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A educação machista e suas vertentes na família tradicional brasileira

Eu cresci dentro de apartamento a minha vida inteira, foi sempre me ensinado a ser uma pessoa boa dentro dos parâmetros da sociedade dominada pelo patriarcalismo e pelo machismo. Tenho um irmão mais velho, necessariamente cinco anos mais velho que também cresceu com as mesmas regalias do que eu, mas ele não consegue enxergar isso pois vive no próprio mundinho de privilégios por ser homem branco hetero e de classe social relativamente boa. Há muitas feridas em mim que nunca poderão ser cicatrizadas definitivamente, pois mesmo que haja a cicatrização elas sempre estão ali pra te lembrar que você passou por isso e que isso talvez nunca irá mudar ou até pode quicar um dia. Tem pessoas que dizem que as cicatrizes servem para nós crescermos e pode até ser verdade até certo ponto, mas elas sempre podem te lembrar de um passado que pode assombrar a qualquer momento ou não. Continuando na minha historia, sempre me foi dito que é preciso arrumar a casa, lavar louça, arrumar o quarto, varrer mas nunca foi dito isso tudo pro meu irmão, pois ele é o bichinho que um dia irá aprender sobre serviços domésticos em casa, mas aqui sempre fui repreendida/criticada nas diversas vezes em que eu não realizava qualquer serviço domestico. Meu pai provedor de tudo, sempre dava mesmo que sem palavras a razão que essa prática acontecesse em casa, pois ele era o cara que ganhava mais que minha mãe e bancava praticamente tudo em casa, contas e outros bens materiais, então digamos que ele tinha “passe livre” para não fazer nada em casa, só quando ele quisesse fazer ou quando era de bom grado. Com isso, praticamente todo o serviço domestico era da minha mãe (menos cozinhar porque ela não sabe),as vezes tinha uma empregada ou diarista para ajuda-la, mas sempre era ela e isso foi sendo repassado para mim quase de maneira automática, pois a mae dela (minha avó) fazia o serviço domestico em casa e assim repassado para minha mãe, pois pra elas a mulher tinha que ser sempre a boa, que não fala palavrão, educada e fina, mais especificamente “bela, recatada e do lar” e que de alguma maneira não poderia fazer sequer um barulho de reclamação ou de balburdia. Porque? Porque isso foi o que era imposto e o que continua sendo imposto atualmente sem escrúpulos. Bom, continuando a parte da minha mãe comigo isso foi repassado, eu tenho um grave problema de organização, eu simplesmente sou organizada pra umas coisas e desorganizadas para outras como é o caso da arrumação do meu quarto e sempre foi motivos de criticas do tipo “quando você tiver a sua casa, vai ser desse jeito” ou comparações tipo “o seu irmão arruma o quarto ou ele é mais organizado que você”, daí você me pergunta é melhor a critica que você faz só por criticar ou a critica construtiva pra uma criança/adolescente? Eu te respondo a construtiva sabe porque? Porque é que como eu falei logo em cima, as feridas elas vão te machucando e por mais que cicatrize elas sempre voltam para te assombrar, e na minha cabeça sempre levei as criticas muito a serio, pois digamos que sofria por criticas em relação a tudo, por “bater” no meu irmão quando era criança (eu não sei porque fazia isso e nunca me explicaria, será que talvez a neurociência poderia explicar?), se eu não fizesse os trabalhos domésticos em casa, se eu não tirasse notas boas no colégio, se eu não pedisse comida, ou se não ajudasse nisso ou aquilo, pois essa foi a educação a qual eu fui imposta e isso só vai te ferindo ao longo tempo e te deixando cheia de cicatrizes que é difícil de esquecer. Nisso, o meu amadurecimento foi muito precoce, eu deixei de ser aquela criança sorridente e falante muito rápido, e num piscar de olhos eu era a moça que simplesmente obedecia e fazia tudo o que os meus pais ou o meu irmão pedia, fui perdendo a minha essência e a minha liberdade de ir e vir e de falar tudo o que eu pensava ou quisesse, pois sempre tinha que pensar na minha família em primeiro lugar, antes da minha própria vida, e a minha vida começou a girar ao redor deles, e por aí foi indo até que a minha cabeça começou a desmoronar no ano de 2017 quando encarava o terceiro ano do ensino médio em que comecei a ter fortes crises de ansiedade e meu coraçao acelerava mais rápido, muito foi por causa do vestibular em si mas outros foi das inúmeras brigas que ouvi e presenciei entre os meus pais, e pensava comigo mesma “não quero essa vida pra mim, pois eu quero ser ouvida pelas outras pessoas, eu quero TER VOZZZZ”, mais especificamente “LIBERDADE”. Essa palavra já mais nem combina comigo, vou lhe dizer o porque eu era a obrigada a ir as festas da família que era um saco, mas o meu irmão tinha o poderio de escolher que horas ele ia, com quem e o tempo que ele iria passar, não tive esse mesmo processo de escolha, e meu pai do mesmo jeito. Meu deus, quantas saídas já recusei, não porque tinha dinheiro, mas pra ficar mais tempo com a minha família, ou porque mais tinham brigado. Eu fico hoje pensando no tanto de energia que eu desperdicei simplesmente dizendo não e ficando cada vez mais tempo em casa ou quando saia era pra alguma festa da família. Concluindo, o meu irmão sempre teve um poderio de escolha muito maior que o meu, sempre era perdoado muito mais facilmente, sempre teve a liberdade dele, porque um dia ele irá aprender já dizia a minha mãe e outros. Já eu, sempre fiquei consumida com milhares de pensamentos bons/ruins sobre o que poderia ter sido a minha vida, se eu simplesmente não tivesse feito algumas escolhas, me afundo cada vez mais nas minhas feridas e apodreço a minha alma por dentro. Inclusive vou ter que pedir desculpas a minha mãe por ter sido simplesmente estressada com ela e o perdão vai ser muito mais difícil
Espero que se um dia alguém ler que não me julgue mas isso é o que se passa na minha cabeça
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Atualizado em: Qua 14 Jul 2021

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