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Burnout
Ele chegou devagar, sorrateiro. No ínicio eu mal o percebi.
A necessidade de colocar alimento na mesa fez com que eu me envolvesse com ele e me sujeitasse a todos os seus caprichos.
Em pouco tempo não havia mais descanso. A qualquer dia e a qualquer hora ele me espreitava,
As demandas ficaram mais pesadas e as exigências mais brutais e repetidamente eu me cobrava pelo que não dava certo, enquanto ele se deleitava com cada auto punição.
Logo vieram os filhos, e a exaustão ganhou contornos monstruosos. Necessidades básicas inerentes a existência humana foram relegadas e o afastamento do convívio social foi mera consequência.
Atividades que me davam prazer me eram negadas, pois não havia tempo hábil para cumprir todas as obrigações e ainda me divertir. Quanto mais eu me anulava, mais ele crescia. E então a sua presença começou a se tornar mais ameaçadora e o pânico assumiu o controle. O sofrimento emocional reverberou no físico e as doenças me açoitaram impiedosamente.
Fui obrigada a me afastar e, como em toda crise, surgiu a grande oportunidade. Pude me reavaliar, encarar de frente o meu algoz e o vi diminuir, o vi recuar desesperado. O grande manipulador era um nada, uma gota no oceano. Havia mais, muito mais que a vida podia me oferecer e eu estava me prendendo a algo pequeno e insignificante.
Como em toda relação abusiva, houve alívio imediato quando a liberdade enfim chegou!
Atualizado em: Qui 15 Abr 2021