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Entre o vale, a minha cidade!

Com saudade no peito, avisto de longe as terras que nasci e, graças aos meus pais, cresci, com pouco, mas o suficiente para sobreviver e tornar o homem que sou. Não foi fácil, nunca tive sequer um brinquedo que as crianças de hoje em dia têm, contudo, isso não me impediu de ter uma infância relativamente feliz, de brincar, de correr entre os campos e subir nas árvores, muito menos de nadar no rio que cortava a cidade quando estava livre do trabalho pesado que tinha que exercer.

Cresci trabalhando. Com o tempo as dores da vida ia e vinha, no entanto, eu não podia me abater, tinha um lar para ajudar a cuidar. Papai, um homem de cinquenta e três anos, forte e trabalhador, seguiu um caminho que só ele poderia fazer. Ainda me lembro bem que uma semana antes de sua partida, disse-me enquanto estava escorado na velha batente da porta, fumando um cigarro de palha:

“Filho, ainda espero poder ver o desenvolvimento que os grandes políticos insistem em dizer que fazem para os pobres, nos seus discursos vazios”. Assenti. Tudo que eu gostaria era que as coisas mudassem, que não existisse a dor do interior. Tudo que mais queria era não sermos esquecidos porque somos quem somos. Novamente não pude me abater, por mais que aquela conversa me lembrasse de algumas amarguras da vida de quem vivia no interior. Infelizmente, seis meses depois, mamãe seguiu meu querido pai, lamentavelmente antes de realizar seu sonho de terminar o fundamental.

Hoje, depois de trinta e seis anos, volto para minha cidade. Sem estudos e sem fortuna, mas com riqueza de esperança que as próximas gerações não tenham que machucar as mãos para sobreviver.

Dou um largo sorriso ao ver de longe, pelas janelas embaçadas do ônibus, o povoado que antes era pequenino, embocado entre o vale, tornar-se grande. Há muito o que mudar, ainda sim, queria que papai visse os grandes prédios e ruas asfaltadas que agora fazem parte do dia a dia da nossa querida cidade.

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Atualizado em: Seg 6 Jul 2020

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