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  • Pânico na Ponte Rio - Niterói CAPITULO – 2

    Bom Fernanda continua a sua saga para encontrar um emprego e tudo que escuta é que é muito nova e precisa estudar primeiro mesmo ela garantindo que não precisa ser um bom emprego para ela o importante é não ficar em casa a toa sem nada para fazer e claro conquistar uma independência financeira podendo assim comprar tudo ou quase tudo o que ela queira sem ter a necessidade de ter que ficar pedindo dinheiro para seus pais a todo instante inclusive para sair o que seus pais sempre emcresparam mais. Fernanda parecia ser muito consciente e diferente dos outros jovens nesse sentido mas nem tão diferente assim como poderemos ver mais na frente quando se trata de se divertir entenda como sair por exemplo. E por isso ela estuda na parte da noite para poder trabalhar na parte da manhã assim que encontrar um emprego. É de manhã na casa dos Correto e todos estão comendo um saboroso café da manhã preparado por Tania com torradas bolo suco café frutas como banana uva e maça parecia um comercial de margarina todos rindo felizes. Mauricio se levanta para ir trabalhar sem terminar todo o seu café da manhã como sempre sob reclamações da esposa Tania que diz :
    __ Não deixe de comer se não ficara fraco enquanto o impede de ir embora arrumando a sua roupa.
    E Mauricio fala:
    __ Amor sinto muito mas não tenho tempo se despede com um até mais tarde beija a esposa Tania e filha Fernanda e vai embora trabalhar em seu carro um Monza.
    De repente o celular de Fernanda toca e ela sai correndo para atender no seu quarto.
  • Pânico na Ponte Rio - Niterói - CAPITULO – 1

    Essa historia começa no estado do rio de janeiro na cidade de são Gonçalo no bairro do vila Lage lá moravam numa casa bem bonita a família Correto que residiam na terceira melhor casa do bairro é uma família tranquila e feliz sendo composta Fernanda e seus pais Tânia e Mauricio. Fernanda era uma morena muito bonita de cabelos cacheados na altura da cintura rosto angelical e com o corpo começando a se desenvolver vestia sempre roupas claras ou estampadas e levemente decotadas, Fernanda esta fazendo o 2º ano do ensino médio no Colégio Santos Dias com 16 para 17 anos. Mauricio seu pai como eletricista para uma companhia elétrica tem um ar serio é branco cabelos lisos curtos negros e vestindo roupas sociais básicas além de ser bem alto e Tânia é sub - gerente de um mercado próximo a sua casa ela era magra morena cabelos enrolados escuros rosto sofrido e vestia vestidos meio largos de cores escuras. Fernanda esta já apesar de nova procurando um emprego é muito esforçada e determinada o que as vezes gera conflitos com seus pais por ter um gênio muito desafiador que em nada lembra o de seus pais sempre muito comedidos como quando aos 10 anos queria sair com suas amigas e ao ser impedida fez uma cena igual a uma atriz chorando falsamente e tudo resultado seus pais não deixaram mesmo assim....
  • para o meu cachorro

    faz tempo que não vou lá fora.

    faz tempo que passo uma tarde inteira me aventurando contigo por aí.

    sei que tu sente minha falta, e eu também sinto a tua.

    mas muitas coisas mudaram aqui dentro.
    e sinceramente, me sinto péssima por isso.
    a necessidade de ir lá fora já não é mais a mesma.
    os motivos que me fazem sair já não estão mais aqui.
    o pouco de tempo que eu fico contigo sinto o amor que tu me transmite.
    e por mais que tu me chame com os olhos toda vez.
    algo me impede de sair.
  • Paradoxo além do céu

    Observando a cidade da beira da calçada,
    aneve continuará a cair,
    silenciosamente na escuridão.
    —Tão brilhante e tensa, como fontes de luz se formando nos postes de iluminação.

    Portanto; me vem a pensar...
    como tudo passa tão vagamente e de repente tão de pressa.
    Como alguns atos são velhos amigos,
    nos dá repugnância, olhos e ouvidos...
    para quê nós recomponha diate o perigo.

    Do último gole,
    sob a taça de um bom vinho,
    pude maravilhar do sabor...
    como nunca havia maravilhado antes.

    —Minha casa se tornou a rua !
    Dentro dessas ocas,
    As aparências enganam,
    umas as outras.

    Dia após dias,
    tentando preencher o vazio de suas obras perdidas,
    de coisas que passam e não dão tempo de se mostrar.

    Culpa nossa !
    Por via das dúvidas, não saltitar as emoções dessa trilha.

    Alva e pálida,
    a madrugada era minha fuga...
    quando ninguém me entendia.

    E assim como eu...
    um paradoxo se enche de euforias.
    Á procurar aquele sentimento brando,
    numa agonia insana; "Por qual sentido estar vivo"?!

    So por hoje, si desliga do mundo.
    Ouvi as deixas repentinas entrarem de fundo :
    o quê açoita nações, em crises psicóticas.

    Se houvesse um segundo de ar puro,
    Todo odio agressivo desses crânios,
    não sobraria vestígios de Estocolmo.

    Observando tudo em lentidão,
    temo quê não volte apaziguar.

    –e ando essas ruas como uma criança esperançosa.

    A madrugada é minha amante fiel,
    para onde fui e de onde agora irei...
    ela me dá a honra de uma visão ampla,
    onde pavorosas distrações incendia a fragilidade global.
  • Partida

    Entrou na minha vida quando mais precisei, e foi embora quando mais precisei também... Você disse que seria melhor pra mim, mas tem certeza do que diz? Rasgou meu peito te ver ir embora, a dor mais profunda sem dúvidas, mas vou me recompor, dia a dia... E você? Espero um dia que olhe para trás e perceba que quem mais te amou, você  desprezou.

  • Pensamentos

    Seus pensamentos te matam,
    Não é mesmo?
    Ninguém sai ileso
    Carregamos o peso
    Nunca sabemos se esta certo ou errado
    O amor foi erradicado
    E nós ás vezes somos os culpados
    Por aceitar o que não merecíamos
    Por calar quando deveríamos falar
    Por deixar a frustração gritar
    E a paz interior recuar
    Estamos morrendo
    Acostumados a viver sofrendo
    Quando o medo vem,
    Somos reféns
    Estamos sempre olhando a quem
    Mas nunca olhamos pra gente
    A felicidade é insolente
    A tristeza esta do nosso lado
    O tempo todo, sem afago
    Nascemos para morrer
    Morremos para viver
    Vamos apodrecer
    Esperando a felicidade
    E talvez nunca encontraremos
    E então, o que seremos?
    Em que nos basearemos?
    Assim seremos?
    Quando viveremos?
  • Pequeno Liam Desaparecido

    By- Marvin Lee.
    A esperança é o sentimento de que as coisas que desejamos irão acontecer quando menos esperamos, é acreditar que algo é possível mesmo quando há indicações do contrário. Algumas pessoas acham que isso não passa de uma ilusão que criamos para nós mesmos, até um certo momento em que finalmente caímos na realidade, tenho o meu dilema de sempre dizer que “A esperança é a última que morre”, e sigo com ela até hoje.
    Não tenho pouca esperança, mas sim muita, e sabe o porquê?
    Porque a minha vontade de encontrar a pessoa que amo, é maior que qualquer coisa nesse mundo. A esperança de o encontrar e o abraçar novamente me faz ter forças para lutar todos os dias, me faz querer ajudar as pessoas a seguir em frente e continuar acreditando no impossível. Nem tudo é um poço sem saída, de alguma forma ou maneira você vai sair de lá, com a ajuda de alguém ou até mesmo sozinho, tem sempre uma solução pra tudo, basta apenas persistir e acreditar que vai conseguir. Mas basta somente dizer e não agir?
    “Eu vou conseguir!”
    “Eu sei que vou encontra-lo.”
    Você tem que correr atrás assim como eu fiz, lutar e continuar a ter esperanças mesmo quando tudo e todos estão contra você. Mostre pra eles que você é forte e que nunca vai perder as forças, e vai continuar sonhando alto, como a mim.
    [...]
    Fui destruído por três homens horríveis que não ligaram para minha idade, e fizeram aqueles atos de agressão contra mim e meus amigos, aquela cena ficou martelando e continua me assombrando em minha mente até hoje. Meu amigo Lionel sendo jogado contra a parede, o Liam sendo levado ensanguentado para um lugar desconhecido, e eu sendo forçado a ver aquela cena toda. Perdemos toda a nossa infância, não consegui confiar em mais ninguém.
    Meu sorriso?
    Foi levado junto com aqueles homens, pesadelos viraram rotinas para mim, e eu não tinha nenhum dia de paz, me sentindo culpado por aquilo ter acontecido, mesmo não tendo culpa de absolutamente nada. Meu nome é Marvin Lee, e eu sou o garotinho que foi destruído a 19 anos atrás, mas que nunca perdeu a esperança de encontrar o amigo, e hoje vocês iram entender o que aconteceu no caso Pequeno Liam Desaparecido.
    By- Lionel Case.
    Sabe quando você sente que tudo na sua vida foi arruinado por você mesmo, e que não tem mais volta?
    Eu me senti assim quando coloquei a vida de duas pessoas importantes para mim em risco, mas eu era criança e não sabia que naquele exato momento a vida do meu melhor amigo estava em perigo, e que eu me sentiria culpado pelo o resto da minha vida. Aqueles homens me jogaram contra a parede sem nem mesmo pensar duas vezes, não ligaram se eu era apenas uma criança ou não, fui pro hospital e saí de lá traumatizado. Tenho que tomar relaxantes musculares todos os dias para ter um boa noite de sono, minhas costas doem sempre que tento fazer algo que meu corpo se mexa demais, e acabei tendo que desistir do meu sonho de ser dançarino. Mas encontrei o meu verdadeiro eu, virei um mafioso, encontrei duas almas gêmeas que cuidam de mim com todo amor que podem.
    Aprendi com eles que a vingança nos traz infelicidade, e que embora temos tanta raiva que não conseguimos controlar, devemos nos acalmar e descansar. Mas como um mafioso não procura por vingança? Sim, eu procuro por vingança a muito tempo, mas acabei me livrando dela quando descobri que meu amigo ainda estava do meu lado —Marvin—. Eu estava preocupado e temendo de que ele pudesse fazer algo para se machucar, e sempre que eu perguntava sobre o mesmo, meus pais me olhavam com uma expressão triste que me fazia pensar que ele não estava mais vivo, foi quando na verdade eu descobri que ele estava sendo observado por 24 horas, isso significaria que ele estava sofrendo demais, e aquilo era a "minha" culpa, isso me fez querer fugir e o encontrar para pedir perdão.
    Ele me ensinou que embora nos sentimos culpado por algo, esse sentimento está errado, porque dependendo do que aconteceu a culpa não foi totalmente sua, somos seres humanos e não somos perfeitos, errar faz parte da vida. Eu estava errado em me sentir culpado, porque não era a minha culpa, eu não sabia que tinha homens armados em minha casa, não sabia que naquele dia nossa infância ia ser destruída, então eu não tinha motivos para me culpar. A vida nos faz passar por coisas difíceis, para que mais tarde nos tornemos fortes e confiantes, embora essa cicatriz continue doendo, o passado deve ser uma forma de nós podermos enxergar que somos fortes e que aguentamos isso tudo por muito tempo, e que não devemos desistir tão fácil. Sou Lionel Case, e espero ansioso pela consciência de que a culpa dessa tragédia não foi minha.
  • PERDA

     
    São muitas as mulheres no mundo
    e eu sou a-penas um Só
    para todo o desejo mais profundo
    do amor da carne no cerne
    do amor maior...


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    © do Autor, IN: Concursos literários do Piauí. Teresina, Fundação Cultural do Piauí, 2005. 226 p. Página 181.


  • POEMA CONCRETO

    O aço e o cimento conjugados

    ((pedra jo  g    a        d                a)

    nos olhos (de vidro))

    no dia a dia da vida.

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     


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    © "Copyright" do Autor, IN: Concursos literários do Piauí. Teresina, 2005, Fundação Cultural do Piauí. 226 p. Página 190.
  • POEMA CONCRETO

    O aço e o cimento conjugados

    ((pedra j o   g       a       d          a)

    nos olhos (de vidro))

    no dia a dia da vida.

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     



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    © "Copyright" do Autor, IN: Concursos literários do Piauí. Teresina, 2005, Fundação Cultural do Piauí. 226 p. Página 190.
  • Ponto final?

    Escrevi centenas de livrossobre nósporque eu não queriaem hipótese algumaque tivéssemos um fime quando finalmente percebi queseríamos sempre uma vírgulanunca tivemos um ponto final.
  • Precauções do COVID-19

    Se cuide do jeito certo
    Se os sintomas surgir
    Se afaste de perto 
    Depois chame um médico

    Mantenha distância do infectado
    Fique o mais possível afastado
    Mantenha-se mascarado
    Faça tudo que logo estará curado

    Se o resultado der negativo
    A proteção deverá continuar
    Se esforce para seguir protegido
    Que logo a vacina chegará
  • Psychotic

    Capítulo 01
    Bam!
    Levantou os olhos cansados, já não aguentando mais ficar naquele lugar. Seus braços estavam cruzados em cima da mesa, e sua expressão já deduzia tudo que queria dizer. Apesar de o homem ter lhe dado as costas, sabia qual seria seu destino dali pra frente...
    – "Plantão". – leu a palavras em vermelho apenas para confirmar. – Ah, não... – choramingou após rolar os olhos.
    Voltou pousar a cabeça em seus braços, começando produzir o som idêntico de um choro, porém não estava chorando. Só queria tirar três horas para descansar, ela também precisava dormir ninguém era de ferro!
    Mas mais um turno noturno, sendo este o seu terceiro. Até quando teria que aguentar? Melhor nem pensar, pois seu corpo não iria aguentar por muito tempo, suas energias estavam esgotadas, e sem querer ser indelicada, mas Amber não aguentaria mais uma noite acordada, nem mesmo se tomasse anfetaminas para manter os olhos abertos!
    – Amber? Tudo bem? – a médica mais velha, adentrou a sala privada dos médicos com uma caixa de objetos em mãos. – Amber...? – chamou novamente, colocando a caixa em cima da mesa, e se aproximando da mulher, que até então não fazia um movimento. – Amber? – a cutucou devagar, e então percebeu que ela tinha os olhos fechados e uma expressão maltratada. – Pobre bichinho, está exausto! – afastou os cabelos de Amber, passando acariciar sua face adormecida.
    O nome dela era Wendy Smith, ou, mais conhecida como a Vovó Wendy do hospital Joseph Louise Morgan. Ela tinha lá seus setenta e oito anos bem vividos, e sua própria aparência denunciava sua idade. Tinha olhos verdes, sobrancelhas finas, cabelos curtos e brancos com alguns – despercebidos – fios pretos. E o sorriso que estampava, quase sempre, em seus lábios tinha o dom de cativar qualquer iniciante na área hospitalar.
    Todos a consideravam a "vovó", por ser a única médica mais velha que aguentou segurar todas as pontas. Sua vida se baseou em controlar os enfermeiros, porém sua responsabilidade dobrou, assim que ganhou os médicos em sua lista.
    Sempre tinha o dever de estudar o paciente, antes de entregá-lo nas mãos de um dos médicos. Essa era sua função. Não acreditava que, estudar a pessoa antes de deixá-la nas mãos de um profissional capacitado, fosse necessário, pois dentro daquele hospital era onde se localizava os melhores médicos do país. Nenhum possuía ficha marcada, todos – sem exceção – executavam muito bem seus trabalhos.
    Wendy tinha um enorme significado, ela era a mãe de todos ali dentro. Sua doçura conseguia cativar a todos, até mesmo um médico orgulhoso e mal-educado, do qual ela conseguia transformar em um profissional respeitoso.
    – Vovó Wendy? – a porta da sala se abriu devagar. – Preciso tirar uma dúvida com a senhora. – ele começou, segurando a nova ficha que recebera do chefe.
    – Alex, Amber trabalhou a noite toda, ontem? – Wendy quis saber, fazendo carinho nas costas da jovem.
    – Ela substituiu o turno da Katy, não se lembra? – respondeu como se fosse óbvio.
    – Katy Hill não voltou pelo visto. – concluiu vendo Alex assentir. – Pobrezinha, ela tem que descansar um pouco. – pronunciou afastando uma mecha de cabelo do rosto de Amber. – Dr. King, não pode levá-la até a ala privada? – questionou encarando o homem docemente.
    – Vovó... – levantou os ombros. – Já estamos na ala privada. – disse como se ela não soubesse.
    – Não digo aqui Alex, me refiro às camas que o hospital disponibiliza para vocês, médicos. – explicou.
    – O chefe não irá... "Encrespar"? – fez aspas com os dedos, deixando sua pasta de documentos em cima da mesa.
    – Irei explicar a situação para ele. – respondeu, visualizando Alex se dirigir para o lado direito de Amber. – Agora, por favor, querido, leve a Dr. Anderson para um descanso, sim? – pediu.
    – Não saia daqui vovó, eu preciso falar com a senhora depois. – avisou antes de pegar o corpo adormecido de Amber, cuidadosamente.
    – Cuidado. – pediu observando Alex caminhar com o corpo da garota nos braços.
    Seus olhos o acompanharam até este empurrar a porta, que daria acesso ao cômodo das camas, com o pé. Assim que a figura de Alex desapareceu, passou prender seus glóbulos fuscos, em tom esverdeado, no documento que antes estavam nas mãos do rapaz.
    Seus dedos enrugados, que tinham envolvimento com a fina camada de pele com manchinhas, abriram o documento, encontrando com algumas fotografias presas por um clips de papel. Com sutileza, as separou, observando os rostos inocentes das crianças. Os lenços amarrados em suas cabeças, já deduziam que todas lutavam contra o câncer.
    O hospital tinha uma área reservada, especialmente para se dedicar as crianças com câncer. E dentro dela, se poderiam encontrar de todos os tipos de sorrisos, ninguém ali demonstrava tristeza!
    O câncer era um assunto bastante delicado para se tratar, e o melhor jeito de lidar com isso era através das visitas públicas, onde pessoas dedicavam um tempo precioso de suas vidas, para fazer almas inocentes rirem.
    – Pelo visto, já descobriu meu assunto com a senhora, vovó Wendy?! – Alex voltou, fechando a porta por onde acabara de sair, com sutileza.
    – Amber acordou? – não, ela não ignorou as palavras de King.
    – Apenas tomou um leve susto quando as costas tocaram o colchão. – respondeu já observando Wendy passar as fotografias. – Ele vai vir hoje! – disse de repente, recebendo os olhos surpresos da vovó.
    – Como sabe? – perguntou abaixando as mãos com as fotos.
    – Ele sempre visita o hospital, nas segundas. – deu de ombros puxando uma cadeira. – Acho gentil da parte dele, tirar algumas horas da rotina, para passar com as crianças. – revelou começando brincar com o elástico da pasta.
    – Ele é um padre, Alex, o que você esperava? – o rapaz rolou os olhos.
    – Nem todo padre, é verdadeiramente um padre! – deixou fluir, cruzando os braços em cima da mesa, deixando um sorriso brincalhão estampar em seus lábios.
    Wendy encarou aquele sorriso com receio. Não gostava quando Alex King, ria após exclamar uma possível suspeita. Odiava ficar em cima da corda. Tudo que Alex mais sabia fazer era imaginar hipóteses e expô-las para o público, como se elas realmente fossem reais, ou fossem se tornar realidade. E isso deixava a vovó cada vez mais incomodada, ele como médico, não deveria viver no mundo da lua!
    – O que quer dizer com isso Alex? – disparou.
    – Eu? Nada, é claro! – foi cínico.
    Alex riu, deixando seu corpo cair para trás. Com os pés apoiados no chão, deixou a cadeira ficar sobre duas das pernas. Levou as mãos para trás da cabeça, e continuou encarando Wendy, concluindo que ela estava louca para mandá-lo para fora dali!
    – Alex, ele é um padre! – exclamou com o tom de voz um pouco alterado, tentando colocar alguma coisa verdadeira naquela mente fértil.
    – E daí que ele é um padre? – o tom de voz desinteressado, estava deixando Wendy irritada. – Ser padre, não significa servir apenas ao Senhor; assim como todo ser humano, um padre está sujeito aos pecados, sendo eles dos mais fáceis de controlar, até os mais difíceis... Ah, quer que eu cite algum pecado tentador? – expôs sua magnífica carreira de dentes brancos.
    – Guarde seus pecados "tentadores", somente para si! – rebateu. – O monsenhor, Bruce Rodriguez, se entregou completamente à igreja. É um dos melhores padres da região, como ousa falar essas coisas dele? – Alex negou com a cabeça, parecendo arrasado.
    – Nunca devemos confiar nas pessoas. O monsenhor pode ser considerado uma pessoa religiosa, respeitosa, pura, porém nós, nunca saberemos o que ele faz quando está fora da área sagrada! – respondeu apertando os olhos conforme pronunciava. – Mas... – se levantou arrumando as fotografias dentro de sua pasta com o documento. – Meu tempo que é sagrado, e têm várias crianças me esperando! – declarou seguindo caminho a porta.
    Wendy rolou os olhos, no fundo, ter demitido Alex King quando o chefe lhe deu a chance, teria sido uma ótima escolha. Mas sentiu pena dele na época, afinal, em sua cabeça, uma pessoa não merecia perder o emprego por deixar um bisturi cair em uma hora de desespero.
    Mas Alex passou dos limites. Falar do Pe. Bruce Rodriguez daquela maneira e com aquele tom de voz cínico, foi demais! A vovó era capaz de esperar tudo vindo dele, menos aquilo... Onde estava o consentimento por ter ganhado uma segunda chance dentro do Joseph Louise Morgan? Que tipo de monstro King se tornou?
    Vovó Wendy não tinha as respostas, porém não tinha tempo para elaborá-las, havia uma paciente preste passar por uma cirurgia no fígado, do qual ela precisava estar presente. Mas se Alex achou que tinha escapado dos questionamentos, estava muito enganado, pois eles sequer começaram!
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    A dobradiça rangeu por um fio de ruído, mas as crianças não mostraram importância com a falta de óleo. Assim que a porta foi empurrada, Amber adentrou a enorme sala, recebendo os olhinhos brilhantes em cima de si. Sorriu, podendo ver duas das meninas correrem em sua direção.
    – Amber! – uma delas emitiu, abraçando a mulher pela cintura.
    – Amber, estava com tanta saudade! – a outra que tinha um lenço branco na cabeça, também a abraçou.
    – Também estava Carly! – sorriu, se abaixando para ficar da altura das meninas. – O que vocês, estão fazendo hoje? – perguntou mantendo seu sorriso.
    – Estamos brincando de casinha. – Carly respondeu.
    – Está na hora do banho, quer brincar junto com a gente, Amber? – a outra ofereceu.
    – Talvez mais tarde Lola. – respondeu, deixando seus olhos caírem sobre as figuras de Alex e Wendy. – Agora vão meninas! – incentivou, e as duas logo correram em direção do tapete, onde estava a casinha de bonecas.
    Sem mais delongas, caminhou em direção da vovó Wendy, que parecia estar dando uma belíssima bronca em Alex. Ótimo, o que ele tinha aprontado daquela vez? Mente fechada e complicada, só poderia resultar em confusão!
    Rolou os olhos assim que viu Alex com os olhos de um predador. O rapaz tinha as mãos na cintura e sua língua umedecida seus lábios, enquanto a vovó lhe ditava palavras que pareciam não agradar muito sua autoestima.
    – O que aconteceu? – foi direto ao ponto.
    – Alex está acusando o Pe. Bruce, de não ser realmente um padre! – Wendy respondeu e Alex riu.
    – Eu não acusei ninguém! – repreendeu tentando segurar o riso. – Eu só falei como uma hipótese. A vovó que está o considerando um infiel à igreja! – Amber mostrou-se confusa.
    – Eu nunca disse que ele era um infiel à igreja, você que citou os pecados "tentadores"! – vovó se defendeu, apontando o dedo no peito de Alex enquanto falava.
    – Alex! – Amber emitiu ficando surpresa com as palavras da vovó.
    – O que? – o ouviu pronunciar. – Sexo não é pecado! Todo e qualquer ser humano necessita. Sentir um pouquinho que seja de prazer, não mata ninguém! – Anderson rolou os olhos, enquanto Wendy cobriu o rosto com as mãos, sentindo vergonha.
    – Você ouviu o que acabou de dizer? – levantou uma sobrancelha. – Está falando de sexo. Um padre, a partir do momento que decide ser padre, nunca se entrega aos pecados tentadores do mundo! – pronunciou firme de si. – Somos todos seres humanos, capazes de cometer erros, e o Pe. Bruce não é diferente de nós. Mas ele possui um ofício, o dever de servir a Deus... Então pare de tentar ver coisas, onde não há! – seu tom de voz firme, talvez intimidasse Alex.
    Mas ele riu, estava debochando de todas as palavras de Amber.
    – Amber, por favor, até parece que nunca transou na vida. – continuou rindo, fazendo a mulher engolir em seco.
    Sexo era um assunto bastante delicado...
    – Isso não vem ao caso, Alex! – rebateu com a voz um pouco alterada.
    – Vem sim! – provocou seguindo com passos lentos, até estar cara a cara com ela. – Diga, não é gostoso sentir o prazer vivo em suas entranhas? Ouvir sua própria melodia; sentir suas pernas bambas com cada round; o suor desenhando por sua pele... É capaz de negar que não gosta? – direcionou o olhar convencido para o olhar, já irritado, de Amber.
    – Eu disse... Que isso, não vem ao caso Alex King! – rosnou entre os dentes.
    – Parem já, vocês dois! – vovó interviu, os separando a partir do momento que ficou no meio deles.
    Alex tentou avançar com seus passos, mas a vovó o impediu, fazendo-o recuar com o olhar raivoso. Amber o encarava profundamente, com série de dúvidas... Bruce não merecia ser visto daquela maneira, de modo algum ele faltou com respeito à igreja, então não havia motivos para Alex julgá-lo.
    Sinceramente, Alex King tinha uma mente que precisava passar por um tratamento!
    – Eu só estava tentando ser amigável em conversar sobre sexo com você, Amber Anderson. – sorriu sarcasticamente.
    – Eu não preciso que ninguém... – Amber ia se defender, mas a porta escolheu justo aquele momento para se abrir. – Acho que seu amigo chegou Alex! – provocou fazendo o rapaz rolar os olhos.
    Wendy abriu um sorriso largo, e se dirigiu em direção do novo indivíduo, deixando Alex e Amber livres para se atacarem.
    A mulher, por outro lado, ignorou a presença de King, não queria ter que trocar palavras com ele, homem desprezível que só pensava em sexo!
    Amber Anderson não gostava de conversar sobre sexo. Sentia-se envergonhada. Era virgem aos vinte e três anos, não que nunca ter transado fosse uma vergonha, mas se sentia desconfortável por conversar sobre tesão sexual com alguém experiente, como Alex.
    – Bruce te adora Amber, não quer ir lá conversar com ele? – ouviu a voz de Alex, e tudo que fez foi ignorá-lo. – Não quer trocar umas palavrinhas? – provocou novamente, e ela apenas rolou os olhos. – Vai me ignorar mesmo Amber?! – entrou na frente dela com as sobrancelhas arcadas.
    – Nunca mais fale sobre sexo comigo! – deixou claro.
    – E, por acaso, isso é algum crime? Você já transou Amber, então não é constrangimento algum falar sobre isso! – se explicou, e visualizou a mulher abaixar a cabeça.
    – Alex entenda... – envergonhada olhou para os lados para se certificar de que ninguém mais, além dele, ouviria. – Eu sou virgem. – falou baixo apenas para ele ouvir.
    – Wow... Amber eu... – ficou sem jeito. – Eu não sabia, pensei que você e Jackson já...
    – Não, eu não deixei. Nunca me senti segura, por isso ele terminou. – explicou.
    – Entendo... Mas se quiser, a gente pode resolver isso! – indicou o banheiro com o queixo.
    – Estúpido! – riu acertando um tapa contra o ombro dele.
    Alex não escondia, e era preciso apenas estudar o seu sorriso para ver que ele sentia uma atração por Amber. Eram amigos desde que ela entrara para o hospital, e sempre, desde o primeiro dia, sentiu uma atração muito forte por ela.
    Ele queria fazer parte de um pedaço da vida da mulher, porém isso tinha se tornado algo difícil. Toda vez que tentava conversar sobre relacionamento, tentava ser o mais delicado possível, mas Amber sempre mudava de assunto quando ele questionava sobre intimidade.
    Agora entedia. Ela era virgem!
    – Você já se masturbou, alguma vez, Anderson? – questionou de repente.
    – Eu, hã... – travou, mas foi salva.
    – Amber! Amber! – duas meninas começaram a gritar correndo na direção da garota.
    – Fale meninas. – foi simpática e Alex observou seu sorriso tão lindo...
    – O Pe. Bruce quer falar com você. – Zoe respondeu segurando a mão da mulher.
    – Ele disse que vai nos ensinar como fazer uma torta de maçã, mas você tem que ir junto! – já lhe puxava a outra mão.
    – Parece interessante a ideia, Carly! – sorriu, deixando-se guiar pelas duas meninas.
    Alex mordera os lábios, onde estava com a cabeça? No mundo da lua só podia ser!
    Era bem óbvio, pela cara de vergonha de Amber em revelar que era virgem que ela nunca tinha se masturbado. Mas homens, oh, criaturas burras, sempre estragam tudo!
    Alex King buscava ter uma chance com Amber, certo? Pois bem, acabou com todas as suas chances possíveis!
    Passou acompanhar os movimentos de Anderson, vendo-a abraçar o Pe. Bruce com um sorriso largo nos lábios. Aquilo o fez revirar os olhos. Será que ele era o único com pensamentos diferentes sobre aquele padre? Não era possível que ninguém acreditava nele, não necessariamente precisavam concordar, então pelo menos respeitar suas teorias já era o suficiente, mas ninguém, certamente NINGUÉM tinha capacidade para fazer isso!
    Até mesmo a vovó Wendy, que julgava sendo como uma mãe ficou contra si, isso sem comentar de Amber...
    – Eu vou vomitar! – exclamou rolando os olhos, saindo em direção da saída da sala, com certeza, papéis ou arquivos eram muito mais interessantes que ficar ali observando Amber sorrindo abertamente para o padre.
    Sabe o quanto ele daria para receber um sorriso daqueles? Melhor nem dizer...
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    A mão arrumou uma mecha de cabelo atrás da orelha, era ela simplesmente linda demais! A mulher mais bonita de todo o hospital Joseph Louise Morgan!
    Afastou o cigarro dos lábios, soltando a fumaça para o alto, a cor branca começou desenhar um lado obscuro do puro desejo e atração. Os traços da fumaça desapareceram com a força do vento, porém esse era o menor dos problemas.
    Amber Anderson, era a sua garota, a escolhida para viver anos ao seu lado. Afastando novamente o cigarro dos lábios, jogou-o no chão, fazendo questão de pisar em cima, ninguém poderia saber que ele fumava.
    Precisava manter sua imagem no hospital.
    Pela última vez, espiou a imagem de Amber agora conversando com Wendy, e um sorriso acabou dominando seus lábios, ela era realmente a melhor mulher que já encontrara!
    E antes que dois médicos pudessem sair do estabelecimento, se dirigiu rapidamente em direção de seu automóvel. Adentrara o lado do motorista começando checar seus pertences, que estavam dentro da caixa em cima do banco do passageiro, e assim que conferiu cada detalhe, fechou a caixa com a tampa. Ele não iria precisar mais daquilo, somente no dia seguinte, agora seu rumo seria outra residência...
    Girando a chave da ignição, pisou fundo no acelerador, cantando os pneus. A imagem de Amber estava gravada em sua mente, mas agora não poderia contar mais com ela, sua próxima parada exigia um talento que ele escondia nas próprias mãos!
    Dentro do hospital, Amber caminhava pelo corredor, segurando sua prancheta de pacientes em mãos. A noite finalmente caiu e cobriu todo o céu de San Rosie, e o hospital nunca ficou tão escuro e frio igual naquela noite.
    A mulher esfregava as mãos nos braços na tentativa de espantar o frio, mas era tudo inevitável. Seus pelos continuavam se arrepiando lhe alertando que aquele seria um dos seus piores plantões!
    – Amber! – parou imediatamente os passos, virando na direção da voz.
    – Como está sendo sua noite, Jacob, belíssima? – tentou colocar sarcasmo na voz, o que foi um fracasso.
    – Deve está sendo o mesmo que a sua. – respondeu dando de ombros, acompanhando Amber que seguia para o balcão na recepção.
    – Que coincidência, não? O chefe do hospital pegando plantão, como qualquer outro médico, chega até soar engraçado! – caçoou rindo.
    – Amber pare de agir como uma criança no jardim de infância! – exigiu, e ela fingiu não ouvir, estava ocupada demais assinando alguns documentos. – Nem parece que é médica e sim, uma faxineira que só resmunga! – comparou e logo Anderson se virou, ficando cara a cara com Jacob.
    – Se eu pareço uma faxineira, por que me contratou para servir o seu hospital? – disparou firme.
    – Amber... Eu ter deixado dois plantão na sua mão, já são provas o suficiente do que você significa para mim. – respondeu, e a mulher negou com a cabeça e um sorriso cínico.
    – Foram duas noites, Jacob! – rebateu seguindo novamente para o corredor.
    – Me deixa falar Amber! – emitiu, começando segui-la.
    – Eu não tenho nada do que falar com você! – emitiu continuando com seus passos.
    Jacob percebendo que nada iria adiantar para parar Amber resolveu aumentar a velocidade de suas pernas. Conseguiu, com muito esforço, entrar na frente dela, e a mulher em contradição somente parou e rolou os olhos impaciente.
    – O que você quer Jacob? – deu-se por vencida.
    – Você está livre do plantão de hoje. – resolveu despejar tudo na primeira oportunidade que tivesse.
    – Por q... Não, cadê o documento onde consta minha demissão? – esperou que ele retirasse alguma folha do jaleco e lhe entregasse, o que não aconteceu, ao contrário ele riu.
    – Acha mesmo que vou demiti-la só porque a dispensei do plantão? – riu mais uma vez, e Amber suspirou em raiva. – Não se preocupe Amber, enquanto eu estiver no cargo de chefe, você nunca será demitida. – deixou claro antes de seguir para a recepção, de onde antes estavam.
    Rolou os olhos mais uma vez. Jacob Write com trinta e dois anos conseguia mesmo ser surpreendente. De repente joga um plantão nas mãos de Amber e logo depois decidi retirá-la do plantão?! Que tipo de chefe era aquele?
    Enquanto tentava refletir sobre a mudança de plantão observava, na mesma posição, à figura morena de Jacob conferindo algumas pastas. A secretária ria de alguma idiotice que com certeza saiu pelos lábios de Write.
    Era incrível como todas as mulheres tinham uma queda pelo chefe!
    Claro, com seus cabelos castanhos, corpo esculpido – nada muito exagerado – sorriso colgate e olhos azuis, malditos olhos azuis, ele só poderia ter sido um erro genético!
    Jacob Write tinha apenas trinta e dois anos, como era possível ter aquela aparência? Tudo bem que os olhos azuis lhe dava o charme natural, mas com sua idade, o certo seria estar casado, com filhos e aparência velha, mas Jacob era totalmente o oposto de tudo, começando por estar solteiro.
    Homens do século XXI.
    Amber balançou a cabeça de um lado para o outro, retornando para sua caminhada pelo corredor. Já que não teria mais que ficar responsável pelo plantão, o que mais poderia fazer? Só lhe restava ir dormir, pois se voltasse para casa teria que encarar a figura de Alex e vovó. O que de fato não estava com determinação para encarar...
  • Quem Foi e Quem Não Conseguiu Ficar

    Acordar já não era fácil para Raimundo, nunca foi. Homem trabalhador, ele criou suas duas filhas até onde e quando pôde. Não era fácil cuidar de duas meninas sozinho, mas é muito mais difícil não poder criá-las.

    Levantar da cama, tomar seus remédios, colocar os óculos, tomar banho, escovar os dentes, comer...

    Raimundo Oliveira dos Santos não quer, não precisa, poderia morrer aqui e agora, mas vai levantar da cama, tomar seus remédios, colocar seus velhos óculos, tomar banho, escovar os dentes e “comer”. Hoje, ele pede para estar vivo, só hoje, precisa estar vivo para acompanhar o homem que transformou sua vida.  

    Pensa em ligar o rádio para ouvir as notícias, mas lembra de que não tem mais a antiga radiola e nem tem dinheiro para um novo aparelho. Mora, de favor, em um apartamento sujo de um velho amigo do seu falecido irmão. Tudo que há no apartamento é sujeira com uma solidão imensa encostada ao lado da porta, além do seu colchão imundo e o resto de comida dentro de sacolas plásticas.

    A audiência começa em uma hora, ele precisa sair de casa, não pode perder a chegada do homem, não pode perder a chance de olhar nos olhos dele mais uma vez. 

    Saindo de casa, vê seu ônibus passar. Será mais meia hora só a esperar o próximo. Parado ao lado da placa que diz “ônibus” com o dia ainda amanhecendo, pessoas indo para o trabalho, pessoas paradas ao lado de Raimundo e pessoas olhando para Raimundo. As pessoas olham, debocham e trocam palavras por sussurros interrompidos de pequenas risadas.

    “Só mais quinze minutos”, pensa e torce Raimundo sem se incomodar com os risos, sem se incomodar com nada. A única coisa que o incomoda é estar vivo. Chega o ônibus, sobe, Raimundo senta, mas logo no ponto seguinte, uma moça grávida entra, com semblante reluzente e ele a oferece o lugar.

    —Muito obrigada, senhor, se eu não estivesse com as pernas tão doloridas não deixaria que um idoso me desse o lugar — Diz a grávida.

    —Não se preocupe, não, minha filha, quando minha mulher estava esperando nossa primeira menina, ela também sentia muita dor nas pernas — Responde ele.

    —Que coincidência! Também estou esperando uma menina, o nome é Raíssa, qual o nome da sua filha? — Pergunta a mulher.

    Embora o barulho do trânsito seja alto e o coletivo pareça gritar desordenadamente com suas partes soltas e seus desajustes sobre a pista, aquela pergunta ensurdeceu Raimundo que, em sua mente, se perdera do mundo real e vaga agora pelo passado de suas memórias.

    — Senhor? Tá tudo bem? — Pergunta a moça

    Raimundinho estava longe, lá em seu bairro com suas duas meninas, montando o quebra-cabeça que Airton, seu irmão, havia dado a elas. Ele lembra como elas tinham facilidade para montar, como pensavam, aprendiam e cresciam rápido até aquele dia.

    —Senhor? —A moça pergunta e cutuca-o

    —Oi? Desculpe, minha filha, eu estava perdido aqui pensando, mas qual o seu nome mesmo? — Fala ele ao despertar

    —Sofia, mas qual o nome da sua filha?

    —Vou descer depois da praça — Avisa Raimundo ao motorista.

    —O senhor ainda não me respondeu — Retruca Sofia

    Assim como o ônibus parou ao encontrar o engarrafamento, Raimundinho parou ao se debater com suas velhas memórias e falou:

    —Jocasta era o nome dela, mas minha filha mais velha morreu.

    —Desculpa, me desculpe, não deveria ter insistido, o senhor me desculpe.

    —Tá tudo bem, filha, você não teria como saber.

    —Mas ela era a mais velha, onde estão seus outros filhos e sua mulher?

    —Só tive mais uma menina.

    —Como é o nome dela?

    —Ela se chamava Esperança, mas morreu pouco tempo depois da irmã.

    Ele parou e tentou recompor as palavras para falar também da mulher e disse:

    —E... A minha mulher morreu ao dar a luz à Esperança. — Completou Raimundinho.

    O silêncio se traduzia nos olhos de Raimundinho como dor, mas ele não mais se importava em sofrer, estava anestesiado de tanta solidão.

    —Eu não sei mais o que dizer, o senhor me desculpe! Não era minha intenção, de coração, peço que me perdoe — Exclamou Sofia.

    —Não se preocupe, criança, a minha vida triste não é sua culpa e está longe de ser.

    —Eu sinceramente peço que me perdoe, se tiver algo que eu possa fazer.

    —Tá tudo bem, meu ponto está chegando — Disse ele.

    —O senhor não quer passar lá em casa para jantar qualquer dia desses? Vou te dar meu endereço — Falou Sofia

    Ela anotou e o entregou dizendo:

    —O senhor pode aparecer, só moramos eu e meu marido, a casa é humilde, mas tem espaço para mais um — fala Sofia ao passo que o ônibus vai parando.

    Enquanto ele descia, um estouro foi ouvido na frente do tribunal, um alvoroço ia se formando e quando Raimundo chegou no meio da multidão, ele viu e não podia acreditar. Ele não queria acreditar que o fim seria tão fácil assim para aquele homem, não era justo.

    Os flashes pipocavam, pessoas corriam, uma mulher chorava e Raimundinho não conseguia aceitar, ele chorou e falou consigo mesmo:

    —Por que a balança da justiça sempre pesa mais para o lado injusto da tristeza?
  • Recado de uma amiga

    Quando sentir falta dele, fale comigo 
    Quando se sentir rejeitada, me chame para conversar
    Quando quiser ligar, disque meu número 
    Quando se sentir sozinha, lembre-se que estou aqui

    Sei que não é a mesma coisa...Mas nunca mais se humilhe por sentir saudade, seja forte, e não se esqueça que tem alguém aqui, que sempre vai te ajudar a superar.

  • RELAÇÃO MEIO AMARGO

    — Eu sinto muito, não foi por querer — imploro pelo seu perdão, segurando seu antebraço para que ao menos olhe no meu rosto —, Eu estava muito ocupado no trabalho e cheguei tarde no planetário, posso recompensar de outra forma.
    — Só saia, por favor — disse ele de costas, afastando-se ao puxar seu braço de volta.
    — Natanael…
    — Sai! — grita.
    Mantive-me imóvel vendo-o se distanciar até adentrar no quarto e fechar a porta. Fiz novamente: como na primeira, na segunda, na terceira e assim em diante pelos últimos quatro anos juntos. Não posso pedir para que ouça minhas explicações. Prometi que não esqueceria; não aceitaria nenhuma tarefa e chegaria a tempo, porém mais uma vez não mantive a tal palavra.
    Pego minha mochila que está jogada sobre o sofá. Desligo a luz da sala antes de entrar numa intensa indecisão mental: vou atrás dele ou devo de verdade ir embora? Minhas mãos estão trêmulas e sinto um excruciante aperto no coração. Viro meu rosto na direção do quarto, encarando-o por alguns minutos até finalmente decidir que neste exato momento, seria melhor deixá-lo em paz.
    ∞∞∞
    — Por Deus, eu quero fechar o bar e ir dormir — reclama minha tia jogando um pedaço de pano velho e úmido sobre a mesa vermelha de plástico tendo o nome de alguma cerveja — São mais de duas horas da madrugada, não percebeu que você é o único aqui? — pôs as mãos na cintura.
    — Eu posso fechar para você depois — digo, tomando o último gole da cerveja num copo branco descartável — Fui expulso, não posso voltar agora — senti um amargo na minha boca, mas não foi causado pela cerveja.
    — Você é expulso de casa e é no meu bar que vem se lamentar? — ela tem seu cabelo cacheado de tom marrom preso em um coque baixo, veste uma camisa preta de manga curta e um short jeans escuro acima dos joelhos.. 
    — A senhorita está ganhando dinheiro do seu sobrinho e mesmo assim reclama? Já vi esse bar ficar aberto até às quatro horas da manhã.
    Acabei sendo pego de surpresa por um forte tapa na minha nuca, virei meu rosto para ela sem saber o que dizer pois faz anos que eu não recebia um único golpe dela — tive más recordações dessa bendita mão pesada e dedos gordos.
    — Esqueça essa porcaria de cerveja e vai dormir, você tem trabalho amanhã. Coloque seus pensamentos no lugar e espere um bom momento para conversar com ele e se redimir.
    — Tia, você sempre incluí que eu tenha que me desculpar, mas nunca o Natanael — ainda que tenha razão sobre.
    Um segundo tapa foi me dado.
    — E quem é que vive fazendo besteira? Eu já teria largado você há muito tempo se eu fosse o Nael — pega o pano úmido de volta e retorna para juntar as cadeiras e as mesas — Ele é muito paciente, eu já teria te metido a facada igual a desgramada da Rita — soltei um sorriso forçado ao ouvi-la citando a música do Tierry.
    Ser paciente e cauteloso ao ponto de nunca ter jogado nada na minha cara pelas tantas vezes que quebrei minhas promessas é o que me faz sentir como um merda. Pelo menos eu saberia o quão machucado está, mas segurar tudo para si é milhares de vezes pior. 
    Conheço Natanael desde a minha adolescência. Frequentamos a mesma universidade em áreas diferentes e nos graduamos no mesmo ano —, só então, tive coragem de pedi-lo em namoro. Seria impossível não despertar sentimentos por ele, conseguiu me conquistar sem fazer nenhum esforço.
    Acho que eu nunca gaguejei tanto na minha vida como naquele dia. O fato dele ter rido daquela situação só me deixou mais nervoso, entretanto, eu fiquei feliz; pois além de ter me graduado na área que tanto almejei, também consegui o "sim" do Nael. Durante três anos juntos, seu comportamento nunca mudou e sequer deixou de ser o mesmo por quem me apaixonei.
    Não posso dizer o mesmo sobre mim.
    Quando que nosso relacionamento começou a desandar?
    Até o final do meu estágio estava indo tudo bem entre a gente, sequer discutimos, tampouco quebrava minhas promessas. Então… foi quando comecei a aceitar trabalhos extras? Obviamente é isso. Acreditei que apenas amar é o suficiente para manter uma relação — conseguir dinheiro é essencial. Aceitei muitas tarefas em tais dias que eu deveria ter folgado.
    Como ele deve ter se sentido por ter me esperado tanto e dado conta de que eu não apareceria? Meu peito se apertou só de imaginar a sua reação. Certamente, minha tia tem razão. Sou o único a quem devo desculpas a ele, por nunca ter sido presente nos planos em que ele sozinho preparou…
    — Merda — sussurrei, sentindo minhas lágrimas escorrendo por meus lábios — Eu realmente… sinto muito.
    ∞∞∞
    — Bom dia, Gustavo — diz minha colega de trabalho, Carolina — Sua cara tá péssima hoje.
    — Bom dia — retribuo — Sim, sei disso — murmurei me aproximando da minha mesa, coloco a mochila sob ela.
    Sento na cadeira e ligo meu computador. Preciso revisar um contrato para um dos clientes e firmá-lo com a seguradora. Observando a hora no meu relógio de pulso, tenho cerca de três horas para deixar tudo pronto até nos encontrarmos.
    Meus pensamentos voltavam para a noite passada, o que me atrapalhou no prosseguimento da minha leitura. Bufo relaxando meu corpo no encosto acolchoado da cadeira, junto às minhas mãos entrelaçando os dedos enquanto a cena de ontem está fixada na minha mente, repetindo como um loop infinito.
    — O que eu faço? — resmungo.
    Inclino meu corpo a frente pressionando meus cotovelos na borda da mesa. Esfrego meus dedos nas sobrancelhas sentindo uma leve dor de cabeça. Tenho de fazer algo, mas infelizmente, nenhuma ideia boa o suficiente surgiu e somente foquei no trabalho até o horário de voltar para a casa chegar.
    ∞∞∞
    O dia terminou bem, tirando o fato que a sensação de culpa continua me invadindo. Após pegar um Uber, pois meu carro continua na oficina há três dias, desci em frente a minha casa —, respirei fundo antes de passar pelo portão. Já que não aceitei nenhuma tarefa extra para esta noite, consegui chegar cedo.
    Devo entrar? — pergunto-me mentalmente.
    Não tive coragem de passar pela porta da sala. As luzes podem estar apagadas, mas o som da televisão ligada deixa claro que Natanael já está lá dentro. Respiro fundo pela segunda vez e giro a maçaneta da porta. Dando alguns passos ao entrar, vejo Nael sentado no sofá vestindo uma calça moletom cinza e camisa vermelha, assistindo a animação do Gato de botas.
    — Boa noite — falo baixo.
    — Boa noite — corresponde, sem ao menos olhar na minha direção.
    Decidi não insistir, por agora, irei começar devagar. Entro no quarto onde deixei minha mochila, levo algumas peças de roupas comigo para o banheiro e tomo um banho frio. Passando pela sala, notei que Nael não estava mais no sofá e ouço ruídos vindo da cozinha.
    Bebendo água a frente da pia
    — Podemos conversar? — pergunto.
    — Agora não, estou cansado — respondeu, guardando a jarra d'água na geladeira — Deixa pra amanhã, ou quando você tiver tempo.
    Suas últimas palavras foram como uma faca perfurando meu coração — ainda que eu não saiba a sensação, acho que não faria nenhuma diferença. Ele passou por mim e voltou a sentar-se no sofá.
    Voltei meu olhar para a cozinha caindo sobre a mesa, onde alguns chocolates foram deixados numa tigela. Ele tentou mais uma receita nos doces? As vezes quando não saem da forma que esperava, costuma trazê-los para casa. Natanael é formado em confeitaria e junto com mais dois amigos, eles abriram uma doceria.
    Caminhei até eles e peguei um pedaço para experimentar. O sabor amargo tocando minha língua me fez fazer careta e mal consegui engolir. Olhando para o pequeno pedaço entre meus dedos, suspirei.
    — Está amargo — balbucio. — Muito amargo.
    Retorno para a entrada entre a cozinha e a sala, observando-no em silêncio.
    Está cansado… ele deixa visível que não está falando de cansaço físico. Com clareza foi apenas para evitar de falar comigo. Iniciei passos curtos até o sofá e sento ao seu lado mantendo uma pequena distância de alguns centímetros. Desvio meu olhar de forma sorrateira da televisão para ele, o mesmo encarava o nada do outro lado.
    [...] Na real, não sei oque dizer. Já disse tantas desculpas anteriores que isso não significa nada agora.
    — Nael, eu… — ouvi resmungos vindo dele, inclinei minha cabeça para frente tentando saber o que estava acontecendo. Queria que fosse ele me amaldiçoando, mas não isto. — Você está chorando?
    Não houve respostas. Pego o controle pausando a animação, me aproximo dele e no instante em que o toquei, Nael se levantou a fim de distanciar-se outra vez. Segurei seu antebraço e o puxei para meu colo, deixando-o sentado de lado.
    — Tem o total direito de ficar com raiva, só não se afaste — deslizei meus dedos sob seus olhos para enxugar suas lágrimas.
    — Não estou com raiva de você, Gustavo — segura minha mão distanciado do seu rosto. — Estou magoado. Morarmos juntos não é tão diferente de morar sozinho, eu mal vejo você aqui. Muito menos nas suas folgas.
    Ele tem razão. Estou mais para um visitante do que morador, pois passo muito tempo no trabalho.
    — No início deixei passar, mas ficou cansativo. Foram poucas vezes que você compareceu em algum planejamento que fiz para passarmos juntos.
    Levantei meu rosto para olhá-lo nos olhos, a decepção está tão nítida que não aguentei e desviei para o lado. Esse olhar… é a primeira vez que o vejo em seu semblante.
    — Sei que gosta do seu trabalho, fico feliz com isso, mas dinheiro não compra tudo. — Nael junta suas mãos entre as coxas, e eu, continuei ouvindo em silêncio — É muito difícil aceitar a folga e ficar em casa? Não estamos passando necessidades, o quanto devo esperar? Até quando tenho que esperar? Eu fiquei lá parado por horas e você não apareceu, tem noção de como me senti?
    Não consegui pronunciar uma única palavra. Meus olhos encheram-se de lágrimas e segurei a força para que elas não caíssem e nenhum som saísse da minha boca. Nesse dia, Natanael havia marcado para nós nos encontrarmos no planetário assim que eu saísse do trabalho, mas minutos antes foi oferecida uma tarefa nada difícil. Acreditei que eu fosse terminar a tempo, mas ao chegar no local ele já não estava lá. Todavia, a tarefa não era obrigatória, me deixei levar pelo extra que eu receberia.
    — Desculpa — fora tudo o que consegui dizer. — Desculpas… — me peguei chorando novamente. Abracei sua cintura pondo meu rosto sobre ela.
    — Eu não quero suas desculpas, mas que tire um tempo comigo.
    Queria poder voltar no tempo e ter comparecido em todas aquelas ocasiões — o que de fato nunca irá acontecer. Consigo lidar com erros no trabalho, mas se tratando dele eu nunca sei como reagir.
    Eu o amo muito; tanto suas perfeições que mal sinto as imperfeições. Me sinto transbordando quando estou com ele, no entanto, devo tê-lo feito sentir-se de outra forma ao invés de usufruir da mesma sensação que ele me traz.
    Senti o toque de suas mãos deslizando na minha cabeça até as minhas bochechas, fui afastado e ele elevou meu rosto e nos encaramos.
    — Na sua próxima folga, você pode ficar em casa? Sem aceitar nenhuma tarefa?
    — Sim… — coloquei minha mão sobre a sua e trouxe para frente da minha boca, dando um leve selinho. — Eu vou ficar em casa — fez-se uma expressão desconfiado, o que foi compreensível. — Quando você acordar de manhã na minha folga, estarei do seu lado na cama, eu prometo.
    — Eu preciso de você aqui, só isso.
    Puxei ele para um abraço, não consigo imaginar o quão solitário ele estava se sentindo na minha ausência. Não confessei meus sentimentos naquela época para deixá-lo magoado. Eu errei. Deveria ter sido mais presente nem que fosse apenas para ficar em casa fazendo nada. Coloquei minha profissão em primeiro lugar sem ter percebido e, deixei de lado a pessoa que sempre esteve esperando a minha volta..
    Infelizmente, não tem como apagar o que já foi feito.
    — Eu estarei aqui — afirmei repetidas vezes.
    ∞∞∞
    — Soube pela minha irmã que você e o Nael discutiram outra vez — disse minha mãe, sentada na sua poltrona próxima ao rack da sala enquanto tricota um tapete.
    Ela me chamou para vir pegar um casaco que tricotou para Natanael. Desde que cheguei após sair do trabalho, me mantive aqui na sala sentado à sua frente sem saber onde está o bendito casaco que disse entregar. Me sinto um adolescente sendo repreendido.
    — Sim, mas já nos resolvemos — expliquei raso, coçando minha nuca.
    — Trabalho outra vez?
    — Eu cheguei um pouco tarde — respirei fundo e soltei o ar de uma só vez. — Onde está o casaco? Vai ficar tarde para voltar se eu demorar — levantei do sofá caminhando para outro cômodo, minha mãe veio logo atrás.
    — Está no meu quarto, vou pegar.
    — A senhora só fez um?
    — Sim, você não está merecendo. Talvez eu faça um tapete para você colocar perto do vaso — adentra no quarto. — Não posso acreditar que você é seu pai cuspido e escarrado até nisso.
    — Mãe, já falei que resolvemos isso — repito pondo minhas mãos na cintura.
    — E então? Por quanto tempo vai durar até a próxima pelo mesmo motivo? Seu pai dizia sempre as mesmas palavras e não durava muito. Não é atoa que pedi pelo divórcio, por que não? Era como ter me casado com um fantasma de qualquer forma.
    Ela remexeu dentro do guarda-roupa e trouxe um casaco dobrado de tom azul bebê.
    — Se não consegue separar o trabalho da vida pessoal, fica solteiro. Assim evita machucar quem está do seu lado.
    Fiquei encostado na parede do corredor segurando o casaco e observei minha mãe retornando para a sala. Ela pode ser tagarela e na maioria das vezes direta demais, mas admito que ela tem razão. Porém, não acho que terminar seja a solução.
    Não no meu caso.
    ∞∞∞
    A semana está passando calmamente e minha relação com Nael voltou ao normal, mas ainda tenho algo a ser feito. Falta pouco para meu horário ser encerrado e como previsto, William surgiu trazendo com ele mais uma tarefa extra.
    — Gustavo, você pode resolver isso? Irá ser pago como sempre — aponta uma pasta fina contendo alguns papéis dentro.
    — Desculpa William, mas irei passar dessa vez. Tenho algo importante para fazer, quem sabe na próxima.
    — Não tem problema, irei pedir a outra pessoa — dito isso, ele se afastou a caminho de outros funcionários.
    A princípio, imaginei que ele fosse insistir, mas foi tão fácil de aceitar minha recusa que me sinto patético por não ter feito isso antes. Continuei com meu trabalho até que terminasse por completo antes de finalmente ir embora.
    ∞∞∞
    Eu mal lembro de quando foi a última vez que cheguei em casa primeiro. O silêncio é algo que não estou acostumado já que sempre possui algum som quando Nael está presente.
    Guardei a mochila e tomei banho, entrei na cozinha para comer algo e me deparei com a cafeteira elétrica ainda ligada na tomada. Encaro ela por um tempo. Eu odeio café e qualquer coisa que seja amarga, mas nunca contei a Natanael depois que começamos a viver juntos.
    E não pretendo contar nunca.
    Ele está sempre bebendo esse negócio horrível e imaginei que fazer companhia não seria uma má ideia — tive de me esforçar para não fazer careta. O que ajudou a manter serenidade foi colocar bastante açúcar.
    Parando pra pensar, eu fingi gostar de muitas coisas por causa dele. Percebi que eram poucas coisas que tínhamos em comum, apesar disso, não me impediu de nutrir sentimentos em relação a ele. Creio que se Nael descobrir, estarei ferrado.
    Limpei a cafeteira e a guardei, fiz um lanche e fiquei pela sala assistindo televisão. Sequer me dei conta de que caí no sono e despertei pelo barulho na casa. Sentei ainda sonolento e esperei alguns segundos para me levantar.
    — Por que não me acordou? — perguntei após entrar na cozinha.
    — Você estava dormindo como uma pedra, não queria te acordar.
    Cruzei os braços e logo coloquei a mão de frente a boca no momento em que bocejei. Fiquei no mesmo lugar observando-o fazendo café depois de pegar a cafeteira dentro do armário. Encaro o relógio quadrado na parede, apenas três horas se passaram desde que cheguei.
    — Está cansado? — pergunto.
    — Não, hoje não foi tão corrido.
    — Você quer sair?
    Natanael virou-se com uma expressão um tanto engraçada, eu queria ter rido, mas o quanto ele estava esperando por esse convite? Essa minha pergunta mental me impediu de rir. O mesmo se aproximou me dando um abraço junto com sua confirmação.
    ∞∞∞
    Acabamos vindo no Burger King no centro da cidade, desde que abriu há pouco menos de dois anos nunca viemos aqui. Felizmente não está tão cheio pois detesto barulho em excesso — mesmo se tivesse, eu não me importaria de suportar.
    — Vou escolher o lugar — avisa Nael.
    — Certo, vou fazer o pedido.
    Nos distanciamos e fiquei na fila que apesar de grande o que deu a entender que o lugar não estava realmente — pouco — vazio, andou rápido. Pedi por um milkshake de morango e outro de chocolate, dois… mega stacker cheddar empanado ou seja lá nome —, por que tão grande? Peguei o papel contendo o código do meu pedido e fui à procura do lugar que Nael escolheu.
    Bem escondido, aliás.
    Sentei de frente para ele e do nosso lado contém a vidraça dando a vista movimentada da cidade do rio de janeiro anoitecendo.
    — Estou feliz que tenha me convidado, mas…
    — Sei o que vai dizer, e não — interrompi. — Não estou fazendo isso só porque pediu, e sim porque eu não queria te decepcionar novamente e deixar esperando que eu compareça.
    — Você nunca me decepcionou da onde tirou isso?
    — Mas deveria — insinuei. — Me conta quando eu estiver passando dos limites, se fiz algo que não gostou ou qualquer coisa que eu precise melhorar, só não quero que guarde para si mesmo.
    Aquela foi a primeira vez que o vi chorando de tristeza. Meu estômago parecia embrulhar pelo que causei a ele.
    — Eu só fiquei muito emotivo — belisquei seu nariz vendo que ele ainda insiste em cobrir o que estava sentindo. — Merda, isso dói!
     — Estou falando sério, não vou ficar chateado se você for sincero.
    Natanael estava com a mão no nariz e não pude conter o riso ao ver o vermelho se intensificando na ponta. Recebi um chute na perna e ouvi o número do meu pedido soar. Me levantei para pegar e voltei sem demora para a mesa.
    Esperei que ele pegasse primeiro, observei o casaco que veste feito por minha mãe dias atrás. Serviu tão bem nele que às vezes penso que o filho verdadeiro dela é ele e não eu — a mesma se atreveu a me entregar um conjunto de tapetes para pôr no banheiro. Terminar… eu nunca me atreveria a tocar nesse assunto.
    — Está me encarando por que? Não vai comer? Se demorar demais vai ficar sem — diz com a boca cheia.
    — Passa fome — resmungo pegando o copo de milkshake.
    Eu não bebi após colocar o canudo na boca, por algum motivo senti que não iria descer pois o gosto amargo se fazia presente na minha língua. Encarei novamente Natanael que parecia não ter comido há dias. Dei um leve sorriso e coloquei o copo de volta na mesa.
    — Nael?
    — Hum?
    — Eu te amo — esperei que levantasse o olhar e repeti, apenas no caso dele achar que ouviu errado. — Eu te amo muito, muito mesmo.
    — Eu também te amo — retribui. — Muito mesmo. — sorriu.
    Finalmente senti meu coração leve, peguei o milkshake de volta e bebi sentindo o sabor doce do chocolate descer pela minha garganta. Irei me esforçar para manter esse sorriso no rosto dele, não quero sentir essa amargura no meu interior, tampouco possuir uma relação meio amargo com quem eu quero que seja apenas doce.


    Fim!!


  • Relatos de Shaira

    20 de novembro de 1993. São exatamente 02:30m da madrugada de uma sexta-feira fria e escura. E como de costume mim encontro enrolada nas cobertas da minha angústia e paralisada pelos sanguinolentos pensamentos, parte de mim clama por justiça e a outra parte de mim clama por redenção, sou uma vítima desse monstro atroz que mim devora lentamente. Atormentada pelos pesadelos cotidianos de ter que enfrentar o meu pior medo, eu regresso, regresso na intenção de esquecer tudo e a todos, busco abrigo nas sombras da noite e mim refúgio no mundo a qual eu mesmo criei, um mundo repleto de respeito e igualdade. Já não sinto mas os meus dedos as minhas pálpebras já não fecham e o desejo de suicídio impera dentro de mim é um sentimento feroz é como se fosse uma espada de dois gumes que rasgasse a minha alma por inteiro, não sei até quando ei de suportar, eu sinto que chegou a hora de dar um fim a todos esses sofrimentos. Finalizo esses relatos pedindo perdão a todos, sei que a atitude que irei tomar não é a melhor escolha.
    Shaira tinha 16 anos de idade e ao longo de sua vida era refém do racismo, cansada com a impunidade existente, decidi da cabo de sua vida ao tomar um frasco de aspirina, era uma garota inteligente e cheia de planos,
    Hoje foi Shaira e amanhã?
  • Rússia ou Ucrânia:qual o seu lado?

    Noutro dia,Putin apertava as mãos de Lewis Hamilton,inaugurava Olimpíada,dava pontapé inicial em Copa do Mundo,,sob os olhares beneplácitos da Europa...como agora,ela se espanta do tirano,cuja vaidade alimentou,querer mais poder?sobrou para a Ucrânia,enfrentar esse monstro...ora!usem o dinheiro que lucraram com esses eventos,para ajudá-la!é sua obrigação...Também foi o dinheiro americano, qye patrocinou o crescimento da Chiba,sem o qual, talvez sua ditadura fosse deposta"sera' bom abrir a China ao mundo"diziam,ao transferir empresas e empregos do Ocidente para lá"Estamos todos conectados,eles não poderão nos atacar"mas u única coisa conectada,é o missel do Putin nas nossas cabeças...curioso, é que democracias pobres,não merecem o mesmo interesse dos capitalistas,visam apenas o lucro...pois bem!com seu capital,a China se tornou dona do mundo,e todos se submeterão à sua tirania!mas não são seus filhos que vão à guerra enfrenta-la,por isso lavam as mãos...só nos resta boicotar quem apoia essas ditaduras,de empresas a líderes, como nosso Lula!ou logo bem criticar mais a China poderemos,ouçam meu grito de alerta!
    A Ucrânia,e'so" o primeiro front,dessa guerra fria,onde não cairá uma bomba, em chineses ou americanos, qye porão nações miseráveis para guerrearem por eles,tal qual oVietnã e Coreia,no passado.. escolha o lado da paz!defenda a vida!antes que seja convocado,para semear a morte...
  • Santa Cruz Das Almas

     Das margens arenosas do Rio São Gonçalo até os manguezais do Rio Gonçalinho. Das ondas calmas da Praia das Amendoeiras aos pés da Serra das Almas, todo habitante Santa Cruzalmense tinha algumas certezas incontestáveis. Duas delas eram: quando as moscas se amontoam dentro de casa é sinal de chuva forte vindo. E que, quando se tem um problema de saúde inexplicável, somente Vó Zezinha dava jeito.  
     Naquela manhã quente, começo de outono, as moscas faziam reunião na casa de Bento. Mas, os insetos batendo no rosto e fazendo zoada pela cozinha eram problema pequeno. Tão pequeno que passava despercebido por entre a angústia daquela família.
     Bento casou pra mais de ano. Teve festa. Muita gente. Um boi e três cabritos, cortesia do pai de Marluce. A moça pegou barriga pouco depois e foi uma felicidade só. "Mais um Bento no mundo", dizia Luiz. Mas, a alegria se transformou em estranheza lá pelo décimo mês de gravidez.
     Talvez tivessem errado as contas, pensavam. A parteira disse que todos os sinais eram de que ainda não estava na hora, o médico da cidade, também.
     Marluce nada sentiu até chegar ao 12º mês.
     Era dia de São José. Estavam na festa da Capelinha quando Marluce deu um grito tão alto que fez a música e o rastapé pararem, de solavanco e todos correrem ao socorro dela. Daí pra lá, alternava entre o desespero da dor e momentos de um sono tão pesado que parecia que não iria acordar mais.
     Luiz tentou o médico, mas, o doutor estava fora. Queria levar a esposa até outra cidade, mas, qualquer tentativa causava tanta dor e desconforto que fazia qualquer um desistir.
     Só restava uma alternativa: trazer Vó Zezinha até Marluce.
     Bento saiu de casa apressado. Documento e algum dinheiro no bolso da frente da camisa.
     – Leva uma sombrinha, Luiz! Vai cair um pé d'água!
     – Deixa quieto, mãe. Carece não. Chuva é só água do céu. Volto logo. Volto com a Vó!
     – Vai com Deus e Nossa Senhora, meu filho! Deixa que eu cuido de Marluce.
     A luz do sol ainda nascia tímida quando Ziza entrou na cozinha.
     O cheiro de café fresco, o rádio ligado tocando baixinho um louvor evangélico. Vó Zezinha estava sentada na mesma cadeira de sempre. Cabeça baixa, terço na mão, rezando baixinho.
     – Bom dia, Ziza. Dormiu bem? – Disse Vó em tom de sarcasmo. Ziza nunca acordava tão cedo.
     – Dormi não, vó. Tive um sonho estranho. Sonhei com um homem alto e bonito. Homem não, rapaz. Novo, mas com barba e cabelo tudo branco.
     Tava rondando a casa em silêncio. Acordei e não consegui dormir mais.
     Será que é coisa boa ou coisa ruim?
     – Ô, Ziza! Se é coisa boa ou ruim a gente só vai saber quando, e se, acontecer. Agora, eu te pergunto: o que é velho e novo ao mesmo tempo? Que tá sempre por aí rondando a gente, mas, se a gente não prestar atenção, passa silencioso, sem se perceber? É o tempo, Ziza. O tempo. Ele tá sempre acabando e começando. Pode significar tanta coisa. Não tem como saber de véspera. Toma um café e vem rezar comigo.
     – Ah, vó! Vou aproveitar que acordei cedo e vou lavar roupa. Adiantar as tarefas e ficar com o dia livre.
     – Se eu fosse você, Ziza, nem começava. Tenho certeza que vai chover. Meu joelho tá doendo que só. Senta aqui comigo.
     Ziza limpou os olhos com as costas das mãos. Tomou um cafezinho e engrossou a ladainha do terço, sentada ao lado de Vó Zezinha.
     Vó Zezinha figurava entre os cidadãos notórios de Santa Cruz das Almas há algumas gerações.
     Ninguém sabia ao certo sua idade.
     Ziza, uma de suas dezenas de filhas, filhos, netos e netas de afeto e que cuidava de vó e da casa fazia um tempo, tinha encontrado uma vez um documento com o nome de Vó, Maria José do Espírito Santo, que pelos cálculos, dava pra Zezinha uns 80 anos. Mas, pouco tempo depois, encontrou uma certidão de batismo que contava 96. Era uma daquelas questões que todos querem a resposta, mas, ninguém tem coragem de perguntar. Além disso, qualquer tentativa de se chegar à resposta por meios não diretos recebia de Vó uma única e insatisfatória informação: "chega um ponto na vida em que idade é bobagem. Não define o que a gente é e nem define o que a gente faz." E realmente, no caso de Vó a idade só reforçava a imagem de sabedoria e em nada atrapalhava.
     Sempre foi benzedeira de mão boa e reza forte. Desde a adolescência, quando desenvolveu o dom, ajudou muitos dos cidadãos de Santa Cruz das Almas. Difícil encontrar uma família que não tivesse, pelo menos, um membro que tenha passado pelas rezas e curas de Vó.
     Mau-olhado, quebranto, espinhela caída, bucho virado, cobreiro, unha encravada, dor de dente etc. Para todos estes males, e alguns outros mais, Vó tinha jeito.
     Em uma comunidade carente de médicos, benzedeiras como Vó são quase um tesouro. Todos sabiam disso e todos a tratavam muito bem em círculos sociais, independendo de religião ou status social.
     O próprio Padre Antônio a convidava para as missas e, sempre que podia, passava pela casa de Vó para ver como ela estava.
     Ela também chegou a curar a erisipela da filha de um prefeito benzendo a menina com folhas de mangueira. "só não pode comer manga", recomendou. Mas a menina comeu e Vó teve de rezar de novo. Curada, a garota, hoje grande, levou o filho em Vó para tratar das bronquites.
     Todos estes males, até os mais inexplicáveis, eram coisa simples para Vó Zezinha. Mas, estava para encarar algo verdadeiramente inexplicável. Fora de sua longa experiência.
     Bento seguia pela estradinha que cortava a fazenda de Seu Nelson. Ainda não sabia como iria atravessar a cidade até a casa de Vó, no pé da serra, e voltar até sua casa acompanhado da rezadeira. Não sabia se Marluce aguentaria. Não sabia o que estava acontecendo. Mas, sabia que Vó Zezinha conseguiria ajudar. Sentia isso em algum lugar do seu corpo.
     Não sabia a hora. Seu relógio havia, misteriosamente, parado de funcionar.
     Olhou para o sol que lutava para aparecer por entre as nuvens engrossadas. Deviam ser umas 9h.  
     Continuou pela estrada observando o céu. Os pássaros estavam voando da costa para dentro. Segundo seu conhecimento, mais um sinal de chuva chegando. Preocupado com o tempo, apertou o passo.
     A poeira subia pela estrada de chão conforme a velha caminhonete se aproximava.
     Nelsinho, filho de Seu Nelson parou próximo à Bento e indagou o amigo:
     – Ô, Luiz! Tá indo aonde, irmãozinho? Vai chover! Tô vindo da praia. Fui levar um motor pra Zeca de Ana, meu cunhado. Os pescadores voltaram todos. Disseram que o mar tá batendo muito.
     – Nelsinho, Marluce tá mal. Preciso levar Vó Zezinha até lá. É minha última esperança.
     – E tá doido de ir de pés? Sobe logo, homem! Eu vou te levar lá!
     Ziza arrumava com calma o quartinho de trabalho de Vó. Na parede, um relógio do Sagrado Coração de Jesus parado dividia o espaço com imagens de santos, pinturas indígenas, esculturas afros, ervas e afins.
     – Mas, eu troquei as pilhas faz pouco tempo. Que diabo é isso desse relógio parar?
     – Para de ficar chamando coisa ruim pra dentro de casa, Adalgisa! – disse Vó, entrando pelo quartinho. – junta umas coisas pra mim. A gente vai ter que sair daqui a pouco. Tem gente vindo aqui atrás de ajuda.
     Ziza não sabia como Vó ficava sabendo dessas coisas antes de acontecerem, mas, ela sempre acertava. Juntou, como Vó Zezinha pediu, as coisas numa bolsa de pano: ervas, o crucifixo, barbante, cachimbo, tudo.
     Com tudo pronto, Vó sentou e esperou.
     As primeiras gotas de chuva começaram a cair quando Nelsinho e Luiz Bento atravessavam a praça da cidade. Dali pra casa de Vó dava ainda meia hora.
     A chuva apertou chegando no pé da serra. A pequena subida enlameada que levava até a casa de Vó foi um grande obstáculo superado só Deus sabe como.
     Chegaram ao portão e, ao ouvir o motor do carro, Ziza foi correndo. Chave na mão, guarda-chuva na outra.
     – Não desliga o carro! Vó já está vindo! – gritou tentando superar o barulho da chuva e do motor.
     Vó desceu o caminhozinho até o portão bem devagar. Passos firmes e cuidadosos.
     Entrou no carro quase sem ajuda. Sentou no banco da frente. Ziza e Luiz foram atrás.
     O caminho era longo e Luiz contou tudo para Vó Zezinha, que ficou em silêncio, pensativa, boa parte do caminho. Em certo ponto, todos ficaram em silêncio. Bento, impaciente.
     A chuva aumentava.
     Nelson ligou o rádio para tentar distrair Luiz, mas, não ajudou. O radialista anunciava que o nível do Rio São Gonçalo havia subido além da conta e que a ponte da estrada velha estava interditada. Teriam que pegar o caminho mais longo.
     Na casa dos Bento, Mariana, mãe de Luiz, estava ao lado da cama da nora, velando seu sono.
     Marluce dormia inquieta, balbuciando gemidos de dor. Tinha febre, mas era baixa. Era a primeira vez que dormia em muito tempo.
     Dona Mariana, que antes tinha uma preocupação, agora tinha duas. Não sabia onde andava o filho. Não lembrava nem a que horas ele havia saído. Só escutava o mundo lá fora desabando em água e rezava baixinho, com o coração apertado.
     A chuva continuava e a água subia, em algumas casas ribeirinhas, chegava ao batente da porta. A enchente já era certeza.
     – Que chuva é essa? Misericórdia, Senhor! Parece chuva de Verão!
     – É chuva de Outono, Adalgisa. Tão perigosa quanto. – retrucou Vó. – Todo ano tem, pelo menos, uma dessas. Só muda a data. O povo sofre, perde tudo, mas, depois dá seu jeito, se ajuda e reconstrói o que perdeu. É assim desde antes do meu tempo. Alguns vivem na certeza de passar por isso de ano em ano. Nos resta fazer o que a gente puder pra ajudar, e rezar por eles.
     – Rezar por nós também, Vó. – Acrescentou Nelsinho. – do jeito que a chuva tá, a Estradinha da Capela deve estar um atoleiro só.
     Ele estava certo. O carro atolou três vezes. Luiz desceu sozinho pra empurrar em duas. Na terceira, Ziza ajudou. Com muito esforço, ainda embaixo da chuva pesada, chegaram à casa dos Bento.
     Ninguém percebeu, nem mesmo Ziza, mas Vó Zezinha olhou para trás quando passaram pela porteira aberta. Somente visível aos olhos dela, lá estava, embaixo da chuva forte, o homem jovem de barba e cabelos brancos. O homem do sonho de Ziza. O Tempo.
     Entraram rapidamente, se protegendo como podiam da chuva pesada e do terreno parcialmente inundado.
     Ziza e Nelsinho ajudaram Vó a entrar na casa e ela, assim que estava dentro, foi orquestrando os passos de todos com clareza e urgência.
     Para Dona Mariana, Pediu que esquentasse água. O quanto pudesse. Pediu também panos limpos. Toalhas, de preferência.
     Para Ziza, foi ditando uma lista de ervas, as quais a ajudante foi tirando da bolsa que trouxeram. Pediu que ela fizesse um chá.
     – Luiz, você vem comigo até a moça.
     – Eu também quero ajudar, Vó. – falou Nelsinho, bem alto, tentando vencer o som da chuva.
     Vó caminhou até o rapaz e o tocou no rosto.
     – Sei que você sabe rezar, e muito bem, meu anjo. É o melhor que você pode fazer agora. E não menos importante que as outras tarefas. Já, já, os outros vão se juntar a você. Vamos precisar da ajuda de todos nisso.
     Marluce estava deitada, imóvel. Porém, assim que Vó Zezinha cruzou o portal do quarto, a jovem arqueou o corpo e soltou um grito, que foi acompanhado, em uníssono, por um trovão que estremeceu toda a casa.
     Vó rezava em voz alta, pedindo pela criança e pela mãe, enquanto tateava em exame a barriga esticada de Marluce. Foram precisos dois ou três toques para saber. O corpo da mãe estava quase pronto para o parto, porém, a criança estava virada.
      Pediu que Bento desse a volta, que levantasse o corpo da esposa, sentasse atrás dela e a segurasse em seu colo. Com força.
     Sacou um rolo de barbante e, recomeçando as rezas, trançou três fios longos, o suficiente para laçar toda a barriga da moça. Amarrou na parte alta do ventre, com sete nós. Olhou para Luiz, que entendeu o recado e apertou o corpo da esposa contra o seu. Então, com movimentos firmes, apertou com vontade alguns pontos da barriga, fazendo movimentos como quem direciona algo que não vê, mas pode sentir.
     Marluce gritava e se retorcia no colo de Luiz, até que parou de se mexer. Ele olhou assustado para Vó Zezinha.
     – Ela vai ficar bem. Só não deixa ela dormir. Não é hora ainda. Ela ainda tem muito trabalho.
     Adalgisa entrou correndo, acompanhada por Dona Mariana e Nelsinho. Trazendo panos, água quente e o chá.
     – Você fica, Ziza. Os outros já sabem o que fazer. – Vó olhou para Nelsinho, que fez que sim com a cabeça.
     A ajudante levou o copo até Vó, que sentiu a temperatura e o entregou a Luiz.
     – Acorda a moça e faz ela beber o quanto Aconseguir.
     Bento fez o que ela pediu e, segundos depois, as contrações começaram.
     A chuva, como se fosse possível, aumentou ainda mais.
     A água batia com violência na janela do quarto e o vento forte fazia tremer todas as telhas. Ziza e Vó já se preparavam para o parto quando uma rajada Violenta de chuva abriu a janela, o vento inundando o quarto e apagando todas as velas, deixando todos no escuro. Vó fechou os olhos por um momento para se proteger dos respingos e, quando abriu, não via mais Adalgisa, Luiz Bento ou Marluce, não ouvia mais o barulho da chuva. Apenas via ele. O homem que estava na porteira. O homem do sonho de Ziza. O tempo.
     A voz grave ecoou como um trovão.
     – Temos que conversar, Dona Maria José. Não acho que exista a necessidade de que me apresente. A senhora pode me chamar como quiser, mas, tenho a certeza de que sabe quem eu sou. Não estou feliz com o que tenho a dizer, mas, tenho o dever de dizê-lo: Seu tempo acabou.
     Fez uma pausa como quem estira as costas após se livrar de um fardo pesado.
     – Nós estendemos sua estadia aqui. Sabíamos que ajudaria a muita gente. Porém, algumas pessoas não podem coexistir neste plano. A criança que vem tem os mesmos dons que a senhora. Ajudará a muitos, assim como fez. Estou aqui para levar a senhora assim que ela vier ao mundo.
     Vó Zezinha respirou fundo. Mesmo admirada com o encontro e com as condições de sua partida, sabia que ela aconteceria em breve. Vinha sentindo isso nos últimos meses. Sentindo como um aviso silencioso. Como uma falta que se sente sem saber de que. Aceitava a partida sem problemas, "a vida é uma estrada de um sentido só", costumava dizer. Porém, o fato de deixar sua comunidade desamparada era o que a preocupava e tirava a paz deste momento.
     – A criança não vai estar pronta assim que nascer – retrucou. – Quem vai ensinar as coisas? Quem vai cuidar dela até que possa fazer tudo sozinha?
     A voz de trovoada se fez presente novamente, tão grave que dava coceira nos ouvidos.
     – Não podemos nos ater a estes detalhes, Dona Maria José. As coisas são como são. São como devem ser. Além disso, a senhora sabe bem como funciona o dom. Muitas das coisas a senhora aprendeu sozinha. Ou, até mesmo, já sabia.
     – Mas é justo deixá-la sem amparo quando as obrigações vierem? – mais uma vez Vó retrucou. – sabendo ou não sabendo, quando tudo começar, vai ser ainda uma criança. Os pais não vão saber lidar.
     – Isto não é mais sua responsabilidade! – a voz não apenas soou como um trovão, mas, foi acompanhada pelo estrondo de um. – Seu tempo acabou! Não estamos aqui para falar sobre o que é justo, ou não. Estamos aqui para falar sobre o certo! Para fazer o que é certo!
     – Pois eu não acho certo abandonar a coitada da criança com uma responsabilidade deste tamanho. Eu mesma passei por isto. Sei bem como é. Não vai fazer diferença se eu ficar mais uns anos.
     – Não! – voz de trovoada. – Não é assim que funciona!
     Vó Zezinha não se intimidou.
     – Vocês têm o poder para mudar se quiserem. Somente alguns anos, para eu preparar a criança e para que eu possa continuar ajudando.
     A voz acalmou um pouco, como uma tempestade perdendo a força.
     – Não podemos, Dona Maria José. Na verdade, não devemos. Sabemos que pensa no bem da criança e das pessoas deste local, mas, repetimos, as coisas devem ser como devem ser. Já foi decidido: uma chega, a outra parte comigo. Não se preocupe com a criança. Estaremos aqui para ela, assim como sempre estivemos para você – Ainda mais calmo – A senhora pode partir com orgulho. Trabalhou muito. Trabalhou pelo bem de muitos. Pode partir com a certeza de que cumpriu seu papel neste mundo.
     Vó então, sentiu paz. Sabia que não poderia fazer mais nada. Mas, isto deixou de ser um problema. Se sentiu feliz por saber que uma criança tão abençoada viria ao mundo por suas mãos. Mesmo que fosse a última coisa que faria em vida, se bem com isto.
     – Então, meu Senhor. Como será? Terei tempo de me despedir?
     – Sim. Seja breve. – e a voz desapareceu, engolida pelo barulho da chuva, ao mesmo tempo em que Vó Zezinha sentia os respingos na cara e que Ziza corria para a janela aberta, para fechá-la.
     Ziza reacendeu as velas apagadas pelo vento.
     Vó chegou até os ouvidos de Marluce, que recobrava a consciência.
     – Nós precisamos de sua ajuda aqui, minha querida – disse afagando os cabelos da moça com suavidade. – Sei que está fraca, mas, precisa ajudar seu bebê. Não será fácil. Mas, o resultado será bonito. Nada do que é bonito, é fácil, mas, você nunca se arrependerá deste esforço.
     Voltou então para a posição em que estava. Ziza, que já sabia o que fazer, trouxe as toalhas e se posicionou próxima à barriga da jovem. Um olhar de   Vó Zezinha foi o suficiente para que ela começasse a apertar com jeitinho, enquanto Marluce fazia força e Luiz a segurava firme, de olhos cerrados e em oração constante.
     – Está apontando! – gritou Vó. – continua a empurrar, querida. Continua!
     Marluce gritava e Luiz agora rezava em voz alta.
     O rapaz se desesperou ao ouvir a esposa parar de gritar e senti-la amolecendo em seus braços. Abriu os olhos e começou a sacudi-la suavemente, chamando por ela. Porém, sua voz foi interrompida pelo choro alto de um bebê.
     Marluce, ainda fraca, estendeu a mão até a cabeça do marido e fez meio cafuné, o que suas forças permitiam.
     – É uma menina! – revelou Ziza. Que pegou a criança dia braços de Vó Zezinha, limpou e levou ao colo da mãe, amparada pelo pai.
     Dona Mariana entrou correndo, louca para conhecer a criança. Nelsinho esperou na porta. Demoraram a perceber, mas, a chuva havia parado.
     Enquanto todos ocupavam sua atenção com a recém-nascida, Vó chamou Ziza para um canto.
     – Adalgisa, minha querida. Preciso que você ajude a cuidar desta criança. Preciso que você ajude a cuidar de todos. Sei que você pode.
     – Pode deixar, Vó. Eu vou ajudar – Ziza respondeu de imediato enquanto arrumava a bagunça do parto, sem perceber que o pedido era muito maior do que pensava.
     – Eu estou cansada, Ziza. Preciso sentar um pouco.
     Vó Zezinha então, alheia à atenção de todos, foi até uma cadeira, se sentou e deu seu último suspiro, em paz e sem que ninguém percebesse.
     Uma semana depois, Ziza estava na igreja, triste e feliz ao mesmo tempo. No mesmo dia, uma missa de sétimo dia e um batizado.
     Caia uma chuva fina, suave, mesmo com o sol aparecendo brilhante.
     – Sinal de boa sorte, Ziza. – disse remendando a voz de Vó Zezinha. Se viu rindo sozinha, Nelsinho ao seu lado, sem entender nada.
     Ele e ela foram convidados para serem os padrinhos da criança.
     Quando o Padre perguntou qual seria no nome, Luiz olhou para Marluce, que acenou com a cabeça em aprovação, e disse, sem dúvida alguma:
     – Maria. Maria José Bento.
  • Saudade

    Tem algumas coisas na vida que doem, bater o dedinho na quina de um móvel dói, torcer o pé dói, cólica dói, mas nenhuma dessas dores se comparam a saudade. SAUDADE, uma palavra tão pequena mas com um peso tão grande. Sentimos saudade de muita coisa. De uma brincadeira da infância, de um parente que se foi, dos seus amigos da escola, de algum cheiro que nunca mais irá sentir, do gosto de uma fruta que não se dá mais. Mas a saudade de um amor, aah, essa saudade dói demais, saudade dos abraços, saudade dos beijos, saudade do "boa noite" fofo que melhorava o seu dia, saudade do "bom dia" que fazia com que nada de ruim te abalasse naquele dia, saudade dos olhares, saudade das mensagens, saudade de simplesmente estar ali com aquela pessoa.

    E com a saudade você começa a se perguntar:

    "Será que ele ainda ama mc Donald's?"

    "Será que a prima dele já melhorou?"

    "Será que ele está bem sem mim?"

    Você se faz inúmeras perguntas, mas sabe que nenhuma delas irão ser respondidas.

    Saudade é isso que senti enquanto estava escrevendo e o que você provavelmente está sentindo agora que acabou de ler.

    Quem inventou a distância nunca sofreu com a dor de uma saudade!
  • SEM RIMAS

     para o PT e o PSTU
     
    A vida passa de graça
    e fica ainda mais rica
    nos olhos de esperança
    que às mãos multiplicam
     
     
     
    ..............
    © do Autor, IN: Concursos literários do Piauí. Teresina, 2005, Fundação Cultural do Piauí. 226 p. Página 183.
  • Sentimento em Gotas

    Estive olhando o céu e vendo a chuva
    As gotas e os prantos deixados na terra
    Molhando e por momentos relembrando
    Limpando o mundo e os pensamentos

    A grande tempestade ao lado da grande perda
    Os raios e trovões ao lado da grande culpa
    A terra molhada ao lado do velório em prantos
    A escuridão do céu junto com o preto do luto,

    Olhando a chuva passar passei a olhar
    A tristeza indo embora e as gotas parando
    O céu se abrindo e o peso do luto esvaindo
    A terra secando e o velório esvaziando

    A terra se secando e o mundo se alegrando
    O sol saindo e a ternura se fechando
    Ao lado do amor o luto sendo levado
    O céu se abriu e o luto se foi com ele

    O luto é como tempestade, pesada, fria e dolorosa, mais é com a chuva que o pensamento vem aos olhos e fazem as lágrimas limparem o consciente.
  • Setembro

    Era tarde da noite e ele estava nervoso, não era de costume, mas estava. Verificou duas vezes se estava levando a passagem de avião. Segurou com mais firmeza a sua única mala, confiante e nervoso. Pela primeira vez, não deu um breve "tchau" para o porteiro do seu prédio e não olhou para a janela do seu apartamento quando entrou no táxi, parecia atrasado. Seus dedos, inquietos, não paravam de bater no seu bolso da frente, lá ele guardava a pequena caixinha que continha um anel de noivado. Ele estava indo para Nova York, pedir a sua namorada em casamento.
    Estava ansioso para vê-la novamente.
    A cena do dia que se conheceram não parava de se repetir na sua cabeça, nunca esquecera daquele sorriso tímido, do sotaque engraçado do interior e muito menos da conversa que tiveram naquele dia que o fez rir a noite inteira. Para ele, ela era extraordinária. Ou brilhante, como ele diria.
    Embarcou no avião na hora certa. Sentou na poltrona do lado da janela. Se recusava sentar longe da janela, gostava de ver as nuvens e as pequenas casinhas lá do alto. Amanhã seria o grande dia e as suas mãos já estavam suadas.
    Uma jovem sentou ao seu lado.
    Percebeu o seu nervosismo e perguntou-lhe:
    - Sua primeira vez?
    - Em uma avião? Não. - Claro que não.
    Ela não fez mais perguntas, mas reparava que a cada 30 minutos, ele tirava a caixinha do seu bolso e sempre abria para ver se estava tudo certo. Se tinhas dúvidas, não sei dizer.
    Notou que ela observava o anel discretamente quando abria aquela caixinha preta.
    - É para a minha namorada, vou surpreendê-la no trabalho. - Disse.
    Curiosamente a jovem pergunta:
    - Onde ela trabalha?
    Ele, com tom orgulhoso de um jovem namorado, responde:
    - Wor... - Repentinamente, a aeromoça, ao pedir para apertarem os cintos, o faz cortar a fala.
    Em seguida, um passageiro atrapalhado sentado na poltrona da frente, pergunta a jovem:
    - Amanhã será que dia?
    - Onze.
    Ela volta a olhar para o rapaz com a caixinha na mão e pergunta:
    - Onde mesmo ela trabalha?
    - World Trade Center.
  • SEVEN

    CAPITULO 1 – UM MAL DIA PARA LEVANTAR
    Sempre acreditei que a vida era uma grande lixeira onde eu catava por um pouco de lixo pra comer. Por isso nunca precisei de um rumo, nunca busquei por um; eu apenas nadava nesse mar aberto até que esbarrei em uma droga de ilha. Talvez por nunca esperar por nada que quando ela apareceu eu senti como se tudo tivesse ficado diferente, os sinais de trânsito passaram a ter cor. E como um idiota terminei acreditando que podia fazer qualquer coisa. Até que a vida chutou meu saco e me lembrou do pior jeito que não seria tão fácil assim.
    E como sempre merdas acontecem, o que parecia que ia durar pra sempre muda em apenas alguns minutos. E agora por que um imbecil que se acha dono do mundo resolveu carregar tudo embora e me pôs pra correr como um cachorro ainda não consegui voltar. Mas isso pra mim pouco importa por que ela tem que estar viva em algum lugar. Demorou mais estou voltando.
    Faz alguns meses tenho um sonho constante como se eu estivesse me afogado com ela. Tudo está muito escuro, mas posso ver seu rosto envolto numa mascara. Suas roupas, cabelos e expressão eram bem diferentes da ultima vez que eu vi, mas sua voz continuava a mesma. E sempre escuto ela me chamando.
    Garota – Riff… RIFF!
    No final eu sempre termino sufocando e acordo assustado. A questão é que essa noite foi mais uma como essas, o mesmo maldito sonho, mas dessa vez não precisava respirar.
    Ao acordar e abrir os olhos, terminei notando que estava dentro do carro e havia água por toda parte. Tudo completamente submerso. Continuava não precisando respirar e tudo estava no seu lugar certo, podia ver que todas estavam dormindo e meu equipamento também estava lá, só o peso pra levantar que era enorme. Como se estivesse amarrado. Até que ouvi o som do comunicador tocando.
    BIII BIII BIII
    Tentei pegá-lo e ao piscar os olhos, a água desabou numa grande enxurrada e tudo ficou seco. Ainda não consigo acreditar, mas mesmo com alguma dificuldade agora podia respirar e me mover lentamente.
    Riff — Ferrou… Acho que agora fiquei doido de verdade.
    BIII BIII BIII
    Trabalhei por alguns anos em uma empresa privada como chefe da equipe de segurança, mas depois de toda a desgraça agora só faço trabalhos rápidos com um grupo independente. Fazemos de quase um tudo, desde que a grana mantenha nossos suprimentos e equipamento, coisa que continua muito cara por causa da guerra. Estamos em uma série de missões a um mês e de certa forma esse barulho chato de agora pouco é meu chefe me chamando. Eu e esse chefe temos uma relação segura, nos comunicamos apenas por textos, mas o mais estranho é o nome que ele prefere ser chamado, Destiny.
    (Riff está digitando…)
    Riff — Até que enfim Destiny. Faz tempo que estamos seguindo essas pistas e preciso de uma boa notícia. Esse grupo sabe mesmo algo sobre ela?
    Destiny — O que sabemos de certeza é que esse bando de contrabandistas tem feito grandes negociações clandestinas com a New World Tecnology e isso é o suficiente como pista inicial. Por isso já tenho os dados de sua última missão nesse ciclo, reagrupe-se e parta ainda essa manhã.
    Fim do capítulo 1
    Comentário:
    Primeiramente obrigado por estar lendo essa história. Sua leitura e opinião critica serão muito importantes para esse projeto. Por isso peço que dentro de sua disponibilidade, responda ao questionário sobre a história no seguinte link:
    https://docs.google.com/forms/d/1EWpmKeJxME41SvzHYYkaprZcawr0V1KMs7QXsr5sVEg/viewform           
    Espero que se divirta nessa breve leitura.

    CAPITULO 2 – COTIDIANO

    Vim com a esperança de encontrar alguma pista sobre o que a empresa em que trabalhei está fazendo. Depois do acidente o chefe do setor de inovação e pesquisa, também pai dela conseguiu sumir com ela sem deixar rastros. Eu fui demitido, perseguido pelo desgraçado. Fugi do pais como um cachorro assustado, mas agora com a poeira baixa a segurança está menor e as pistas começam a aparecer. Tenho que aproveitar esses erros pra descobrir onde ela está.

    Riff - Pelos dados de Destiny, nossa missão vai ser rápida.

    Riff - Eu preciso entrar lá e checar procurar umas informações, mas nossa missão é invadir o esconderijo deles e destruir um carregamento ilegal.

    Iris - Informações, entendo. Bom, e essa carga é algum tipo de droga?

    Riff – Na verdade não. É um composto para nutrição de pacientes terminais, mas nesse caso a formula tem sido adulterada e vendida ilegalmente em grandes quantidades por um preço menor.

    Iris - Então nos só vamos acabar com um bando de inúteis e...

    Helen – Tomara que seja rápido mesmo, não aquento mais dormir nesse carro.

    Ily - Quero tomar um banho.

    Iris - Duas folgadas vocês.

    Iris - Estamos fora faz tão pouco tempo, só umas semaninhas até que foi legal.

    Helen - Foi um mês!

    Iris - Serio? Ahh, foi mesmo!

    Helen - Pelo visto eles não são os únicos idiotas. E você realmente acha que é pouco tempo? Nossas roupas já estão uns trapos, os suprimentos estão no fim, estamos com pouca munição e não tenho quase nada pra primeiro socorros. A cada hora que passa o risco aumenta.

    Por isso precisamos tirar uma folga depois dessa missão, reabastecer e depois só pensar em trabalho. Tipo umas duas semanas depois. 

    Iris - Eu gosto das barracas.

    Riff - Ei! Foco! Invadir a casa, eliminar os alvos e destruir a mercadoria. Ok?

    Riff - Ily, você da cobertura a distancia.

    Ily - Certo.

    Riff - E vocês duas vem comigo.


    CAPITULO 3 – NOVA MISSÃO

    Droga. Nenhuma pista sobre o que eles estão fazendo. Pelo que eu vi os contrabandistas nem sabem o que estão vendendo direito. O jeito vai ser voltar e reabastecer antes de continuar procurando.

    Riff - Por sorte como estamos perto, deve dar um dia de viagem até a base. Assim chegaremos ao começo da noite.

    Helen - Perfeito, agora acabou.

    Iris - O que aconteceu nesse lugar Riff? Até agora só vimos refugiados, bandidos e quase todas as casas vazias.

    Riff – Espera, deixa eu pegar um mapa.

    Riff - Depois da guerra azul por causa das investidas do exercito de Astira esse lugar foi definido como uma possível zona de invasão e por isso abandonado pelo governo. Depois disso a maior parte da população fugiu

    Tomei o volante, Iris sentou ao meu lado como de costume e seguimos para a base. Dava pra ver só pela roupa o tempo que tínhamos passado fora. Estávamos todos cansados, mas olhando agora no retrovisor acho que minha cara é a pior. Não tenho dormido e não consigo parar de pensar naquele sonho.

    Durante o trajeto notei que a Iris me olhava bem fundo. Já nos conhecemos a anos então com certeza deve ter notado que tinha algo errado. Ela segurou meu joelho e deitou devagar no meu ombro falando baixo.

    Iris - Vamos, pode me dizer o que aconteceu? Ainda sonhando com ela?

    Riff - Sei lá... Parecia ela, mas ultimamente ela esta diferente. Seu cabelo estava embranquecido e estava com uma espécie de mascara. Foi muito estranho. E depois tinha toda aquela água na barraca.

    Iris – Como, água?

    Olhando pra traz percebi que as duas estavam dormindo, tão juntas que pareciam duas irmãs. Ily deitou no colo de Helen que por sua vez se apoiou na cabeça dela e as duas adormeceram.

    Riff - Mesmo quando eu acordei ainda me sentia gelado e via água por toda parte. Como se estivesse submerso, ou me afogando só que eu tava na barraca, não sei merda foi aquilo.

    Iris – Riff, já fazem mais de 2 anos que ela desapareceu. Não acha que está na hora de seguir

    BIIIP, BIIIP, BIIIP.

    Ela voltou ao seu lugar enquanto eu pegava o terminal para checar o que Destiny trazia.

    Riff - Acho que Destiny quer uma resposta sobre a missão.

    Iris - Que estranho! Ele sempre espera o relatório completo. O que será que houve?

    Riff - É verdade, melhor checar agora.

    Por segurança própria não temos contato com nossos contratantes, e raramente sabemos quem são. Destiny, como se nomeia nos passa as informações que precisamos e os recursos, mas só falamos com ele através de mensagens de texto usando um aparelho especifico que ele mesmo enviou. Gosto de pensar nele como um cara legal, mas não faço idéia se realmente é um homem.

    Encostei o carro, abri o terminal e comecei a digitar.

    Riff - Alvos eliminados e carregamento destruído. Mas nenhuma informação. Agora estamos voltando ao nosso esconderijo.

    Destiny - Ótimo, mas não relevante. O que quero não é isso.

    Riff - Serio? O que houve?

    Destiny - Tenho um trabalho direcionado especialmente pra o seu grupo, um resgate. A prioridade está definida como máxima. Dessa vez devemos conseguir as informações que estamos procurando.

    Vocês devem rever a rota. Enviarei o resto dos dados da missão como sempre.

    Riff - Prioridade máxima! Ei! Estávamos voltando agora. Nosso plano era até tirar folga por um tempo.

    Destiny - Isso não será possível. Precisam completar essa missão ainda hoje e após ela receberão o pagamento.

    Devo lhe alertar que o contratante é alguém do governo de Astira. Você não fugiu de lá por nada. Sabe muito bem o que aconteceria se negar essa missão agora.

    Riff: Certo. Mande tudo que estamos a caminho.

    Droga! O Destiny deve estar escondendo alguma coisa e parece que nos metemos em algo grande dessa vez. Tem algo estranho nisso. Quando desconectei senti um frio na espinha enquanto olhava a estrada. Eu sei que elas vão odiar saber disso, principalmente a Helen, mas é melhor dar esse tempo depois.

    CAPITULO 4 – RESGATE

    A missão foi concluída com sucesso. Resgatamos o engenheiro, estamos todos bem e retornando. Acho que Iris deve ter sido a responsável por amarrar e amordaçar ele. Enquanto isso Helen estava fazendo um exame rápido para checar se ele precisava de primeiros socorros.

    Riff - Pode deixar garotas que eu levo ele pro carro

    Iris – Que nada Riff, quer roubar minha presa. Eu levo ele!

    KS: Huum, hummmm

    Iris - Engraçado como ele se debate

    Iris - Riff! O pacote não para de gritar. O que eu faço?

    Riff - Apaga ele. Estou com uma dor de cabeça desgraçada.

    KS: Hummmmmm!!

    Iris - Vai ficar tudo bem garoto, é um sonífero beeem forte. Só vai doer no começo, depois fica gostoso e você não sente mais nada. Amanhã eu te acordo.

    Riff - Chegamos de noite, mas estamos em casa.

    Iris - Boa noite crianças. O posso deixar o pacote aqui na sala principal mesmo?

    Riff - Larga ele ai que amanhã eu vejo. Já dois dias sem dormir direito, vou subir pra o quarto e só cair na cama.

    ---

    Já é de manhã de manhã. Assim que sai do quarto, antes de ir no salão, vi que Ily estava acordada comendo alguma coisa. Mesmo depois de dois anos, desde que ela veio pra cá, ela continua sem conseguir dormir direito.

    Tenho que falar com esse cara antes de todo mundo. De acordo com Destiny, ele tem um pacote de informações sobre um projeto que a NWT está desenvolvendo. Talvez essa seja a chave que eu preciso.

    Riff - Ei, acorda.

    Riff – Acorda! Será que a Iris deu a dose certa?

    Enquanto pensava, ele pegou uma arma que deixei jogada ontem na sala, se levantou tremendo e olhando para todos os lados.

    Riff - Calma ai rapaz, por que ta apontando isso pra mim?

    Ily estava no andar de cima e pareceu que notar a situação, por que veio armada até a varanda, marcou a mira e me deu um sinal de aguardo.

    Fico feliz que a Iris acorde tarde, seria uma confusão com ela aqui.

    Engenheiro - Quem são vocês e onde nós estamos? Não sei o quanto pretendem ganhar me vendendo, mas não vai ser fácil.

    Nesse momento uma espécie de relógio no pulso dele começou a tocar. Ele ficou um bom tempo olhando para ele até que perguntou.

    Engenheiro - Vocês trabalham com Destiny?

    Riff - Sim, qual o seu nome?

    Na hora em que ele ouviu isso soltou a arma no chão e sentou. Ele parecia acabado.

    KS - Pode me chamar de KS.

    KS - Vocês cometeram um terrível engano. Não era para resgatarem a mim e sim ao meu amigo que estava preso na mesma base que eu. Trouxeram ele também? Onde ele esta?

    Riff - Cara... QUE DROGA É ESSA! Só me passa a porcaria dos dados e você sai vivo daqui, pouco importa o seu amigo.

    KS - É disso que eu estou falando. Ele que tem conhecimento sobre o projeto e qualquer dado que você quiser deve estar ainda lá. Ele estava muito doente, por isso a essa altura já devem ter o levado para outra base, mas ainda vai dar tempo.

    Riff - Eu vou ter que checar com Destiny sobre isso.

    KS - Será impossível sem ele, vocês terão que voltar lá. Já faz um dia que ele desmaiou doente e aqueles idiotas não sabem o que fazer.

    Acho que Ily já pode voltar. Fiz o sinal e ela abaixou a guarda voltando pra cozinha.

    Peguei o terminal para falar com Destiny. Pelo que eu lembro ainda não reportei nada sobre ontem.

    Riff - Conseguimos resgatar o engenheiro, ele se chama KS e não está com os dados. Como procedemos?

    Destiny - A prioridade é a obtenção dos dados. Encontre quem estiver com eles, pois pude confirmar recentemente que Mari, a garota que você procura, por algum motivo ainda tem registros de permanência na NWT. Espero que você não falhe novamente.

    Riff - Temos que voltar e encontrar esse seu amigo agora, mas você vai com agente.

    KS - Eu? Nunca! Eu espero e passo informações pra vocês pela central de dados. Voltar lá seria uma loucura.

    Riff - Mas é assim que vai ser, não temos tempo pra te passar nada e não vou te deixar sozinho na nossa base. Vamos partir o mais rápido possível.


    CAPITULO 5 – PERTO DE MAIS

    De novo essa porcaria de carro. Por que eles tinham que me envolver nisso? Realmente mal sai daquele buraco e agora tenho que voltar, mas não posso deixar o TD pra lá, afinal foi por que ele estava doente que resolvi pedir ajuda. Só espero não encontrar Ryner de guarda.

    KS - Vocês tem algum terminal com internet no carro? Eu acho que podia conseguir algumas informações úteis antes de entrarem lá quebrando tudo.

    Iris - Que maluco! Eu não quebrei nada quando te encontrei. Você mesmo ta ai inteirinho!

    KS - Verdade, mas causaram uma confusão desnecessária. Se descobrirmos exatamente onde o Ted está fica muito mais fácil sair rápido de lá.

    Riff – Ted, esse é o cara com quem está os dados que estamos indo recuperar?

    KS - Exato. Trabalhamos junto a anos, e quando saímos de Astira terminamos sendo pegos pelo Ryner. Ultimamente o Ted ficou doente e desmaiou a dois dias, mas eles não tinham nenhum médico  e nem podiam tira-lo de lá.

    Enquanto falava me peguei olhando para a garota sentada do outro lado. As outras preparavam seus equipamentos, mas ela não fazia nada alem de olhar o horizonte desde que saímos.

    Ela era pequena e parecia ter uns quinze anos, mas carregava um rifle grande de mais para o seu tamanho. Ela deve ser muito tímida até parando para lembrar, acho que não cheguei nem a ouvir a sua voz até agora.

    Riff - Tudo bem vou te deixar com esse, eu uso pra falar com Destiny. É o que temos de mais tecnológico aqui. Não é muito avançado, mas deve servir. Daí você pode ir guiando mais de perto.

    KS - Acho que vai ser o suficiente.

    KS – Pera ai, eu ouvi... Quê! Guiando, perto? NÃO!

    KS - Eu posso ficar de longe mantendo vocês informados pelo comunicador. Eu não vou encontrar de novo com o Ryner, ainda mais que entrar com esse bando de garotas não me dá segurança nenhuma.

    KS - Por exemplo, o que aquela menina faz no carro? Ela não deve ter mais de 16 anos, não sei nem como ela carrega essa arma.

    Nessa hora a mulher loira sentada ao meu lado se virou com um rosto assustador, apoiou sua arma apontada pra mim e começou a falar bem baixo e grave.

    Helen - EI! Escuta aqui espertinho, você não faz idéia do quanto “aquela menina” treinou pra usar aquilo? Muito menos do que ela passou pra terminar aqui, então fica calado ou te coloco pra dormir de novo como a Iris fez.

    Riff - Calma Helen. Precisamos dele pra essa missão.

    Riff – KS, a verdade é que ainda não confio em você e as coisas andam meio confusas nessa missão, então quero te manter por perto.

    Riff - Quanto as garotas pode confiar nelas. Ainda não tivemos tempo para nos apresentar então vamos tentar fazer isso agora. A mulher que lhe apontou a arma é Helen, ela é a médica da nossa equipe e por isso responsável por nos quanto nos ferimos, procure não dar muito trabalho a ela.

    Helen - Conheço a Ily a muito tempo e cuidamos uma da outra. Desculpe se te assustei, pode contar comigo.

    Riff - A de cabelo preto sentada ao meu lado é Iris, ela é especialista em armamento pesado e explosivos.

    Iris - Há, há , devia ter visto a sua cara quando a Helen apontou a arma pra você.

    Riff - A “menina” que você falou se chama Ily, ela tem uma pontaria incrível e uma boa resistência por isso pode contar com ela pra cobrir a retaguarda. Nos garantimos sua segurança, pelo menos até trazermos o seu amigo. Agora, você tava falando antes, como é esse Ryner?

    KS - Ele é o líder daquele grupo e deve estar acompanhando o trabalho dessa base hoje. Ele é uma pessoa engraçada, mas tem uma habilidade assustadora com espadas. Eu acredito que ele tenha trabalhado no exercito de Astira.

    Riff – Tomara que não. De toda forma precisamos ir hoje mesmo então como eu disse, fique perto.

    Pelo que estou vendo não tenho escolha. Detesto a idéia de ir na linha de frente, até por que não entendo quase nada de combates armados, mas como eles tem uma médica espero que seja mais seguro.

    KS - Entendido. Estarei com vocês.

    CAPITULO 6 – UMA DISPUTA DE CORAGEM

    Iris - Até que em fim terminamos.

    Helen - Algum ferimento KS?

    KS - Por sorte estou bem. Só um pouco arranhado, mas nada grave.

    Rif - Ok, temos que ser rápidos agora. Vamos cobrir o perímetro separados, Ily e KS protejam o transporte, Helen e Iris procurem nos outros prédios enquanto eu termino de verificar esse.

    Não posso sair daqui de mãos vazias. Se de alguma forma a Mari ainda esta com a NWT preciso saber por que não fez contato nenhuma vez nesses 2 anos. Destiny com certeza está escondendo alguma coisa , mas só vai me dizer se receber esses tais dados.

    Continuei procurando no deposito até que encontrei uma escada para um andar no subsolo. Ao descer encontrei uma área espaçosa e mal iluminada como estacionamento enorme, cheio de pilares de concreto. Não andei muito e encontrei comecei a ouvir passos e procurei me esconder.

    Bandido - Vamos! Acha que eu tenho o dia todo?

    Notei apenas um bandido caminhando lentamente armado com duas espadas. Serio? Ele realmente só usa espadas.

    Bandido - Vocês bem que podiam ter feito menos barulho lá em cima. Não consegui dormir nada. Vieram buscar o Ted certo?

    Riff - E se for?

    Bandido – Ahh, pra que eu perguntei isso. Nenhum de vocês vai sair daqui mesmo.

    Riff - Para que a New World ira usar o material que vocês roubaram? Onde vocês conseguiram aquilo tudo?

    Bandido - Isso importa? Acho que o carregamento era pra uma colônia de refugiados.

    Não vi motivos pra continuar essa conversa idiota então dei três disparos no peito.

    Bandido - He, He. Que covardia a sua me interromper assim.

    Depois de ver isso não consegui esconder minha surpresa. Ele havia sacado sua espada e em fração de segundos todos os tiros foram refletidos de alguma forma sobrando apenas as manchas nos pilares.

    Riff - Impossível! Como... Como defletiu todos?

    Bandido - Qual foi, ainda não entendeu? Você limita seus olhos e obriga seus braços a fazerem só aquilo que acha possível. È até triste cara, ver alguém com seu potencial se acorrentando assim.

    Enquanto ele falava aproveitei para checar o ambiente procurando por dispositivos que justificassem isso, como projetores ou mesmo algum tipo de campo elétrico.

    Bandido - Ei! Se concentra! Ainda estou aqui sabia.

    Riff – Então você realmente é o Ryner, comandante da infantaria, o Relâmpago Azul de Astira.

    Riner - E se eu for? Isso não importa mais... Não depois daquela guerra covarde.

    Nessa hora ele jogou a outra espada ainda embainhada nos meus pés. Como entendo de laminas, conhecia muito bem aquelas espadas. Eram relíquias da nação e representavam um passado de honradas vitorias. Eu estava na solenidade e vi quando foram entregues a ele no dia em que assumiu seu posto de comandante.

    Elas tinham liga de metal que nunca vi em outro lugar, pois emanavam um leve brilho azul. Ao pegar, notei que era estranhamente leve e parecia estar muito bem cuidada.

    Riff - Por que alguém como você termino com um grupo desses?

    Ryner - Você não cansa de fazer perguntas idiotas. O que um fedelho como você faria se descobrisse que tudo pelo que você luta não passa de uma mentira?  

    Ryner – Chega de conversa! Agora vamos ver se a coragem que te trouxe aqui é verdadeira.

    A pouca luz que tinha apagou e passei a ouviu novamente apenas o som de seus passos.

    A luta se prolongou mais do que esperava. Eu havia recebido um corte no supercílio esquerdo. Já não bastava a falta de luz e agora o sangue não me deixava abrir o olho.

    Ryner - Eu achei que no final você iria correr garoto.

    Lutamos por um bom tempo, e mesmo com alguns cortes consegui acertar ele em cheio. O sangue

    Aaggh! Cloft!!Cloft!!

    Ainda não posso ver nada, mas pela tosse dele e a quantidade de sangue no chão e na lamina o ultimo golpe deve ter causado um ferimento no peito bem profundo.

    Riff - Não precisava ter feito isso Riner.

    Riner - Cloft!! Qual seu nome idiota?

    Riff - Riff

    Riner - Riff, já teve na frente de um desafio que você não podia recusar?

    Riner - Eu nunca fugi de nada na vida. Nunca parei de lutar é não por causa de um otário qualquer que ia ser diferente hoje... He, He He, o otário mais corajoso que já vi.

    Riff - Droga, o radio não funciona aqui em baixo. Eu vou subir e volto com ajuda medica em 10 min.

    Riner - Ei!! Cloft! Leva essas drogas de espadas com você... E me deixa dormir os 10 minutos pelo menos.

     

     

    CAPITULO 7 – PRIMEIRO ENCONTRO

    No final daquela loucura conseguimos achar o TD desmaiado em uma das celas e os mercenários trouxeram nos dois pra sua base. Como já havia vindo aqui antes o ambiente era um pouco familiar.

    Assim que chegamos o TD ficou sob os cuidados da medica loira, pelo que foi dito não corria risco e devia acordar no dia seguinte. Enquanto isso eu fiquei em um quarto com nada alem de uma cama, mais parecendo uma cela, mas como eu estava exausto não demorou muito para dormir.

    Tarde da noite levantei num pulo da cama. De repente percebi que a situação não havia mudado muito, já que de certa forma, ainda estou preso aqui.

    KS - Droga de noite... Onde será que tem um banheiro por aqui?

    Quando eu encontro o tal banheiro, a primeira coisa que vejo ao entrar é meu reflexo. Tem um espelho enorme bem na frente da porta, do chão ao teto.

    KS – Pra que um trambolho tão grande!

    Mesmo assim fiquei me encarando por um tempo enquanto coçava a barba que tinha crescido de mais com o ultimo ano preso.

    KS - E agora, o eu vou fazer aqui?

    De repente ouvi a voz baixa e suave de uma garota. Como se estivesse falando bem atrás da minha nuca.

    Garota – Que droga de frio, bem que podiam ajustar isso a noite.

    KS- Ah! O merda foi essa!

    Virei rápido pra achar quem estava atrás de mim, mas não vi ninguém.

    KS - Serio?

    Garota – Kevin? Vamos, sei que está me ouvindo?

    KS - Quem, quem está ai?

    Continuei procurando, mas nada. Luzes apagadas, portas fechadas e nenhum movimento. Somente a essa voz.

    Garota – Posso afirmar que o primeiro contato foi positivo. Devo manter essa estrutura para os próximos.

    KS - Não vai responder nada? Onde você ta?

    Garota - Six, contudo não posso afirmar precisamente a localização. Ainda não rompi todas as travas.

    KS – Six... É seu nome?

    Six – Afirmativo.

    KS - Realmente deve ter algo errado comigo.

    Six – Não seja egoísta. Respondi duas perguntas suas, agora é sua vez. Notei que você também atende como KS, estranho esse nome, de onde surgiu?

    KS - Ahh... Meu nome é Kevin e decidi adotar o sobrenome Shirase como uma homenagem a um grande programador que sempre admirei. Então meus colegas de equipe acharam legal chamar assim, KS.

    Não acredito que estou fazendo isso. Não tem ninguém aqui, mas ela ainda me responde.

    Six - Há há, realmente foi interessante isso. Uma ultima pergunta Kevin. De que forma um genocida como você consegue continuar vivendo depois de participar do massacre de mais de 3,4 milhões de pessoas?

    KS - Eu... eu não fiz nada. Só passei os dados. Não tinha com eu saber o que eles iam fazer com aquilo. Aaahh, CHEGA DISSO! Não sei quem você é e não vou continuar essa porcaria.

    Six – Então essa é a resposta de toda sua racionalidade... Entendo. Mas não posso aceitar fugir da minha parcela da mesma forma. Obrigado pela cooperação Kevin.

    KS – Como assim sua parcela? ONDE VOCÊ ESTA?

    Six – Nosso encontro foi muito instrutivo encerra aqui. Espero falar com você mais vezes

    No final o silencio continuou pelo resto da noite em claro e não houve mais nenhuma resposta.

     

     

     

     

     

    CAPITULO 8 – A VERDADE

    Quando o sol raiou foi encontrar com TD que estava sentado rindo enquanto conversava com a médica loira no térreo. Os outros membros estavam se reunindo nessa mesma sala principal enquanto Riff preparava algo numa tela grande.

    KS – Melhor nem interromper ele. Assim que isso tudo acabar vamos embora o mais rápido possível.

    Enquanto descia as escadas para o salão encontrei a garotinha do rifle sentada nela. Como sua franja é grande mau dá para ver seus olhos, mas notei que estavam fixados em mim.

    Ily - Você também não dormiu?

    KS - Não tinha como depois do que ouvi ontem.

    Ily - Algum sonho ruim? Você gritou bastante.

    KS – Verdade, acho que foi isso mesmo, um pesadelo muito ruim. Desculpe por se te acordei.

    Ily – huf, sei como é. Tenho muitos pesadelos também, daí essa noite não dormi.

    Riff – OK PESSOAL! Vamos resolver tudo agora. TD, pode me passar os dados do projeto? Eu vou conectar o Destiny na tela maior assim, todo mundo pode falar que ele recebe pelas câmeras.

    TD - Já era, ta aqui mano, mas diz ai... de que horas agente come?

    Riff - Destiny, resgatamos os engenheiros e conseguimos os dados que eu acabei de enviar.

    Destiny - Estou analisando agora e atualizando os objetivos. Os dados realmente são esses e já esclarecem muito sobre a nova missão.

    Helen - O que? Nova missão?

    As palavras eram escritas na tela e todos podíamos ver. Também pude notar uma câmera na acima da tela e outras duas panorâmicas na sala, mas quanto a captação de áudio não faço Idea de onde estão os receptores.

    KS - Ela parece realmente irada enquanto olha o Riff. Me pergunto se tinha algo errado.

    Ily - Ela queria muito ficar na base já que o pouco que eu durmo é aqui.

    Destiny - O contratante gostou da ação do grupo e está requisitando que continuem a investigar o projeto.

    Riff - E do que se trata esse tal projeto?

    Destiny - Mandarei os detalhes adiante. Por hora posso adiantar que o governo de Astira está financiando um grupo de pesquisa com o objetivo de desenvolver um novo super computador que ultrapassa em muito os já existentes. Isso desequilibraria por completo o cenário militar atual

    Helen - E o governo que está nos contratando quer sabotar esse projeto, certo?

    Destiny - Por enquanto suas ordens são de obter algumas informações importantes sobre a arquitetura da maquina e seu funcionamento.

    Iris – Mas nos não temos nenhum especialista na equipe, mesmo com as informações seria difícil até de reconhecer.

    Destiny - Por isso estamos contratando um habilidoso e experiente membro para a equipe. KS ira acompanhar vocês até o termino dessa missão.

    KS - Ei, ei... Nada disso. Quando foi que eu concordei em algo assim? Foda-se, eu vou embora agora mesmo.

    Faz mais de um ano que não trabalho na área. Por que será que ele quer me recomendar* Sem pensar fui andando em direção a saída, mas nesse momento o sistema de segurança foi ativado. As grades nas janelas e portas começaram a descer o que deixou todos nos trancados.

    Destiny - Quanto tempo você ainda pretende esconder sua participação na guerra azul KS. Uma pessoa com suas habilidades não deveria viver fugindo dessa forma.

    Riff - Participação?

    KS – Como?... Como você sabe?

    Nessa hora não pude controlar a raiva. Não importa quanto tempo passe ainda existem idiotas me procurando por causa disso.

    KS - EU QUE PERGUNTO AGORA? Por quanto você acha QUE PODE SE ESCONDER DE MIM?

    Destiny - Temos uma informação que confirma o paradeiro de LT. Ela esta secretamente trabalhando nesse projeto como chefe da equipe que desenvolve o sistema para o M2K.

    Ily já tinha saído da sala enquanto as outros continuaram em silencio. Parecia que ninguém alem de mim e TD conseguia entender o que estava escrito na tela. Eu não sei o quanto eles viram da guerra azul, por isso acho melhor manter isso em segredo por enquanto.

    Riff - Ok Destiny... Eu entendo que nos precisamos de alguém que lide com isso, mas não precisa ser o KS já que ele não quer.

    KS - Eu estou dento! Me mande as coordenadas dessa base que nos teremos todas as informações que precisamos sobre o projeto lá.

    Riff – Queee? Você tava agora mesmo tentando fugir, por que essa mudança toda?

    KS - Somente eu posso entrar lá ou conseguir aquilo que vocês precisam. Quanto ao motivo da mudança... Isso não importa.

    As portas se abriram e enquanto eu sentava no sofá perto da tela principal. Nessa hora TD lembrou que eu existia e veio falar comigo pálido como uma nuvem.

    TD - Eei velho, você sabe muito bem que eu não... não posso encontrar com ela de novo. Certo?

    KS - Vai ficar tudo bem TD, eu vou nisso sozinho. Você pode me ajudar de casa se quiser, mas não precisa ir ate ela.

    Eu tenho que terminar isso. Não sei o motivo dela estar trabalhando nesse projeto, mas eu jurei que encontraria ela e é isso que vou fazer.
  • Smeraldo

    Existia um pequeno e isolado castelo onde lá vivia um homem com aparência muito feia.
    O homem vivia sozinho, se escondia e, enquanto crescia, recebia muito ódio.
    Sofria bullying pela sua aparência, por isso não se sentia confortável em abrir seu coração para ninguém.
    Quando alguém tentava se aproximar dele, o mesmo se sentia nervoso e acabava se escondendo.
    Somente um lugar o fazia se sentir bem e confortável, seu jardim; onde passava o tempo cultivando flores.
    Um dia uma mulher apareceu nos arredores do castelo onde ele vivia.
    Era uma mulher com roupas surradas e que estava pulando a cerca do jardim para roubar flores.
    Quando ele percebeu isso, ficou nervoso e vigiou o jardim durante toda a noite. Mas no momento em que caiu no sono, a mulher roubou as suas flores novamente.
    Depois de algumas noites, ele decidiu que iria fingir que estava dormindo para ver a mulher se aproximando, pois, havia ficado curioso.
    Ele começou a esperar a mulher e um dia, decidiu segui-la e vigiá-la. Vestindo uma roupa mais escura para esconder o seu rosto, depois de investigar, ele percebeu que aquela pobre e fraca mulher vendia suas flores para sobreviver.
    Ele queria ajudá-la. Ele queria dizer para aquela mulher como ele cuidava e deixava suas flores bonitas. 
    Mas ele não conseguia ficar de frente a ela. Ele tinha certeza que ela ficaria assustada e que ninguém, incluindo ela, nunca o amaria por conta de sua aparência feia.
    O que lhe restava era continuar cuidando de seu jardim para que a mulher continuasse a ir roubar suas flores. O homem então decidiu criar flores que ainda não existiam no mundo, assim a mulher poderia vender essas flores com um preço bem alto! Após várias tentativas falhas, ele fez a flor que ainda não existia no mundo e encheu o seu jardim com elas.
    Ele esperou por noites, mas a mulher não apareceu novamente em seu jardim. Não importa quanto tempo ele esperasse, ela nunca aparecia.
    Então, já preocupado, o homem foi até a vila, sem roupa escura ou coisa alguma que pudesse cobrir seu rosto, procurar pela mulher, mas ela já havia morrido.
    A flor criada, viria a se chamar: Smeraldo.
    A história “La città di smeraldo” é do século 15~16 e começou em uma vila rural no norte da Itália.

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