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How Be a Mom

PRÓLOGO
Não importa o quão racional ou inteligente sejas. Nenhum ser vivo é detentor de tanto conhecimento a ponto de não ser surpreendido pelo desconhecido. Experiências são conquistadas com o tempo, com os erros, com as pisadas em falso. É com elas que se aprende a lidar com o novo, os obstáculos são contornados até que se chegue a seu objetivo.
O transtorno é imensurável. Ninguém escolhe percorrer o fundo do poço, apenas, em algum momento dessa longa trilha, a qual se chama de vida, tropeça-se em uma pequena pedra, não vista, no meio do caminho. Afinal, as grandes rochas são visíveis e evitáveis, não?
Impor-se metas. Munir-se das melhores intenções. Planejar cada passo. Até que um dia nota-se que a base de sua construção não era tão forte, que os pilares daquela estrutura já não estavam tão firmes e, em dado momento, caem em pleno caos. Mas está bem, é apenas juntar os pedaços, fazê-los mais fortes e reconstruí-los de uma forma que não caíam mais por aquele mesmo motivo e tantos outros. Assim se forma uma nova etapa da vida.
“— Essa é uma nova etapa da sua vida Eliza. – o pai deu dois leves afagos no topo dos longos cabelos negros da garota que o mirou com os exóticos olhos violetas — Uma nova etapa. – repetiu e deu um leve sorriso encarando aquele estranho tom.”
Naquele dia seu pai estava tão orgulhoso, depois de terem feito a matrícula de Eliza Eckhart numa das melhores faculdades de administração do país.
— Mana? – aquela voz familiar soou longe de seus pensamentos — Mana! – foi o chamado mais alto e os olhos violetas vislumbraram o vulto da mão da menor passando frente aos seus raros orbes — Estou a chamando faz tempo, mana. – Scarlett Eckhart pôs as mãos na cintura delineada, enquanto dava bronca na filha primogênita da família.
Apenas naquele momento Eliza notou que ainda estava com o lençol, o qual deveria por no colchão, em mãos e olhava perdidamente para algum ponto da parede. A pele tão alva contrastava com os cabelos longos e levemente ondulados da garota, o único problema era o fato de estar anormalmente pálida.
— Mana? – a caçula dos Eckhart questionou de novo, a sobrancelha arqueada pela dispersão da irmã.
Os violetas encontraram os verdes esmeraldinos da mais nova, admirou-os por alguns instantes, como resplandeciam num brilho vivaz invejável ou como a coroa alaranjada em volta da pupila tornava o rosto, de traços tão meigos e até infantis, num de uma verdadeira mulher já completa, mesmo tendo apenas dezesseis anos.
— Mana... – o tom mais ameno da voz de Scarlett chamou a atenção da outra — ... o que você tem? – questionou, tocando, numa ternura inquestionável, a bochecha da mais velha.
Ali Scarlett presenciou o corpo da irmã estremecer levemente, enquanto os olhos violetas tornavam-se opacos de desespero. Naquele ponto Eliza apenas pôs a mão sobre os lábios e saiu em passos ligeiros até o banheiro do quarto de ambas, trancando-o em seguida.
As batidas e tentativas de abrir a porta do banheiro foram inúteis e já estava pronta para chamar um dos pais quando ouviu o som da descarga e a fechadura destravando. Ao abrir a madeira de mogno, deparou-se com a irmã escovando os dentes. Aguardou um ritual de passagem de água no rosto e um longo suspiro foi dado pela mais velha.
— Céus mana, você está pálida. – segurou a mão da mais velha e a fez sentar sobre o colchão fofo da cama — O que você tem? Conta para a maninha. – Scar sentou-se na cama ao lado da que a outra estava, os móveis eram próximos, então era fácil para a caçula segurar as mãos de Eliza.
Sempre foi tão dura e cheia de lógica. Mas onde existe lógica quando se trata do que é sentir? Era tão nova, tinha apenas dezessete anos e mal sabia dos labirintos que a vida impõe nos caminhos traçados. Então todo aquele emaranhado de boas sensações, guiados por belos olhos azuis, fê-la perder totalmente o sentido de realidade naquela simples noite.
—Scar,eu....
Claro que não poderia deixar de se lembrar dos sorrisos de canto, das conversas animadas e como ele a conquistou de uma forma que nunca tinha se permitido sentir naquele primeiro semestre da faculdade. De como as palavras sussurradas naquela voz de tom rouco ressoavam em seu ouvido e de como ela foi tão tola em se permitir levar.
— Você tem estado estranha mana. Mal come, tem estado pálida. – Scar foi pontuando nos dedos — Até mesmo tem dormido mais, quando sempre é a primeira a acordar. – mais uma vez vislumbrou o desespero materializado nos olhos violetas — Mana está doente?
As mãos tamparam o rosto. O que faria? Como seria dali em diante? Seu corpo. Seus sonhos. Bem podia recordar-se do dia em que, temerosa e de olhares furtivos, foi até a farmácia para comprar o típico teste feito em casa. Sentiu-se tão envergonhada sob o olhar questionador do caixa, mas era Eliza Eckhart e jamais abaixaria os olhos, por isso manteve-os sérios para o senhor de barba branca que apenas se ateve em pegar o dinheiro dado por ela.
Naquele mesmo dia aproveitou que os pais não estavam em casa e que Scar tinha combinado de ir ao cinema com os amigos do colégio. E não levou muito tempo para que o desespero abatesse seus olhos violetas quando o resultado completou-se com um claro e simples ‘positivo’. Jamais poderia descrever em palavras o que sentiu no exato momento que reviu o exame.
Eliza Eckhart, a garota genial, que ganhou bolsa integral na faculdade de administração, e provavelmente tinha um grande futuro pela frente ante sua perspicácia. Bem, agora estava grávida.
— Scar eu... – respirou fundo, pois, mesmo depois de uma semana de ter aquele conhecimento sobre seu estado de gravidez, ainda não havia contado a ninguém — ... estou grávida.
E quisera Eliza não ter falado naquele momento, pois não houve tempo para lamentações, afagos ou questionamentos quando a porta, antes entreaberta, abriu-se de uma única vez para surgir a figura masculina do pai das irmãs Eckhart, Carl Médici Eckhart, com uma expressão que Eliza soube decifrar em algo ruim.
— Pai. – Scar olhou para a irmã e, em seguida, para o pai, já se erguendo — O senhor...
— Eliza! – a voz ameaçadora do pai fez a garota levantar-se — Repita o que você disse. – e dessa vez dera passos à direção da mais velha que parecia ter travado ante a indagação irritadiça do pai, nem mesmo havia notado quando a caçula se colocou frente a ela.
— Carl, que gritaria é essa? – daquela vez foi a mãe quem adentrara o quarto, enquanto segurava uma toalha de louça nas mãos.
Mas o questionamento de Celiny Evans Eckhart foi deixado em segundo plano pelo patriarca da família que apenas se atinha em fuzilar com aqueles olhos verdes escuros os violetas da filha mais velha.
Eliza jamais poderia reclamar de sua vida. Teve tudo que precisava, desde as boas roupas e refeições fartas ate as idas ao cinema com a irmã, patrocinadas pelo pai, por sinal, este sempre fora bom com elas, extremamente rígido, mas sempre bondoso. Carl Médici não era o exemplo de pessoa amável, era general militar das forças armadas e pouco sabia demonstrar afeto, mas, de toda forma, mostrou-se ser um bom pai.
Agora, a primogênita da família, não sabia dizer quem era aquele homem de expressão aterrorizante na face. Por isso quando entreabriu os lábios finos e desenhados em forma de coração nenhuma palavra saiu.
— Repita Eliza! – foi a ordem não de seu pai e sim da personificação do general das forças armadas.
— Pai, eu... – a respiração dela estava pesada e o embrulho em seu estômago tornava-se mais fatigante.
— Você está grávida, Eliza? – Carl questionou mantendo aquele tom desconhecido pela família.
— O que? – Celiny arregalou os olhos de um tom raro de rosáceo.
— Eliza! – o tom de voz dele subiu mais uma vez.
— Sim. – Eliza respondeu de uma única vez vendo o homem ir a sua direção.
— Não. Não, não pai. – Scarlett se manteve na frente da irmã e a abraçou fortemente contra o peito como se ali pudesse manter a mais velha longe de perigo — Não bata na mana. – pediu chorosa, os olhos esmeraldinos estavam marejados, embora nenhuma lágrima ousasse cair.
Aquele pedido pareceu travar o homem, mesmo que a expressão de raiva não saísse de seu rosto.
— Carl, acalme-se, vamos...
— O pai já sabe? – Carl cortou as palavras de Celiny, o cenho franzido em irritação depois de a mão passar pelos fios negros do cabelo cortado no típico estilo militar.
Teve um singelo momento que Eliza não soube se conseguiria aguentar o que quer que estivesse em seu estômago, mesmo não tendo conhecimento do que havia lá, jogou fora tudo o que tinha da noite anterior naquela manhã. Então apenas balançou a cabeça afirmativamente. Fazia dois dias que foi até o apartamento de Braddley Cooper falar do que estava acontecendo e quando o fez o rapaz de seus vinte e cinco anos apenas retrucou que tinha de se mudar devido ao emprego. No dia anterior a Eckhart mais velha descobriu que ele não morava mais naquele apartamento e transferiu a faculdade. Depois disso não soube de mais nada.
— Onde ele mora? – o pai questionou raivoso, tirando Eliza das lembranças que havia adentrado.
Silêncio.
Desde que iniciou a faculdade não comentara com os pais sobre o rapaz que adorava dar belos sorrisos a garota ou como aparecia de surpresa na biblioteca para ter longas conversas com a mais velha, tantas foram às vezes em que a bibliotecária os expulsava do lugar e eles iam até o gramado do campus continuar o bate-papo animado. E, claro, Eliza não era boba, ao menos não achava que o era, demorou um bom tempo até ele roubar o primeiro beijo do casal. Naquele dia, ao retornar da faculdade, contou a irmã que conhecera um cara legal e depois disso não voltou a mencioná-lo mais.
— Eliza, meu bem, fale para podermos conversar com o rapaz. – Celiny se pronunciou, sabendo que Carl estava no seu limite de ‘compaixão’ pela filha.
— Ele... – o coração dela disparou rápido dentro do peito — ... saiu da cidade. - fora tão tola em se levar por alguém que apenas a fez se apaixonar para levá-la à cama.
Um novo momento de silêncio, mas daquela vez pelo lado dos pais.
—Pai,eu...
— E o que você pensa que vai fazer? – Carl daquela vez estourou, tirando Scar do caminho enquanto segurava o braço de Eliza — Ele assumirá, por acaso? – esbravejou, dando uma boa sacudidela na mais velha.
—Nãosei.
— E como criará essa criança?
—Nãosei.
— Onde você estava com a cabeça, Eliza? – extravasou totalmente fazendo a mais velha cair sentada na cama depois de uma das sacudidas.
— ‘Desculpa’ pai, eu...
— Eu não criarei bastardo na minha casa. – continuou.
— Carl, nós podemos resolver isso. Acalme-se, meu bem. – Celiny tentou se aproximar, só que, mais uma vez, ele se aproximou de Eliza, ficando frente a mais velha.
— Fora da minha casa! – disse em plenos pulmões e todas as expressões naquele quarto foram a mesma de desespero.
— Carl você não pode fazer isso. Eliza é nossa filha. – Celiny se antecedeu, rogando em desespero pela primogênita.
— Se tem a capacidade de se entregar para qualquer um, também já pode se criar sozinha. – o homem retrucou de forma rude — Na minha casa não se cria mulher da vida.
Aquelas palavras realmente a feriram de uma forma que não soube explicar. O embrulho do estômago estava em segundo plano, agora sendo substituído por uma pontada de dor no peito. Estar grávida era tão ruim assim? Ela não queria que seu pai criasse a criança que estava por vir, mas eram necessárias todas aquelas palavras?
— Você não ouviu Eliza? – ante o silêncio e o olhar arregalado da mais velha, Carl se pronunciou — Não a quero ver nem mais um minuto nesta casa. – e naquele ponto segurou o braço da garota, enquanto num momento totalmente fora de si, puxou a garota, saindo do quarto.
— Carl, pare. – Celiny foi atrás do marido, tentando pará-lo — É nossa filha, Carl. – as lágrimas escorreram dos exóticos orbes rosáceos.
— Pai, vai machucá-la. – Scar acompanhava numa tentativa de fazer o pai voltar atrás na decisão — Larga a mana, pai. – e nem mesmo sendo tão forte pôde evitar que as lágrimas escapassem de seus olhos. Eliza era sua irmã, sua companheira, um pedaço dela.
A esperança delas, de que o homem voltasse atrás, simplesmente se acabou ao vê-lo abrir a porta e colocar, literalmente, Eliza para fora da casa. Num último vislumbre, ainda, viram que a mais velha tentou falar algo quando a porta fechou-se por completo.
— Carl, você não pode fazer isso. – Celiny tentou ir até a porta chaveada e Carl e segurou pelo braço.
— Abra essa porta e você será a próxima a ir com ela também. – rosnou enfurecido para depois olhar a caçula da família — E o mesmo serve para você. – soltou o braço de Celiny que tinha o olhar em pleno terror, realmente não reconheceu aquele homem a sua frente.
Aquele nó na garganta de Scar resolveu se desfazer em prantos, os quais fizeram a garota subir os degraus da escada o mais rápido que pudesse até se trancar no quarto. Seu coração doía tanto. Tentou escorar-se na janela para avistar a irmã, mas nada mais viu além de vizinhos enxeridos.
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Atualizado em: Seg 29 Abr 2019

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