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A senhora otimista
Como uma pequena dose de lembrança, tive um encontro rápido e cômico, que me trouxe uma sensação de confirmação.
Era o entardecer de uma terça-feira qualquer, e a rotina de caminhar ainda prevalecia. Meu padrasto e eu deveríamos nos encontrar com minha mãe após o trabalho para nossa atividade diária. Havíamos planejado levar seu tênis para que tudo transcorresse como de costume; porém, num descuido, esquecemos de pegá-lo. Tentando corrigir o erro, retornamos à minha casa para buscar o item. No entanto, as tensões pessoais e o cansaço do dia de trabalho pesavam sobre todos nós, causando alguns atritos que não foram muito agradáveis. Aquilo, de certa forma, chamou minha atenção: o acúmulo de pequenas perturbações ao longo do dia nos torna extremamente frágeis diante das situações imprevistas.
Refletindo sobre isso, já em passos rápidos pelo atraso, estamos somente eu e minha companheira, me dirijo à minha mãe e comento como certos problemas simplesmente escapam de nosso controle, mas o redemoinho de emoções dentro dela ainda estava em ação. Seguimos nossa caminhada, agora em uma área mais natural, onde o chão já era de terra, e a paisagem, em sua maioria, formada por árvores com alto volume de folhas e alguns animais soltos.
À distância, vimos uma senhora de estatura baixa, aparência magra e vestida com roupas coloridas. À sua frente, havia um cachorro de porte médio, de pelo preto, preso a uma coleira vermelha que ela segurava. Ainda um pouco longe, a senhora começou a rir alto e ajeitar sua roupa. Ao se aproximar de nós, disse que o zíper de sua bermuda estava aberto e, de maneira bem-humorada, comentou que, "fechado já é perigoso, imagine aberto!" Sua afirmação, dita sem nenhum pudor e apenas com um sorriso travesso, me fez pensar em como ela não se importava com o possível constrangimento, aproveitando o momento para rir com duas completas desconhecidas.
De alguma forma, aquela senhora me fez refletir sobre como faz mais sentido rir dos problemas do que debatê-los demais. Assim, ela seguiu seu caminho com seu amigo peludo, e, de longe, ainda era possível ouvir sua gargalhada solitária.
Talvez a idade ajude a desapegar de certas preocupações, ou talvez chegue um ponto em que estamos tão cansados que só nos resta rir. Quem sabe? Talvez ela tenha apenas um jeito irreverente, mas com certeza vale mais a pena sair do redemoinho interior e rir alto e sem receio.
Atualizado em: Qua 30 Out 2024