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Temor feminino

 Descobri que estou grávida de dois meses. Eu chorava só de pensar no que poderia vir. Meu temor confirmou-se, é menina! E agora, o que será de minha menina? São tempos difíceis para ser mulher. Medo, angústia, pressão, violência. Ser mulher passou de um simples gênero sexual para uma prova e coragem. Assumir-se mulher é assumir um termo de responsabilidade, é como assinar seu atestado de óbito porque sabe que pode ser vítima fácil da sociedade. Mulher não vive, sobrevive. Temo por minha pequena menininha, que nem veio ao mundo e já sofre com as injustiças diárias que preferimos esconder ao enfrenta-las. ''Compre roupinhas rosas'', ''ensine à portar-se com postura de princesa'', ''não a compre roupas curtas'', ''ensine-a que ela deve obedecer acima de tudo''. Já ouço comentários do tipo. Fico em choque quando descubro que a injustiça é tanta que nem seus direitos minha pequena terá. Será que dependerá de mim ensinar à ela como ''se portar'' perante a sociedade já que a mesma prefere podar nossas meninas no lugar de orientar nossos meninos? Penso em aborto, mas logo descarto a ideia, pois é proibido, é ''crime''. O governo não quer matar, mas mata. Mata centenas por dia, meninas como eu, e seus bebês. E agora? Terei que contar à ela que seu pai desapareceu porque ela foi fruto de um estupro? Como contarei, como ensinarei que ela precisa sobreviver enquanto garotos da idade dela vivem livremente? Pensei demais. E prefiro tirar nossas vidas a ter que orientar minha filha conforme a sociedade, para que ela não passe pelo que passei.
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Atualizado em: Sáb 22 Out 2016

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