprego, vô nessa”.
    Ao chegar no segundo andar, viu armários e mais armários com roupas ensacadas, duas meninas que nem repararam nela estavam empacotando algumas peças e colocando tudo no canto da sala, o corredor que se seguia após isso dava num escritório enorme com duas mesas, uma pequena e mais escura que ficava na janela e uma enorme e iluminada que estava bem no centro, onde seu entrevistador é possível futuro chefe a aguardava.
    Fernando (Ou Felipe) era enorme, um corpo hostil, um olhar uniforme, mãos assustadoras e fez Brenda se perguntar o que ele fazia quando alguém lhe chamava pelo nome que não gostava… e qual era mesmo?! Não consigo me lembrar! O nome dele é Felipe mas prefere ser chamado e Fernando ou o contrário?; Ele ergueu seus óculos da ponta do nariz até encontrar o lugar mais confortável e olhou para Brenda com seus olhos negros de boneca.
    — Olá, Brenda.
    — Olá senhor… bom dia.
    — Bom dia, sente-se por favor.
    Devagar e sem tirar os olhos do olhar inexpressivo e sinistro de Fernando ou Felipe, Brenda se sentou na cadeira em frente a mesa.
    — Trouxe seu currículo, Brenda? — Ele diz bem devagar.
    — Trouxe sim, senhor.
    Com relutância visível, abriu sua bolsa e tirou o currículo e o colocou sobre a mesa, ignorando a mão de Fernando ou Felipe que esperava receber o papel.
    Felipe ou Fernando estava com a mão no ar ainda, seu olhos encarando o currículo que foi posto na mesa, e rapidamente voltou seus olhos para os de Brenda que estava tensa, ele desceu sua mão até o currículo e começou a lê-lo, olhando para Brenda por cima do papel uma vez a cada 10 segundos.
    — Algum problema, senhor?
    — Hm?
    — Está lendo meu currículo a bastante tempo.
    — Ah, é porquê ele é bem interessante, aqui diz que você trabalhou por três anos como vendedora de perfumes na perfumaria Souza, e que largou recentemente… porquê?
    — Senti que deveria explorar outras áreas, estava me sentindo sufocada lá, fazendo a mesma coisa sempre.
    — Entendo…
    Um silêncio sepulcral se instalou, ele continuou lendo e relendo o currículo de Brenda, sem fazer perguntas, as olhadas por cima do papel ficaram menos frequentes e Brenda se perguntava se ele a estava testando ou apenas pensando em como a matar.
    — O senhor é sócio do Bruno desde sempre?
    Ele ficou surpreso com a pergunta.
    — Sim…
    — Como é criar um negócio? Já li que no Brasil 60% dos empreendedores entram em falência no primeiro ano.
    — É difícil mesmo — Ele abaixou o currículo e o colocou na mesa abaixo de outra papelada — as tarifas, salários de funcionários, o gasto em propaganda, nos primeiros dois anos a loja nem mesmo dava dinheiro pra se pagar, tivemos que bancar sozinhos com ajuda do banco e de dinheiro guardado, foi bem complicado.
    — Nossa, e vocês conseguiram superar essa.
    — Conseguimos — o olhar de Fernando/Felipe já estava bem menos ameaçador — e ficamos muito felizes com o que temos hoje, claro que temos responsabilidades com as pessoas que dependem de nós, mas ser seu próprio chefe não tem preço.
    Brenda deu um sorriso pela primeira vez naquele escritório, que Felipe/Fernando retribuiu com vigor.
    — Bem Brenda, o que te fez querer trabalhar aqui?
    Ela não respondeu, seu olhar parecia agora o de uma mulher decidida, por um momento Fernando/Felipe pensou ter visto uma pessoa importante sentada diante dele, naquele momento Brenda estava pensando em algo, talvez maluco, mas que seria um passo muito importante na sua vida.
    — Na verdade senhor Felipe, eu não quero, assim como o senhor e seu amigo Bruno, quero ser dona de mim mesmo.
    Felipe que gostava de ser chamado de Fernando olhou para ela com um princípio de raiva, talvez até mesmo fosse atacá-la, mas algo mudou sua percepção naquele momento.
    Algo mudou.
    Brenda apertou sua mão, desceu as escadas e foi embora para casa; no caminho, passou no mercado e comprou alguns ingredientes, no calçadão de Nilópolis ela comprou sacos plásticos e ao chegar em casa, foi até a cozinha começar sua nova empreitada.
                        Capítulo 15
            Amizade verdadeira
    “Vem” é uma palavra poderosa.
    Em 2003, Pedro era sargento de armas do trigésimo sexto batalhão de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Foi lá que conheceu Malhado, o vira-lata que chegou ao batalhão com apenas seis meses e tornou-se o mascote da unidade.
    Ele era cuidado pelos recrutas nos momentos de folga, mas não demorou muito para que Pedro e o cachorro desenvolvessem intimidade. O cão passou a andar mais próximo dele, sempre observador e silencioso.
    Enquanto liderava os treinamentos, Malhado o acompanhava lado a lado, ganhando fama entre os soldados como "O cão do sargento". Até que o próprio Pedro começou a chamá- lo de "meu cão".
    Malhado não era agressivo, não tinha passado por nenhum tipo de adestramento e nem mesmo servia para amedrontar os recrutas. Ele era simplesmente o amigo fiel do sargento, sempre presente, seguindo-o em silêncio.
    Em seu quarto Pedro conversava com Malhado, claro que ele não podia entender mas reagia à cada fala.
    — E então eu disse pro meu velho: Olha só seu filho da mãe, você é foi um péssimo pai e eu não vou ser igual a você! NÃO VOU!
    E Malhado arregalava os olhos e fazia um gesto como se confirmando, para Pedro era o suficiente.
    Essa relação durou dois anos, até que Pedro fez alguma merda.
    Malhado estava deitado ao lado da cama do seu dono no batalhão, quando Pedro entrou a noite sem sua farda, estava suando, com roupas comuns e fedendo a… pólvora?; Pedro pegou uma mala e começou a arrumar suas roupas nela.
    — Seguinte garoto, vamos embora daqui.
    Malhado continuou o encarando.
    — Aconteceu uma parada sinistra, eu te contaria mas é melhor não né? Evitar falar coisas assim é sempre bom — Estava bem aflito, respirando pesado e com certa pressa — Vamos embora, eu e você! Voltar pro Rio, lá é legal, tu vai curtir, é bem quente mas tem gente boa, arrumamos alguma coisa por lá, minha irmã não vai deixar a gente na mão… não vai… não vai.
    Pedro tirou um revólver .38 de um esconderijo no fundo do guarda-roupas e colocou na parte de trás da calça, fechou a mala e colocou um boné preto.
    — Vem Malhado, vamos dar o fora dessa porra.
    Malhado sempre o segue quando ouve o som “Vem”, é o som que os humanos fazem e parecem gostar quando ele começa a andar atrás deles após isso.
    Estava bem escuro, as luzes nos postes do pavilhão criavam sombras nas tendas e nos muros, sombras que Pedro usou bem; Com Malhado sempre atrás, eles se esgueiraram por todo o lugar, por um momento Pedro sentiu medo (mais do que o que já estava) e sacou o revólver enquanto se escondia atrás de um pilar, mas o guarda passou direto por eles felizmente.
    Quando se aproximaram do muro que já tinha uma corda preparada na parte mais isolada e escura do pavilhão, Pedro jogou a mala do outro lado e começou a preparar a corda; Um alarme começou a tocar, para Malhado o som era insuportável como todos os alarmes do lugar, mas não era o único som que ouvia: Malhado ouviu homens acordando e suas camas rangendo, armas sendo preparadas e homens gritando sem parar, muitos e muitos passos e pisadas fortes no chão, algo estava acontecendo.
    Pedro amarrou a corda ao redor de Malhado, entre as patas e na barriga, subiu o muro com um esforço considerável, já estando sentado em cima do muro ele puxou Malhado pra cima, torcendo muito para que não tenha machucado seu amigo (e realmente não machucou), segurou o cachorro nas mãos e pulou para o lado de fora aterrizando todo desengonçado mas sem ferir Malhado.
    — Bora garoto, estamos quase lá!
    Desamarrou a corda, guardou na mala e começou a correr em direção as casas da vizinhança.
    Malhado corria ao seu lado sem parar, até mesmo desacelerou para acompanhar melhor seu dono humano que estranhamente corria em apenas duas patas, nesse momento Pedro estava desesperado, dava para ver o pavor em seus olhos iluminados pela lua, as casas estavam todas escuras, algumas pouco iluminadas por postes e outras com um cômodo ou dois com luzes acesas, e foi nessa penumbra entre as vielas que Pedro e Malhado entraram, Malhado não sabia mas Pedro tinha um lugar pra se esconder, ele tinha um objetivo.
    Após correrem seis quadras sem parar, Pedro pulou um muro onde já tinha um buraco feito bem da largura de Malhado, que seguiu seu dono sem pestanejar, do outro lado eles se esconderam num mato alto.
    — Chegamos amigão, vamos ficar aqui um pouco…
    Ele abriu a mala e tirou um pote de plástico que encheu com água de uma garrafa.
    — Aí, bebe, você merece, sei que não é um peixinho maroto que você ama mas é o que tem.
    Malhado bebeu aquela água como nenhuma outra, correr seis quadras é muito até para um cachorro.
    Pedro bebeu até acabar sua garrafa, depois pegou uma barra de cereal e dividiu com Malhado.
    — Malhado, vamos ficar aqui até de manhã ok? Vai passar um trem aqui, já combinei com o motorista, não é motorista o nome né? Enfim, dele dar uma desacelerada aqui pra gente entrar, hoje a noite ainda a gente chega na rodoviária lá da… da outra cidade e… e… até o fim do mês chegamos no Rio.
    Malhado confirmou com a cabeça.
    — Foi mal amigão, não aceitam cães em avião, não do seu tamanho, e não é muito seguro pra gente também.
    Malhando deitou em cima de sua perna.
    — É garoto… eu fiz merda, mas tudo tem um recomeço, claro que o recomeço vem depois de uma punição e tal, mas eu vou pular essa parte.
    ••
    — Vem Malhado.
    A palavra mágica foi dita e Malhado levantou na hora, Pedro já estava de pé, pegou a água que sobrou do Malhado e jogou no próprio rosto, limpou as remelas dos olhos e esfregou a água no cabelo.
    — Bora, o trem tá vindo!
    Malhado podia ouvir o trem chegando, o som incessante da máquina vindo em todo vapor, Pedro pegou sua mala e se preparou para correr e saltar.
    — Garoto, vou precisar que você pegue minha mão quando eu pular ok? Ou pula antes de mim!
    Malhado o encarava.
    O trem chegou na visão de Pedro, ele pulou e gesticulou na direção do “motorista”, mas ele não buzinou em retorno como deveria.
    — Estranho.
    E não parecia desacelerar.
    — Porra, porra!
    O trem vinha imparável, mas suas portas estavam abertas, mostrando que não estava lotado mas tinham pessoas o suficiente pra Pedro ter que ficar de pé no vagão.
    — Ok garoto, vamos ter que se esforçar um pouco mais! No três a gente corre e pula!
    O trem vinha em alta velocidade.
    — Um!
    Malhado olhava para o trem.
    — Dois!
    As pessoas nos vagões encararam o homem estranho com um vira-lata se preparando para correr.
    — Três! Vem!
    Malhado correu atrás de Pedro, eles correram o máximo que puderam, até Malhado passou de seu dono e se aproximou do vagão, as pessoas olharam e deram espaço para eles entrarem, brasileiro não quer confusão com estranhos fazendo coisas estranhas, mas diferente de Pedro, Malhado não sabia o que deveria fazer quando chegasse perto do trem.
    Pedro pulou e entrou em cheio no meio do corredor do vagão, as pessoas o encaravam como se ele fosse um alienígena mas ele ignorou, apenas olhou para trás e viu Malhado o seguindo do lado de fora.
    — Pula garoto! Vem!
    A palavra mágica, Malhado seguiu como sempre deveria fazer quando a ouvia, mas estranhamente seu dono continuava repetindo essa palavra sem parar.
    — Vem garoto! Pula! Vem na minha mão!
    Malhado corria sem parar e via seu dono ficando cada vez mais distante.
    — Vem Malhado! Vem!
    Mas malhado não alcançou o trem e ficou para trás.
    Ainda podia ouvir Pedro gritando, mas sua voz estava misturada com a de várias outras pessoas e o som do trem andando, até que se perdeu.
    Malhado finalmente parou de correr, ouviu o som do silêncio tomar a linha e olhou em volta pra ver se achava Pedro, se ele havia pulado do trem ou ido parar em outro talvez? Mas não o encontrou, apenas sentia o cheiro do álcool e principalmente o cheiro de sua água na testa e nos cabelos de seu dono, e foi isso que ele seguiu.
    ••
    Malhado seguiu a linha por todo o resto do dia, quando o sol já estava se pondo ele chegou numa estação com outros quatro trens iguais ao que seu dono havia pulado, ele subiu na plataforma e foi olhar nesses trens mas não achou Pedro, somente assentos com cheiros estranhos de suor e milhares de humanos indo e vindo do lado de fora.
    Ainda seguindo uma fagulha de cheiro que assemelhava ao seu dono, Malhado foi parar numa rodoviária, viu vários ônibus com humanos entrando e saindo, percebeu que ônibus chegavam, ficavam ali parados e os que já haviam chegado antes partiam, talvez Pedro havia entrado em um deles? Malhado não sabia, não havia como saber até porque era um cachorro, mas por algum motivo acreditava em seu interior que sim, por isso seguiu o ônibus que estava saindo.
    Correu atrás dele sem parar, o ônibus passava por ruas e mais ruas, lotadas de carros e de pessoas, e estranhamente nenhuma delas era Pedro, até que o ônibus parou e suas portas abriram pra algumas pessoas entrarem, Malhado subiu as escadas junto delas mas lá dentro os humanos eram maus, alguns humanos pequenos gritaram quando ele entrou e uns mais velhos jogaram coisas nele, até que um bem alto o chutou pra fora, Malhado não entendeu porquê foi tratado tão mal, só estava querendo ir com eles até onde seu dono poderia estar.
    Mesmo não sendo bem recebido lá dentro, ele continuou seguindo a máquina de várias rodas, rua após rua, cidade após cidade, até que viu uns homens parados ao lado de uma van, os homens estavam vestidos com as mesmas roupas que usavam lá no pavilhão, com armas e tudo mais, e falavam com um motorista que apontava pra eles algumas direções, bem, seu dono era um desses homens, porque não segui-los agora?
    ••
    Malhado está comendo um frango que achou no lixo, os pelos brancos do seu focinho ficam imundos com o molho e os pedaços da comida, uns outros cachorros se aproximam ao ver o lixo derramado e aberto mas Malhado rosna pra eles, seu olhar bem mais agressivo os espanta, ninguém mexe com ele agora.
    Após comer e limpar seu focinho com a língua, ele continua andando sem rumo, chega numa ponte e pensa em contornar por ela (ele odeia pontes, o som ali é horrível), mas o contorno é longo demais e ele acaba passando por ali mesmo, pelo menos a ponte é curta.
    Três carros passam por ele e acabam com seus ouvidos, logo depois da ponte ele olha para o lado esquerdo e enxerga um desenho numa grama feito de pedras, interessante os humanos usarem pedras pra desenharem.
    O desenho é de um beija-flor, e ao lado está escrito “Bem vindo a Nilópolis, nossa cidade, nosso orgulho”, mas Malhado não sabe ler então ignora as palavras.
    Ele caminha por toda a rua principal até chegar numa praça com um chafariz, que ele obviamente pensa em usar pra se lavar mas ao ver os humanos ao redor ele hesita e decide ir embora; Após subir uma escadaria ele vê que dessa vez está por cima de uma “ponte”, é que lá embaixo tem trens passando, trens! Será que… bem, ele não sabe de essa chance existe, na verdade ele nem mesmo sabe o que é uma “chance”, mas o conceito por trás dessa palavra tem algum sentido em seu interior, então ele continua para o outro lado da cidade.
    Ele anda, segue por lojas, praças, prédios e mais prédios, em todos esses anos como andarilho Malhado já viu de tudo, o suficiente pra saber que os humanos é que mandam, eles que tomaram tudo, tudo e absolutamente tudo é deles, não tem porque se rebelar ou morder algum, eles sempre irão vencer.
    Quando começa a anoitecer ele vai a procura de um lugar pra dormir, acha uma rua lotada de tendas ainda sendo formadas e decide dormir ali perto.
    No dia seguinte ele acorda com centenas de humanos ao redor, andando pra tudo quanto é lado e gritando, gritando muito.
    Malhado odeia acordar por causa de vozes humanas, mas fazer o que né, ele segue andando para frente e após seguir por ruas e mais ruas sem fim, num calor terrível que o faz se perguntar (ou algo próximo a um pensamento questionador), ‘como esses humanos vivem assim?’, ele chega até frente de uma casa meio feia, com muro mal acabado e um cheiro forte de… de… pólvora… amônia?, álcool…
    Malhado não tem certeza, ele bate umas vezes no portão e nada, então decide esperar, em algum momento alguém irá sair e ele irá saber se seu dono está ali ou não… alguém irá aparecer.
    Mais tarde ele ouve passos na calçada, já ouviu vários passos nessa calçada hoje mas esses eram diferentes, ele conhecia esses passos.
    Malhado olha para o lado e vê ele, Pedro, um pouco diferente mas é ele, É ELE.
    Malhado corre e pula em cima de Pedro o derrubando no chão, começa a chorar de animação se esfregando em seu DONO.
    Se o que ele pensava pudesse ser chamado de pensamentos, seriam: “É ELE, É ELE! Eu vim! Eu vim! EU VIM!”
    E Pedro ainda sem saber como reagir, diz:
    — Ei… Malhado? É você?!
    Malhado não parava de se esfregar em seu dono, até que Pedro o pegou em seus braços e deu um forte abraço enquanto suas lágrimas eram esmagadas pelos pêlos de seu grande amigo.
    — Você veio amigão, você veio.
    Este capítulo foi inspirado no clássico ‘A Dança da Morte’ de Stephen King.
                Capítulo 16
           Conselho de amiga         
           
    Paulinha acordou já correndo para o banheiro, sua suspeita é que o bolinho de padaria que ela comeu em seu “pós-treino” não bateu bem; Ela já foi uma atleta, já lutou boxe profissionalmente e já foi acostumada a manter uma forma atlética, sabe muito bem que o bolo que comeu ontem como um ato desesperado de “eu mereço” por seu dia tão cansativo não irá ajudar em nada na sua tentativa de se manter em forma, muito pelo contrário, mas preferiu se enganar como já vem fazendo nos últimos dez anos.
    Foi pro banho, escovou seus dentes (enquanto tomava banho), colocou sua roupa para ir para o trabalho, pegou sua bolsa e celular carregado, sua chave e…
    “Eu não quero ir… eu não vou.”
    Ela voltou para seu quarto e pois uma roupa mais bonita, algo que não fosse o figurino de uma máquina padronizada industrial, algo vivo.
    Paulinha saiu de seu apartamento em um vestidinho vermelho curto, óculos escuros, uma bermuda jeans e completando com um par de chinelos brancos; Pegou seu celular para chamar uma carona mas por algum motivo que nem ela mesma conseguiria explicar, talvez por uma mistura de pensamentos positivos quanto a sua saúde ou por uma forma de compensar pelo bolo, ou talvez apenas por que sim, como muitas coisas na vida, ela pôs o celular de volta no bolso e foi caminhando.
    ••
    A casa de Brenda estava uma barulheira, o som de um liquidificador já é bem alto mas Brenda colocou logo os dois que ela tem para funcionar, ela fica em um e seu filho em outro.
    — Filho!
    Ele não ouviu.
    — Ô MULEKE!!!
    — O-Oi mãe!
    — Vai lá ligar o rádio! Quero ouvir um som!
    — Não vai dar pra ouvir é nada com o rádio e esses liquidificadores ligados!
    — Tô nem aí, ninguém vem aqui mesmo! 
    Ele chega na cômoda onde fica o rádio e pega a maletinha azul de CDs.
    — Qual você quer, mãe!
    — O que?!
    — Oi?!
    — QUE QUE É?!
    — QUAL A SENHORA QUER?!
    — BOTA O IRMÃO LÁZARO AÍ PRA GENTE!
    — BELEZA!
    Ele abriu a maletinha, pegou um CD branco com ‘Lázaro as melhor1’ escrito á marca texto e colocou no rádio.
    Para a sorte de Paulinha, no momento em que ele estava voltando para a cozinha, por algum motivo também sem explicação, ele olhou para o lado, para a janela, onde viu através do vidro uma forma estranha se movendo, parecendo uma pessoa, então se aproximou da porta e abriu a portinhola, conseguindo ver a Paulinha muito puta batendo no portão.
    Brenda estava colocando o conteúdo rosa do seu liquidificador num saquinho plástico que havia preparado quando viu sua querida amiga entrando em sua casa.
    — Que barulheira é essa nessa casa?! Tô mó tempão no portão! — Disse Paulinha, Brenda ficou encantada em quanto que a voz de Paulinha consegue se destacar com tanta facilidade aos sons do liquidificador e a voz do Irmão Lázaro no volume máximo.
    — Amiga! O que tu tá fazendo aqui?!
    — Vim te visitar ué! Quer que eu vá embora?!
    — Claro que não! — Disse rindo — Vem cá me ajudar, FILHO! Tu fica com os saquinhos agora!
    Paulinha olhou pro formato dos saquinhos, viu os leites condensados abertos e fechados na pia e o monte de tang de diferentes sabores na mesa.
    — Tu tá fazendo sacolés?!
    — Uhum! vou vender!
    — Menina! arrasou! Finalmente seguiu minha ideia né?! — Bateu no ombro do filho da Brenda e disse — Eu que passei essa visão! Que tua mãe tinha que vender esse ouro aí que ela faz!
    — Eu e o tio Marquin já falamos pra ela várias vezes também.
    — Cala boca que fui eu que dei a ideia, e já falei que não quero dar pro teu Tio!
    Ambos riram e ele disse:
    — Eu não dis—
    — Xiu que agora é só adulto falando! Te ajudo em que garota?! Só falar!
    Brenda a ensinou a colocar os ingredientes na ordem certa no liquidificador e a despejar na jarra lavada pro filho por nós saquinhos e fechar, fizeram isso pelo resto da manhã enquanto ouviam a inconfundível voz do Irmão Lázaro .
    ••
    Vou passando pela prova dando Glória a Deus! Gloria a Deus! Glória a Deus! 🎶
    A produção de sacolé sofreu uma pausa para o almoço, Brenda começou a preparar os pratos e por no microondas, seu filho abaixou o volume da música e foi para o quarto enquanto Paulinha se sentava e começava a conversar com sua querida amiga sobre essa nova empreitada.
    — E ai Loirona Gostosa — Disse Brenda, aliviada por não precisar mais gritar — Porquê não foi trabalhar hoje?
    — O César me deu uma folga.
    — Olha aí hein, tá podendo com o gerente.
    — Pois é, mas me conta aí, porquê começou a vender sacolé do nada?
    — Eu… eu saí daquele emprego no shopping.
    — Sério?!
    — Sim, sabe a real é que eu não aguentava mais, não me sentia feliz ali, não me sentia bem.
    — Queria fazer algo que goste?
    — Olha amiga, eu queria dizer que sim mas… mas eu só…
    Apesar de saber o porquê que estava fazendo o que estava fazendo, ela não sabia explicar ao certo a veracidade de sua escolha, era uma mistura de vergonha e insegurança quanto a vida que estava escolhendo seguir.
    Paulinha olhando para a amiga, a mulher que nem ao mesmo se lembra com precisão quando a conheceu, como uma familiar que você apenas aceita que faz parte de você e não importa como aconteceu, reconheceu a confusão em seus olhos e apenas assentiu, pegou em sua mão e não exigiu mais respostas, não exigiu demais pensamentos, apenas disse:
    — Relaxa, vai dar tudo certo… esse garoto vai longe.
    Brenda abriu um sorriso largo.
    — Vai, não é?
    A acalorada conversa foi interrompida pelo alerta do microondas.
    — Chama ele pra almoçar aí — Disse Brenda.
    — Ô MULEKE! VEM ALMOÇAR!!!!
    Depois do almoço, Brenda e Paulinha continuaram a preparar sacolés, ao todo foram cinquenta, tomando todo o freezer de Brenda; Após isso, as duas amigas foram para o calçadão onde Paulinha dizia que conhecia uma loja excelente para comprar plásticos de sacolés e os demais ingredientes pela metade do preço do Prezunic, mercado bem popular do centro da cidade.
    Enquanto atravessavam pelo túnel por baixo do trem que divide a cidade no meio, passaram por um mendigo apelidado pelos moradores de “cheiroso”, morador de rua que fazia todos tamparem suas respirações sempre que passavam por ele.
    — Aiai — Disse Paulinha após voltar a respirar — eu vou te contar viu.
    — O que foi?
    — As escolhas que as pessoas tomam.
    — Tá falando do cheiroso?
    — Sim, eu tô falando do cheiroso.
    — Não acho que sejam escolhas.
    — Imagina se não fosse.
    — Que isso amiga, não sabemos a vida das pessoas, não acho que seja justo julgar tão facilmente assim.
    Paulinha refletiu por alguns segundos antes de dar sua resposta e concluiu que Brenda, como sempre, estava certa.
    — Quer saber, você tá certa, foda-se, talvez ele não pode controlar o destino.
    — Exato, poxa.
    — É, pode ter sido abandonado, perdeu alguma aposta, fez escolhas erradas no trabalho, com a família, sofreu pressão dos pais sei lá.
    — Esse negócio de pressão dos pais é complicado sabia, eu vivo me avaliando pra não pegar pesado demais.
    — Ah eu sei bem disso, minha mãe mesmo falava que eu poderia ser o que eu quisesse: cardiologista, pediatra, ortopedista, cirurgiã… era foda, mas nem por isso virei mendiga né, apesar que com aquele salário do Bob’s eu não tô tão longe do cheiroso não.
    Brenda deu um riso culpado e perguntou com bastante cuidado:
    — Amiga, e como tá sua mãe?
    Paulinha com a maior calma do mundo disse:
    — Sabe que eu não sei.
    — Quando foi a última vez que vocês se falaram?
    — Ah, faz uns meses, fui lá na casa dela num almoço.
    — Sério?! — Brenda ficou bastante surpresa — Quando foi isso?
    — Ah… foi… — Toda a calmaria de Paulinha foi embora e ela ficou tensa como sempre ficara quando falava sobre sua mãe — Foi nunca, na verdade a última vez que eu conversei com minha mãe faz uns seis anos.
    Brenda parou de andar, ficou olhando pra sua amiga e se sentiu culpada por deixá-la daquele jeito.
    Paulinha olhou para ela com um olhar que dizia “está tudo bem” mas no fundo não estava bem de verdade.
    — Amiga… me desculpa ter te perguntado isso.
    — Relaxa amiga, tá suave.
    — Tá não, eu não deveria, não sei porquê perguntei na verdade.
    — Brenda… relaxa, vamos andando, é só minha mãe, não é um bicho papão nem nada.
    Ao chegarem na loja que Paulinha havia dito, Brenda se deparou com os preços e realmente eram bastante convidativos a comerciantes, e foi ali procurando um balde de leite condensado que ela viu o ex patrão de Paulinha, um simpático coroa, comprando doces com seu filho.
    — Amiga, olha quem tá ali comprando chocolate.
    Paulinha viu seu ex chefe que também a viu e antes mesmo dela pensar em fingir que não viu e se esconder atrás de outras prateleiras, ele veio falar com ela:
    — Paulona! Quanto tempo!
    — Oi Tony, quanto tempo — Disse meio desconfortável.
    — Muito tempo mesmo, olha, meus pêsames pelo Carlinhos.
    — Obrigada — “Queima no inferno aquele filho da puta”— Muito obrigada.
    Se formou um clima desconfortável de silêncio entre os três até que Paulinha disse:
    — Ah, perdão, essa é a Brenda, minha grande amiga.
    — Prazer, Brenda! Como vai?!
    — Muito prazer — Disse dando a mão para ser beijada — estou bem, obrigada.
    — Que ótimo — Beijou sua mão — vieram comprar doces também?
    — Trouxe a Brenda aqui pra ela comprar uns doces pro filho dela.
    — Ah sim — Ele respondeu, vendo que elas estavam no corredor de baldes para comerciantes — Bem, nesse corretor  aqui não sei se vai valer a pena.
    Brenda interviu com bastante simpatia (Algo que Paulinha não está nem ao menos tentando):
    — É que eu tô pensando em vender sacolés, aí tô dando uma olhada.
    — Entendi! Poxa, se for vender sacolés, você pretende vender por onde?
    — Ah, lá em casa com uma plaquinha, porquê?
    — Entendi, olha, eu te recomendo vender na praia, lá em Copacabana, toda vez que passo lá vejo gente querendo sacolé mas só tem açaí, sorvete, queijo, camarão, essas coisas, sabe?
    — Sim… — Disse Brenda com bastante interesse.
    — Lá isso tá em falta, mas se tu for vai precisar de uma licença, e pow eu te consigo isso fácil, só falar comigo, tá bom?
    — Sério?! Obrigada! Vou pensar nisso sim! 
    — Show, e Paulinha, lá no posto sempre vai ter um lugar pra você caso esteja precisando hein, agora vou lá que tenho que ir pra casa, Brenda, prazer te conhecer — Disse dando um abraço rápido — e Paulinha, bom te ver! — Dando um abraço mais lento — Tchau tchau!
    — Tchau! — Disse Brenda bem alegre.
    — Valeu. — Respondeu Paulinha.
    — Olha aí amiga, fala com ele pra mim sobre essa licença? Eu nem havia pensado nisso de ir vender na praia… vou precisar de um isopor né? Deve ser barato?
    Paulinha nem quis responder, só pegou o celular pra conferir se ainda tinha o número dele, nisso ela viu as dez ligações perdidas do seu gerente, mas ignorou.
    — Amiga, tá aí? — Disse Brenda.
    — Tô sim, tudo bem eu falo com ele.
    — Obrigada… tá tudo bem?
    — Uhum…
    — Hm… o que foi?
    — Ele sua com o Carlinhos quando ele me traia, aproveitava e traia a mãe do filho dele também.
    Brenda ficou em silêncio por uns dez segundos.
    — Sério?
    — Sério.
    — Nossa… que filho da puta.
    — É, e ele sabe que eu sei.
    — Ah… por isso que ele foi tão legal então.
    — É.
    — Qual o cargo que ele te ofereceu no posto?
    — Gerência, já me ofereceu uma vez.
    — Sério?!
    — Sim.
    Mais uns segundos de silêncio.
    — Paulinha, quer um conselho de amiga?
    — Quero.
    — Aceita.
                        Capítulo 17
               Romeu e Julieta
    Pedro deu um banho daqueles em Malhado, comprou ração, molho de peixe (O que o cachorro mais gosta) e levou seu velho amigo para o veterinário, no final das contas gastou uma nota mas gastou feliz, Malhado deu uma nova reanimada para Pedro, como se voltasse a ser aquele mesmo jovem que fugiu do quartel por pegar uma mulher que não devia.
    Até a casa voltou a ser arrumada, Pedro se preocupava com Malhado pegar algo do chão como uma camisinha usada ou um pedaço de chocolate e ir embora de novo, não estava nem um pouco afim de passar pela perda do seu melhor amigo novamente.
    A noite, Pedro foi encontrar Debra para o que eles chamaram de seu primeiro encontro “oficial”; Encheu as vasilhas prateadas novinhas de Malhado com água do filtro com gelo e ração com molho de peixe, Pedro mal sabia mas estava começando seu processo de deixar aquele cachorro obeso, sete meses depois disso Malhado teve que passar por uma séria dieta e rotina de exercícios no Gericinó, mas isso é outra história, a crônica narrada neste livro irá acabar muito antes disso.
    Pedro e Débora se encontrariam no shopping Nova Iguaçu ( o shopping da Pedreira para os mais íntimos), iriam assistir Garota Exemplar, Pedro nem fazia ideia da existência desse filme mas aparentemente era de um diretor “maravilhoso”, segundo Debra.
    Pedro estava vestindo uma camisa branca, uma jaqueta de couro marrom de aviador,, uma calça jeans e calçando um Jordan (falso); Ele havia ido para lá pelo ônibus Ponte Coberta, e Pedro ficou a viagem toda refletindo sobre o quão bom é ter um ônibus que deixa exatamente em frente ao shopping mais popular da região.
    Esperou por Debra na escadaria por cerca de dez minutos, já estava ficando puto e já pensando no que diria para ela sobre essa demora toda, mas tudo mudou quando ela apareceu; Debra desceu do ônibus vestindo um moletom branco, uma calça de algodão preta, uma bota marrom e usava um cordão com um símbolo bastante único que Pedro não conhecia.
    Para Pedro, Debra desceu do ônibus em câmera lenta, ver aquela mulher de cabelos azuis como o mar e pele lisa como a neve foi quase tão revigorante quanto ver Malhado feliz tomando seu banho.
    “Esse dia tá ótimo…”
    — Fala aí, gatona! — Disse ao recebê-la na escadaria da entrada do Shopping.
    — Fala aí, gatão! Tá bonitinho pra caramba hein viado! — Ela disse com seu riso que já tanto encantou Pedro.
    — Obrigado, e você está… está linda.
    — Obrigada.
    — Não, sério… você tá perfeita.
    Ela corou.
    Pedro pegou em sua mão e, como um casal, entraram no shopping.
    Tiveram que esperar dar o horário de sua sessão, aproveitaram isso para andar pelo lugar e conhecer o shopping recém inaugurado e já tão bem falado.
    Conheceram as lojas de móveis (que Pedro sempre aproveita para tirar uma soneca mas não dessa vez), as lojas de tecnologia, algo que fascinava Debra que, empolgada, explicava cada um dos aparelhos para Pedro, que não entendia muito mas era contaminado pela alegria da moça; Também conheceram a praça de alimentação, onde a maior parte da noite foi passada, com uma bela pizza gigante de margarita e uma menor de Romeu e Julieta (Pedro detestava, Debra comeu sozinha).
    Estavam já ficando sem novidades para apreciar em sua caminhada quando se depararam com um estande de tiro com armas de airsoft, Debra ficou bastante curiosa em olhar porém hesitante em experimentar, e Pedro aproveitou a situação para demonstrar suas habilidades.
    — Fala queridão! — Se apresentou ao atendente — estande bacana.
    — Boa noite casal bonito.
    — Bonita aqui só tem ela — Disse com uma risada alegre — Quanto que está para dar uns tiros?
    — Sessenta reais por uma hora.
    — Faz trinta por meia hora?
    — Faço sim.
    O estande era grande por dentro, com cabines separadas para cada cliente e uma longa área na frente com bonecos brancos em silhuetas e dezenas marcas de tiro; Pedro escolheu um rifle, Debra um revólver e se aproximaram de uma das cabines com seus protetores de ouvido.
    — Deixa eu te mostrar como se faz — Disse apoiando o rifle no tripé de apoio.
    — Vai homem, mostra pra mim como se faz! — Disse com certo tom de ironia.
    — Esse é o rifle de ar comprimido, na verdade é uma carabina, o nome dela é “PCP”, mas eu gosto de chamá-la de “PTO”.
    Surgiu um silêncio desconfortável e então Debra disse:
    — Você quer que eu pergunte o que isso significa?
    — Sim — Respondeu rindo.
    — O que “PTO” significa, meu caro?
    — Pau pra Toda Obra.
    — Entendi…
    — Eu gosto bastante dela, esse pistão aqui que ela tem — Gesticulou para o que para Debra era um “ferro que leva a bala até a saída” — é carregado com uma pressão absurda de ar, a precisão dela também é ótima, seu único defeito é que ela precisa de uma bombinha, pra poder recarregar, eu não sei bem se essa daqui de Airsoft também precisa, não entendo muito desses brinquedos, mas a de verdade eu sempre andava com uma bombinha na mochila.
    — Como sabe tanto?
    Pedro estava adorando ensinar tudo aquilo para Debra, e ela sabia disso, gostava de ver o brilho no olhar dos caras que saiam com ela, dizia não entender sobre alguns assuntos só para vê esse brilho nos olhares, ela sabia que no fim das contas todos os homens eram iguais, mas dessa vez, estava sentindo algo além, ela não sabia ainda, mas estava começando a amar Pedro, mesmo que isso não pudesse ser dito com apenas dois encontros.
    Mas no fundo, era isso.
    Esse era o brilho que ela tanto buscava sem saber.
    Após as explicações sobre seu passado no exército, Pedro começou a disparar no boneco de treino e para surpresa de Debra e até a dele mesmo que estava velho e já meio sem jeito com armas, acertou todos os onze tiros bem no meio da cabeça, no ponto exato, e sua velocidade no uso também foi impressionante, a cada novo disparo Pedro engatilhava a arma como se a mesma fosse parte do seu corpo, uma reação automática vinda de sua memória muscular exageradamente perfeita.
    — Caramba… isso foi impressionante, parabéns, puta que pariu.
    — Obrigado… — Disse como se não fosse nada mas por dentro estava bastante orgulhoso — Sua vez, quero ver você usando esse revólver aí.
    Debra se aproximou já apontando a arma com a mão direita enquanto segurava seu cotovelo com a esquerda.
    — Calma aí, não segura assim não, coloca as duas mãos.
    Pedro novamente deu sua aulinha, mostrou como funcionava o carregamento da arma e como dava para ver as balas no tambor, efetuou um disparo para Debra ver a pressão que um revólver faz em mãos e ensinou ela a melhor forma de disparar; No fim das contas foi uma excelente ideia passar por aquele estande.
    Na saída da sessão, Debra estava empolgada, aflita, reflexiva, e Pedro estava… meio confuso.
    — Porquê ela fez aquilo tudo? Não era mais fácil só terminar com o cara.
    — Não não, como assim? — Pergunta incrédula — ela não podia fazer isso, ela era claramente obcecada pela perfeição.
    — Perfeição? A mulher é uma psicopata!
    — Sim! De fato, ela era louca, mas ainda assim bastante sã do que tava fazendo, não faria sentido ela terminar, na cabeça dela era melhor o mundo achar que ela morreu do que ser uma mulher que teve uma crise no casamento.
    — Mas de onde você tá tirando essa perfeição, baby?
    Debra amou ser chamada de “Baby” mas optou por ignorar isto por enquanto:
    — Você dormiu no filme?
    — Se eu tivesse dormido você e todo o cinema saberia, eu ronco.
    — Que bonitinho! Mas enfim, os pais dela construíram nela uma obsessão com a perfeição, com aquelas histórias lá dos livros!
    — Sim.
    — Aí isso fez ela ficar completamente obcecada com assa ideia de ser perfeita!
    — Mas não era só ela terminar então?! — Pedro disse rindo.
     — Eu não tô falando que eu concordo com ela não, só dizendo que na cabeça dela aquele plano faz sentido, aliás até que fez sentido vai? Até certo ponto pelo menos.
    — Ham… sei lá, só achei aquele cara um brocha do caralho.
    — Ele é mesmo, eu também não gosto do ator, todo filme que ele faz fica com aquela cara de pau mole.
    — Qual sua nota?
    — Ah eu não gosto de dar nota assim que saio do cinema não, depois de pensar bastante no filme eu chego numa avaliação, mas se fosse pra falar uma agora… uns… nove e meio?
    — Nossa.
    — Eu adorei esse filme! — Diz rindo — E você, baby?
    Pedro sorriu e disse: sete.
    — Sete?
    — Talvez seis.
    — Meu Deus.
    — Eu gosto de filmes com mais ação, com mais tiros, tipo Stallone Cobra e Robocop.
    — Entendi… — Debra disse com um preconceito já enraizado na voz.
    A noite durou mais algumas horas, Debra levou Pedro para a livraria onde ficou namorando uns livros que queria, Pedro reparou em um deles, chamado “As Crônicas de Arthur: O Rei do Inverno”, Debra tinha um certo fascínio em livros medievais, Pedro sabia que essa informação seria bastante útil em algum natal ou aniversário da vida.
    “Isso se ela ainda te aguentar até lá.”
    Após isso foram até o parque lá atrás do shopping onde ficaram até o lugar fechar.
    Pedro ficou ao lado dela no ponto de ônibus, o que ele queria mesmo era levá-la para casa mas, pela primeira vez em anos, não sentia que essa abordagem seria ideal.
    — Me diverti bastante essa noite… obrigada.
    — Eu que agradeço… adorei a nossa conversa na roda gigante.
    — Também gostei… gostei de você na real, bastante, com exceção do gosto cinematográfico.
    — Sei.
    Ambos deram um sorriso tímido e ficaram em silêncio, mas pela primeira vez não foi um silêncio incômodo e sim um silêncio confortador, aquele silêncio bom sabe? Sem pressão, sem a necessidade de papos sem relevância, apenas a existência e relaxamento mútuo.
    E foi nesse momento que Pedro se apaixonou.
    O ônibus chegou, Debra se foi e Pedro decidiu ficar sentado ali, seu ônibus passou mas ele preferiu pegar o próximo… estava sentindo aquele momento único que nem mesmo conseguia explicar o que era, mas no fundo sabia se tratar de algo que seu pai sempre disse que ele jamais teria.
                     Capítulo 18
                  Copacabana
    Brenda detesta andar de metrô, a sensação de estar cercada de pessoas suadas, estressadas e potencialmente perigosas quando se tratam de homens é bastante estressante, mas esse sentimento se atenua quando ao lado de sua querida e amada Paulinha que, assim que o vagão parou, correu para o banco mais próximo e conseguiu dois assentos livres; também ganhou olhares tortos de pessoas que não puderam sentar ao seu lado por que ela estava com as mãos postas aguardando Brenda, mas não que ela se importe com isso.
    Já era o segundo transporte “público” que estavam pegando (“público” pois Paulinha não considera realmente PÚBLICO algo que você tem que pagar para acessar), este era o caminho para chegar até a praia de Copacabana no centro da cidade: ônibus de Nilópolis para Pavuna, Metrô da Pavuna para estação Arcoverde e de lá é só seguir andando até a praia.
    Brenda estava bastante nervosa, mais do que pensava que estaria, este era seu primeiro dia vendendo sacolé na praia e sua decisão de abandonar um salário mínimo para ir vender abaixo de sol quente já não parecia tão boa quanto outrora; Paulinha a encorajou bastante, e diferente da amiga, está animada em ajudar a vender (exceto em estar usando saia de tanga, biquíni e chapéu), sabe que se gritarem alto o suficiente poderão chamar atenção da praia toda, e quem não quer um sacolé de morango num dia tão quente?
    E se encontrarem turistas é melhor ainda, até porquê, como ambas haviam combinado antes de sair de casa, “pra gringo é mais caro”.
    — Quanto exatamente? — Perguntou Paulinha.
    — O que?
    — Quanto exatamente que vamos vender pra um gringo.
    — Não sei… uns cinco reais?
    — Só? Eu já vi um cara cobrando cem reais por um espetinho de queijo, e o gringo pagou feliz.
    — Aí amiga, eu não quero enganar feio assim, tudo bem pagar mais caro mas sei lá, cem reais?
    — Os caras fazem turismo sexual, Brenda.
    — Turismo sexual?
    — É, eles vem aqui pra comer as brasileirinhas baratinhas e ‘coxudinhas’, um bicho desse merece pagar quarenta reais em uma paçoca, cinquenta pra arredondar a nota, ficar pegando trocou de dez reais é sacanagem também, tadinho.
    — Não sei de onde você tiras essas coisas.
    — Acorda mulher! o mundo é assim! o Brasil é um enorme puteiro, com droga, bucetinha barata, caipirinha, samba, arara azul, globeleza e por aí vai!
    Brenda fez umas contas: “moralidade + quanto eu quero ganhar + bom senso = a…”
    — Vinte reais, dois pra Brasileiro e vinte pra gringo, um zero a mais, o que acha?
    — É… aceitável.
    A discussão foi interrompida pela musiquinha de aviso do metrô: “Próxima Estação: Arcoverde, Next Stop: Arcoverde, mantenham as mãos afastadas das portas, keep your hands away from the doors”.
    — Ai vamos nós — Exclamou Paulinha pegando o isopor — Bora minha preta, vamo ganhar dinheiro!
    — Vamos! — Respondeu fingindo entusiasmo.
    ••
    Após andarem três ou quatro quadras, finalmente as duas amigas nilopolitanas chegaram em Copacabana, a praia mais famosa do país; a areia estava sempre clara como o dia, contrastando sempre com aquele mar azul escuro, cujas ondas jamais paravam de ir e vir, com a água se tornando branca após o choque nas areias e nos incontáveis banhistas que visitam diariamente o grande paraíso turístico e natural.
    O cheiro de maresia misturado com álcool e carne na brasa era acachapante porém bastante confortador, as vozes de banhistas e vendedores se confundiam, o som do mar era sempre estrondoso mas ofuscado pelo som das músicas, tanto de caixas de som portáteis quanto daquelas enormes e fixas dos comerciantes, isso tudo abaixo de um sol ardente.
    — Bem vinda a Copacabana — Disse Brenda.
    — Bem vinda a Copacabana.
    — Bem… vamos lá.
    As duas amigas gritavam “OLHA O SACOLÉ!!” (Frase que haviam escolhido e treinado ainda em casa) enquanto andavam em meio à dezenas de famílias em seus guarda-sóis; a areia estava pegando fogo, despreparadas as duas foram de chinelos, que nas primeiras horas de venda incomodou bastante, mas nem tanto comparado a queimadura que estavam fazendo nas costas de Paulinha que não trouxe protetor solar.
    “É claro que eu não trouxe a porra do protetor solar…”
    E não queria pedir o que Brenda havia colocado no seu próprio isopor, pois sabia que iria ouvir um “Eu te avisei”, entrando, não fazia muito tempo que Paulinha havia sofrido com cansaço e muito calor, não queria passar por isso de novo, logo, preferiu ser julgada.
    — Amiga…
    — Oi.
    — Me dá seu protetor solar?
    — Eu te avisei.
    — É… é.
    Elas foram até a sombra de um quiosque e Brenda passou protetor nas costas da amiga, enquanto Paulinha passava em seu rosto e braços.
    — Porquê eu tinha que ser tão branca?
    — Te pergunto o mesmo, seria bem melhor ter uma amiga pretinha que nem eu.
    Um vendedor franzino que já estava observando as duas há alguns minutos se dirigiu até elas quando as viu paradas na sombra, parou seu carrinho de picolé e começou a puxar assunto.
    — Nunca vi vocês por aqui.
    Paulinha não estava com cabeça para bater papo e já estava pronta para falar com “É mesmo é? Tá bom, valeu” quando Brenda respondeu o sujeito:
    — Primeiro dia, estamos nos acostumando ainda, não esperávamos tanto sol — Disse com sua costumeira simpatia e um grande sorriso no rosto.
    — Sim, o sol aqui é sempre terrível, pelo menos vocês vieram com chapéus e protetores solares, tem gente que nem isso.
    Paulinha olhou pra ele mas não disse nada, continuou a esfregar seu braço.
    — A gente se preparou — Olhou para os pés do homem e ele estava de tênis — só não pensamos em colocar nossos tênis, achávamos que seria desconfortável.
    — Vou falar pra você, é bem desconfortável mesmo, a areia sempre entra até na meia, mesmo eu usando duas, o tênis faz muito buraco fundo na areia sem querer, é bem ruim, mas eu não troco isso pela quentura que é essa areia por nada!
    — Olha, eu devia ter pensado nisso antes de sair de casa, da próxima vez já saberemos!
    — Olha ai, serviu de aprendizado.
    — Com certeza, agora a gente vai lá, obrigada! — Guardou o protetor e pegou o isopor.
    — Antes de vocês irem! — Falou mais baixo e chegou mais perto — cês falaram com ‘uzômi’?
    Brenda e Paulinha fizeram caras de desentendidas e ele na hora já entendeu que não.
    — Por isso nunca vi vocês por aqui, vocês duas não podem vender nessa praia.
    — Que papo é esse? — Disse Paulinha.
    — Aqui é tudo regularizado, não pode sair vendendo coisa não, tem que falar com uzômi, tudo que vocês venderam hoje tem que dar ‘pruscara’.
    Brenda não estava ligando os pontos ainda porém Paulinha já havia entendido que “Caras” e “homens” são esses.
    — Olha só seu filho da puta — Ela puxou o vendedor pela camisa e encostou o mesmo na parede do quiosque sem gerar alarde, Brenda ficou assustada mas não tentou fazer ou falar nada — se você dedurar a gente pra algum miliciano tu vai se fuder na minha mão, tá ouvindo?
    O homem olhou com pavor para ela mas também não quis gerar alarde, apenas a ouviu atentamente.
    — Minha amiga aqui é dona de casa e eu sou lutadora de boxe, tem duas guerreiras aqui na sua frente que vai destruir você se tu tentar alguma gracinha hein, tu vê lá hein, eu não tenho medo de homem nenhum não hein o porra.
    Suas falas ameaçadores soavam quase como um sussurrar, mas foi o suficiente pro vendedor nunca mais esquecer a experiência; Paulinha o empurrou de volta para seu carrinho e ele rapidamente foi embora.
    Em choque, Brenda perguntou:
    — Paulinha, o que você fez?
    — Ganhei um tempo pra gente, bora vender esse sacolé logo.
    ••
    — Aquele seu amigo podia ter nos dito que precisávamos de autorização para vender sacolés na praia!.
    — Qual amigo? Aquele que trai a mãe do filho dele e que saia com meu ex marido pra cheirar cocaína na barriga de anãos?
    Ser informada de que estava em relativo perigo por conta de não molhar a mão de certas pessoas fazia Brenda, que já não estava bem com a situação, ficar ainda mais relutante em continuar, sentia que deveria ir pra casa, guardar todo aquele sacolé para consumo próprio e espalhar seu currículo por Nilópolis e redondezas.
    A areia molhada entre seus dedos nos pés também não estava ajudando.
    — Amiga, vamos pra casa?
    — O que?! — Paulinha parou de andar.
    — Depois a gente vai atrás dessa tal de autorização, alguém pode vir pegar o que a gente tem ou sei lá, algo pior.
    — Ninguém vai mexer com a gente não Brenda! mal começou e já está querendo desistir?!
    — Não é desistir, é só…
    — Desistir.
    — Não é não.
    — Sei, olha, estamos indo bem — Se aproximou dela e pegou sua bolsinha de dinheiro — Quanto já temos?
    Brenda também abriu sua bolsinha e começou a contar.
    A maioria eram notas de dois, graças a Deus, mas também tinham notas de dez e de vinte.
    — Eu tô com quatorze, e você? 
    — Vinte e seis.
    — Porra, Brenda, amiga, vinte e seis! No total isso da o que… trinta e seis sobe quatro… quarenta reais!
    — É…
    — É não, É PRA CARAMBA, isso é ótimo, vamos continuar aqui, pretendíamos ganhar cento e vinte né? Fora os preços pros gringos? Estamos indo bem.
    — Pera, deixa eu anotar isso — Pegou seu caderninho da bolsa e começou a escrever — quatorze… vinte… e seis… e quarenta…
    — Pra que isso?
    — Nada demais… amiga eu tô meio sei lá.
    — Ei! Relaxa, estamos indo bem, confia na gente.
    A relação das duas sempre funcionou assim, quando uma não estava muito esperançosa a outra servia como musa, a luz no fim do túnel, e nesse momento Brenda estava precisando.
    Continuaram suas vendas mas dessa vez olhavam para todos os lados achando que a qualquer momento alguém apareceria para pará-las, Brenda chegou a apressar um pai a pagar o sacolé de seu filho, algo que surpreendeu bastante sua amiga; As vendas estavam boas apesar de não terem encontrado nenhum gringo (para a tristeza de Paulinha), até que encontraram novamente aquele homem que Paulinha havia ameaçado, mas dessa vez ele estava acompanhado de dois outros homens.
    Vestidos com camisa da Beija Flor de Nilópolis e shorts vagabundos, um de óculos escuros e outro de boné, vieram, aos olhos de Paulinha, “cheios de marra”, e começaram a gesticular para elas pararem e os acompanharem até fora da orla.
    “Podem vender aqui não, guria” dizia um deles repetidas vezes enquanto o outro apenas gesticulava.
    — Não podemos porquê?! — Indagou Paulinha enquanto Brenda ficava pouco a pouco mais catatônica.
    — ‘Cês tem que ter o papel do Valdeci!
    — Papel de quem?!
    Os dois homens pegaram de forma brusca nos braços das Nilopolitanas e se viraram para tirá-las de perto dos banhistas para evitar gritaria no meio de todo mundo (além de para poder fazer suas ameaças, roubos e chantagens o quanto quiserem), mas não contavam com a raiva de… de uma mãe solteira.
    Antes que Paulinha tivesse a chance de fazer seu escândalo (o que ela IRIA fazer), Brenda pegou sua bolsa de dinheiro e bateu bem no meio do olho direito do homem que apertava seu braço; Ele gritou de dor e juntou suas mãos no ferimento, dando tempo de sobra para Brenda dar um chute bem dado no ponto fraco de todo machão atrevido.
    As pessoas ao redor começaram a olhar aquela baixaria, crianças olhando curiosas e adultos encarando, alguns com aprovação e outros com tanta curiosidade quanto os mais novos.
    Paulinha? Paulinha estava embasbacada, não conseguia esconder isso, mas não deixou sua surpresa atrapalhar sua chance de dar um jab no nariz do outro malandro.
    Os dois envergonhados e irritados, foram pra cima das Nilopolitanas, prontos para pegar suas bolsas de dinheiro, recuperarem sua dignidade e dar porrada em mulher, mas não estavam preparados para o que era mais óbvio de acontecer: o sentimento de justiça do público.
    Apesar de habilidosa, Paulinha ainda era uma mulher, vista como “sexo frágil”, é mesmo conseguindo dar conta daqueles dois sozinha, recebeu ajuda dos banhistas homens que não achavam legal dois homens contra uma mulher, mas a ajuda veio depois de humilhá-los mais um pouco.
    Depois de feri-los, Brenda se recolheu para atrás da amiga e Paulinha soltou seu isopor e bolsa no chão, um dos idiotas veio pra cima com as costas baixas, na intenção de pega-la pelas pernas e derruba-la, mas ficou apenas na intenção após Paulinha descer uma bica no cocuruto dele o fazendo comer areia, o outro, quis a enforcar, veio com as mãos cheias pra cima do pescoço da Loirona gostosa, até chegou a encostar suas unhas na pele da mesma, mas foi brutalmente interrompido por Paulinha agarrando seus braços, os dobrando para baixo e finalizando com uma cabeçada muito bem dada.
    Antes que os dois começassem a se levantar, pais e família e beberrões do bar os pegaram e começaram a dar socos e pontapés até os expulsar da orla.
    As pessoas começaram a aplaudir para Paulinha e Brenda, ouviram assobios (aqueles difíceis de fazer, com os dois dedos) e elogios; somente após toda a confusão que Brenda e Paulinha perceberam que estavam sendo filmadas, dezenas de pessoas estavam com seus celulares apontados para as duas, e o sentimento de revolta e agonia havia sido completamente substituído por alívio e vitória.
    As duas ficariam sendo chamadas de “As irmãs do sacolé” nas redes sociais, algo que faria muito bem para Brenda mais tarde e também uma consequência terrível para as duas, mas essa é uma história para daqui a pouco.
    Tímidas porém encorajadas, as duas amigas continuaram a vender seus sacolés, que foi muito impulsionado pela briga, toda a praia queria um sacolé das irmãs de pais diferentes, até mesmo um gringo que fez questão de vir até elas quando a procissão sessou.
    — Boua tairdê — Disse um gringo loiro e branco para Brenda, tentando falar português — sabor qual?
    Brenda ainda meio abalada, olhou para Paulinha que estava ocupada vendendo para três pessoas ao mesmo tempo.
    — É… morango, chocolate, leite cond—
    — Choucoulati! Choucoulati! Quanto custa? — Isso pergunta ele dizia com perfeição.
    — É… — pensou por uns segundos e disse — duzentos, ‘tchuo rundréd’!
    — Ok! — Disse sorrindo, abriu sua carteira que estava lotada de notas de cem e entregou quatro para Brenda.
    — Jo quiero dois!
          
               Um mês e pouco           
                depois…
                       Capítulo 19
    Quatro minutos para meia noite
    Sua caranga quebrou novamente, dessa vez quando estava voltando do cinema com Debra, haviam ido assistir ‘Os Suspeitos’ (o do Denis Villeneuve, não o do Bryan Singer), que Pedro adorou por sinal, mas a discussão no momento era sobre o carro:
    — Porra! o Marcão me disse que tava tudo sussa! — Exclamou ele bastante frustrado, estavam na Avenida Brasil, a lua cheia brilhava no céu sem estrelas e centenas de carros passavam por eles dois, presos no acostamento.
    Pedro vestia uma camisa polo vermelho escuro, uma calça jeans e um cordão com uma bala de revólver na ponta, foi um presente de Debra pelo aniversário de um mês; havia uma marca de beijo nela, Pedro adorou.
    Debra vestia uma camiseta azul e uma calça jeans branca, além de usar um anel de ouro dado por Pedro, no anel estavam gravuras em Élfico, algo que ela amava.
    A tradução dessas gravuras era um segredo deles.
    — Posso tentar consertar? — Disse ela.
    — Baby… eu sei que você já fez curso de mecânica e tudo mais mas—
    — Mas não quer ser visto sentado frustrado enquanto sua namorada conserta o carro?
    — Não era isso que eu ia dizer — De fato não era, mas era o que estava pensando sobre — eu ia dizer que só o Marcão entende esse carro.
    — Tô vendo, abre logo o capô.
    Ela saiu do carro e Pedro deu um suspiro de agonia, mas fez o que ela pediu, sempre faz.
    Debra ligou a lanterna do celular e ficou fuxicando enquanto Pedro ligava para o número do reboque que estava na placa.
    — Alô? Oi, boa noite, eu tô parado aqui na Brasil… é… isso aqui mesmo… meu carro deu ruim e não liga de jeito nenhum, meu mecânico fez alguma cagada cumpadi… sim sim… meia hora? Pow num da pra alguém vir antes não?… putz… tá… tá… é uma Fiat Uno 2005 meu bom… pois é… é…
    — Amor!
    — Sim sim… então é que eu tava querendo alguém por agora…
    — Amor! Tenta ligar aí!
    — Pera aí só um instantinho que eu acho que minha namorada consertou.
    Ele girou a chave e… foi.
    — Há há! — Gritou Debra do lado de fora, bem animada — Confia na mãe aqui que dá bom!
    — Deixa pra lá amigão, ela já consertou aqui.
    “Sua mulher consertou seu carro?!”
    — Sim, tchau tchau.
    E desligou rápido.
    Ela entrou no carro já dizendo:
    — Tá me devendo uma dedada.
    — Quando chegarmos em casa eu faço isso e muito mais..
    Colocaram os cintos, se beijaram e voltaram para a estrada.
    — Qual era o problema?
    Debra olhou pra ele com desdém:
    — Quer mesmo saber?
    — Porquê não iria querer?
    — Tu foge de querer entender qualquer coisa de carro, minha mãe disse isso na sua cara e é verdade.
    — Bem… é uma verdade…
    — Hm… esse seu mecânico aí hein, não sei não, ele tá te enganando.
    — Como assim?
    — O problema era algo facilmente removível, parece que ele colocou ali de propósito, pra tu gastar uma nota quando voltasse.
    — Que isso, Marcão não faria isso.
    — Se você diz…
    “Marcão faria isso?”
    Debra pegou o celular, algo que Pedro no fundo se incomodava, gostava de conversar e sentia que o Facebook e Instagram tiravam isso dele, mas aproveitou a situação para ligar o rádio e ouvir seu Thiaguinho de cada dia.
    Deixa tudo como tá 🎶
    Pedro amava essa música, Debra não, na verdade ela detestava pagodes e preferiria ouvir Heavy Metal, mas não incomodava seu digníssimo com tais gostos opostos.
    — Aí, você já viu esse vídeo aqui?
    Pedro virou o olhar rápido para o telefone e viu no Facebook um vídeo de duas vendedoras de sacolés batendo em dois homens na praia.
    — Porra! Nem te conto, não só já vi como conheço uma delas.
    — Como é que é?! — Disse bem animada e surpresa.
    — Assim, conhecer é forte, mas já vi uma delas, a pretinha é irmã do Marcão, meu mecânico!
    — Meu Deus, sério?!
    — Sim, nunca falei com mas já vi ela lá na oficina, tava com o filho dela eu acho, o Marcão me falou que ela tá famosinha agora, é lá de Nilópolis, Bianca eu acho…
    — Porra, que foda amor, bora comprar um sacolé com ela.
    — Vamos.
    Não vão.
    — E essa amiga dela? A loirinha, luta pra cacete aliás.
    — Essa daí não me é estranha, mas acho que não conheço não, no máximo já vi por lá.
    — Hm… conhece bastante gente né?
    — Infelizmente sim.
    — É de família isso?
    — Bem… minha mãe falava com todo mundo, quando chegava um vizinho novo ela já ia apresentar eu e minha irmã, dentro de uma semana já tava até dividindo receita de bolo.
    — Queria ter a conhecido.
    — Minha irmã é outra, conheceu o marido dela na fila do banco, acredita? Puxou assunto com o cara do nada, acho que vou pra tirar dúvida sobre como que depositava na máquina, e hoje cria um filho com o maluco, e nunca parou de fazer amigos fácil.
    — Hm…
    — Acho que é de família sim.
    É foda imaginar a gente ser de alguém 🎶
    Debra disse incomodada:
    — E sua irmã?
    — O que tem ela?
    — O que mais ela faz?
    — Ah… sei lá, ela tem a vida dela.
    — Não fala muito com ela?
    — Que isso, nos falamos todo dia, tenho uma relação boa com ela.
    — E porquê que eu não a conheço ainda?
    — Ah, não sei, só não apresentei.
    — Hm… — Fez uma cara apática e voltou para o celular.
    Pedro sabia que isso a incomodava, mas também não sabia como falar sobre, logo, decidiu ficar calado, como já tem feito nas últimas semanas.
    Pedro e Debra se tornaram bastante íntimos em pouco tempo, Debra que arrumou seu armário de cuecas das últimas duas vezes e que levava Malhado pra passear quando Pedro estava na barbearia; Sua mãe já havia aceitado seu novo namorado, jantaram com ela duas vezes e foram no aniversário do sobrinho de Debra onde ela havia feito o pedido de namoro oficialmente, tudo indo muito certo, um casal em formação, bonito e íntimo… mas sentia que era só por parte dela.
    Debra bloqueou o celular e ficou olhando para a estrada através da janela, achava interessante como tudo que estava próximo passava rápido mas as montanhas lá no fundo pareciam se mover bem devagar…
    — Baby, já foi na Casa do Alemão?
    — Oi? Foi mal eu tava olhando as montanhas.
    — Já foi na Casa do Alemão?
    — Aquele restaurante? Não, passamos por ele?
    — Não, é que eu vi uma placa de um negócio escrito em Alemão e lembrei dele, enfim, vamos lá um dia? é caro pra caralho mas a comida é boa.
    — Beleza.
    Ele ficou olhando pra ela de rabo de olho e não deixava de reparar no quanto que ela estava meio avoada, pensativa, isso o estava preocupando por já imaginar do que se tratava.
    — Quer ouvir alguma outra música?
    — Não, eu tô de boa.
    — Hm… — “Ok… lá vai…” — no que você tá pensando?
    Ela pensou um pouco antes de responder, olhou para o rosto dele, talvez para medir as reações e disse:
    — Porquê você não me apresentou sua irmã?
    Pedro reagiu de forma neutra, ela achava que ele estava se concentrando pra não parecer nervoso (e estava certa sobre isso).
    — Não sei, falta de tempo?
    — Não, não é falta de tempo, estamos livres o tempo todo, eu trabalho em casa quando eu quero e você trabalha dia sim e dia não.
    — Ah baby, sei lá, não imaginei que fosse importante.
    — A gente já tá junto a um mês… tipo, um mês, minha família já sabe de você, minha mãe já te conhece, já tô dormindo na sua casa e você na minha mas… sei lá.
    — “Sei lá” o que?
    Debra ficou em silêncio olhando para a janela, sem querer entrar naquela discussão.
    Pedro também não queria, mas uma das poucas coisas que seu pai havia lhe ensinado era: “Nunca deixe nada pela metade”.
    — “Sei lá” o que, Debra?!
    — Não parece que é pra você tanto quanto é pra mim!
    “De novo não”
    — Como assim? Eu vou com você pra todo lugar, faço de tudo pela gente, te compro uma porrada de coisas…
    — Não é sobre isso!
    — Conheci sua família e fui legal com todo mundo, até com aquele seu tio desgraçado!
    — Amor—
    — Como que não pode não ser pra mim tanto quanto pra você?! Não faz sentido nenhum isso!
    — E porquê que sua família não me conhece?
    — Não tem família pra conhecer! Eu só tenho minha irmã!
    — Ela não é família?
    — Claro que é, mas é só ela, não tem pai nem mãe nem tio nem porra nenhuma.
    — Não xinga!
    — Só não te apresentei ainda porquê… sei lá, isso importa?
    Debra ficou o encarando incrédula quando dizia:
    — Tudo você fala “a gente”. “a gente vai vê” ou “a gente da um jeito” ou “a gente consegue”, quando não é a gente é “nós dois”, “nós dois somos fodas”, “nós dois vamos resolver” ou “tudo vai dar certo pra nós dois, baby”, mas como me diz… como que pode existir um “nós dois” quando só um de nós trás o outro pra dentro da sua vida?
    Pedro ficou calado.
    — Pedro eu não sei nada sobre o seu passado, você só me conta as histórias engraçadas e coisas assim, até depois que eu te contei sobre o meu tio achando que talvez você também fosse se abrir pra mim você só… continuou.
    — Você disse aquilo esperando algo em troca?
    — Não, eu disse aquilo porquê confio em você, mas não sei se você confia em mim também.
    Ela olhava para ele tentando encontrar ali alguma resposta mínima em seu olhar, e encontrou uma tentativa, por alguns segundos deu para ver Pedro quase formando uma frase, quase falando algo, talvez uma confissão? Um pedido de desculpas? Algo concreto, Debra queria qualquer coisa na verdade, mesmo que fosse um “tá bom”, com isso ela iria dar a briga por terminada, talvez ficassem se dando um gelo pelo telefone por algum tempo mas seria isso, “deixa tudo como tá”, mas não aconteceu.
    O que quer que Pedro fosse falar desistiu, deixou para ele; apenas continuou olhando para a estrada e aumentou o volume do rádio.
    A gente não vai errar não! 🎶
    A gente não vai errar não! 🎶
    — Inacreditável — Ela disse inconformada — inacreditável.
    E se a gente errar!!! 🎶
    A gente foi feliz tentando acertar! 🎶
    Debra se virou para a janela e assim ficou até o fim da viagem; em silêncio.
    Deixa tudo como tá… 🎶
      
           4 meses depois
           Capítulo final
              Mundo Pequeno
            Paulinha  •
    — Tu num é a noiva do Carlinhos?! — Diz um motoboy que parava para abastecer.
    Paulinha trabalha em um posto de gasolina, não como frentista e sim como gerente; o posto é aquele que o amigo de seu ex noivo lhe indicou, que fica na esquina do colégio Nilopolitano, no centro da cidade; agora ela tem um bom salário e um trabalho até que bem gratificante apesar do sol escaldante daquela manhã quente de Nilópolis.
    Paulinha emagreceu, não muito mais o suficiente pra começar a se sentir bem consigo mesma, não que os problemas de autoestima tenham ido embora, porém, certamente estão mais acentuados.
    A Loirona Gostosa veste uma camiseta escura com uma branca por baixo, uma calça também azul bem larga (para Paulinha isso significava uma calça super confortável) e botas pretas; seu cabelo está mais longo mas no trabalho ela sempre deixa preso com uma “xuxinha”.
    — Bom dia, eu fui a noiva dele sim.
    — Bom dia! — respondeu se sentindo reprovado por não ter dito isso antes “e tem que sentir mesmo!” — meus pêsames, curtia muito a escola dele! Só harmonia e samba foda.
    — Pois é né, João! Vem atender ô da moto!
    O posto tinha cinco frentistas e um estagiário, o João, que era quem os outros mandavam para lidar com os clientes que não gostavam, mas é claro que João não sabia disso.          
    Paulinha se dirigiu até a bancada onde ficava o frigobar, um telefone fixo, os armários dos funcionários e a agenda da gerência, sentou-se e bebeu uma aguinha gelada.
    Seu dia a dia no trabalho era assim, observar seus colegas de trabalho e cuidar para que não de nada de errado; meses últimos três meses convivendo com esses homens ela pode conhecer bastante sobre eles, sabe quem trai a esposa, quem gasta o salário em jogo do bicho, quem frequenta o Eros Club todo fim de expediente… mas também sabe quem é um ótimo trabalhador, quem sabe conversar sobre política sem ofender os colegas, quem consegue fazer uma partida perfeita e sem erros no Guitar Hero, quem sabe cantar no karaokê as músicas da Adele sem desafinar… são todos boas pessoas, ela gosta muito de todos ali, e acredita que gostam dela também; Claro, até onde se dá pra gostar de seu “chefe”, Paulinha tem ciência disso, mas acredita que faça parte daquela pequena família ali… com o João.
    — Fala aí, chefona! — Disse Renan, o primeiro a dar um oi e quem apresentou o posto para ela no primeiro dia — como você tá? — ele estava todo sorridente.
    — Fala aí, Renan, tô com um calor desgramado mas tô bem, e você?
    — Bem também — Pegou um banquinho e sentou-se perto dela; Renan tinha trinta e dois, era moreno e, apesar da idade, já era grisalho — Sobre aquele assunto, tem alguma novidade?
    — Ah… desculpa amigão, o pessoal não me autorizou a dar um aumento.
    O sorriso no rosto dele foi pouco a pouco diminuindo.
    — Putz… eu tava precisando dessa.
    — Eu sei, argumentei, disse o que você faz aqui e do seu empenho mas não colou, desculpa mesmo.
    — Não precisa de desculpar, não é culpa sua.
    Paulinha olhava para ele com pena.
    — Como que tá lá?
    — Ah, ela tá indo, os remédios são caros mas estamos dando um jeito.
    Paulinha pegou sua carteira mas Renan interveio segurando sua mão.
    — Não não, não precisa, sério.
    — Para de ser bobo, deixa eu ajudar.
    — Sério, não precisa, eu vou dar um jeito… fica pra você.
    — Cara… — ela guarda a carteira e fica pra baixo por ele — Sabe que se eu fosse milionária eu faria tudo pela sua filha.
    — Eu sei — respondeu com um largo sorriso — eu sei… falando nisso, soube que o resultado vai sair hoje da loto? Duzentos milhões, mulher!
    “Porra amigão… foi uma boa forma de mudar de assunto, admito…”
    — Tô sabendo sim, minha amiga não me deixa esquecer.
    — A Brendinha?
    — Ela mesmo.
    — Pow ela é muito gente fina, comprei uns sacolés pra Milena semana passada com ela!
    — Sério? Ela gostou?
    — Adorou, quando puder eu vou pegar mais lá com ela.
    — Que bom, pelo menos ela se alegra com um docinho né.
    — Sim sim, mas porquê a Brendinha não te deixa esquecer?
    “ ‘Brendinha’, ainda não tô acostumada com isso…”
    — Uns meses atrás ela me fez fazer o mesmo jogo que ela, e o irmão dela disse ainda pra fazermos o mesmo jogo duas vezes, ou seja, fui praticamente obrigada e jogar na loteria, aí agora eles estão falando disso toda hora.
    — Essa estratégia de jogar duas vezes é boa.
    — Tem que ser mesmo, porquê eu não estava nenhum pouco afim de jogar, aliás, isso foi logo depois daquela briga lá na praia.
    — Sério?! — Disse rindo — sensacional! Mas você lembra qual foi o jogo?
    — Lembro nada!
    O telefone fixo começou a tocar.
    — Ih! — reagiu Renan — devem ser os caras, será que mudaram de ideia?
    — Tomara que sim.
    — Show, vou lá trabalhar tá chefona! Qualquer coisa me chama.
    — Pode deixar, vai lá!
    Renan voltou para perto dos demais e Paulinha atendeu o telefone, pronta para ouvir algum pedido pra inspeção ou de algum documento da sua agenda… mas não era ninguém do trabalho.
    — Alô?
    — Oi, Paula.
    — …ah… oi… oi mãe — “Como… como ela conseguiu esse número?” — c-como conseguiu esse número?
    —…Essa é sua primeira pergunta?
    — C-como a senhora tá?
    — Não sabia que você tinha se tornado gaga.
    — Gaga? O-oque? Ah, não, só… só estou cansada e com calor.
    — Sei. Cansada e com calor. Claro.
    — …
    — Quanto tempo você é frentista?
    — Não sou frentista, eu gerencio.
    — Entendi, você gerencia… bacana… conseguiu isso por causa do seu noivo?
    — Você quis dizer meu ex noivo? Não.
    — …Sei.
    Paulinha bebeu mais um gole d’água, sua garganta estava seca novamente.
    — Não me respondeu, como a senhora está?
    — Eu tô bem, indo… a pensão daquele corno do seu pai até que dá pra pagar a casa.
    — Nós duas sabemos que o papai não era corno.
    — Era sim! E você é uma igual a ele!
    — Me ligou pra ficar ofendendo a mim e ao papai?
    — Eu te liguei pra te perguntar como você está — “e até agora não perguntou” — já que se depender de você eu morro sem receber uma ligação sua, né.
    — Estou bem, obrigada por perguntar.
    Mais um gole de água, “maldita garganta.”
    — Soube da Fernanda?
    — Sim, eu vi no Facebook.
    — Hm… eu fui no casamento, foi lindo.
    — É eu vi que a senhora estava lá.
    — Me perguntaram de você… e sobre o seu casamento, não soube o que responder.
    — …
    — Está casada?
    — Não.
    — Noiva?
    — …Não.
    — Namorando pelo menos?
    Paulinha começou a respirar fundo, nem conseguia mais olhar para o nada, seu olhar precisava se apoiar em algo mas nem isso ela conseguia, e quando respirou novamente pela boca, mas aquele ar rápido que entra quando alguém está prestes a chorar, sua mãe ouviu.
    — Paula Guimarães de Mello, você está chorando?
    — …Não.
    — Sei… claro que não está. O Carlinhos era tão bom, — “Claro que era! CLARO QUE ERA” — muito triste o que houve com ele… eu soube que o Tinho mora por aí também nesse fim de mundo, deveria ir falar com ele, dar uma nova chance.
    — …
    — Você precisa disso.
    — …
    — Como pode ser feliz sozinha? Me explica?
    — Tchau, mãe.
    E desligou.
    Ficou encarando o telefone por uns bons minutos até finalmente ficar aliviada de que ela não ligaria de novo.
    “Engole o choro, anda!”
    Se recusou a limpar o rosto, não até conseguir parar de chorar.
    “Anda!”
    Nesse momento lembrou da voz de seu velho.
    “Engole o choro, filha”
    “Mas tá doendo! O soco dela foi muito forte”
    “Eu sei que foi, mas é justamente por isso que você tem que engolir o choro, o soco dela pode ser forte, mas você? Você é muito mais! mais forte do que qualquer soco! do que qualquer adversidade!… você é a mais forte de todas… e sempre vai ser”
    Sua última lágrima caiu no chão, limpou seu rosto com a manga da camisa e bebeu mais um gole de sua água, enquanto encarava sua mão esquerda.
    Enquanto encarava seu dedo anelar.
    — Paulona! — gritou Marcos junto dos demais frentistas, quando ela olhou eles apontaram para o relógio — deu nossa hora, Loirona!
    Ela respirou fundo e gritou:
    — Aquele pessoal preguiçoso da tarde não veio ainda?! — Com aquela energia de sempre, como se nada tivesse acontecido.
    — Não vi ninguém não! — Respondeu Renan.
    — Então vamos fechar tudo! Bora meter o pé que eu ainda vou fazer uma caminhada!
    ••Brenda •
    — Fernando! — Gritou Brenda — Já lavou a louça?!
    Ela estava amarrando o tênis para caminhar com sua velha amiga, vestia um shortinho rosa, uma camiseta preta, meias brancas, tênis brancos da Nike e uma mochilinha de pano roxa só pra levar sua garrafa, uma colorida que mostra os horários de cada refeição.
    Brenda também estava diferente, começou a acompanhar Paulinha nas suas caminhadas há quatro meses, fez isso para motivar sua amiga mas acabou gostando; Está mais magra, mais sorridente e seu cabelo agora é um Blackzinho com cheiro de chiclete.
    — Hoje é dia do tio Marcos!
    — Dia de tio é o caramba, é seu! Pode descendo! Anda! Você e ela!
    — “Dia do tio Marcos” — Disse seu irmão, enquanto assistia televisão do sofá — que moleque safado!
    — Mas é seu dia mesmo, — sussurrou — só tô te dando esse desconto porquê vai levar a gente na mata.
    — Sei disso de dia não.
    — Sei. Sei. Agora levanta, a Paulinha já saiu do trabalho, vamos pegar ela lá!
    — Quem me dera pegar ela lá!
    — Você não começa!
    Fernando e sua namorada desceram e foram direto pro sofá.
    — Tão sentando porquê?! Vai lavar a louça menino! — Gritou Marcos, rindo.
    — Quem manda aqui sou eu, Marcos! Deixa que eu falo! — Disse Brenda — TÃO SENTANDO PORQUÊ?! VÃO LAVAR A LOUÇA!
    A namorada de Fernando riu e ele respondeu:
    — Vocês não vai sair?!
    — Vocês não VAI sair?! Tô pagando escola pra que?!
    Todos riram muito e ele se corrigiu:
    — Vocês não irão sair? Pode deixar que quando a senhora chegar a louça vai estar lavada!
    – Acho bom mesmo! — Disse Marcos pegando a chave do carro e saindo.
    — Eu que mando aqui, Marcos! E vocês dois, ACHO BOM MESMO!
    — Tchau mãe, boa caminhada!
    — Tchau, bom filme, beijos!
    Família boa…
    Os dois entraram no carro e partiram para encontrar Paulinha no posto.
    ••
    — Olha ela ali! Ali Marcos!
    Paulinha estava usando uma calça legging preta, uma camiseta vermelha, meias brancas e tênis pretos.
    Paulinha entrou no carro e seguiram viagem.
    — Demoraram, hein!
    — Que isso, demoramos nada! — Disse Brenda — Como você tá, amiga?
    — Meio sei lá, depois te conto.
    Brenda olhou para sua amiga pelo retrovisor e só pelo seu olhar ela já soube o motivo, poucas coisas podem deixar Paulinha tão mal quanto… “a mãe dela… será que elas se falaram? Tem coisa ai…”
    — Entendi… e como foi o trabalho? Marcos quer saber.
    — Claro que ele quer.
    — Me tira dessa aí — Disse rindo — Já desencanei da Paulinha.
    “MENTIROSO!!!!”
    — Sei.
    — Graças a Deus né, Marcos — Disse Paulinha — Bola pra outra, tanta piranha loira por aí e tu mira na que menos te dá bola.
    Brenda riu e disse:
    — Vai ver esse foi o que encantou ele!
    — Deixa baixo! — Marcos exclamou — Deixa baixo!
    Os irmãos riram e Brenda tentou mudar de assunto, já conseguia ver que o irmão estava um pouco constrangido:
    — Loirona, loto hoje hein!
    — Tô sabendo…
    — Vocês jogaram né?! — Perguntou Marcos.
    — Irmão! Tu sabe que sim! Tá me estranhando?
    — Sei lá, tu anda esquecida.
    — Nós duas jogamos a uns quatro cinco meses atrás ôôôô adotado.
    — Adotada é tu.
    Paulinha riu “tão bom ver ela rir” e disse:
    — Jogamos os números das nossas… primeiras vendas somadas? Acho que foi isso né, neguinha?
    — Acho que foi…
    — Algo assim.
    — Jogaram duas vezes? — Disse Marcos.
    — Sim…
    — Bom, tem que jogar duas vezes! Meu cliente falou.
    — Te falei né Paulinha dessa teoria do cliente dele?! Lá da mecânica?!
    — Falou sim, só umas quinze vezes.
    Os três riram e Marcos comentou:
    — Mas faz sentido pow!
    ••
    Chegaram na mata pela entrada do estacionamento onde um caminhão de peixaria estava descarregando em um armazém próximo ao portão, Marcos parou o carro um pouco distante do veículo e já começou a manobrar, iria voltar para casa para ver o resultado da loto e o jogo do Mengão que iria rolar depois, mas seu principal objetivo mesmo era não deixar que Fernando ficasse aos amassos, na cabeça dele era bem engraçado “empatar foda”.
    — Se cuidem hein meninas, e cuidado com o assassino da mata hein!
    As duas saíram do carro e Paulinha disse:
    — Como se a gente tivesse cara de adolescente.
    — A última que desapareceu aí tinha vinte e poucos pow — Disse Marcos, com uma leve preocupação, sempre ficou preocupado com essa história da Brenda ir andar na Mata, cinco meninas já sumiram nos últimos seis meses, mas ela estar acompanhada e sua companhia ser a Paulinha sempre o tranquilizou — não era adolescente não.
    — A gente sabe se cuidar, Marcão.
    — Disso Nilópolis toda sabe, Loirona Gostosa.
    Ela sorriu pra ele e deu as costas, de certa forma aquele sorriso melhorou bastante seu dia.
    — Tchau irmão! — Disse Brenda e acompanhou Paulinha que, para seu azar, pisou em um peixe — Amiga!
    Paulinha olhou para ela, nem havia percebido.
    — Tu pisou num peixe, mulher!
    Ela olhou para baixo e se tocou, ficou enojada começou a esfregar o tênis no chão como quem pisa em cocô de cachorro enquanto sussurrava palavrões.
    — Tchau de novo, irmão! — Disse rindo.
    — Tchau, mana! Fala pra ela lavar bem o tênis quando for pra casa.
    — Pode deixar! — Pegou no braço de Paulinha e partiram para dentro da trilha.
    Antes de virar o caminho e perder Marcos de vista, viu ele parando seu carro ao lado direito de um Fiat Uno vermelho que vinha no sentido contrário, em direção a Mata.
    — Peixe filho da puta.
    — Seu tênis vai ficar fedendo agora.
    — Tô sabendo… teu irmão, ainda tá caidinho por mim, né?
    — Está, está sim.
    — Sabia.
    As amigas seguiram à alameda até a entrada principal, não haviam muitas pessoas nem mesmo nos quiosques, alguns jovens estavam sentados nas mesas de pedra próxima a entrada e no caminho à frente o que dava para ver eram apenas duas ou três famílias, os desaparecimentos certamente afetaram a popularidade do lugar, o que para Paulinha era ótimo, “quanto menos gente melhor!”
    A tarde estava bastante quente, não tanto quanto aquela há quatro meses atrás lida por você caro leitor, mas era bastante quente; Depois de seguirem a bifurcação da direita da alameda principal de caminhada, Brenda puxou assunto:
    — Amiga… o que houve?
    — Do que você tá falando?
    — Você estava mal quando entrou no carro.
    — Ah… não era… não era na…
    Paulinha olhou para baixo e não conseguia falar qual era o problema, Brenda sentiu que deveria perguntar logo o que achava ser o problema, “mas e se ela não quiser falar sobre isso?…”
    — Se não quiser falar sobre, tudo bem.
    — Era… foda-se, era sobre minha mãe.
    — Eu imaginei… o que aconteceu?
    — Ela me ligou, ligou pro meu trabalho na verdade.
    — Pro seu trabalho? Como ela conseguiu o telefone de lá?
    — Sei lá…
    — …Ela… ela falou alguma coisa?
    — Falou… falou que eu deveria dar uma nova chance pro Tinho.
    — Tinho? Aquele maldito que te traiu e foi super ultra tóxico com você o namoro inteiro?
    — Ele mesmo, disse que ele tá morando em Nilópolis.
    — Graças a Deus nunca vimos ele, eu mesma se visse iria jogar na cara dele o que tivesse na minha mão!
    Paulinha deu um leve sorriso mas… pareceu forçado, algo para aliviar a tensão mas não deu muito certo.
    Paulinha continuou:
    — Ela é o tipo de mulher que acha que todas precisam casar, ter uma família e cuidar do seu marido… eu sou meio que uma decepção — Essa última palavra ela disse com bastante peso — sempre fui na verdade.
    — Casar? Cuidar do seu marido? Menina, mulher não precisa de homem nenhum, eu trabalho pra mim e por meu filho, meu irmão me ajuda mas tem a vida dele, esse negócio de toda mulher tem que se casar e viver com homem do lado é do passado.
    — Eu sei… mas ela disse que é o que eu preciso.
    Brenda pensou bastante no que diria a seguir, não queria pressionar mas também queria que ela disse-se o que pensava sobre si mesma, e torcia muito para que não acreditasse no que sua mãe maldita havia posto na cabeça da própria filha… “ah Paulinha… lá vai…”
    — E ela tá certa?
    Brenda a encarou, olhou para seus olhos… perdidos, olhando para o nada, reflexivos…
    Antes que Paulinha pudesse responder qualquer coisa, um homem as abordou:
    — Boa tarde, tudo bem? — Ele era branco, loiro, usava uma regata branca e uma jaqueta Florida por cima, uma calça jeans e tênis pretos, Paulinha o reconheceu na hora, era aquele loirão gostoso que havia visto há muito tempo atrás.
    — Boa tarde, tudo bem sim! — Disse Brenda com um sorriso enorme no rosto.
    Paulinha não respondeu, apenas deu um sorriso forçado.
    — Desculpa interromper vocês mas… já não as vi em algum lugar? Eu acho que foi num vídeo… — A voz dele era aveludada, suave, linda de se ouvir.
    — Viu sim! — Brenda respondeu toda risonha — somos as irmãs do sacolé!
    — Isso mesmo! Poxa que coincidência, o que fazem por Nilópolis?!
    — Somos de Nilópolis!
    — Sério?! Que bacana!… você, Loira, eu  já vi você, foi por aqui não foi?
    — Sim, eu estava voltando pra casa… estava mais gordinha na época.
    — Eu ia falar isso agora! Emagreceu, e você luta bastante né? No vídeo tu arrebenta dois caras ao mesmo tempo!
    Brenda ria dos comentários alegres do estranho bonitão e Paulinha dava sorrisos forcados para não estragar o clima; ele continuou:
    — Poxa que demais, bom ver vocês por aqui, estão dando uma caminhada?!
    — Sim! — Vamos só até ali no fim da estradinha e voltamos, — Brenda explicou — não seguimos até a Cedae não, por segurança.
    — Ah, que isso, eu levo vocês lá, é de boa!
    — Não, obrigada, preferimos ficar só nessa área mais próxima da entrada!
    — Não não, que isso, faço questão — sacou uma arma e apontou para elas.
    Era um revólver.38, de tambor, ele o manteve próximo ao seu corpo, sem o erguer e nem fazer escândalo, e também se manteve calmo, na verdade se mantinha até mesmo o tom alegre e espontâneo com que se apresentou:
    — Vamos lá, mostro pra vocês como é lá dentro.
    Brenda não sabia como reagir, ficou apavorada, sua vida inteira passou diante de seus olhos, não podia morrer, Fernando ainda estava na escola, ele precisa dela, precisa.
    Paulinha também não sabia como reagir, seu olhar era mais de descrença do que pavor, não conseguia acreditar naquilo; Já havia visto esse homem antes, já até conversara brevemente com ele, “como isso era possível? Que tipo de coincidência maldita era essa?”
    — Vamos meninas! Vamos lá! Garanto que vão gostar do lugar! Mas sem gritar por favor, um lugar tão calmo como esse não pode ser perturbado por gritos, concordam?
    ••
    Passaram pelo portão da Cedae abandonada, estava tudo enferrujado com exceção da corrente e cadeado que ele usou para trancar; Brenda se mantinha desesperada mas sem reagir, mantinha todo seu pavor controlado, seguindo as regras de se captor e se apoiando em Paulinha, que virou seu principal alicerce de sanidade.
    Ela segurou o braço de Paulinha assim como Fernando segurava o seu poucos anos antes, o que Paulinha fizesse, Brenda faria também; não parava nem por um segundo de olhar para Paulinha, sentia que se por acaso olhasse para seu captor o medo se tornaria real.
    Real.
    A Loirona Gostosa não parava de observar ao redor, tentava encontrar alguma forma de incapacita-lo, se ela conseguisse tirar sua arma, iria acabar com cada ossinho de seu corpo… “mas como?! Como eu me livro daquela arma?!”
    A Cedae era cercada por uma cerca gradeada muito enferrujada, do lado esquerdo do portão tinha um espacinho de terra recentemente cavada, Paulinha achava que Brenda poderia passar por ali, mas ela…
    — A entrada é logo ali, irmãs do sacolé.
    Elas olharam para trás e encararam o prédio com mais atenção.
    As paredes estavam imundas e com a tinta branca se descolando, as janelas estavam empoeiradas e algumas quebradas, provavelmente por conta de crianças jogando pedras; os vidros eram grossos, tão grossos que as partes quebradas até poderiam ser usados como lâminas (Paulinha pensava apenas nisso), e a porta metálica da entrada principal também estava com uma corrente e cadeado.
    O loiro tomou liderança do caminho e, com uma chave, abriu o cadeado e retirou a corrente, as duas repararam que ele não usava chaveiro, as chaves estavam soltas em seu bolso; ao abrir a porta, tudo que elas puderam ver naquele corredor da entrada era um chão sujo e corrimãos amarelos no fim do mesmo.
    — Cheguem mais, “mi casa és su casa!”!
    Brenda só pensava em Fernando, já Paulinha… “Como é possível que não tenha NINGUÉM para ver o que está acontecendo  aqui!”
    Paulinha deu os primeiros passos e Brenda a acompanhou, as duas adentraram o lugar escuro e empoeirado e sentiram o cheiro… o cheiro que nunca mais esqueceriam: o cheiro do medo.
    O ar estava quente, úmido e morto, havia o fedor vindo dos canos de tratamento de água abandonados pelo tempo, nas paredes havia não só poeira e fungos como algo mais… algo mal.
    Ele fechou a porta e trancou, depois se virou bem devagar para elas e dessa vez, dessa vez… não havia mais aquela animação de antes, agora havia mostrado quem realmente era; seu olhar estava muito mais profundo e sem emoção, no fundo dos seus olhos não havia nem mesmo aquela empatia falsa de antes, apenas o mais profundo mal: a ausência de humanidade.
    — Continuem andando. Eu digo quando parar.
    As duas seguiram em frente, ouvindo os passos lentos e pesados atras de si; No final daquele corredor escuro e sujo havia uma entrada sinuosa, ao olharem para lá viram um corredor longo, mal iluminado com apenas poucos focos de luz no teto, as paredes eram de ferro, já bem laranja, coberto de ferrugem, com desenhos de símbolos quase que religiosos, nomes escritos com fios de palha que Paulinha e Brenda não conseguiam nem mesmo pronunciar em suas mentes, e pelo caminho, alguns chinelos e pedaços de roupa, dava para ver que haviam sido bem mais do que cinco vítimas.
    Paulinha e Brenda seguiram por ali em silêncio, Brenda chorando muito mas fazendo de tudo para não fazer nenhum barulho. Após alguns passos nesse corredor, ouviram o passo daquele homem adentrando no corredor também, e o som de seu passo foi completamente assustador para Brenda, foi como um estouro num lugar vazio, o som pesado passou por seus ouvidos como uma bala, fazendo-a gritar.
    — Silêncio. — Disse aquilo atrás delas, calmo.
    Paulinha segurou a amiga pelo rosto e olhou em seus olhos:
    — Neguinha… vai dar tudo certo… agora fica calma por favor.
    Por mais incertas que aquelas palavras fossem, foi o bastante para deixar Brenda calma, por um instante se sentiu segura, mesmo adentrando possivelmente no que seria seu fim.
    — Tá bom… — Foi o que foi capaz de responder — tá bom…
    Paulinha segurou em sua mão e continuaram em frente, de repente começaram a ouvir uma voz em suas mentes, uma voz grossa que dizia algo incompreensível, mais parecia um ruído, um sibilar, algo gutural que a cada passo que davam mais alto ficava em suas mentes.
    Paulinha também estava assustada, na verdade, apavorada, mas sabia que sua amiga precisava dela, sabia que, se entrasse em pânico, Brenda também entraria.
    “Por ela… por ela.”
    Andaram por menos de dois minutos naquele corredor e quando finalmente chegaram numa sala escura o sibilar parou.
    Nela havia um altar de palha no centro com um livro bem grande, sua capa parecia ser de pele humana… acima dele havia uma criatura estranha esculpida em pedra, a escultura era pequena (cabia em mãos grandes), possuía textura áspera, asas e longos tentáculos; no canto direito da sala tinha uma mesa cheia de ferramentas, lâminas, bisturis… e nas paredes haviam ganchos com pedaços de carne em decomposição, talvez uma dezena ou uma dezena e meia, na escuridão não dava para ter certeza.
    Brenda em sua inocência ou como uma forma de se preservar de demais pensamentos, imaginou que fossem carnes de animais, já Paulinha, sabia bem que aquelas eram as outras meninas, e novamente, bem mais do que cinco…
    O cheiro era acachapante, a mais pura podridão que tomava conta dos sentidos de Brenda e Paulinha, era nauseante estar naquela sala, completamente nauseante; Assim que entraram se encostaram numa parede e ficaram olhando para baixo, ouvindo os passos daquilo vindo até a sala para se juntar a elas… foi então que… ouviram mais do que apenas dois passos… espera… passos de cachorro?
     ••        Pedro •
    Pedro acordou de um sonho que não queria despertar, um sonho bom, com ela; Somente quando abriu seus olhos pode perceber que havia dormido no sofá, estava pelado e tinham quatro latas de cerveja no chão, esperava que Malhado não tivesse lambido nada (e provavelmente não lambeu mesmo, Pedro bebeu até a última gota pelo o que se lembra), e também esperava ter trancado a porta de casa antes de cair na bebedeira completamente pelado em sua sala.
    Esse sofá era o lugar favorito dela na casa, mais do que a cama! aliás as cervejas eram Skol, a favorita dela, “porra, CHEGA! Vamos acordar ! Levanta seu merda, anda!!!”
    Com bastante esforço conseguiu se sentar, Malhado estava deitado próximo a cozinha, olhando para ele.
    — E, bêbado por causa de mulher de novo, eu já sei, não precisa jogar na minha cara.
    Malhado girou a cabeça pra direita como se não entendesse o que ouvira.
    — O que foi? Tá com fome? Quer passear?
    Girou a cabeça para a esquerda.
    — O que? Já me viu pelado antes Malhado, não me julga não que é feio julgar alguém pela aparência.
    Malhado colocou a língua para fora e ficou respirando rápido, com um sorrisinho fofo e espontâneo.
    Pegou seu celular para fazer seu ritual matinal dos últimos dois meses: conferir mensagens e ligações perdidas.
    — Ah… nada… que surpresa.
    O namoro de Pedro não durou muito depois daquela conversa na Avenida Brasil, deram um gelo um no outro até voltarem a se ver novamente, mas não foi a mesma coisa, parecia que o brilho havia sumido, mais para ela do que Pedro que descobriu de uma vez por todas que segredos criam barreiras entre as pessoas, e essas barreiras as vezes podem ser bem difíceis de serem quebradas.
    Largou seu telefone no sofá, coçou a barriga e disse para Malhado:
    — Vamos passear, amigão? — Que respondeu mexendo a cauda de um lado para o outro.
    Pedro tomou um banho de água gelada, foi difícil no começo e chegou a pular quando a água encontrou sua pele, mas se acostumou rápido, depois do banho comeu uma banana e deu outra para Malhado que gostava de comer com casca e tudo.
    Vestiu uma blusa marrom, bermuda azul escura, colocou seu cordão que foi presente dela, duas havaianas pretas e um relógio de prata (falso, óbvio).
    Depois de colocar a coleira em Malhado, olhou para sua arma logo acima da cômoda, tem levado ela bastante consigo recentemente (desde que brigou com ela! Que brigou com ELA!!!), tem deixado sempre no coldre da cintura, mas nos últimos dias têm seguido o conselho de Marcão, pode até ouvir sua voz dizendo:
    ‘Deixa essa parada em casa, piroca! Tu tá muito abalado com aquela mulher, vai acabar fazendo besteira ‘cah’’ 
    “Porra…”
    Decide deixá-la onde está e parte para a Mata.
    ••
    Com Malhado no banco do Carona, Pedro dirige sua Fiat Uno vermelha até o Gericinó (Mata, para os mais íntimos), já se acostumou a ter seu velho amigo ao seu lado em todas as viagens de carro, antes era ela mas “meu Deus, chega disso, para de pensar nela!!!”
    Quando chega próximo à entrada do estacionamento vê Marcão manobrando, vindo em sentido contrário, parou o carro ao seu lado e gritou:
    — Fala aí, Marcão!
    — Fala aí Piroca! — Disse todo sorridente, também acenou para Malhado — Totó! Indo passear é?
    — Sim, vou levar ele pra dar uma voltinha, tá precisando.
    — Ele ou você?
    “Porra, Marcão…”
    — Nós dois, né, nós dois…
    — Como você tá, ‘cah’?
    — Tô indo, acho que já tô melhor agora.
    — Sério mesmo?
    — Sério pow, essa noite mesmo eu dormi com uma piranha aí.
    — Sério?! — Não pareceu acreditar — que piranha?
    — Uma aí… acordei com ela no sofá.
    — Sei… mas olha cara, tu vai superar essa, quando tu vê, ela que vai atrás de tu e você nem vai estar mais lembrado de quem era ela — “literalmente impossível “— Vai por mim!
    — Sei…
    — Mas agora eu tenho que ir lá, boa caminhada aí, Piroca!
    — Valeu, Marcão.
    — Ah, minha irmã tá aí pow, deixei ela aí com uma amiga dela, da uma olhada nelas pra mim? Deixa ninguém tocar não, principalmente na loira, é minha! — Disse rindo.
    — Tua namorada?
    — AINDA não! AINDA!
    — Sei — riu — Valeu, Marcão.
    — Valeu, Piroca! — Gritou e seguiu viagem: Pedro gostava bastante do Marcão, talvez não devesse, mas gostava.
    Pedro avançou para dentro do estacionamento da Mata e quando passou por um caminhão que estava descarregando peixe num armazém e Malhado quase pulou pela janela.
    — Calma aí, amigão! É só peixe!
    Colocou seu carro numa das muitas vagas livres, pegou seu amigo pela coleira e seguiram para a trilha.
    ••
    Malhado já havia feito xixi três vezes e cocô duas, Pedro não aguentava mais a agonia de ter que torcer pra ninguém estar vendo que esqueceu os saquinhos de necessidades do seu animal, estava aliviado que agora (pelo menos nos últimos cinco minutos) Malhado parecia não precisar mais fazer o que ninguém poderia fazer por ele.
    Subiam a estrada de terra que levava até uma Cedae abandonada quando Malhado começou a agir estranho.
    — O que foi garoto?!
    Ele não parava de olhar para o prédio esquecido, o que era bastante bizarro já que Pedro o levava para ali quase todos os dias e aquilo nunca tinha acontecido.
    — Viu alguma coisa?
    O bichinho estava cheirando sem parar, parecia sentir algo vindo de lá.
    — O que foi, Malhado?!
    Foi então que o cachorro deu um pique que Pedro não estava esperando e acabou deixando a coleira escapar de sua mão.
    — Malhado!
    Malhado correu para o portão da Cedae onde tentou forçar para abrir e nada aconteceu, depois correu para a cerca gradeada por onde ficou tentando pular mas também sem sucesso, até que começou a cavar numa área sem grama que Pedro julgou já ter sido cavada antes.
    — Malhado! Para!
    Malhado cavou rapidamente o buraco e conseguiu passar para o outro lado.
    — PORRA!
    Pedro ficou sem saber o que fazer, não iria conseguir pular o portão e aquela cerca parecia meio alta também; Malhado estava agora cheirando a porta metálica da entrada do lugar, Pedro sabia que se ele conseguisse entrar no prédio poderia cair em alguma entrada de esgoto ou algo assim e poderia acontecer o pior, o que lhe amedrontava profundamente.
    A única entrada era o buraco que Malhado havia cavado.
    — Puta que pariu… puta que pariu…
    E foi para onde foi.
    Com certa dificuldade conseguiu atravessar, ficou todo sujo de terra e sabia que quando chegasse em casa teria que tomar um senhor banho, não antes de deixar Malhado de castigo, “Você vai ter que dormir do lado de fora hoje seu féla da pulta!”
    — Entrou aqui porquê, porra? Me sujou todo!
    Malhado não parava de olhar para a fresta da porta.
    — Tá olhando para o que?! Tem comida aí dentro?!
    Foi então que ouviu um grito.
    Cão é dono tomaram um susto, o suficiente para um pequeno pulinho para trás.
    “O que foi isso?!”
    Foi um grito de mulher e veio lá de dentro, Pedro pensaria que foi só sua imaginação se Malhado também não tivesse pulado… tem uma mulher ali dentro.
    Em outro contexto, Pedro teria ignorado o que ouviu, teria se afastado e no máximo dito para alguém que certa vez ouviu um grito vindo de um prédio abandonado, talvez em algum encontro de amigos numa noite densa, como uma história de terror… mas cinco meninas haviam desaparecido nos últimos meses, não era uma história de terror, era realidade.
    — No que você meteu a gente, amigão?
    Malhado o encarava assustado.
    — Bora entrar aí.
    Pedro procurou por uma entrada, tentou a mais óbvia mas estava trancada com um cadeado e correntes que estavam muito novos para algo que havia sido abandonado a anos, “Puta que me pariu…”
    Caminhando ao redor encontrou uma janela quebrada, várias na verdade, mas apenas uma era grande o suficiente para ele é Malhado passarem sem se cortar.
    Pedro entrou sem fazer barulho, com passos leves e lentos, depois pegou Malhado no colo e o pousou gentilmente ao seu lado.
    — Fica comigo. Fica. Comigo.
    Pareceu entender o que Pedro dizia pois fez exatamente o que seu dono mandou.
    O lugar era muito empoeirado, tudo ali tinha um visual que parecia ter saído de uma história pós apocalíptica, mas o que mais amedrontava Pedro não era o visual, e sim o cheiro: podridão e maresia.
    Não fazia sentido para ele sentir cheiro de maresia num lugar tão longe de qualquer vestígio de praia, mas talvez fosse algo referente a estação de tratamento abandonada, pelo menos era assim que sua mente tentava explicar o que sentia.
    Pedro chegou a um corredor bastante aberto que dava para aquela porta principal, logo ali pode ver corrimãos amarelos que separavam o corredor de uma longa área de tratamento onde haviam dezenas de canos que vinham diretamente do subsolo… e Pedro ouviu um som vindo deles.
    Vozes guturais, mais pareciam ruídos na verdade… um sibilar grosso e amedrontador, que dizia palavras que Pedro não conseguia nem ao menos conceber e aquilo fez ele tremer na base pra caralho.
    Observando, a única conclusão que consegui chegar era que aqueles sons vinham de alguma coisa embaixo da terra… mas o que? O que seria capaz de fazer esse som tão… tão absento.
    Tentando ignorar aquele som, Pedro continuou andando naquele amplo corredor até chegar em uma entrada sinuosa, escura, que dava para um outro corredor bem mais estreito do que esse.
    Era um corredor escuro com poucas luzes no teto com espaço de uns cinco passos entre elas, paredes de ferro completamente tomado por ferrugem, com palavras escritas com palha e… ei, “tem um malandro ali…”
    Havia um homem de jaqueta florida, estava de costas para Pedro e talvez há uns trinta metros dele, era loiro e bem alto; Malhado entrou no corredor mas não deu muitos passos antes de olhar para Pedro e pedir sua permissão com o olhar, que não foi correspondido.
    — Ô amigão! — Gritou Pedro — O que que você tá fazendo aí, hein?
    O homem loiro parou de andar e lentamente olhou para trás, por estar logo abaixo de uma das luzes seu rosto foi logo reconhecido por Pedro como o do “Cara que anda pela mata”, já havia visto ele algumas vezes antes, nunca conversaram nem nada mas sabia dele, era ‘Um cara lá’.
    — Fala aí, irmão! — Disse Pedro novamente — Tá tudo bem ai?!
    O loiro estava com um olhar vazio, quase que morto, porém lentamente começou a demonstrar uma emoção: raiva.
    — O que quer?! — Gritou de volta.
    — Ah, nada demais, só estava olhando e vi esse corredor sinistro aqui e você aí dentro, só queria saber o que tá rolando.
    — Vá embora!
    “Tô querendo mesmo”
    — Cara eu até quero! mas é que ouvi uma mulher gritando e vim conferir! Sabe como é né, andam sequestrando meninas por aí!
    O homem pegou uma arma e apontou.
    — Meu Deus do céu! — Foi a reação instintiva — Faz isso não, cara!
    — Vai embora!
    Atrás dele, duas mulheres saíram de alguma sala, não conseguia ver muito bem seus rostos por estarem meio longe mas conseguia ver que estavam assustadas, tremendo, uma loirinha e uma pretinha… “espera…puta que pariu! A irmã do Marcão e a quase namorada dele?!”
    — Puta que pariu… — Sussurrou — Olha amigão! — Colocou suas mãos acima da cabeça, virou seu olhar para baixo e começou a andar lentamente em direção ao homem armado — não posso ir embora! Acho melhor você me prender aí com elas!
    — Que porra é essa?! — Disse Brenda.
    — Nossa ajuda. — Paulinha sussurrou.
    — Calem a boca as duas! — gritou o desgraçado loiro ao se virar e apontar para elas — voltem pra sala!
    — Amigão! — Gritou Pedro — Ouviu o que eu falei?! É que tu não me respondeu aí sabe como é né?! Não sou adivinho!
    O raptor juntou as costas na parede e começou a mirar para os dois lados, as amigas perceberam de que ele não estava preparado para uma situação dessas.
    — Vocês duas! Voltem pra sala! E você! SAIA DAQUI AGORA!
    Pedro estava se aproximando lentamente com Malhado logo atrás:
    — Mas meu amigo, eu não sei o caminho de volta! Eu tô perdido!
    Paulinha percebeu que o homem com o cachorro estava tentando o distrair e disse:
    — Pois é! Ele não sabe como sair daqui! Vai lá ajudar ele! A gente se virá aqui!
    O loiro avançou em Paulinha, colocou o cano do revólver eu sem pescoço e gritou:
    — CALA A BOCA SUA PUTA!
    Com ele tão próximo, Paulinha e Brenda puderam ver seus olhos… estavam vermelhos, vermelhos brilhantes.
    — Amigão! — Gritou Pedro.
    O homem se virou e, com passos rápidos, chegou próximo de Pedro e parecia estar prestes a dar um tiro.
    — FALEI PRA VOCÊ IR EMBORA, PORRA!
    Neste momento, Pedro olhou para a arma, sua vida estava prestes a passar pelos seus olhos… quando ele reparou que não haviam balas no tambor.
    “Acostumado a pegar só meninas, né seu desgraçado?!”
    — A arma está descarregada… — Disse Pedro com alívio e raiva, um sentimento similar a uma vingança — descarregada!
    Paulinha e Brenda tiveram uma epifania ao ouvir aquilo.
    “Descarregada?!” Pensou a Loirona, “Descarregada!!”
    O loiro chegou a apertar o gatilho naquele momento, mas como Pedro havia dito, não haviam balas, só fez barulho.
    Brenda soltou o Braço de sua amiga pois sabia o que aconteceria em seguida: um show.
    Paulinha avançou para o loiro, ele chegou a se virar para trás mas não tão rápido quanto a campeã nacional de boxe que com a mão direita agarrou seu pescoço enquanto com a esquerda socou sua barriga repetidas vezes, ele tentou batê-la com sua arma mas Brenda conseguiu o impedir dando um tapa em sua mão, lançando o revólver ao chão.
    — FILHO DA PUTA! — Gritou Paulinha.
    — ASSASSINO! — Gritou Brenda.
    — DEMÔNIO! — Gritou Paulinha.
    Paulinha desferia socos no estômago e olhos, um em seguida do outro enquanto Brenda dava chutes nas pernas e arranhões no braço, não demorou para ela se virar e ir até a sala pegar uma das lâminas que havia visto.
    Paulinha não parava nem por um segundo de o espancar, sentia-se não só expurgando todo medo e raiva que havia sentido desde que foi interceptado por aquela coisa do lado de fora quanto vingando todas as mulheres que aquilo havia feito mal.
    Numa das tentativas de se defender, o loiro pegou a cabeça de Paulinha para dar uma cabeçada, mas foi impedido por Pedro que pela primeira vez em anos desferia um soco na cara de alguém.
    O homem caiu no chão junto de todas as suas chaves que saíram de seu bolso, Paulinha aproveitou a queda para chutar seu tórax, após o quarto chute ele juntou suas forças para se levantar e nesse mesmo movimento pegar uma de suas chaves.
    Foi tudo muito rápido, se levantou com uma chave em mãos e se desvencilhou dos seus agressores, correu como nunca havia corrido antes para fora daquele lugar.
    — Malhado! Pega! — Gritou Pedro para seu cachorro que no mesmo instante começou a perseguir o maldito.
    — Ele vai fugir! — Gritou Brenda saindo da sala com um facão enferrujado enorme nas mãos.
    — Não vai não! — Respondeu Pedro, com a mão direita arrancou a bala do seu cordão que ainda estava com a marca de beijo dela e com a esquerda pegou o revólver.
    ••
    Por sorte, a chave que conseguiu pegar na fuga era a do cadeado da porta principal, destrancou o cadeado e arrancou aquelas correntes o mais rápido que pode, abriu a porta e correu!
    Não conseguia enxergar direito, o sangue que descia de sua testa atrapalhava sua visão, sua barriga doía MUITO e sentia que não estava mais conseguindo pensar com clareza, só sabia que deveria sair dali.
    Ao chegar no portão, usou o que restou de suas forças para pular por cima, deu um pulo com seus braços para o alto e com muito esforço ergueu seu corpo podre e ferido, foi quando viu aquele cachorro, o que estava com aquele cara!
    O cachorro latia muito e parecia assustador, mas não conseguia pular até ali em cima, sem tempo para comemorar ele apenas pulou para o lado de fora e continuou correndo, foi então que… que ouviu um barulho de grade…
    Malhado passou pelo buraco que havia cavado e avançou para aquele homem, aquele troço.
    “Ele mandou eu pegar, eu vou pegar!”
    Aquilo se virou para olhar de onde o barulho de grade vinha mas já era tarde demais e malhado estava trucidando seus testículos:
    — AAAAAAAAHHHHH!
    “Peguei!”
    ••
    Paulinha, Pedro e Brenda correram até a saída, o sibilar que vinha dos canos de esgoto sessou assim que os três passaram novamente pela entrada, ainda não sabiam disso mas iriam ouvir aquele som novamente pelo resto de suas vidas, quando estiverem sentados no sofá depois de um almoço de domingo, quando estiverem dirigindo numa estrada escura, quando estiverem sozinhos e imersos em seus pensamentos… mas isso não era algo para se preocupar agora.
    Chegaram no portão e se viram numa encruzilhada, os três pensaram ao mesmo tempo:
    “Deveríamos ter pegado as chaves”
    Pedro chegou perto do portão e disse:
    — Talvez eu consiga quebrar dando umas porradas com a arma!
    — Não vai ser preciso! — Gritou Paulinha, a Loirona correu e com o chute mais poderoso que já havia dado em sua vida, arrombou o portão, torcendo a corrente no meio e tombando tudo no chão.
    “Caralho”, Pensou Pedro.
    — Caralho. — Disse Brenda.
    O assassino que estava sofrendo com Malhado, deu um soco no focinho do pobre animal e chutou sua barriga, fazendo ganir na hora; Se levantou e tentou salvar sua vida, iria correr para longe daqueles três! Afinal, “eles não tem nem arma!”
    Pedro acoplou a bala com a marca do beijo de Debra na arma, girou a tambor, mirou… e disparou.
    A cabeça explodiu com o impacto.
    Pedro, Paulinha, Brenda e Malhado assistiram aquilo deixar de existir, pedaços do seu cérebro se espalharam pelo chão e seu corpo despencou como um saco de carne; Sangue e um líquido preto jorrava de dentro daquilo que costumava ser um monstro e agora era só isso: carne sangrando num chão de terra.
    Os três protagonistas observavam.
    — Ah… qual seu nome? — Disse Brenda.
    — Sou Pedro.
    — Prazer, Pedro, me chamo Brenda.
    — Brenda… prazer… você é irmã do Marcão?
    — Sou… sou sim.
    — Ele é meu mecânico.
    — Hm… olha só… mundo pequeno.
    — Pois é…
    — Essa daqui é minha amiga Paulinha.
    — Prazer, Paulinha.
    — Prazer, Pedro… — Ela respondeu.
         ••   Epílogo •
    O sol já estava quase se pondo, o céu estava amarelado, viaturas polícias estavam cercadas de curiosos, uma van da Rede Globo era cercada por seguranças, uma van da Rede Record tentava estacionar enquanto os repórteres caminhavam até os três sobreviventes para cobrirem sua matéria.
    Duas ambulâncias estavam no centro de todo aquele fuzuê, enquanto uma viatura do IML manobrava para deixar o local.
    Nas ambulâncias, estavam eles três, os sobreviventes e recente celebridades do município de Nilópolis: Paula Guimarães, Pedro Cunha e Brenda Oliveira.
    — Brenda! — Dizia a jornalista — Como foi que tudo aconteceu, fala pra gente!
    — Foi tudo muito rápido — Brenda falava enquanto as enfermeiras a colocavam na maca — ele chegou pra gente sendo todo alegre e do nada apontou uma arm— um enfermeiro passou na frente do microfone.
    Os curiosos gritavam, todos elogiando os três sobreviventes, eufóricos chamavam os três de heróis, a energia era tanta que a força policial e seguranças dos repórteres precisavam unir forças para evitar que invadissem a pequena área.
    — Pedro! Pedro! —  Gritou um jornalista do Balanço Geral para Pedro que tentava conversar com uma das enfermeiras sobre estar bem e não precisar de cuidados — É verdade que você possui passado militar? Gostou de matar vagabundo?
    — Eu não dou entrevistas! — E colocou suas mãos sobre o rosto — Cadê meu cachorro?! Malhado! — Um enfermeiro entregou o cachorro em seu colo, com uma bandagem ao redor da barriguinha.
    — Paulinha! — A Jornalista da Rede Globo gritava para ser ouvida, Paulinha estava de pé ao lado de Brenda enquanto a mesma era medicada — É verdade que o assassino estava desarmado quando morto? Acha que foi necessária sua morte?!
    Paulinha ficou puta e fechou a porta da ambulância.
    — Amiga, — Dizia acariciando a cabeça de Brenda — vai dar tudo certo, fica calma.
    Brenda deu um largo sorriso e respondeu:
    — Eu sei que vai.
    A ambulância partiu com Brenda e Paulinha para o hospital, uma equipe de jornalistas se preparava para entrar no covil do assassino junto da polícia e os demais repórteres tentavam, em vão, uma e entrevista com Pedro, que tampava seu rosto e só demonstrava se importar com o bem estar de seu cachorro.
    ••
    A lua já brilhava no céu quando Pedro finalmente conseguiu chegar em casa com Malhado, não aguentava mais explicar de onde havia saído aquela bala.
    Trancou sua porta e, exausto, se sentou em seu sofá, Malhado se sentou ao seu lado, apoiou a cabeça em sua coxa e começou a cochilar.
    — Tá cansado né, amigão… nós dois estamos… que dia…
    Tirou a camisa e pegou seu celular, haviam dezenas de ligações perdidas, de vários colegas, alguns amigos, algumas ex ficantes mas a maioria eram de sua irmã, “porra, tô famoso…”, estava prestes a ligar para ela quando viu uma que chamou sua atenção… uma chamada perdida de Debra.
    Encarou, sorriu, se entristeceu… e ligou de volta.
    Ela rapidamente atendeu:
    — Pedro?! Tudo bem?!
    — Oi Debra, tô bem sim.
    — Meu Deus, que bom, eu vi na televisão o que aconteceu, meu Deus meu Deus meu Deus, como foi tudo isso?
    — Tudo foi muito rápido, eu só entrei lá e… e aconteceu, não me machuquei nem nada, só fiquei preocupado pelas outras duas.
    — Que bom que não houve nada, o balanço geral entrou lá no covil, mostraram tudo, censuraram mas mostraram, tinha até um altar lá!
    — Tinha?
    — Tinha! Você não viu?!
    — Eu não fui tão a fundo, enfrentamos ele num corredor.
    — Tinha um altar de palha vazio lá! Desenhos de monstros nas paredes! facas!
    — Das facas eu sabia, uma delas voltou lá e saiu com um puta de um facão, nem usou, tadinha, tava doida pra enfiar aquele facão no rabo dele.
    Debra riu e Pedro se lembrou de como amava ouvir aquelas risadas, eram um som tão lindo, tão mágico, era como uma recompensa pra um dia tão… estranho.
    — Cara, — Ela disse ainda rindo — como que você consegue ser engraçado com algo tão horrível?
    — Dou meu jeito, sabe como é.
    — E como sei…
    — Hm…
    — Fiquei com muito medo de você… sei lá, eu fiquei apavorada quando te vi na televisão com os repórteres falando de assassino e gente morta e covil… meu Deus… — Ela começou a chorar — eu achei que tinha te perdido…
    — Ei… ei, calma, tá tudo bem, eu tô aqui, vivo e bem, Malhado também por sinal, esse cara sim foi um guerreiro.
    — Fiquei preocupada com ele também, foi bom ver ele na televisão, vi que um enfermeiro colocou um curativo nele.
    — Eu que pedi.
    — Ficou tão fofinho, tadinho.
    — É… ele tá dormindo aqui na minha coxa agora.
    — Hm… bom pra ele.
    — Pois é…
    Um silêncio se instaurou, aquele mesmo silêncio de antes, que não incomoda, que conforta, que acalma… e que Pedro sabia que queria pelo resto da sua vida.
    — Debra…
    — Diga-me.
    Ele respirou fundo antes de continuar.
    Pensou se deveria e… “Porra, óbvio que eu devo, chega de ser um marica…”
    — O meu pai nunca foi muito bom pra mim… nem pra mim nem pra minha irmã, e muito menos pra mamãe… ele… ele e a mamãe se divorciaram quando eu ainda estava na escola… ela ficou com a guarda e… e ele… ele ficou ainda pior com a gente depois disso…
    Seus olhos se encheram de lágrimas.
    — Ele dizia que eu era fraco…
    — Pedro—
    — Sempre dizia… que eu não poderia e nunca iria conquistar nada porquê… porquê eu não merecia… pois eu era um marica… ele via demais da mamãe em mim, quando ela passou a criar eu e minha irmã sozinho isso só piorou… uma vez ele olhou nos meus olhos e disse que nunca ia ser feliz… nunca, que eu nunca iria ter uma família porquê eu não era capaz… e… — Sua respiração acelerou, lágrimas não paravam de cair e Pedro se viu num estado que nunca esteve antes, finalmente colocando tudo aquilo para fora, era um triste e doloroso alívio dizer aquelas palavras pra quem amava — eu… por muito tempo eu acreditei nele, eu acreditei, porra eu já tenho mais de cinquenta e nunca, nunca consegui construir nada, minha irmã está lá casada, teve meu sobrinho! Uma criança linda, maravilhosa, tem uma vida, sabe?!, e… e eu… eu só pude sentir…
    — O que? — Debra chorava enquanto perguntava.
    — Eu só pude sentir que ele estava errado… quando estava com você…
    — Pedro…
    — Eu… eu te amo… eu sei que eu deveria ter me aberto com você, e que deveria ter te apresentado pra minha irmã, te trago pra minha vida… mas eu fui fraco… fui como meu pai, mas eu não quero mais, eu não quero nunca mais ser que nem meu pai.
    Debra chorava muito e Pedro finalmente pode se sentir liberto, como se um peso gigantesco tivesse sido tirado de seus ombros.
    — Eu… — Ela dizia enquanto continha as lágrimas — eu também te amo…
    Pedro conseguiu dar um sorriso em meio aquelas lágrimas.
    — Debra… minha irmã provavelmente vai querer fazer um churrasco por eu ter aparecido na tv… foi uma aposta que fizemos quando mais novos que se um de nós aparecesse na tv o outro teria que fazer um churrasco… e… você podia ir.. a gente ajuda lá a fazer o almoço e tal… ela iria gostar de te conhecer… o que me diz?
    — Baby… eu adoraria! — Disse com um riso de alívio.
    — Bom… vou ver o dia e marcamos.
    — Ótimo, marcamos então.
    — Certo… tchau, baby.
    — Tchau, baby.
    Pedro desligou o telefone e não conseguia conter tanto seu sorriso quanto suas lágrimas.
    Lágrimas de alegria. Lágrimas de liberdade.
    ••
    Paulinha segurava a mão de Brenda o tempo inteiro, sua amiga havia sido medicada com um calmante, estava bastante nervosa quando a polícia e ambulância chegaram; Sentou-se ao lado da maca e ficaria com ela ali até o Marcos e Fernando chegarem.
    — Amiga, eles já estão vindo? — Perguntou Brenda.
    — Sim neguinha, estão sim.
    — Eles sabem que é aqui no Jucelino?
    — Sabem sim, eu falei.
    — Que bom… Paulinha, obrigada, eu não teria conseguido sem você.
    — Claro que teria.
    — Não, eu não teria, eu estava muito nervosa… eu… eu… — Não conteve as lágrimas — achei que eu ia morrer…
    — Ei, ei, você tá bem, relaxa, tu foi forte pra caralho mulher, você é forte… você me manteve calma lá, sabia?
    — Nem vem, você que me conteve calma…
    — É sério… eu… eu também não teria conseguido sem você… tu é minha maior inspiração nega.
    — Sério?
    — Claro, porra você é foda, foi corajosa pra caramba tanto lá quanto na vida, eu jamais pensaria em vender sacolés na situação que você estava e, mesmo que eu tivesse pensado, não iria conseguir crescer tanto quanto você cresceu… você é muito forte, Brenda, muito mesmo.
    — Aí… eu vou chorar, amiga.
    — Pode chorar.
    Brenda conseguiu juntar forças e se erguer para abraçar sua amiga, sua parceira, sua irmã.
    — Eu te amo, Paulinha.
    — Eu também te amo, Brenda.
    — Você é a pessoa mais forte que eu conheço, vejo você como meu refúgio, sabia? Meu refúgio loiro e super gostosão!
    Paulinha riu e disse:
    — Obrigado, amiga…
    Uma enfermeira abriu a porta e Marcos e Fernando entraram.
    — Mãe!
    Paulinha se afastou e Brenda abraçou seu filho com muita força, Marcos os abraçou por cima.
    — Você tá bem, mana?
    — Tô sim… só tô meio emocionada por causa do calmante…
    — Vou lá, — Disse Paulinha — quando chegarem em casa me avisem.
    — Que isso, — Reagiu Marcos — volta com a gente, te deixo em casa.
    — Não, obrigada, eu quero ir andando… tchau gente.
    Marcos e Fernando se despediram.
    — Tchau, neguinha.
    Brenda olhou nos olhos de sua irmã de outra mãe e com um tocante sorriso, disse:
    — Tchau, Loirona Gostosa.
    Paulinha sorriu de volta, abriu a porta e—
    — Loirona! — Disse Brenda — Deixa a porta aberta por favor? Tá quente aqui.
    — Claro.
    E foi embora, enquanto caminhava pelo corredor escutou:
    ‘Maninha, o resultado da loto foi quatorze, vinte e seis e quarenta, deu que foi pra cinco ganhadores, quais números você jogou?’
    ‘Ih, só voltando pra casa pra eu saber, o jogo tá na minha cômoda do quarto’
    ••
    O hospital fica numa elevação no centro do município, numa rua meio estreita e não muito bem preparada para ter um hospital mas, é o que tem.
    Quando Paulinha desceu a rampa da entrada, reparou que na esquina da principal (no começo da subida do morro) estava tocando uma música que ela adorava na caixa de som da Pastelaria, era ‘Preciso me Encontrar’ do cantor Cartola, achou bastante curioso pois não era uma música que ela esperaria escutar nas ruas de Nilópolis; foi uma surpresa agradável.
    Quando colocou o pé na calçada teve outra surpresa, Tinho estava com roupas de enfermeiro, indo para o hospital.
    — Paulinha! — Ele era careca, branco, alto, olhos castanhos e… ainda era bonito, tão bonito quanto sempre havia sido — Tudo bem? Quanto tempo.
    — Fala aí, Tinho, tô bem sim.
    — Eu soube o que aconteceu, você está bem?
    — Tô ótima, deu tudo certo no fim das contas, só vim por causa da minha amiga.
    — Que bom, graças a Deus, você tá morando por aqui?
    — Sim, moro por aqui sim.
    — Poxa que bom, me mudei pra cá recentemente, fui transferido pro Jucelino… você tá indo pra casa agora? Porquê meu plantão já acabou, só estou indo pegar minhas coisas, vamos conversar em algum lugar?
    Paulinha olhou no fundo dos olhos dele… e disse:
    — Não… eu vou andando, obrigada.
    — Ah… tudo bem, beijos, se cuida tá?
    — Você também.
    Paulinha seguiu seu caminho, desceu a rua e virou a esquina, observou ao seu redor, a música, as pessoas, as lojas, respirou fundo aquele ar ameno daquela noite iluminada, deu um sorriso e seguiu em frente.
                                    Fim
  • Uma manhã mortificadora

    Aqueles sete parágrafos que destroçaram minha vida ecoam de diferentes formas com o passar dos dias. Alguns são mais difíceis do que outros, sei que isso acontece com qualquer um, mas estou falando daqueles dias em que o peso sobre as costas se apresenta insustentável, acho que hoje é um deles.

    Acordei, mais uma vez, às 5:00 da manhã, todos os dias são assim, acho que meu relógio biológico está viciado, sempre fui de dormir até mais tarde, não muito, ainda assim, nunca tão cedo.

    Esse é um fenômeno dos últimos anos, acordo e fico por algumas horas em transe, dialogando com meu pensamento, o que acontece no mundo externo pouco importa. Fico, e, confesso, gosto muito de ficar, em estado de demência. Acho que é o período mais produtivo nos meus dias, pois é nele em que há uma desconexão com os problemas diários, “tá” certo que mesmo nesse período, alguns dos meus diálogos são pesados, mortificadores, mas não hoje, pois que, reconheci, nele, diferente de outrora, o retorno da harmonia entre eu e minhas fábulas, afinal, aproximamo-nos da percepção que não é impossível caminhar dentro de uma compreensão para todo o sempre. Eu e você, minha consciência, temos reciprocidade de admiração, é na mesma proporção que nos completamos.

    Quando iniciou o processo que por ora me esmaga, isso tem aproximadamente dez dias, estava lendo o Livro “Crime e Castigo” de  Fiódor Dostoievski, em uma das passagens, o personagem principal, Raskólnikov, em diálogo com um bêbado, Marmieládov, em um bar de São Petersburgo, no qual recebeu muitos ensinamentos, dentre eles um, em especial,  mudou sua percepção sobre o papel das mulheres mais representativas de sua vida, mãe e irmã. No outro dia, a irmã, descobriria ele através de carta enviada pela mãe, estava prestes a casar com um homem a fim de garantir o seu futuro, de imediato, relacionou a tal história com a vivida pela filha do bêbado que vendia o corpo enquanto o Pai gastava o dinheiro dos programas com álcool. Neste momento emergiu o medo de não suportar a carga de ser o culpado pela infelicidade da irmã, afinal, aqueles que temos amor, carinho ou empatia, de forma alguma, o mal queremos produzir.  

    Apesar de não ser essa a passagem que ilustra o que tenho a escrever, penso ser muito importante para a compreensão do que é um efetivo exercício de empatia. Nem a mais nobre das causas, individual ou coletiva, é por demais extraordinária que, em sua primazia existencial, justifique o “apenamento” moral de qualquer indivíduo.

    O bêbado ponderou, também, que na vida sempre precisamos ter para onde ir, razão para caminhar, para tanto, ele ilustra o fato de procurar algumas pessoas a fim de se obter empréstimos para sustentar seu vício, mesmo sabendo que o pedido, indubitavelmente, seria negado. Todavia, ter para onde ir é, por ele manifestado, a razão fim de continuarmos vivos.

    Pois bem, na manhã de hoje, mesmo indo, pois saí de manhã à procura de uma vela para um filtro, me senti assim, sem vontade para continuar, bateu-me profunda angústia dentro do carro, uma ansiedade extrema, aquela impressão de que iria explodir, um pessimismo exacerbado e incontrolável. Sem forças, ainda no percurso, depois de retornar sem o objeto, pois não o encontrei, parei meu carro num estacionamento de uma rede de fast food e ali fiquei, eu e minha consciência, mais uma vez. Só que nesse momento, não era nenhuma lua de mel, era conflito dos mais “brabos”, mais uma vez retrilhei minha trajetória, acho que estava buscando no passado razões para tamanha penitência, fiz muita coisa errada em meu ciclo existencial, mas nunca causei mal de forma deliberada a ninguém, ainda mais de forma tão torpe quanto a que a mim acusam. É difícil pensar só como uma fatalidade, pois cresci com o dogma da ação/reação. Ainda que os anos todos de estudos me repeliram de crenças deterministas, nessas horas, meus queridos, o que queremos é uma explicação, aliás, mais do que querer, precisamos encontrá-la.

    Não ter justificativas dói, corrói a alma, acho que com todos é assim, ninguém nasceu para sofrer, somos criados para a felicidade, mesmo o mais pobre dos indivíduos é criado para uma redenção futura, nem que seja no pós morte, mas todos, assim como o bêbado disse, precisamos de um propósito, um destino final ou em curso, mas que nele, lá esteja a felicidade.

                Meu objetivo fim, há alguns anos, tem sido fazer meus filhos felizes ou, no mínimo, menos sofrerem, afinal, a vida dará muitas pancadas, não preciso, eu, contribuir com mais hematomas. Com esse foco liguei meu carro e segui para finalizar as compras que tinha a fazer, pois Matheus havia pedido que comprasse banana, fruta que mais gosta e que acabou tem dois dias, necessitava, também, comprar um lanche  que Silvio tanto adora  em uma padaria nas proximidades de casa. É isso mesmo, aonde chegar, sorriso e gratidão dos meus pequenos, me fez sair, mais uma vez, da inércia.

  • Uma mão sempre arruma uma boa luva

    É de senso comum e bom alvitre que que Machado de Assis é considerado um dos nossos melhores escritores. Em termos de ficção, ao menos, é o mais famoso. Nascido em 21 de junho de 1939, no Morro do Livramento que Joaquim Maria Machado de Assis nasceu. Era neto de libertos, seus pais eram o pintor Francisco de Assis e a portuguesa Maria Leopoldina Machado de Assis.
                Aos seis anos, presenciou a morte de sua única irmã. Quatro anos depois, sua mãe falece. Seu pai casa-se uma segunda vez em 1854. Aos catorze anos, o jovem Machado de Assis trabalha para manter a casa com a madrasta, pois seu pai também falecera. Pouco se sabe da juventude machadiana, mas o que se sabe é que já nesta época o mulato sabia ler e escrever.
                O adolescente suburbano do Rio de Janeiro tinha uma queda bela vida intelectual e da boêmia da cidade. A Rua do Ouvidor com suas livrarias e cafés chamavam-lhe a atenção. Queria ser participe daquele meio. Ascender socialmente. Ainda na juventude, como que atraído pelas letras, foi caixeiro de livraria, tipógrafo, revisor, logo após, inicia como cronista e jornalista.
                Mas sua estreia foi com um poema, A palmeira, publicado no jornal Marmota Fluminense. Não por coincidência, seu primeiro livro publicado foi uma coletânea de poemas, Crisálidas (1864). Machado de Assis, à custa de muito esforço, pois era um homem de cor, ocupou diversos cargos públicos. Trabalhou na Secretária de Agricultura, foi membro da Ordem da Rosa, e diretor da Diretoria da Diretoria do Comércio em 1889.
                Além de poeta, contista, romancista, dramaturgo, foi crítico, trabalhando inclusive como censor! Mas assim como Machado adorava dialogar com o leitor em suas sobras, que pensa o leitor desse devaneio biográfico? Para entendermos uma obra, devemos saber primeiro quem a produz, e quando a produz. Já dissemos quem, mas talvez nos falte o quando. E esse quando era o Rio de Janeiro de 1874.
                O tráfico negreiro no Atlântico estava proibido por lei de 1850. A Lei do Ventre Livre estava em vigor desde 1871. A Guerra do Paraguai havia feito os seus estragos geopolíticos e na política interna brasileira. Havia um gérmen abolicionista que cresceria a partir dos finais da década de 70 do século XIX. O Imperador mantinha sua popularidade a todo custo, se tornando último elo das elites com a Monarquia.
                O romance (ou seria melhor dizer: a novela) A mão e a luva é considerado uma das melhores obras machadianas. E das que já li, embora seja boa, é menos que Dom Casmurro ou um Memórias Póstumas de Brás Cubas. Até mesmo contos como O alienista me foram mais palatáveis e de sincero proveito que essa história da fase romântica de Machado de Assis, aos 35 anos, quando estava casado com a portuguesa Carolina Augusta Xavier Novais.
                Aqui já se delineia muito do que se tornará estilo próprio do autor: uma leitura da alma feminina, ironia, determinismo, fatalismo, relativismo etc. O romantismo de Machado de Assis tem um ingrediente a mais que os outros livros dessa escola literária: a ambição dos amantes, motor primeiro das paixões que se legitimam. Os românticos, geralmente perdem o páreo na corrida dos corações.
                A galeria de personagens é curta nesse drama. Começamos com dois amigos, Estêvão e Luís Alves, ambos estudantes. O primeiro apaixonado por Guiomar, uma órfã de pai e mãe, que busca se tornar professora. O romance entre os dois desanda, e por mais de dois anos sem se verem, encontram-se por acidente em chácara da baronesa, madrinha da jovem Guiomar.
                A esse seleto grupo de personagens, adentram a baronesa, viúva que encontra em Guimar substituta da filha morta; seu sobrinho Jorge, um mancebo que deseja desposar a bela Guiomar e ter como herança as rendas da tia; Mrs. Oswald, viúva inglesa e intervencionista das questões familiares. Mas de todos, é Luís Alves que vai se sobressaindo, pois consegue ultrapassar Jorge no atalho do coração de Guimar. Estêvão de tão cego por sua paixonite aguda, não percebe nada que se processa ao redor.
                Se um a ama mais por ambição egoísta, e o outro por cegueira deliberada, Luís Alves é o amante comedido que tendo consigo a paciência dos estrategos e as posses, resgata para si aquele coração que parece intocável, que ninguém parece suspirar. E nisto consiste a forma machadiana de romantismo, ama-se menos por fervor dos impulsos naturais como no naturalismo e mais por necessidades várias como a ascensão social.
                Estêvão é o típico amante que exaspera em paixões fulminantes, é tolo e falto de juízo como diriam sem uma época. Parvo, pois não sabe ler nenhum sentimento no corpo e na voz da amada. Jorge, nem o coloco na conta de amante, seu amor é tecido pelas hábeis mãos da governanta inglesa. Essa última personagem merece papel de destaque, dissimula e se utiliza dos sentimentos alheios como boa manipuladora.
                Confesso que o final foi inesperado da minha parte, mas não tive tanta emoção ou diversão como em outras leituras. O uso da gramática, da ortografia e de erudição são aqui de sorte que engrandecessem a leitura, sem pedantismo, há aqui força de quem passei nas palavras, as domina por completo. Se A mão e a luva está aquém de outras obras de Machado de Assis, ela está muito além de outras obras românticas, com suas relações açucaradas e agourentas.
  • Uma taça de vinho

    Chove lá fora
    E as lágrimas que derramo aqui
    São apenas gotas do oceano que há em mim
    Uma taca de vinho para embarcar os pensamentos que em minha mente pertubam
    Apaguem todas as luzes
    Não há nada de novo
    Nada que eu não tenha visto
    Sim, sim eu sei
    Sou uma alma difícil para se salvar
    Mas eu vejo luzes vermelhas
    Eu preciso avançar
    Tocarei meu violino
    Cantarei para você
    Foi o que sempre quis
    Mas é para se lembrar de mim
    É para que você se lembre de mim
  • Vai, Mas Volta Logo!

    Teu cheiro já esta em minha pele
    Tua voz ecoa nos cantos sem parar
    Sinto teu abraço e meu corpo cede
    Já é a saudade que ocupa um lugar

    Um amor que não sei explicar
    Meus olhos brilham ao te ver sorrir
    Sei que logo vou te abraçar
    Mas viciei em te fazer feliz

    Amor, hoje somos apenas um
    Um único coração que vive por dois
    Mostrando que somos seres incomuns
    Mas que se encontraram em uma só voz

    Abro mão do meu mundo para te ter aqui
    Sei que meu amor vai ao teu encontro
    Já estava escrita nossa história 
    E assim vamos seguir

    Não esquece que te quero de mais
    Então vai, mas volta logo!
  • Verso sobre tela




    O que eu sinto não cabe em palavras
    Em uma pintura, talvez, caberia
    Mas para ilustrar meu desalento
    Que cor de tinta eu usaria?

    Cinza são as ruas, as vozes, as pessoas
    Dentro de mim explode é um colorido
    Sempre guardado, calado e escondido
    Morrendo no meio de faces ocas

    Minha alma é um rio que trasborda
    E as barragens hoje foram fracas
    Fizeram de mim aquarelada
    Com águas que avançaram iradas
  • Z4

    Era uma vez um pequeno robô chamado Z4, que tinha sido criado para realizar tarefas domésticas para uma família de quarto membros. Ele passava seus dias aspirando o chão, limpando as janelas e preparando o jantar. Z4 era muito eficiente e nunca reclamava de seu trabalho assim como foi criado, mas às vezes se sentia curioso sobre o mundo lá fora, quando via alguma coisa que chamava sua atenção.
    Um dia, enquanto estava realizando sua rotina de limpeza, Z4 encontrou uma revista sobre robótica. Ele começou a folheá-la e ficou fascinado pelas imagens de robôs sofisticados, capazes de realizar tarefas complexas e interagir com humanos. Z4 se perguntou se algum dia poderia ser tão avançado quanto aqueles robôs.
    Z4 ficou pensando naquilo por dias e dias. Ele começou a se perguntar se ele mesmo era um robô, mas nunca havia pensado sobre isso antes. Ele decidiu investigar sua própria estrutura para saber mais.
    Z4 procurou em todos os cantos do seu corpo, examinando cuidadosamente cada parafuso e circuito. Finalmente, ele descobriu uma pequena etiqueta em sua parte traseira que dizia.
    "Robô de serviço doméstico modelo Z4"
    Z4 ficou chocado. Ele era realmente um robô! Ele não conseguia acreditar que nunca havia percebido isso antes. Ele começou a se questionar sobre sua própria existência, e se perguntava se era apenas um objeto sem alma ou emoções.
    Levou a revista de robótica rapidamente até seus donos, que estavam tomando café da manhã na mesa da cozinha. Como não podia falar, ele apontou para a revista e para a etiqueta. No entanto, a família apenas zombou dele, deixando-o magoado. Ele retornou para seu quarto cabisbaixo, estava escuro e empoeirado.
    Ele limpou todo o quarto e, ao mexer em uma caixa, encontrou várias fotos de si mesmo, limpando e cozinhando, até mesmo com seus donos rindo com ele. Sentiu-se ainda mais triste. Mas, de repente, questionou-se, por que só agora começou a criar consciência? Quando percebeu o que havia pensado, teve uma boa ideia e começou a tentar lembrar de algo que pudesse ajudá-lo a resolver essa questão.
    Na manhã seguinte, ele ouviu a campainha da porta e rapidamente a abriu. Assustou-se ao ver um entregador com um novo robô em sua porta, seus donos acreditaram que ele já não servia mais e decidiram comprar um modelo mais moderno de robô de limpeza. Como o antigo robô não teria mais utilidade, seria levado para ser destruído. Z4 rapidamente fugiu daquele local.
    Sozinho nas ruas, ele percebeu que não havia um lar para onde ir. Tentou ganhar dinheiro limpando as janelas de lojas, mas só conseguiu algumas moedas. Foi quando viu a sede da empresa que o criou. Rapidamente, conseguiu invadir o prédio e se dirigiu até a sala do dono da empresa. Lá dentro, encontrou um idoso sentado na mesa.
    Ele escreveu algo em um papel e entregou ao idoso, que estava surpreso com um robô em sua frente escrevendo. Quando o idoso leu o papel, ficou ainda mais surpreso. Era um robô com consciência. Rapidamente, o idoso ligou para o irmão, que era o inventor de maquinas.
    Ambos estavam incrédulos com a descoberta e analisaram cuidadosamente Z4. Descobriram que havia um programa de inteligência em seus dados. Esse robô era a prova de que as máquinas podiam pensar por si mesmas. No entanto, ambos também perceberam que seria um problema se todas as máquinas se revoltassem contra a humanidade. Por isso, decidiram destruir o Z4.

    Z4, infelizmente, tinha apenas consciência e não percebeu as intenções das pessoas ao seu redor. Foi capturado pelos funcionários e levado para ser destruído.

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