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O ENSINO - Psicanálise e Filosofia

A dificuldade não está no particular, mas quando se pretende enquadrar o individual no coletivo.
Na sala de aula a dificuldade começa quando o individual se destaca do coletivo, e que por isso cria uma série de complicações ao sistema.
Os temas tratados em particular merecem a nossa atenção, sabendo ou não distinguir as coisas, as atitudes são limitadas a um espaço.
As dificuldades surgem na articulação com os mais diversos assuntos que constituem a vida em sociedade e quando se passa de uma relação restrita a uma relação mais ampla, em que o indivíduo é retirado de uma forma simples de entender as coisas e é colocado perante a complexidade que apresenta alguma dificuldade para entender.
A criança é retirada do seio familiar, que constitui a sua forma simples de entender as coisas, seja qual for o tipo de formação que recebam, e é colocada na escola com filhos de outros Pais, e com responsáveis que não são seus pais, com formações diferenciadas e tenta adaptar-se.
Dá para enxergar de imediato no primeiro dia de aulas aqueles que não aceitam a disciplina do professor, nem têm em consideração os colegas.
A primeira dificuldade para o sistema de ensino surge nesse exato momento.
E as primeiras palavras que são ouvidas é de acusação, que convenhamos não vem acrescentar nada ao que é observado, apenas a constatação que algo não está bem, que em boa verdade deve dizer-se que tem existido algumas tentativas no sentido de inverter uma situação certamente muito difícil.
A outra grande dificuldade que apresenta o sistema, é que toda essa complexidade tende a cair nos braços do professor, que como elemento servidor, tem por dever tal missão, mas que devido às circunstâncias é empurrado, tanto pelos os pais como pelos mais altos responsáveis, a desencantar a varinha mágica que possa solucionar os problemas.
Pede-se muito mais do que os professores podem dar, e os responsáveis dão muito pouco para o que tentam exigir.
A formação de professores não é coisa de menor importância, e nem se deve pedir que gastem o seu salário em cursos extra curriculares na tentativa de melhorar o sistema.
Os generosos e dedicados, certamente com defeitos e virtudes, mas tão humanos quanto todos os outros, são apelidados de vilões na praça pública, desacreditados, quando apenas são vítimas das circunstâncias e da organização.
Apresentamos algumas dificuldades em associar e interligar elementos dispersos, e talvez por isso nunca se falou tanto como hoje em interdisciplinaridade, como forma de harmonizar assuntos especifícos, porque na realidade a relação de algo com alguma coisa parece ser o mais difícil de conseguir.
Esta parece ser uma necessidade sentida, e porque se sente é falada, mas devemos perguntar como relacionar e interligar as coisas, para que seja possível cumprir tal desejo ?
Bastará introduzir disciplinas que possam fazer a ponte entre as matérias específicas e as interligar com o conhecimento universal e mais amplo ?
Sabemos da existência de alunos que nem as matérias específicas lhes desperta a curiosidade pelo o aprendizado, e que por isso a possibilidade de relacionar, integrar ou contextualizar é tarefa impossível por inexistência de conteúdo.
A resposta específica a uma formação familiar, quando ela apresenta os seus alicerces na proibição, na intolerância e na agressão física ou verbal, corta a possibilidade à criança do aprendizado, do experimento, porque foi violentada nos seus princípios de liberdade, e que por isso apresenta dificuldades em libertar-se e o que ela tantas vezes exprime é a sua raiva contida e a impotência.
Quando falamos de princípios e conceitos, eles não nascem de uma idéia que se pretende implantar, mas da sua prática, que leva à formação do indivíduo.
Todos conhecem a lei, mas muitos optam pela transgressão.
Podemos perceber a teoria e a prática, como coisas diferentes.
È perante o ato que o ser humano tenta definir princípios e conceitos.
Olha para o que eu digo, mas não para o que eu faço, é um ditado popular que somente vem dar um traço de verdade ao que atrás foi descrito.
O fato de pensarmos que existe a necessidade da relação e interligação das várias disciplinas que permita o entendimento de como o todo funciona ou tende a funcionar, não significa por si só que tal desejo possa ser alcançado, sem que os passos necessários possam ser dados.
As dificuldades ainda são maiores devido à resistência, como forma natural e existente em qualquer ser humano, que é coisa independente de classes sociais, e que o ser mais ou menos resistente depende da sua formação familiar.
Podemos então perceber que a inteletualidade e o próprio saber fica também de certa forma prejudicado, porque a formação do indivíduo cria uma resistência, mais ou menos intensa, que tende a criar barreiras à comunicação, em que a negação representa o papel principal e impede a visualização de outras perspetivas acerca do mesmo assunto.
Logo, se assim entendermos, a intolerância e a resistência à mudança não é coisa própria de uma determinada classe social, mas que podemos observar em qualquer situação e é independente da inteletualidade, do saber e de bens materiais.
Daniel Colemann, Professor de economia de uma Universidade Norte Americana, vai para alguns anos escreveu um livro em que afirma, que apesar da importância do coeficiente de inteligência, o emocional seria o tempero no ser humano que apresenta condições de afetar o modo como a inteligência pode ser colocada ao serviço do indivíduo e da própria sociedade.
O que podemos observar é que nos tempos que correm o emocional está a ser colocado em cima da mesa seja qual for a disciplina.
A psicanálise no sistema de ensino, tal como a Filosofia, devem ter um papel importante a desempenhar, talvez não tanto como disciplina de estudo, mas como instrumento ao serviço da educação, na tentativa de encontrar um modelo formativo mais adaptado às necessidades humanas.
A psicanálise desde a sua criação por Sigmund Freud, constitui-se fora das Academias e até aos tempos de hoje por aí se mantém, porque sendo um instrumento não deve estar sujeita a regulamentação.
Pura vaidade ou intolerância ?
Nem uma coisa, nem outra. O que se passa na realidade é que o estudo da psicanálise, que para uns é uma ciência, é a própria complexidade em que não existe uma causa e um efeito, mas sim diversas causas que podem causar efeitos tantas vezes diferenciados.
Nada parece existir em absoluto, mas mantém uma relação e interligação com todo o Universo humano, que é a causa de determinado efeito. È portanto a interdisciplinaridade como princípio e conceito, que não pode estar sujeita às amarras de um projeto específico, e em que existe uma mutação constante de elementos, não só provocados pelo o indivíduo como pela sociedade e o próprio ambiente.
Constituiu-se como princípio de humanização, por isso trata das coisas da alma, em que só é possível a socialização numa fase posterior.
Ou seja o indivíduo atormentado tende a não ter vida social ou a confrontar a sociedade com seus próprios problemas.
O ser Psicanalista vem do seu conhecimento, é um estado de alma, que tem a sua origem na multiplicidade, não só perante o que julga saber, mas no aprendizado constante a que se submete por amor.
Por isso Freud afirmou ¨ A psicanálise é, em essência a cura pelo o amor ¨. .
Falar de psicanálise para psicanalistas, ou filosofar para filósofos não causa estranheza, porque a linguagem é a mesma, apenas existem divergências de opiniões, porque estão preparados e são incentivados para a multidisciplinaridade, mas é estranho e aborrecido para qualquer outro indivíduo.
No fundo as queixas que se fazem ouvir encontram-se de acordo com a opinião expressa, em que a integração do indivíduo no meio escolar e na própria sociedade apresenta-se problemática.
A uniformização não é proveniente de uma regra a respeitar mas de uma ordem que deve ser cumprida de uma determinada forma e não através de qualquer outra, que podemos designar por método.
A multiplicidade nos diz que podemos e devemos cumprir a regra, seja qual for a metodologia empregue, desde que o respeito e consideração pelo o outro tenha seu lugar, em que percebe-se a obediência a princípios éticos.
O que podemos observar é que nem sempre a uniformização apresenta princípios éticos e o respeito e consideração pelo o semelhante, e que tal postura é própria de quem sente, ou julga ter poder.
O ensino básico, não apresenta a complexidade didática dos anos posteriores, e o aprendizado é promovido de forma gradual tendo como referência uma unidade, a partir da qual é desenvolvido todo um processo, em que do simples caminhamos para a complexidade, ou seja existe sempre um princípio cuja finalidade é atingir um fim determinado, que neste caso é o saber ler e escrever como finalidade imediata.
O que irá fazer posteriormente com aquilo que aprendeu, não tem propriamente uma relação estreita com o saber, mas com o sentir que deve fazer.
Embora o ensino básico não apresente a complexidade posterior ele revela-se da maior importância, porque a base é projetada no futuro da criança não só enquanto estudante mas também como ser humanizado, o que nos leva por vezes a ficar distraídos.
O ensino básico tem a missão ingrata de conjugar a educação e o ensino, o que aumenta a dificuldade de quem se propõe a tamanha tarefa.
O que é revelado mais à frente na vida do estudante é reflexo do conteúdo administrado na base.
A complexidade de educar e ensinar, reside no tratamento humano dispensado aos novos alunos do ensino básico, que pode impedir ou viabilizar o aprendizado.
A tarefa do professor então começa a ficar complicada, porque lhe é exigido, para além da didática, toda uma série de formação extra curricular, em que tem de ser Filósofo, Psicanalista e professor ao mesmo tempo.
Não basta por isso impor disciplinas ou impor-se, nem atitudes radicais, não basta querer, é necessário perceber se as crianças estão preparadas para as entender.
È na essência um problema estrutural da organização psíquica da criança, que deve ser analisado como tal, na tentativa de adoptar um método adequado às suas condições interiores para que possa evoluir no aprendizado.
Na realidade podemos estar de acordo que a visão que nos pode dar a psicanálise e a Filosofia é bastante ampla, diversificada e abrangente, em que existe uma relação e interligação entre todas as disciplinas, em que a tarefa de levar a cabo um experimento depende da harmonia com outras disciplinas, a que alguns chamam de conhecimento mais elevado, que tem em conta uma visão holística digamos.
Mas a questão não parece que deva ser colocada simplesmente dessa forma, mas no entendimento que a criança e o estudante possa ter acerca daquilo que se está a tentar comunicar, dado que a sua estrutura psíquica é simples, objetiva e ainda não está suficientemente desenvolvida para receber conceitos tão complexos.
Se aqueles que são adultos não apresentam tantas vezes tal compreensão, como exigir que um estudante e uma criança a possa ter ?
Os pais da educação, são os educadores e os professores, os da formação são os pais, logo a questão de uma continuidade de organização psíquica do indivíduo deve ser considerada como prioritária.
Criar rupturas com uma formação familiar exige tempo, cuidado, conhecimentos técnicos e requer uma metodologia adequada, em que todo o radicalismo e falta de preparação tende a resultar em frustração.
O investimento passa sempre pelos os pais da educação e de formação, e não por enquadrar as disciplinas da Filosofia ou até mesmo da psicanálise no próprio sistema.
Não devemos deduzir que elas não são importantes, bem pelo o contrário, mas não parece que possa alterar de forma significativa as condições do aprendizado enquanto mantiver-se o mesmo tipo de organização, tanto social como familiar.
A Filosofia tem sua forma na dialética e no questionamento, coisa que anda arredia do seio familiar, em que a retórica no social aponta para a estética das palavras, do bem falar e convencer por isso, com absoluta ausência do questionamento, em que só é questionável perante a frustração do indivíduo.
Ou seja, tanto a família quanto a sociedade não apresenta seus alicerces no questionamento e na dialética, e a necessidade por tais disciplinas só aparecem quando já nada percebemos dos outros e de nós próprios, por isso considero serem instrumentos e não disciplinas, e só podem ser consideradas disciplinas, quando a organização familiar e social adotar um sistema dialético, reflexivo e de questionamento.
Talvez na Grécia existisse essa noção empírica e os mestres fossem ao mesmo tempo Filósofos e professores.
Por outras palavras , ninguém quer saber e estudar tais disciplinas, enquanto tudo nas suas vidas for movido pelo o conceito da uniformidade.
A interrogação é uma atitude posterior ao ato praticado, e enquanto a satisfação persistir não tem lugar a indagação e a reflexão.
Podemos então constatar que aquilo que é entendido como Filosófico ou psicanalítico tem uma relação estreita com princípios e conceitos, que determina um modo de pensar e agir, que ao não ser incluída na formação, o ser humano não sente a necessidade por ela.
Daí a célebre frase tantas vezes ouvida : Para que serve a Filosofia ?
A introdução dessas disciplinas à posteriori, podem em alguns casos alterar o quadro de formação do indivíduo, mas na maioria tal não acontece, dado o vínculo psíquico adquirido, que continua a ser recalcado no dia a dia no seio familiar e social.
È por isso que a primeira série é importante, porque ainda apanha a criança numa idade em que apresenta um certa plasticidade psíquica.
Talvez o legado da Grécia antiga deva ser recordado e implantado no sistema, embora com as adaptações necessárias.
E porquê esta visão ?
Porque o que o psicanalista observa no contato diário com as pessoas, é que a evolução da criança depende na sua essência da organização familiar, que por sua vez tende a refletir-se no comportamento da criança na escola, em que o professor da primeira série leva com o impato proveniente dessa formação.
A tarefa de ensinar e educar sai prejudicado, porque os Pais tendem a ficar no imobilismo e não pretendem transformar a sua própria forma de estar com seus filhos, não entendendo que são a causa do seu mau estar, mas exigem deles resultados.

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Atualizado em: Seg 8 Set 2008

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