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POESIA AGORA
NOSSO ENCONTRO, OU SERIA REENCONTRO
Ela me deu um beijo na boca e eu senti que a vida é oca como a touca de um bebê sem cabeça.
Na falta de coisa melhor pra dizer, e ainda à espera do seu beijo que eu sabia que viria, mas não tão rápido, olhei bem para os cabelos debaixo daquele chapéu e para a boca rasgada e tão bem desenhada, para dizer: sim, é assim que eu gosto desde sempre, desde que trombei com você novamente.
Ela me deu um beijo na boca e tirou todos os cuidados e preconceitos e salamaleque da minha mente deixou que eu ficasse quase tão bem quanto imaginava que um dia ainda pudesse voltar a estar.
Ela me deu um beijo na boca e pediu desculpas pelo atrevimento. Ora, ora que atrevimento bom de lembrar para sempre; mas deu vontade de mais. E mais e mais e mais.
Mas sem falsas nem verdadeiras expectativas, pensei, afinal, porque ela não quer nada, uma grande, nova e arrebatadora paixão, e eu só sei que nada sei.
Mas eu tive mais. E como tive, ah, como tive...
Só não mais do que aquilo que dei, e isso de fato criou a grande parceria, a cumplicidade.
Alguns dias depois, essas emoções ficaram vívidas e presentes como se ontem fosse. Agora, acho que sei muito bem o que sei, e isso, bem ao contrário, não equaciona a questão.
Não.
Tampouco esse sentimento arrebatador que certamente surgiu resolve o que quer que seja.
Apenas constato que essa troca cúmplice e parceira, lado a lado, resultou no que sempre devem redundar os bons e grandes amigos: subiram, desceram, sacolejaram, arrancaram outros tantos beijos e arroubos, e deixaram, de fato, cabeças ocas.
Como que a pairar suavemente numa nuvem branca.
E é essa, apenas essa, é a recordação que vale a pena lembrar.