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Como se diz “Armas de Destruição em Massa” em russo?
Entender a dinâmica geopolítica internacional não é uma tarefa fácil mas tentar fazê-la usando ideologias políticas como substitutos de fatos reais leva muito provavelmente ao fracasso. Tudo fica mais difícil quando a comunidade internacional (sobretudo seus líderes) ou escondem seus reais interesses e intenções ou se deixam levar pela narrativa bandido mocinho. Trump falou que, uma vez empossado, terminaria a guerra da Ucrânia em 1 dia: meu entendimento disto era que seus acessores lhe davam um entendimento completo e fático dos fatores que levaram ao conflito, suas causas reais e, somente assim, seria possível identificar possíveis soluções. Como a guerra do Vietnã: ledo engano.
Por ocasião da dissolução da União Soviética (anunciada no Ocidente como colapso), em 1991, Ucrânia ficou com boa parte do arsenal nuclear soviético - tornando-se a terceira potência nuclear no mundo à época (embora não tivesse controle sobre boa parte das armas). Em 1992, Ucrânia, Bielorussia e Kazaquistão assinam o Protocolo de Lisboa, aderindo ao START I (Strategic Arms Reduction Treaty). Depois, em 1994, via Memorandum de Budapeste, a Ucrânia abre mão das armas em favor da Rússia, sob o compromisso do respeito de suas fronteiras e sua soberania, além da garantia do não uso de força militar ou pressão econômica contra o país. Em 1996, as armas foram transferidas e a Ucrânia recebeu compensações financeiras, além de combustível para suas usinas nucleares. Em 2008, sob forte pressão de George W. Bush), líderes da OTAN declaram que Ucrânia e Georgia deveriam se tornar membros mas Alemanha e França, entendendo que esta expansão em direção leste seria interpretada por Moscou como provocação, barraram a entrada da Ucrânia, atrasando o processo indefinidamente. Além disto, quando a USSR foi dissolvida, a Crimeia ficou para a Ucrânia mas Sevastopol abrigava a frota naval russa, o controle desta frota passou a ser ponto de debate com ambos países alegando controle sobre a mesma. Em 1992, o parlamento russo declarou Sevastopol uma cidade russa mas não houve reconhecimento por parte da Ucrânia. Foi somente em 1997, um acordo foi assinado com a definição que 18% da frota pertenceria à Ucrânia e 82% para a Rússia, que ‘alugaria’ Sevastopol até 2017, por 97 milhões de dólares por ano (com reconhecimento de que a Crimeia era parte da Ucrânia). Em 2010, no mandato de Viktor Yanukovych (o antecessor pró-rússia de Zelensky) o acordo de Karkiv estendeu o uso de Sevastopol até 2042 e em contrapartida a Rússia deu à Ucrânia um desconto no preço do gás natural, enquanto a entrada de Ucrânia na OTAN passava por um longo processo de negociação. Quando, em 2014, a revolução da Dignidade culminou com a retirada de Yanukovych do poder (em um processo que exigia dois terços dos votos no parlamento - o que não aconteceu, embora Viktor tenha abandonado o país). Temendo a incerteza deste cenário, Moscou decidiu agir, invadir e anexar a Crimeia, tomando conta de Sevastopol e de toda a frota naval. Só em 2019 Zelensky (há rumores de importantes contribuições financeiras vindas dos USA) foi eleito e a aproximação com a Comunidade Econômica Europea e a OTAN se intensificaram. Em resposta a isto, em fevereiro de 2022, Putin invade a Ucrânia.
Este breve panorama histórico dá dimensão da dificuldade para saber quem está ‘certo’ e quem está ‘errado’ neste processo, quem é o agressor inicial, quem lucra com a guerra e quais são as reais possibilidades para um final justo para esta guerra (se é que isto é possível). Encorajo os interessados a confirmar estas informações, refletir sobre os acontecimentos e, aos mais engajados, contribuir com suas visões.
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Atualizado em: Qua 26 Mar 2025