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Um novo calendário

              O calendário que usamos correntemente não é exatamente uma grande ideia: é mais uma série de pequenas e questionáveis ideias que acumula burocracia e dificuldade de uso, não particularmente melhor que outras versões de calendários que existem mundo afora. Independentemente disto, calendários servem não só para marcar o tempo mas também para lembrar e fixar eventos e assim tornam-se reforçadores de cultura. Portanto, ao invés de investigar combinações numéricas que criariam calendários mais fáceis de ser usados (como só 5 meses de 73 dias, ou abolir totalmente o conceito de mês e ficar só com semanas), este texto foca em propostas para novas datas comemorativas.

              É bem difícil esquecer quando é o Natal. Existem basicamente duas épocas do ano: ‘é quase Natal’ e ‘falta muito para o Natal’. Embora ele tenha perdido completamente o sentido original, ainda é uma marca representativa em nossa cultura. E assim como a Páscoa, temos uma variedade de datas comemorativas cujo sentido básico já foi perdido mas que culturalmente continuam existindo. São eventos criados em certos momentos da História, com objetivos específicos e surpreendente eficiência. Porque não, então, usar desta ferramenta, uma vez que no momento em que nos encontramos, toda ajuda é bem vinda? Porque não criar (artificialmente como sempre) eventos, milestones, que sejam representativos de uma ideia, celebrem um evento ou capturem nossa atenção (ano após ano) de forma a permitir que nos aproximemos dos ideais que elas emolduram? Mas quais ideais teriam força e longevidade suficiente para serem ‘coroadas’ com uma data comemorativa? Quais eventos são dignos e relevantes o suficiente para terem sentido para um chinês do interior, um marroquino, um belga e um sueco? Que bom que você perguntou: segue a lista:

Dia de Theia
Celebração do dia (fundamental para o planeta) em que Theia chocou-se com a Terra, não somente criado a Lua mas desacelerando a rotação da Terra e permitindo o desenvolvimento do planeta da forma como conhecemos hoje. Como a própria velocidade da Terra foi alterada (e continua sendo), seria alocado no calendário de forma randômica.

Dino-day
Dia em memória ao asteroide que se chocou com a Terra milhões de anos atrás, extinguiu os dinossauros e abriu espaço para os mamíferos.
Dia da fraternidade neanderthal
Homenagem ao cruzamento espontâneo do Homo Sapiens com o Neanderthal, que vivem em alguns de nós até hoje e que nos tornaram mais fortes e mais resistentes ao frio e doenças.

Dia da Vida
Relembrando a inédita transformação que se daria quando as primeiras moléculas inorgânicas se combinaram e formaram o primeiro ser vivo, ancestral comum de todos os seres que já viveram e que um dia viverão.

Dia da Seca
Quando contamos a trágica mas fundamental história das mudanças climáticas que assolaram a África no tempo dos hominídeos, cujas consequência os obrigaram a migrar, caçar em distâncias maiores e, por fim, andar com as patas traseiras.

Dia da Morte
Dia de reviver o trauma das várias extinções em massa que já assolaram este planeta, quando percentuais altos de várias classes de animais e plantas foram dizimadas e sobre seus restos vicejaram outros seres que, eventualmente, deram origem à nossa espécie.

Dia da Ciência
Um momento para celebrar o colossal impacto que tantas mentes tiveram no vida da nossa espécie, quando nos ajudaram a entender e domesticar fenômenos e processos que moldariam um novo viver (também conhecido como Dia de Darwin).

Dia da colaboração
Relembrando a comovente constatação que nunca fomos os mais fortes, os mais rápidos e (durante muito tempo) os mais inteligentes mas precisamente estas ‘fraquezas’ nos obrigaram a cooperar para prosperar, a nos proteger, a nos sofisticar, a falar.

              Recorrentemente lembrar da nossa origem casuística, das inúmeras situações onde nossa existência como raça foi exposta a perigos imponderáveis, é posicionar-se com propriedade no grande panorama das coisas. Lembrar, não com medo mas com respeito, da frugalidade do momento em que vivemos, do diminuto impacto da nossa presença no universo e, ao mesmo tempo, do fato que isto não é o máximo que conseguiremos ser, é um lembrete útil e necessário para toda e qualquer geração. Quem sabe um dia alguém ainda venderá camisas com o emblema ‘Homo Sapiens’ e não será considerado sexista ou homofóbico.

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Atualizado em: Qua 4 Nov 2020

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