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Maestro infernal: capítulo 1

 
A chuva batia no para brisa do corola 2008, como se fosse um pianista profissional tocando uma sinfonia maravilhosa de Beethoven. Sem dúvidas Rodrigues, babava em cima do volante, trabalhar de detetive particular nas horas vagas, e manter seu trabalho na polícia estava acabando com ele. Mas, ele precisava. Vento forte, trovões, pancadas de chuva, até mesmo a própria buzina que tocava eventualmente, não o acordava, dava pequenos pulos no banco, de hora em hora, não adianta, seu sono era pesado, e a chuva ajudou a tranquilizar o homem, vivia a base de pão do 3 dia e café de má qualidade. Dias em claro atormentavam sua cabeça. O rádio da polícia toca, aparentemente um terrível assassinato aconteceu, homicídio duplo, menina abandonada ao meio do sangue, isso sim o despertou novamente. Rodrigues era por natureza um predador de casos bizarros e sem sentido, amava seu trabalho, sempre se sentia um tal de Sherlock do sobrenatural, o próprio Scooby-Doo farejador de corpos esquartejados e dilacerados, mofados sujos, nojentos. Bom, Rodrigues não amava o banho de sangue, mas, amava e fascinava pelo sobrenatural. Nesses cenários complicados, sem pistas normais, sempre existia algo do outro lado, do mundo invertido, purgatório, seja lá como preferir chamar, era a única explicação pra alguns casos de mortes extraordinárias sem marcas. Quando criança Rodrigues vira vultos e etc. Porém ninguém acreditava nele, hoje em dia muito menos. Ele se sente ligado a esse mundo de monstros, fantasmas, bruxas, homens que pulam em uma perna só ou de pés invertidos, seu pai sempre contava a história de que um menino dos pés ao contrário e cabelos de fogo vigiava a floresta, era pra assustar o pequeno Gui, hoje em dia, esse se pergunta, eram só histórias? Algumas poderiam ser mesmo, outras ele não tinha certeza. Com um belo solavanco, Gui pulou, pegou o rádio, e ouviu com atenção. “Dois corpos na mansão Volkman, na colina do Dia bom, certamente identificados como Senhor Paulo Volkman e senhorita Valeria Volkman, ambos com 43 anos, aparentemente os dois tiveram todos os ossos quebrados, porém sem hematomas graves externos. Encontrada na cena somente a filha única, Clarisse Volkman, em prantos, nenhum outro parente da menina foi localiza...” Gui ouvirá suficiente, ligou o corola, partiu a todo vapor pra colina Dia bom. Rodrigues esperou a movimentação acalmar, queria investigar sozinho a cena, policiais iam e viam, lanternas nas mãos, capas de chuva, guarda-chuva sirenes e luzes pra todo lado. Rodrigues deixou o carro na mata, e seguiu caminhando o resto da colina, se esgueirou, escondido vigiava, coberto pelo seu sobre tudo preto e uma capa de chuva provisória. Aparentemente ninguém o notara, avistava com um binóculos, dois policiais conduziam uma pequena menina de olhos claros e cabelo loiro curtinho estilo chanel e encaracolados linda como uma margarida, mas murcha, pela chuva, e pelas lagrimas. Os policiais largaram a menina no banco traseiro da viatura, parecia tentar consolar a menina. Não funcionou, continuava cabisbaixa. Percebendo que nada iria mudar na menina, se afastaram e continuaram seu trabalho. Rodrigues notou a oportunidade perfeita e se aproximou da viatura, deveria fazer perguntas, ele era ótimo com crianças, não exatamente crianças mesmo, mas seus dois gatinhos, franjinha e bolota amavam ele, crianças não deveriam ser diferentes, somente mudava o tipo de petiscos oferecidos, e sem caixinhas de areias, definitivamente crianças eram mais fáceis de lidas, sem sombra de dúvidas. A barra parecia limpa, Rodrigues chegou perto suficiente do vidro da viatura escura e fria, cutucou a janela cuidadosamente, tentando ganhar atenção da menina, mas alerta para não ser percebido. Com um pulinho do banco a maninha encarou aquele projeto de sem teto esquisitão, sorrindo de orelha a orelha, acenando como se a garota fosse uma nova espécie de macacos australianos. Clarisse torceu o rosto, mas não gritou, o homem tinha olheiras fundas, barba por fazer, fios brancos na barba e na cabeça, topete mal feito pele branca e dentes amarelos de café expresso de má qualidade, o bafo deveria ser terrível, pensou a menina. Cuidadosamente, ela abaixa o vidro e pergunta. -O que você quer? Não me resta mais nada, sem esmolas hoje senhor, por favor se retire. Sentia-se enojada só de encarar aquele projeto de homem das cavernas. -Muito mal educada você, uma menina tão linda com uma boca suja assim, desse jeito não vai ganhar mais meu chocolate superespecial-Rodrigues fala isso fazendo uma cara emburrada e um biquinho esnobe. Clarisse fica intrigada. -Qual sabor? -Chocolate ao leite com avelã e castanhas caramelizadas. -Mentira! -grita escandalizada, batendo o pé, cruzando os braços com força- esse chocolate não existe, nunca vi em lugar nenhum, e já fui a muitas lojas diferentes, com chocolates importados da Bélgica, Suíça, Alemanha, e nunca vi esse sabor, além de feio o senhor e mentiroso. Rodrigues tira do bolso do sobretudo um envelope dourado, um chocolate muito aromático, como ele descreveu, e da uma baita mordida, enchendo a boca. -Huhummmm-exclama Rodrigues, muito satisfeito e saboreando seu chocolate perfeito e inigualável. -Deve ser um chocolate qualquer, você não me engana- Clarisse esnoba o detetive. -Certeza? Por que não prova? Com um estalar crocante, como se um lenhador quebrasse uma tora ao meio próprias mãos, o chocolate é partido, ele estende ate a menina encolhida no canto. Ela encara com curiosidade, avança a mãozinha e pega, olha, cheira e morde a pontinha, incrédula com o sabor irresistível e maravilhosa chuva de sabores na boca, a garotinha, funga e chora um pouco, seca as lágrimas no rosto com a manga da blusa lilás. Ainda choramingando, confessa. -Lembra meu papai. Rodrigues fica sério em silêncio. Retoma a conversa com um tom mais sério. -Qual seu nome menina? -Clarisse, porque te interessa? Eu não sou ninguém pra você, eu não sou mais ninguém agora. Rodrigues da um longo suspiro e continua -Clarisse, certo? Tudo bem, pode me chamar de Gui, apelido na escola. Olha eu sei que você perdeu tudo hoje, não sou a melhor pessoa com conselhos, mas, preciso saber o que você viu lá dentro, tenho algumas ideias mas não a certeza, preciso de ajuda, da sua ajuda, você é muito inteligente, tenho certeza- Termina dando sorrindo meigo. -Gui, qual é seu nome, tipo, completo? -Rodrigues, faz sentido pra você? -Não exatamente mas tudo bem- Ela para, e respira fundo- Se contar pra você, promete não rir? Os policiais riram, e debocharam, disseram que eu estava alucinando, “demônios, monstros? Isso é história de criancinha” fiquei muito envergonhada. -Clarisse, vem comigo, pode contar a sua história, já vi milhares de coisas esquisitas, acredito em cada palavra sua. Mas tive um ideia, vai ser melhor, me segue por favor. Rodrigues abre a viatura e estende a mão- Vem vamos, no caminho me conta tudo oque lembra, ouvi no rádio parte dos acontecimentos. A menina fica desconfiada, mas segue o policial esquisitão, esgueirando se pelas viaturas, pelo mato até a entrada dos fundos da mansão, ao entrar Rodrigues e Clarissa se depararam com uma enorme cozinha, mesa de jantar, tudo completamente arrumado e limpo, deveria caber dez, doze convidados na longa mesa preta se ornamentada , pia de mármore, geladeira de duas portas, Gui fica maravilhado ao se deparar ao bar da família, taças, vinhos importados, e oque mais chamou sua atenção, uma cafeteira de expresso, provavelmente italiana, profissional, o mais puro café que jamais tomaria. Peças de queijo, salames espalhados pendurados sobre o teto, uma variedade de uísques importados. Se existem um céu certamente era parecido, Rodrigues imaginava. Clarisse ficou confusa com o homem babão olhando todo aquele banquete, estalou os dedos o mais próximo do rosto dele, dando pulos, puxando a manga do seu braço e exclamando, parecia estar em transe. - Gui, ei acorda! Nada. -EII ALOU. A menina impaciente chutou sua canela. -Aiii! Clarisse, calma. Esfregava seu calcanhar que podia inchar futuramente. -Acorda por favor, preciso que fique atento, estou com medo de voltar aqui, mas ainda assim estou curiosa, preciso entender que aconteceu com eles. Ela aponta pra saída da cozinha/sala de jantar. -Onde eles estão? Na sala? -Papai, piano. -Certo. Começam a caminhar em direção a cena mais aterrorizante de Clarisse até hoje, inimaginável, passos largos e frios, chuva ainda batendo, coração acelerado e ansioso , Rodrigues nunca tinha ouvido de algo assim antes, ossos quebrados, sem machucados visíveis...Precisava ver, precisava sentir o paranormal novamente o chamar, aquilo o ...E chegaram, os dois atirados, dois buracos no rosto de Paulo, onde deveria estar seus olhos, enormes, quase como duas bocas, isso era novo certamente, faixas da polícia por todo lado, o piano no centro da sala a mãe, Valéria, jogada no tapete enorme, poucos passos da poltrona onde sentava, parecendo querer chegar no marido, se arrastou com os últimos suspiros. Paulo estático, se tivesse os olhos ainda, certamente estariam vidrados na partitura em cima do piano, Gui reconhece a música que tocava, pelas notas marcadas em preto, como se alguém queimou as exatas notas da nona sinfonia de Beethoven. Clarisse não entrou, notou Gui, olhou para os lados, sumiu, voltou à cozinha, sentada a pequenina na ponta da enorme mesa, assim como um líder mafioso. -Eu entendo, querida, não precisa ver a cena novamente, me conta pelo menos oque aconteceu. Dizia Rodrigues puxando uma cadeira e sentando-se próximo da garota, inquieta balançando as perninhas. -Certo. Uma pequena pausa, parecia estar juntando todas as informações pra não ter que reviver mais vezes a mesma cena-Papai, estava na sala tocando varias músicas de piano, como sempre fazia aos sábados a noite, nada anormal, enquanto mamãe lia seus romances gigantescos. Eu estava no quarto, vendo alguns vídeos no meu Ipad, Felipe Neto, conhece? Ele e muito engraçado. -Ah, sim eu tenho alguma ideia, mas continue por favor. Clarisse, deu um breve sorriso e continuou. -Então de repente, ouvi minha mãe batendo na porta, e me chamando, ela falou alguma coisa relacionada à meu pai precisar de mim, queria minha opinião sobre uma música que aprendera a tocar, desci e, bom, sentei no colo dele atentamente ouvindo ele tocar, estava bonita a melodia, como sempre. Rodrigues sorri. -Desculpe mas, você e muito educada com seus pais, parabéns. Pode continuar. -Obrigada-Clarisse levemente corada-E difícil encontrar homens assim gentis, e você é, assim como meu papai- Ela para desconfortável com oque acabou de dizer, a realidade dos fatos era difícil de encarar ainda-Deixa pra lá, vou acabar logo com isso. Enfim, como ia dizendo, a música estava agradável, era uma nova certamente, mas logo as coisas ficaram estranhas. Uma pequena pausa novamente, a menininha olhava fixamente a mesa. -Aos poucos a melodia foi mudando, ficando sombria, meu papai me segurava cada vez mais forte, não queria me deixar sair, comecei a gritar, estava assustada, chamei minha mãe e. Parou novamente, começou a lagrimejar. -Os olhos dela, totalmente pretos, vibravam-Abanava os braços com força, e começou a chorar- Me...me...meu pai, não parava cada vez mais rápido a tocar, falar coisas estranhas em alemão. -Que coisas? Entendeu alguma palavra? Em prantos, ela fungava e secava as lágrimas. -Sim, mas só uma coisa, transferência de receptáculo, repetia inúmeras vezes. Ela tomou fôlego tentando se focar para acabar logo. -Depois disso, eu juro por todos os ursinhos carinhosos, que vi os dedos dele pegarem fogo, mais e mais rápido, a boca retorcendo e falando coisas incompreensíveis, provavelmente ainda alemão, mamãe caiu no chão, um brilho na nuca dela em vermelho, fumaça ou gosma preta saiu dela, tomou a forma de serpente, cobra, não lembro perfeitamente, desmaiei, foi isso. Acordei e eles estavam assim. A menina banhava-se nas lágrimas, a dor de ver aquele rostinho sem esperança apertou o coração de Rodrigues. Ninguém deveria presenciar evento algum assim, era deprimente. Levantou, anotou tudo com sua caneta e caderno de bolso, guardou novamente, e deu um leve abraço na garotinha mais miúda e cabisbaixa do que nunca, fungava e soluçava. Ele compreendia sua dor. -Pronto, acabou, você é incrível garota. Abraçava e dava pequenos tapinhas nas costas de Clarisse, que estava imóvel. Movimentação vinha da sala de estar, piano voltou a tocar, em um susto, a dupla investigadora correu para investigar, totalmente rígido, Paulo dedilhava ferozmente, fogo se ascendia nos dedos, exatamente como Clarisse relatou. A chama subiu e consumia seu rosto, entrava nas cavidades oculares, queimando sua carne de dentro para fora. Certamente não era Beethoven, sons melodiosos horríveis, entravam na mente do detetive e da menininha, latejavam seus crânios, como se estivem em chamas também. Clarisse se encolheu no chão, suplicando que a música infernal para-se de imediato, mas, não parou, aumentou, mais e mais, a sensação de enlouquecer estava próxima. Rodrigues, tentou se concentrar, buscou o revolver ao bolso, levantou lentamente ao Sr.Volkman, que agora parecia o verdadeiro maestro infernal, respirou fundo, tremendo puxou o gatilho, uma, duas, cinco vezes. Os disparos foram abafados pela sinfonia diabólica, mas, cessou. A caveira de Paulo, ainda em chamas cai de bruços sobre o piano incendiando. Porém, a sensação de alivio durou pouco, o maestro, agora sem pele nas mãos e na cabeça, levanta, o fogo cessa. O maestro infernal levantasse e caminha na direção da menina e do detetive. Passos lentos mas firmes, que ecoam pelo salão. Rodrigues congela, tenta disparar mais vezes, mas o tambor está vazio. Começa a recuar puxando Clarisse. -Clarisse vamos! –Exclama Rodrigues desesperado. Clarisse não move um musculo, alguma coisa mudou, a menina encara o próprio diabo em sua frente fixamente. Medo talvez? Não fazia sentido. De repente a caveira ambulante para, e começa a falar, apontando em linha reta. - Der Teufel hat sich in dich eingeschlichen Fez-se silencio por um momento, depois a criatura repetiu a mesma coisa, mudando as vezes para”der Teufel ist in dir” e depois “die Schlange des Chaos erwacht wieder”. Rodrigues não entendia, nada fazia sentido, mas decidiu esperar e observar. De repente, as coisas ficariam ainda mais absurdas. Clarisse jogou o rosto pra cima, muito abruptamente, tinha quase certeza, “Quebrou o pescoço”, um estalo forte veio da menininha, flutuava, nada que Rodrigues não presenciara antes, o paranormal, imprevisível até mesmo com criancinhas. Ele mesmo tinha poderes assim, de qualquer forma, não era todo dia que criancinhas saiam voando por ai. Desconforto, uma presença maligna tomava conta do local, não era o senhor caveira ambulante, não, algo mais forte, a fonte dessa energia caótica deixava-o tremendo de ansiedade. Clarisse emanava caos, emanava destruição. Diferente de tudo, uma energia poderosa capaz de matar tudo e todos que a tocassem. Mas a garotinha segurava esse poder na palma de suas mãos. Clarisse no ar, finalmente proclama mais coisas incompreensíveis. -Verstanden, Ruhe Soldat. E como se a pequena garota fosse o comandante superior, o maestro infernal bate continência e se desfaz em cinzas no ar. Clarisse cai, Rapidamente, já esperando, Rodrigues corre e pega a garota no ar. Desmaiada nós seus braços, suspira, e senta, tentando recuperar o folego. Noite estranha e gente esquisita acabavam com ele. A última lembrança de Clarisse antes de cair na total escuridão foi seu pai, esquelético, caminhando em sua direção, falando coisas estranhas, e então, sua visão escureceu. Acordou em outro lugar, não reconhecia aquele lugar, casas com arquitetura germânica medieval, uma igreja ao longe badalava um sino, várias pessoas, camponesas seguiam em direção a um grande poço no centro do vilarejo. Resmungavam coisas em alemão, ela entendia parcialmente. Tentou chamar por ajuda, mas todas as pessoas passavam pela menina como se não existisse. Um circo de camponeses, com tridentes, foices, até mesmo livros de couro preto ou marrom com um símbolo cravado no centro, vermelho como sangue. Certamente um culto maluco, agora se juntavam ao circo, homens e mulheres encapuzados, máscaras de serpentes, o mesmo símbolo, parecia escorrer sangue atrás das capas. Clarisse estremecia, mas curiosa se juntou, sentia-se ainda invisível na multidão. Uma canção, ou oração começou a ser proclamada, todos de livros abertos, os símbolos brilhavam em fogo. Cada um dos encapuzados se aproximou do poço, doando seu próprio sangue, a canção de invocação aumentou, todos juntos em um rito de dar inveja aos seguidores de Satã. Sons começaram a serem ouvidos no poço, uma mare latejava e borbulhava, e como nascida do sangue e do lodo dos mortos, se levantou, uma espécie de cobra, dragão, serpente do mar, ensanguentada. Abocanhou, e pela metade ficou o camponês mais próximo do monstro do poço. Estranhamente ninguém se mexeu, todos hipnotizados pela carnificina. O estômago da serpente rugiu, não saciado, mas sim com sede de sangue e destruição. Clarisse, tenta fugir daquela insanidade, dando passos para trás, ainda encarando, um por um dos camponeses sendo devorados, uns tinham cabeças arrancadas outros metade do corpo, braços, pernas. Finalmente o horror tomou conta do povoado, gritos e desespero por todo lado, a serpente perseguia e devorava tudo que se mexia em sua frente. Clarisse acordou com sangue respingando em seu rosto e correu, “Não é real, não é real” Era impossível, era horrível. Por que tinham invocado um demônio pra destruí-los? Um sonho, terrivelmente real, só podia ser. Correu o mais rápido possível, mas não adiantou, serpente alcançara Clarisse, mas não atacara, e sim, chamou. -Clarissssse, não fuja, nosss somos iguais, somos parte um do outro, não fui eu quem matou todos eles, foi você, não entende? Olhe pra baixo, está ensanguentada. -NÃO! –Clarisse se joga no chão chorando, balançando, desejando que tudo acabasse, E acabou, acordou nos braços de Rodrigues. Desnorteada e com medo, confusa. Viajou no tempo? Não fazia ideia, sentia a cabeça latejando. Rodrigues estendeu uma xícara de chocolate quente para menina, ela agora se encontrava enrolada em um cobertor, mas não em sua casa. Uma cozinha pequena, luz fraca. Sentada em uma pequena mesinha redonda de madeira, um lindo gatinho encarava a menininha, mesclado preto e branco. -Franjinha e o nome.Rodrigues inicia a conversa, sentado do outro lado da mesa bebericando café, obviamente, deveria se passar da meia noite, mas não se importava, ele precisava daquele café, afastaria os sentimentos ruis daquela noite. -Onde estou? Você me trouxe aqui, certo? -Exatamente, bom, pensei que como estava desmaiada e bom, você sabe… -Sozinha- A garotinha corta secamente- Eu entendo, por quê se preocupar com uma garota estranha, que não te deve nada? -Não podia te deixar lá para morrer né? Que tipo de ser humano eu seria? Deve ter aprendido a ajudar os outros, certo?- Tenta dar seu melhor sorriso, mas não sente que se saiu bem. -Onde vai me levar? O quê aconteceu lá, eu simplesmente apaguei, vi meu pai morto vivo caminhar na minha direção, e teve aquela música, e bom, tive um pesadelo horrível com.. - A serpente? -S-sim- uma pequena pausa, desceu o olhar triste- Rodrigues, Gui, estou com medo, a cobra, o monstro seja lá o que for, me acusou, disse ,"nós somos iguais" não entendo. Eu sou um monstro pra você? -Clarisse, vou te explicar uma coisinha- Dá um grande gole final no café,e bati levemente a caneca na mesa, imitando um bêbado afogando as mágoas- Esse mundo, não é um conto de fadas e nem mesmo um mar de rosas, inclusive, qual sua idade mesmo? -11, mas faço 12 mês que vêm, 31 de janeiro -Bom, como imaginei, muito nova , grande poder. Clarisse estremece ao ouvir "poder". Rodrigues continua. -Alguém em algum momento na sua família fez uma grande besteira, e agora vai ter que segurar o fardo, mas vou te ajudar, não te levei pra lar de adoção, pois, não iam saber lidar, você Clarisse, tem poderes sobrenaturais. Essa frase não parecia fazer nexo nenhum com a realidade, e não fazia de maneira alguma, insanidade, no mínimo, ecoava em sua pequenina cabeça. -Eu sei, pode me colocar no hospício, sou maluco, mas, é a verdade. Conhece demônios, certo? Existem, lobisomem, vampiros, todo tipo de criatura maligna que consiga imaginar, bom, testemunhou hoje com teus próprios olhos. Crianças como você, tem um lugar certo, frequentei praticamente na tua idade, matei bruxas velhas, vampiros feiosos, espíritos vingativos, devo ter topado com o próprio diabo nesses anos de caçador. Clarisse pulou com um pequeno susto, outro gatinho se arrastou entre suas pernas, ronronando, esse laranja, um alívio calmante naquela noite. -Escola preparatória contra as artes das trevas, ou EPCAT, sim é uma sigla horrível, mas é um lugar ótimo, outras crianças com e sem poderes sobrenaturais vivem lá, vai fazer amizades e estudar e combater bastante, bom, e claro se você tiver interesse, e um dia vai entender o'que sua família fez, ou de onde veio poderes sobrenaturais e absurdamente fortes. -Gui, eu, matei ele? O maestro ? -Transformou ele em cinzas… Ficou corada, impressionada, estava sonhando, mas ao mesmo tempo, destruiu uma criatura. Seu próprio pai, naquele ponto, já não existia Paulo Volkman ali, Clarisse não entendia isso ainda. -Vão me ajudar? -Vão, e vai ser a melhor caçadora paranormal, sobrenatural do mundo-Agora sim Rodrigues deu um sorriso satisfatório- Acho melhor você descansar, deve estar caindo de sono, não tenho exatamente um quarto ou cama, mas o sofá é perfeito, tenho cobertas travesseiros pode se aconchegar , os gatinhos podem te fazer companhia. Agora dando uma olhada melhor no apartamento, Clarisse nota os sofás de couro marrom, bem cheios e arranhados, um tapete e uma mesinha de centro com livros empilhados, Agatha Christie, Stephen King, Poe , e muitos outros. Tudo na sala e na coy pareciam mais antigos, anos 90 talvez, mas a televisão era muito recente, tela plana 43 polegadas, ao lado do sofá central uma caneca, e outra ao lado da televisão , em cima da mesa da cozinha, canecas no geral se espalharam pelo apartamento,isso e os livros e algumas anotações espalhadas, explicavam as olheiras de Rodrigues. Ele se levanta e vai em direção ao quarto no corredor. Volta trazendo cobertas e travesseiros. -Bom, qual sofá? Geralmente o do centro e dos gatos. Clarisse ainda meio confusa, perdida nos pensamentos, balança a cabeça voltando a realidade. -Pode ser, esse mesmo, não me importo em dormir com ps gatinhos. -Perfeito, vou arrumar pra você. Rodrigues ajeita a coberta e os travesseiros e com um sinal, chama a garota. -Clarisse, uma coisinha importante que precisa saber, primeiramente, tem onde ficar? Algum outro familiar? As aulas da EPCAT só começam em fevereiro. -Não- responde friamente. -Olha pra mim, se importa de ficar comigo nesse meio tempo? Nunca cuidei de crianças, mas sei que você é muito inteligente , vejo isso. Clarisse olha para Rodrigues meio cabisbaixa, mas não tinha para onde correr, perdera tudo, ele era sua única esperança por enquanto. -Gostei daqui- dá um sorrisinho. -Ótimo, prometo que vou fazer tudo para que fique bem até as aulas, Dorme bem garota, boa noite. Rodrigues espera uma resposta, mas a garota caiu no sono.
                
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Atualizado em: Seg 19 Set 2022

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