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Uma obra emocionante sobre o grande jogador Roberto Dias (1943-2007), assinada por Fábio Matos
Uma obra emocionante sobre o grande jogador Roberto Dias (1943-2007), assinada por Fábio Matos
Rogério Duarte Fernandes dos Passos
Resenha. MATOS, Fábio. Dias: a vida do maior jogador do São Paulo nos anos 1960. Prefácio de Juca Kfouri. Orientação de Celso Dario Unzelte. Campinas: Pontes Editores, 2007, 184 p.
O jornalista Fábio Matos constrói um documento de grande valor e emoção na obra “Dias: a vida do maior jogador do São Paulo nos anos 1960”, publicada pela Pontes Editores. Formado em Comunicação Social – Jornalismo – pela Fundação Casper Líbero, Matos retrata a vida de Roberto Dias Branco (1943-2007), o Roberto Dias – ou, simplesmente, Dias –, um dos maiores jogadores da história do São Paulo Futebol Clube e que desfilou seu exuberante futebol, sobretudo, na década de 1960.
Nascido no bairro do Canindé, na capital paulista, Roberto Dias foi descoberto em um dos campos de futebol da cidade e levado a treinar no São Paulo. Aquela era uma época em que o profissionalismo não remunerava os atletas da maneira como hoje ocorre, em que os ganhos são potencializados por ações de marketing e propaganda.
Abençoado no talento, Roberto Dias – que começou no ataque e acabou firmando-se na defesa – não teve grande sorte no período em que defendeu o Tricolor Paulista. Justamente porque lá atuou quando o clube envidou ao máximo seus esforços para a construção do seu estádio, que seria batizado com o nome daquele que viria a ser o seu presidente de honra, Cícero Pompeu de Toledo (1910-1959), momento em que o futebol profissional se enfraqueceu e os títulos minguaram. Mesmo assim, com grande humildade, Dias prosseguia em sua luta, desvelando-se como um ser humano – a par de defeitos como todos os tem – com destacáveis qualidades, e mostrando ser futebolista de grande capacidade, a ponto do indubitável Pelé considerá-lo como um dos maiores zagueiros que lhe marcaram, sem a necessidade de pontapés.
O futebol promissor de Roberto Dias o levou para a Seleção Olímpica, que disputou os Jogos de Roma, em 1960. No trabalho de Fábio Matos, somente as considerações sobre essa competição já valeriam a pena, tamanha a qualidade do texto. Contudo, temos ainda outras incríveis linhas sobre os ótimos dias de Roberto Dias, que envergando a representação canarinho ao lado de Gérson – o “Canhotinha de Ouro”, que futuramente seria seu companheiro no São Paulo –, brilharia na jovem equipe dirigida por Vicente Feola (1909-1975), que somente foi eliminada na semifinal pela anfitriã Itália de Gianni Rivera e Giovanni Trappatoni. Os torneios olímpicos de futebol, destaque-se, eram difíceis, pois à época não permitindo profissionais, viam os selecionados da Europa Oriental, imersos na “cortina de ferro”, levarem “apenas” seus “amadores” – embora na verdade, dispusessem dos seus melhores atletas –, uma vez que em teoria, não existiam ligas profissionais nesses países. Mesmo assim, Dias se distinguiria, naqueles que foram, sem dúvidas, dias felizes, memoráveis.
Dias de tristeza também viriam na trajetória de Roberto Dias. E esses se deram na equivocada e confusa preparação para a Copa do Mundo da Inglaterra, de 1966, quando uma grande quantidade de atletas foi convocada para os treinos. O craque são-paulino foi cortado da lista final e o selecionado canarinho, com uma média de idade alta, sofreu muito na terra (ou gramados) da Rainha Elizabeth, amargando uma desclassificação prematura.
Entretanto, ao lado de dias de alegria e de tristeza, chegaram os dias de glória para Roberto Dias. A expressão “dias” – poeticamente utilizada por Fábio Matos na construção do livro – revela, passo a passo, a trajetória do craque, que já em finais de décadas de construção do Estádio do Morumbi, ao lado de Toninho Guerreiro (1942-1990), pôde, finalmente, sagrar-se campeão paulista pelo seu Tricolor.
A ironia do destino trouxe a primeira passagem do futuramente vitorioso treinador Telê Santana (1931-2006) no São Paulo como um complicador na caminhada de Dias pelo clube do Morumbi, ao lado de um infarto que o afastaria dos gramados. Dias de luta viriam ainda para Roberto Dias, que, recuperando-se, jogaria mais um período no Tricolor, e depois, no futebol mexicano, no Dom Bosco, de Cuiabá, e por pouquíssimo tempo no Nacional da Rua Comendador Souza.
Excelente cobrador de faltas, Roberto Dias viveu os dias de ídolo quando questionado acerca das comparações com Rogério Ceni, goleiro batedor de faltas e outro grande ídolo são-paulino. Com humildade, mesmo diante dos sofrimentos face aos problemas de saúde e a dispensa do clube que o revelou, Roberto Dias talvez nesse momento pôde melhor aquilatar o seu “tamanho” na história do São Paulo, quando, felizmente, já estava reintegrado à agremiação na condição de professor das escolinhas de futebol.
Um novo infarto o levou de volta à pátria espiritual. Levou não apenas o menino do Canindé, mas agora, também, o ser humano gigante, ídolo do Morumbi.
Fábio Matos produz um documento de envergadura sobre esta personagem fascinante do futebol brasileiro e do São Paulo Futebol Clube, em um retrato preciso e arrebatador, que ao término da leitura, nos conduz àquela emoção genuína que é da essência da vida de cada um dos seres humanos. E aqui, de um ser humano que dedicou os seus melhores dias à família, ao futebol e ao time que viria a ser o clube do seu coração.
Pelo relato de Fábio Matos, esses foram os dias de Roberto Dias.