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Nativo em um idioma que não falo

Ausculto uma música romena cujo significado pouco compreendo, todavia a sinto. O sonido da viola uivando, os suaves sopapos do músico poeta na cachola de seu instrumento, o ritmo que elucida a serenidade do compor, tudo me faz ser nativo em um idioma que não falo. Pois sinto. E sentir, talvez, seja a interpretação mais lúcida de algo que transita na alma e que pode se esvair cordas vocais afora.
O caminho sem órbita da sincronia me leva a um ambiente destituído da dissonância do mundo, apenas tenho a vontade de existir; de crer na própria consciência; de sentir-se parte do verniz natural; de constatar o sistema fluvial sanguíneo esbarrando nas veias do corpo. E quando tudo cessa, quando os batuques no ouvido se desintegram, avisto a plateia se emudecer diante do cosmos que se ofusca como um móvel velho.
Quero o som o mais soante possível, pois me incomoda o barulho ensurdecedor do silêncio humano, a falta de harmonia da gente fosca. Que a surdez me acompanhe na senilidade, mas que as lembranças de que um dia ouvi sinfonias que ampliaram minha alma estejam de mãos dadas com a matéria que me concerne.

 

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Atualizado em: Qui 27 Jun 2019

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