Quem eu quero se

Durante toda a minha vida eu sempre foquei em mim e boa parte desse foco sempre foi em minhas angústias e problemas. Eu sempre ficava pensando em tudo que já passei desde os meus 03 anos de idade quando aconteceu o primeiro evento impactante comigo, minha mãe me deixou na casa de minha tia e partiu, desde então foram rasteiras atrás de rasteiras. Chego a pensar se a vida tem alguma coisa contra mim, porque se eu for contabilizar as coisas boas e ruins a conta não fecha.

Essa semana ocorreram alguns fatos que me fizeram refletir sobre essa coisa de focar em mim, aconteceram uma série de eventos que me abalaram emocionalmente e financeiramente. Não sei bem explicar o porquê, mas resolvi escrever o que estava sentindo, colocar detalhadamente os meus sentimentos como forma de desabafo, também continha um pedido de ajuda um pouco implícito. Eu resolvi mostrar o meu texto para algumas pessoas que no meu ponto de vista iriam se identificar com as minhas palavras, outras que teriam capacidade de entender o que estava escrito e também para pessoas que sempre estão me perguntando como eu estou. Confesso que sinceramente eu esperava um retorno mais significante delas, realmente achava que tocaria aquelas pessoas de alguma forma.

Algumas poucas pessoas que leram o que escrevi comentaram comigo concordando com os problemas que abordei, outras contaram que se emocionaram e teve quem nem ao menos leu. Não há problema algum porque entendo que todos atualmente tem uma vida corrida e estão batalhando por uma vida melhor, isso é a realidade de todos. Também sei que o que me afeta não tem o mesmo impacto na outra pessoa, o que me emociona pode simplesmente não significar nada para alguém. Além do mais, pode ser que minhas avaliações a respeito das pessoas que no meu parecer iriam de alguma forma serem tocadas pelas minhas palavras, foram erradas. No meu entendimento aquela pessoa que todos os dias me perguntava como eu estava, eu supunha que essa pessoa queria realmente saber.

Diante disso, eu comecei a refletir algumas coisas. A primeira foi que pessoas não estão interessadas em nossas vidas como imaginamos ou como elas nos fazem imaginar. É comum as pessoas enviarem mensagens para outras perguntando como estão, algumas fazem isso todos os dias no automático. Na verdade, não existe um interesse sincero no bem do outro, é só uma forma automática de mostrar que se importa, mas se a pessoa do outro lado realmente precisar de ajuda provavelmente nem será percebido e o outro simplesmente dirá alguma coisa como: Não se preocupe, confia em Deus que tudo vai se resolver”.

A segunda coisa que refleti foi sobre algo que faço comigo mesma, eu penso demais em minhas dores, nas pessoas que estão envolvidas nelas e nas pessoas que não se importam com elas. A vida seria muito mais fácil se essa quantidade de gente que manda mensagens perguntando se eu estou bem realmente estivessem interessadas em ajudar, mas não estão! Esse questionamento é só uma forma de puxar assunto de quem não tem sincero amor por mim. Entender isso pra mim é fantástico porque eu não preciso me preocupar em responder fazendo assim com que eu me lembre dos meus problemas e criando uma expectativa de que alguém quer me ajudar. Pessoas querem estar conosco quando estamos bem sucedidos, querem estar conosco quando não é preciso fazer algum esforço para ajudar.

A terceira e última coisa que refleti, foi sobre a pessoa que eu quero ser. Não, eu não vou ser essa pessoa que manda mensagem perguntando como o outro está se eu não estou preparada para realmente saber, se eu não for útil pra alguém também não vou criar expectativas. Por experiência própria aprendi a prestar atenção nos detalhes, às vezes  o pedido de ajuda tá ali nas entrelinhas, na frase em tom de brincadeira, na mensagem do status, têm pessoas que sofrem mais para confessar que precisam de ajuda de que precisam de ajuda. Importar-se com o outro é algo simples, basta parar um pouco de olhar pra si mesmo e olhar para quem está do outro lado do telefone.

Enfim, as minhas dores me trouxeram uma série de fraquezas e comportamentos desajustados. A cada dia eu vou reconhecendo uma fraqueza diferente e vou tentando consertar, têm dias que me sinto forte e corajosa e têm outros que me sinto despedaçada. Vejo o quanto não posso contar as pessoas e que quanto mais cedo eu entender que preciso travar minhas batalhas sozinha, mais rápido e menos doloroso será pra mim. Eu posso usar minhas experiências de vida para ser triste ou eu posso usá-las para ser totalmente o contrário, eu posso realmente me interessar em ajudar em fazer a diferença na vida de alguém.

Eu já decidi quem eu quero ser, eu quero ser a pessoa que nunca foram comigo, eu quero ser a pessoa que ajuda.

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