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DONA MARIA
Dona Maria em companhia do seu esposo, segue tranquila conduzindo seu antigo e mal cuidado automóvel (não me recordo a marca, ano e modelo) pela BR 476, perímetro urbano de Curitiba.
Em determinado local da rodovia fazíamos um comando com foco no combate à alcoolemia sem deixar de fiscalizar também possíveis infrações de trânsito.
Por volta das 23h00 avistei o veículo da Dona Maria e ordenei que parasse. Ela parou e, confesso, quando visualizei o seu rosto e do esposo ao seu lado, tive aquela convicção de quem aprendeu, após muitos anos na labuta, a interpretar expressões faciais de quem está fazendo algo errado.
– Boa noite, sua habilitação e documento do veículo, por favor.
Dona Maria me entrega o documento do veículo que estava em seu nome e em ordem.
– Dona Maria, faltou a sua CNH.
– Seu guarda, eu não tenho carteira de motorista.
Após explicar a gravidade da infração e os riscos de dirigir numa rodovia movimentada sem ser habilitada, fiz a multa e retive o veículo até que Dona Maria providenciasse um condutor habilitado para retirá-lo, haja vista que o marido também não era habilitado.
Após uns 30 minutos chega o sobrinho da Dona Maria para retirar o carro e após as formalidades de praxe, lá se foram a simpática Dona Maria, seu marido e o sobrinho conduzindo o surrado carrinho.
Pois bem, vida que segue e, como o comando só encerraria às 03h00, continuamos com as fiscalizações no mesmo local.
Lá pelas 02h00, a nossa equipe decidiu fazer uma pausa para um cafezinho e lá fomos nós seguindo pela rodovia com destino a um posto de combustível que permanecia aberto onde faríamos um breve lanche.
Éramos três na viatura e lembro que eu estava sentado na frente da viatura ao lado do motorista e observava uma rodovia bem tranquila, com poucos veículos circulando devido ao horário. Eis então o inesperado:
– Vai devagar, devagar!
– O que houve, Toledo, não vai me arrumar ocorrência bem agora.
– Olhe aquele carro, parece com aquele da Dona Maria.
– Impossível, Toledo, pare com isso…
– Passe devagar por ele, quero verificar.
Quando o colega emparelhou a viatura ao lado do veículo, lá estava ela, Dona Maria, toda faceira conduzindo sua cansada “lata velha”.
– Olha lá, é a Dona Maria.
– Não, Toledo, não me diga que você vai pará-la. O nosso café vai para o espaço! O comando está terminando!
Ordenei que Dona Maria parasse o veículo e, com dor no coração, tive que multá-la e reter o carro novamente até que o habilitado sobrinho viesse socorrê-la mais uma vez. Isso tudo é claro sob os protestos dos colegas que ficaram sem o lanche e a merecida pausa antes do encerramento do comando.
Ordenei que Dona Maria parasse o veículo e, com dor no coração, tive que multá-la e reter o carro novamente até que o habilitado sobrinho viesse socorrê-la mais uma vez. Isso tudo é claro sob os protestos dos colegas que ficaram sem o lanche e a merecida pausa antes do encerramento do comando.
Dona Maria prometeu que não dirigiria mais e o marido, bastante chateado com as duas multas recebidas, sentenciou:
– Vou vender esse carro amanhã.
Atualizado em: Seg 19 Jun 2023