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A perspectiva de uma flecha

Os cavalos estão à frente. As espadas e os escudos se chocam num segundo que me faz tremer. A luz procura um caminho entre as árvores e ilumina o encontro. Os bárbaros estão aqui. Eles tem olhos imensos, raivosos, quase vermelhos. Estão manchados pelo medo talvez. O medo. A cavalaria segue e os flancos são ocupados. Não posso me mover agora. Espero o vento.

A flecha está no alvo mas prendo a respiração por mais tempo. Minha vítima ainda se move.

Embaixo estão os miseráveis que correm como loucos. Há fogo por todos os lados. Ouço os gritos do general: avancem! Avancem!

Chegam as catapultas. Tenho os braços ainda levantados, as mãos firmes, mas o olhar que divaga. As primerias bolas de fogo são lançadas e passam muito próximas. Tem o zumbido da morte. Ardem como o inferno no inimigo. E não me canso de vê-los gritar de dor.

Há duas lâminas agora no centro. Estamos ao sul e temos visão periférica. As catapultas avançam mais e a infantaria abre caminho. As duas lâminas ainda trocam golpes. São dois grandes. Quando dois grandes se encontram, embaçam os menores assassinos. Alardeiam, com seu atrito, que há uma verdadeira batalha. São como gigantes, são como pilares e pedras. E ali está o coração dos menores. A agonia, a degola. O fraco renasce em frente ao espelho dos titãs.

Um circulo se forma. Os soldados simulam uma luta sem definição para poder observar aquelas duas montanhas que se movem, se abaixam e se contorcem a revelia dos machados e das maças. Os escudos se quebram, o sangue jorra. E ao lado está a miséria, a pusilânimidade, a pequenez que observa.

As torres param por alguns segundos e uma delas desaba. Não é só uma existência que se esvai, mas toda uma esperança que se rompe. E a vingança incendeia a coragem. Os pequeninos avançam rangindo os dentes, sedentos, inconsoláveis. As duas ondas se encontram onde antes havia espaço para dois grandes. O circulo se fecha e recomeça o massacre.

A cavalaria deixou os flancos e retoma caminho pelo centro, debelando os derradeiros bábaros que procuram esconder-se entre os mortos.

Agora tenho-o neste instante esperado. Tenho-o completamente imóvel. Parece respirar com dificuldade. Seu peito está aberto. O corajoso e tenebroso está apenas ali, esperando que termine. Não tenho compaixão, deixo minha mão se abrir enquanto o arco se inclina para frente. A flecha que cruza o campo de batalha, observa-o desde um ângulo privilegiado. Esta flecha é uma nação. Não é um homem. Eu abri minha mão para que as mãos de tantos outros possam balançar as crianças para que elas durmam. Eu abri minha mão para que outras mãos possam se formar.

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Atualizado em: Qua 8 Maio 2013

Comentários  

#1 azara 13-06-2013 11:55
Parabens,gostei.
Abraços.

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