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Deixe o Karl cair Parte 2 - Cap.1

Dando sequência aos bois vamos continuar essa história de merda.
O que vocês querem saber primeiro? Ah, como foi que eu decidi ser desejada ao invés de descartada? Essa parte é boa, muito boa. Estou rindo agora, pena que não pode ouvir. Rio porque me divirto com as memórias desses meus 14/15 anos...
Eu fiz 14 em 2015, de verdade não lembro o que teve de importante nesse ano; acho que a única coisa que um bom brasileiro médio se lembra é de ter sido o ano posterior a perda de 7 a 1 nas oitavas de final do futebol para a Alemanha.
O país estava tão doido que nem os comerciais e as propagandas ousavam usar marketing com homens ou mulheres (mas principalmente homens), brancos caucasianos ou loiros dos olhos claros. Foi uma neura generalizada causada por um país minúsculo e poderoso, mas impotente a qualquer relação do Brasil de ter estragado tudo, tu-do.
No dia anterior ao jogo, (vale ressaltar, desculpa a enrolação) um repórter e redator publicou o texto de que a partida havia sido comprada pela Alemanha, e que qualquer titular brasileiro que quisesse ir contra isso teria seu contrato cancelado e desfeito.
Tenho certeza que pouquíssima gente leu isso. Mas se o cara que escreveu essa notícia estiver lendo isso agora, eu afirmo: eu acredito em você.
No início do ano de 2015 eu estava começando a famosa sétima série, que caso você não saiba, é o atual oitavo ano e também a série mais temidapor to-dos os estudantes brasileiros.
Por que? Porque todos que passam por ela dizem: “é a mais difícil de todas.” E, incrivelmente, consegue ser mais temida que o próprio Ensino Médio sucateado dessa nação. Incrível, muito incrível.
Para a minha total infelicidade como sempre, o primeiro dia de aula me mostrou que eu havia voltado à “turma avançada”. Para os avoados de plantão, esse era um estilo de classe que casava maiores médias com melhores disciplinas (comportamentais).
Salvo raras exceções, como o Stockler, que era tipo um político: tinha mão dele em tudo que era errado sobre a face da terra, mas ninguém conseguia provar. Eu conseguia, mas ele não merecia punição nenhuma, só se sentia feliz fazendo as coisas do seu modo, custe o que custar.
Eu sempre tive muitos amigos, os adultos insistem em dizer que amigo de verdade não passa de 10, (ou seria 5?) mas para sua tristeza de meia experiência de vida, eu discordo plenamente.
Um adulto típico avalia uma  amizade através de dois ângulos: o ângulo dele e o “onicivo”, que eu chamo assim por ser a visão mais onisciente que ele pode ter da situação.
Eu explico: é a visão dos outros. A exoanálise que ele mesmo faz tentando ver a si em 3ª pessoa. Nem preciso dizer o quanto isso é ridículo. Se ainda não se deu conta, esse escrito vai fazê-lo encontrar a visão crítica perdida em sua personalidade. Eu te garanto isso, perfeitamente.
O colégio fazia a vida parecer uma trama digna de novela mexicana: por ser enorme, sempre ter estrangeiros e aspirar a aquele sentimento de “sonho americano”, que você conhece bem. Nem preciso dizer de quem é a culpa, é obvio que é dos Estados Unidos.
Posso dizer que sinto muita falta dessa época, não porque eu era mais jovem ou pelo fato de que eu tinha um corpinho maravilhoso que não aproveita, (bom, talvez) o que sinto mais falta é do meu total prazer na vida. Salvo raras exceções, isso nos leva ao primeiro capítulo.
           
PAGANDO POR NOTA
Que título mais chamativo, não é? Mas eu precisava chamar sua atenção de alguma forma, histórias sobre uma adolescente em crise não costumam ser o objetivo de leitura da maioria.
Assim como um texto dissertativo-argumentativo, (que,  diga-se de passagem, eu odeio fazer) vou começar esse capítulo com uma pergunta e uma reflexão, em que eu só te dou a resposta no final: Será que a carente por nota era eu? Here we go, façam suas apostas!
Até onde me lembro, foi na sétima serie que peguei minha primeira recuperação, que na verdade foi um combo: primeiras recuperações.
Apesar dos apesares, essas matérias eram matemática e geografia. E esse começo trata-se de uma que já não existe mais em muitas escolas. Obrigatórias no ensino médio por causa do ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio.
O ENEM é só mais uma das injustiças do Brasil. E dá pra escrever uma coletânea maior do que  a de Percy Jackson com elas.
Talvez você meu caro favorecido, não concorde com esse ponto de vista, mas ok, “that’s the way the life is” ou se preferir  “c’est La vie”. São frases que as pessoas dizem para justificar o injustificável. Sem mais delongas, foco no título e desenrolemos essa memória.
Eu sentava atrás do Warley nessa época, e o Warley é o tip de coisa que podemos chamar de “figura”, mas isso é muito antiquado, então prefiro chamar ele de um palhaço genial, digamos assim.
Durante muito tempo, muito tempo mesmo, eu consegui convencer a mim e outros colegas dos quais não lembro o nome, de um apelido que eu dei pra ele. Tentem não me julgar, mas eu não sabia o nome desse brinquedo do Toy Story, então eu chamava de “dinossauro verde do Toy Story”; e o chamava assim justamente por ele parecer muito com o dinossauro.
Ok , aceito entender se estiverem confusos com a descrição, por isso mesmo abrindo a possibilidade de os deixarem mais confusos ainda, vou fazer um desenho de como é esse tiranossauro (olha, eu te aconselho a pesquisar isso antes de qualquer coisa).
Acho que deu pra entender, eu espero. O fato do Warley ser muito mais amigo dos meninos do que das meninas fazia com que dificilmente uma atravessasse a sala e fosse ir falar diretamente só comigo no fundão.
Bom, isso meio que não impediu a Luísa de fazê-lo.
Luísa era uma das meninas mais bonitas da escola, e sendo bonita atendia ao clichê de não se achar bonita, mas sim perfeitamente normal.
Nossa brilhante cultura em massa exportada dos States com um cheiro de Disney, que de alguma forma inconsciente, ditava a ideia da beleza caucasiana estilo puritano do Adolfinho: loiro dos olhos azuis. Era claramente o êxtase da beleza de boa aparência.
E a Luísa era EXATAMENTE isso. Além desse fator, a família dela era uma espécie de classe média alta que oscilava entre isso e “oficialmente ricos, uhul!” que dava um bônus fantástico de popularidade.
Essa fama que ela adquiriu sem querer e nem perceber, deve tê-la feito parecer intocável pra muita gente. Mas sejamos realistas, esse conceito de superioridade de colégio não existe, ou só existe se há idiotas que sustentam a ideia. É claro que havia idiotas que sustentavam a ideia.
Eu me tornei próxima dela na quarta série, foi bem de repente e não sei explicar exatamente o motivo disso.
Eu era uma das garotas mais conhecidas, mas sinceramente eu não sei o por quê, o único motivo para isso devia ao fato de eu ser assustadoramente inteligente. Ah, e eu também explicava a matéria pra quem não sabia, durante meu tempo livre.
Agora você já sabe quem é a Luísa, como eu a conheci e “papapa pipipi popopo” (esse é só um blá blá blá chique). Com tudo isso, podemos voltar ao contexto de 2015, sexta série.
Quando ela estava vindo na minha direção, imaginei que devia ser pra me perguntar alguma coisa sobre uma aula que tinha perdido ou vomitar informações sobre algum evento da escola, que geralmente era de caridade. Ironicamente a responsabilidade toda e as ações ficavam por conta dos alunos. Só tinha uma superior por perto pra agir tipo: “Helloo! O colégio está patrocinando, tudo isso é graças à infinita bondade do corpo docente!”. As vezes me pergunto como eu aguentava isso, sério.
Mas aquela antiga amiga minha havia aparecido na minha frente pra me pedir um favor. Ela me perguntou se eu tinha feito o trabalho de filosofia, e dã, eu fazia todos sempre antes do prazo, muito responsável a minha pessoa. Estou dando tapinhas motivacionais imaginários nas minhas costas agora; a filha do ano, merece um troféu.
Então depois de eu afirmar que o tinha feito, ela pediu pra eu pôr o nome dela nele, Honestamente, eu já tinha feito esse favor pra muitas pessoas e não me incomodava, até porque se eu não fosse tão perfeccionista e medrosa, agiria da mesma forma. Mas se eu não fizesse o trabalho, não teria pra quem pedir esse favor, pois todos os meus amigos eram procrastinadores profissionais, com mestrado e tudo.
Até aí tudo bem, mesmo estranhando o fato dela não tê-lo feito, concordei. Luísa que estava em pé em frente à minha mesa, inclinou-se um pouco e deixou uma moeda de 1 real ali em cima. Naquele segundo houve alguns pensamentos na minha cabeça, o primeiro foi: ela tá me pagando? Não consegue acreditar que eu faria um favor desses por ela? E o segundo foi: quão miserável essa garota acha que sou pra pensar que uma moeda de um real mudaria minha vida? Será que me enxerga como um miserável?Que idiota.
Eu recusei o dinheiro e disse que não precisava, devolvi na mão dela, e a Luísa voltou a pôr na mesa, e disse que “não, eu quero te pagar, você fez o trabalho sozinha”. Eu disse “tudo bem”, ela sorriu e agradeceu, então voltou para o seu lugar.
Foi aí que eu percebi que a nossa amizade não existia mais, peguei a minha caneta vermelha e escrevi na frente do meu nome “ e Luísa Roriz”.
Foi um dia muito desconfortável, eu cheguei a falar com ela uns quase quatro anos depois, e foi por mensagem. Eu sabia que de alguma maneira a Luísa não achava certo ser minha amiga, ou eu a intimidava bastante, pois sempre desviava o olhar quando eu sustentava o dela.
Chega dessa rasgação de calcinha melodramática, eu não tive muito tempo pra pensar naquilo, porque naquele mesmo ano eu conheci um dos meus melhores amigos da vida: Vinicius Gregio Carneiro.
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Atualizado em: Ter 10 Mar 2020

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