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O querido João Rubinato

Quem mora em São Paulo certamente deve ter ouvido ou conhecido João Rubinato. Nascido na cidade de Valinhos, apesar de ter partido desta para outra, continua sendo um grande parça. Residente em Jaçanã, na verdade não residia em local algum, sempre ali ou acolá, ganhou fama. Teve bons amigos como os Demônios da Garoa e fizeram alguns sucessos juntos. João Rubinato, usando a ironia entre erros linguísticos provocados, exaltava a maloca. Quem tinha casa era rico. Ele saudava a maloca conseguindo até um fiscal da Prefeitura para legalizá-la. Era comum encontrá-lo na Mooca, Brás, Bixiga. Andou com gente importante como Elis Regina. Privilégio! João Rubinato tinha Arnesto como amigo, sabe como é? Descompromissado, Arnesto nunca avisava quando ia sair e deixava a rapaziada na mão. Por fim, seu grande amor, Iracema, acabou morrendo. Pessoa simples, João Rubinato, após legalizar sua maloca dava abrigo aos vagabundos. Ganhou mais fama, usando uma caixinha de fósforo para acompanhar alguns sambas. Certa vez, namorando, não podia perder o último trem, aquele que passava onze horas! Conhecedor da Paulicéia Desvairada de Mário, o Andrade, passeando pelo Viaduto Santa Efigênia resolveu homenageá-lo. Homenagear um viaduto? Criativo, não? Quando o conheci, já tinha ido. Conheci sim seus parças. Gente batuta, saímos do bar. Faltando pouco para chegar em casa, vortemos! Nóis fumos e vortemos e ói nóis aqui traveiz! Desculpe. Talvez o professor Pasqualle exorcize minha audácia!

João Rubinato ganhou tanta fama que não citá-lo é uma blasfêmia. Foi eleito o personagem mais recente de São Paulo pela população na década de 90 mesmo estando no colo do Pai. Dizem pelas terras de São Paulo que quem não cantar alguma de suas músicas sequer é paulista quanto mais paulistano(a). Sabe-se quem são seus seguidores(as). Notívagos, na calada da noite, acendem uma vela se preciso for, pega-se um pandeiro e sua memória é lembrada. Dizem por aqui em São Paulo que paulistano(a) tem obrigação de conhecer o Bixiga, a Mooca e o Brás. Ir uma vez na vida ao jogo do Juventus, ver o desfile de 9 de Julho, estar no Pateo do Collegio no 25 de Janeiro após acordar bem cedo e acompanhar a homenagem em lembrança a fundação da cidade além de tomar café, a água paulista. João Rubinato nem precisava disto tudo, afinal, seu carisma era evidente. Seu sorriso irônico com a voz rouca, o chapéu bem colocado na cabeça, sua marca pessoal quando chapéus caíam em desuso, marcaram São Paulo. Dizem que ele surge em algumas rodas entre cervejas e exaltados(as) nos bares. Sua simpatia rendeu até um desfile feito neste 2022 pela Dragões da Real, uma escola de samba paulistana. Não contente, tratou de criar um novo nome. Quem iria simpatizar com João Rubinato? Passou a ser denominado Adoniran Barbosa.

Sabia João Rubinato que sua imagem é associada a São Paulo. Pensar São Paulo sem João Rubinato ou os Demônios da Garoa é cortar um elo importante da História da cidade de São Paulo. Assim como Germano Mathias, Thobias do Vai-Vai e Osvaldinho da Cuíca, João Rubinato é carta certa no baralho das personalidades paulistanas. Dizem por aí que sem ele São Paulo é morta. Quem nunca viu o samba amanhecer e não o cantou, não se vestiu igual, não botou o chapéu, nada viu. É possível vẽ-lo juntamente com seu irmão espiritual Noel Rosa em algum desenho bem criativo de algum sambista. O bigode, o rosto comprido de João Rubinato, o cachecol em tempos de frio intenso na cidade da garoa, agora cidade das enchentes, é inesquecível. João Rubinato faz falta. É impossível copiá-lo. Nesta selva de pedra verticalizada, ele seria o ícone. Rubinato, o João, vulgo Adoniran, entre um gole e outro, uma caixinha de fósforo, sabia bem o que desejava: viver simples entre amigos e amigas. Todo(a) paulistano(a) deveria carregar seu nome e sobrenome na identidade. Rubinato vive entre nós ainda e isto é distinção. Significa ouvido apurado, livrando-se de preconceitos, abrindo a mente ao novo que insistem em dizer que ficou velho. Não é velho. É algo que ressuscita diariamente. Nenhum 6 de Agosto a partir de 1912 seria mais o mesmo e nunca será. Diante de seu saber popular, irônico, João Rubinato, é uma estrela que brilha no céu paulistano e paulista. O trem da onze nunca chegará na estação para nossa sorte. João Rubinato não partirá ficando sempre entre nós.
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Atualizado em: Seg 8 Ago 2022

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