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DEUS RECONHECE O ESFORÇO DOS HUMILDES
Papai e mamãe nasceram em Rio Espera, Minas Gerais. Muito pobres, levavam uma vida difícil na roça. Família grande, sem o merecido conforto. Apenas o silêncio do campo e livres da violência das grandes metrópoles. Onde moravam, não havia luz elétrica, televisão, rádio, máquinas de lavar etc. etc. A terra, generosa, fornecia o alimento diário. Claro que tinham que plantar e cuidar. Mas não se julgavam infelizes. Eram pessoas humildes, honestas, trabalhadoras e dedicadas à numerosa família. Seis filhos. A luta era gigantesca.
Um dia, meu pai, refletindo sobre as dificuldades que enfrentava, percebendo que não poderia progredir naquele lugar, chamou minha mãe e propôs a ela vender tudo que tinham na roça, e mudar parauma cidade grande. Coragem... Muita coragem. Chegar a Belo Horizonte, com filhos ainda pequenos, sem um trabalho definido... No entanto, meu pai, com sua sabedoria, comprara um lote no bairro Dom Bosco, em Belo Horizonte, bem afastado do centro da cidade, com pouca estrutura. Sem asfalto, com um córrego bem na porta de casa... Nem luz elétrica havia. Após ter vendido tudo que tinha no interior, contratou um pedreiro, construiu um pequeno barraco, no lote adquirido. O dinheiro que arrecadara na venda dos pertences não fora suficiente para adquirir uma casa melhor, tampouco um bairro mais perto do centro da cidade. Em 1954, fixou residência na capital mineira.
Da mesma forma, juntamente com meus pais, veio também para Belo Horizonte meu tio Francisco, trazendo a família toda. Papai tinha uma grande afinidade com seu irmão a quem chamava de Chico. Os dois só se separaram quando Deus chamou o tio querido. Ele tinha apenas 59 anos.
Foram muitos desafios. Muitos mesmo. Conseguiu um emprego para ganhar apenas um salário-mínimo. Onde? Na Fábrica de Tecidos Renascença. Por lá permaneceu durante oito anos. Com a ajuda dos filhos, que iam crescendo, sempre arrumava uma forma de ganhar um dinheirinho extra. Comprava queijo no mercado central, revendia nos bairros. Nos campos de futebol de várzea, juntamente com seus filhos, vendia caldo de cana que produzia através de um pequeno engenho, movimentando-o com seus braços fortes, sem preguiça e desânimo.
E assim o tempo foi passando. Vencendo as dificuldades, os filhos conseguiam emprego, estudavam e, de repente as coisas só iam melhorando.
Minha mãe era uma batalhadora. Com coragem, trabalhando muito e ajudando meu pai na difícil tarefa de administrar a família, sempre dizia que não tinha um pingo de saudade da roça. Lugar onde sofrera muito, haja vista a pobreza a qual a família enfrentava. Lá, na Piteira, local afastado do centro de Rio Espera, a vida para a família fora verdadeiramente um sofrimento.
Resolvi escrever este texto para enaltecer a coragem que meus pais tiveram para começar uma vida nova. Pouco a pouco, os filhos, com sua orientação firme, foram estudando, se formando, casando... os netos chegando pouco a pouco.... Aquela lembrança de miséria foi ficando para trás. Tiveram a oportunidade de ter uma casinha mais confortável, plano de saúde, viagens para a praia... Hospedagem em bons hotéis... Automóveis...Tantos benefícios conseguidos. Na roça, nada disso fora possível para eles.
Pois bem. Tudo foi transcorrendo com normalidade; as lutas sendo vencidas.
Um dia, tendo eles vivido e aproveitado os benefícios das facilidades conquistadas, ficaram velhinhos. Tiveram que partir para o outro lado da vida. Deus, em sua infinita bondade, recompensando-os pelas lutas e sacrifícios, os presenteou. Sem dúvida, ofereceu-lhes um lugar muito confortável. Onde? No paraíso celeste, em uma morada nova e eterna, cheia de luz, paz e sossego.
O que tenho a dizer, finalizando este texto? Obrigado, papai, obrigado, mamãe, por tudo que fizeram por nós. Obrigado, meu Deus, pelos pais extraordinários que nos deu.
Atualizado em: Seg 16 Set 2024