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Eu, bipolar

Eu sou uma pessoa que vive com medo. Mas especificamente do amanhã. Quantas e quantas vezes eu estive bem por semanas e em um estralar de dedos meu mundo desmoronava e eu não conseguia enxergar um palmo a minha frente. Eu tenho medo sim. Medo de fazer muitos planos (me dedicar na faculdade, voltar para a academia, selecionar novos livros para ler ou até mesmo criar novos hábitos) e de repente não sentir mais nada dentro de mim. O mundo escuro, doloroso, pesado e vazio me castiga a cada milésimo de segundo que passa. Pensamentos sórdidos e suicidas alimentam a alma e, por algo maior, (eu não sei como explicar) eu não dou o primeiro passo. Estabilizada mas nunca plena e feliz, eu vivo de miudezas, andando na espreita como um gato preto de rua. Quando sinto aquela nuvem pairar sobre a minha cabeça ou quando sinto a mão coçar toda hora para fazer compras ou acender um cigarro, eu logo acendo a lâmpada e volto a realidade. É um jogo de pique-esconde. Eu sempre me escondendo dos sintomas da doença. Tem dias que me enterro na cama e tem dias que eu faço diversas coisas (desço com o cachorro, assisto um filme novo, vou ao supermercado, faço café, etc). Já imaginou como é viver assim? Sem nenhuma constância, regra, rotina. Tem dias que não consigo engolir os 5 remédios que tomo antes de dormir. É horrível a sensação de ter eles presos na garganta. Tenho fases que me cuido, vou ao salão, faço academia, compro roupas legais, porém, tenho fases que passo dias sem tomar banho, pelos da perna e axila crescem e aparecem, o cabelo não vê água por 2 semanas. A sensação que eu tenho é a que perdi meu poder, minha identidade, minha idependência. Em tudo, tudo, a minha doença vem em primeiro lugar. Parece que não sou mais eu, que ela tomou conta do meu ser, dos meus gostos, do meu presente e futuro. As vezes eu me sinto inútil e tem vezes que digo: ''Não, você é graduada em direito, com OAB, está fazendo Pós em Filosofia do Direito e cursa faculdade de Psicologia!!!Erga sua Cabeça!!''. A situação fica ainda mais difícil pois sou uma pessoa solitária. Eu gosto da minha solidão, sei lidar com ela e me considero uma ótima compania, porém eu não tenho amigos. Não possuo amigos, NENHUM. Conhecidos sim, colegas de faculdade também, mas alguém próximo e íntimo não, e sabe, as vezes faz falta, principalmente pra desabafar sobre todas essas paranóias da minha cabeça. Já o pensamento de suicídio é um velho amigo. Eu penso nisso praticamente toda semana, uma vez por semana eu acho. Eu vejo como uma saída pra toda essa bagunça, essa confusão, mudança de humor, tristeza, raiva sei lá. Mas eu além de medrosa sou covarde e por mais que eu seja cética eu me pergunto: o que tem do lado de lá?Será mesmo que vou pagar por tudo de mal que eu já fiz?Então eu permaneço aqui, sofrendo, sofrendo e sofrendo. Mas é assim né, você dá tempo ao tempo e eu acho que todo mundo tem um pouquinho de esperança la no fundo. Eu tenho também, mesmo que seja só pra ser menos louca, menos infeliz.
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Atualizado em: Dom 21 Jan 2024

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