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BICHO PREGUIÇA

Nossa vida é recheada de eventos marcantes. Sem dúvida, os mais inesquecíveis são os engraçados, que ficam guardados na memória e por vezes, quando relembramos o acontecido, damos boas risadas.
Por volta dos meus 15 anos, resolvi começar a trabalhar meio período no escritório de advocacia do meu pai, à época localizado na conhecida Av. 23 de maio, em São Paulo. Pela manhã eu cursava o ensino médio (chamado colegial naquele tempo) e, após as aulas, ia direto para lá.
O escritório funcionava em um sobrado adaptado onde no piso inferior havia uma recepção (sala), a cozinha e um banheiro. Meu pai, sempre generoso e sem tino comercial, como ele próprio se auto- criticava, compunha o quadro de funcionários do escritório com exagero, o que na prática significava mais despesa e ócio, em especial por parte daqueles que desempenhavam as funções de motorista, office boy e filhos do dono. Cabe aqui uma explicação: meu irmão Claudio, cinco anos mais velho do que eu, por vezes também ia ao escritório para almoçar e passar as tardes ali.
Não raro, após o almoço, sem ter muito o que fazer, ficávamos reunidos na recepção onde havia um grande e confortável sofá, além de duas poltronas que compunham a recepção. Aproveitávamos para conversar, contar anedotas, fazer brincadeiras uns com os outros, tudo isso enquanto meu pai e outro advogado trabalhavam duro no andar superior.
Na sala/recepção havia uma porta, que deixávamos sempre trancada. Nela existia um postigo (janelinha ou espreiteira) que deixávamos aberta e assim podíamos atender quem chegasse com alguma segurança.
Vale destacar que a pessoa que de fora olhasse pelo postigo tinha a visão do sofá posicionado bem de fronte. E foi neste cenário que ocorreu um dos episódios mais hilários de que tenho lembrança.
Lá estávamos, na recepção Armando, o motorista, Zé, o office boy, Claudio, meu irmão e eu pra variar, jogando conversa fora e sempre buscando algo para se divertir. Foi então que o Claudio, um gozador nato, com ótimas sacadas, que estava sentado bem à frente da porta de entrada, resolveu imitar um bicho preguiça. Sim, isso mesmo. Ele incorporou o animal e com uma cara esquisita de quem rasga nota de duzentos, movia os braços e a cabeça lentamente para cima e para os lados, numa performance digna de aplausos. Nem é preciso dizer que aquela cena bizarra arrancava gargalhadas de doer a barriga o que incentivava o meu irmão a continuar concentrado naquela imitação.
Pois bem, diz o ditado que nada é tão ruim que não possa piorar, e aquela esdrúxula e inconveniente cena num ambiente de trabalho ganhou novos contornos. Enquanto ríamos muito daquele bicho preguiça esquisito notamos que no postigo da porta havia um cliente olhando incrédulo e com os olhos arregalados para o meu irmão, que embevecido com o sucesso da sua atuação não percebeu a presença do assustado cidadão. Ato contínuo levantamos e fugimos para a cozinha e deixamos, é claro, o meu envergonhado e constrangido irmão sozinho na recepção para atender o cliente enquanto ouvia sonoras gargalhadas vindas da cozinha.

 

 

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Atualizado em: Sex 9 Dez 2022

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