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Fênix - Parte XXII
— Pois não, Fernando... pode falar! — Respondeu-me cordialmente, ainda com aquele sorriso estúpido na cara.
— Bom, não pretendo estragar seu bom humor matinal, mas a conversa é séria e espero que tenha a consciência de não mentir para um homem a beira da morte. — Disse em tom baixo já um pouco cansado da longa rotina de medicamentos.
Leandro não respondeu-me, apenas acenou positivamente com os cenhos franzidos.
— Já percebi seu olhar para Úrsula! Não tente negar! O que deseja com ela?
— Fernando, está enganado... nunca olhei para Úrsula, senão como a esposa de meu paciente. — Respondeu calmamente, mas seus lábios tremiam, era evidente o nervosismo camuflado. Estava mentindo.
— Ainda vai mentir? como tem coragem?
— Fernando, por favor... — Fez sinal com a mão para que eu não me excedesse, mas era impossível, toda a raiva havia me dominado.
— Fala! — Gritei. E uma dor lacerante cortou todo o meu corpo. Ainda assim, prossegui elevando a voz. — Pare de mentir! Aja como homem! Você gosta dela... É evidente! Está esperando o que? Que eu morra? — Gritei sem pensar duas vezes.
Leandro respirou fundo, comprimindo os olhos.
— Quer ouvir a verdade? Ok! Eu passei a amar a Úrsula! Sinto por ela e por essa criança em seu ventre, tudo o que nunca senti por alguém nessa vida! — Nunca me senti tão dividido com o discurso de alguém... Eu o odiava por amá-la a ponto de ter coragem de falar deste modo, o odiava por poder estar ao lado dela o resto da vida, me odiava por estar no meu fim... mas, ao mesmo tempo, meu alívio era inegável. Tinha de admitir que Leandro era uma boa pessoa e de que ele cuidaria das minhas duas preciosidades muito bem, eu não podia e nem tinha o direito de ser egoísta... eles precisavam de Leandro! Respirei fundo e continuei.
— Eu precisava saber disso! — Cerrei os dentes e fixei meu olhar na persiana do quarto. Tentava encontrar forças para continuar o assunto racionalmente.
— Fernando... — Sua voz exala piedade.
— Tudo bem... é, isso mesmo! T-U-D-O B-E-M! — Quase soletrei. — Eu estou no fim, Leandro. Você, melhor do que ninguém, sabe disso! Não serei egoísta. Úrsula e meu filho precisarão de você. Cuide bem deles, por favor! — O implorei.
Leandro abaixou a cabeça respirando fundo e aproximou-se vagarosamente de mim.
— Fernando, tenha a certeza de que se Úrsula me permitir, cuidarei dessa criança como minha filha. Mesmo que ela só me aceite como um amigo. — Fez uma breve pausa, balançando a cabeça negativamente. — Eu duvido de que Úrsula dará chances a outro homem que não seja você! Ela o ama imensamente.
A sua dor, ao concluir a frase, era visível.
— E aí, rapazes? Como estão? Voltei... — Era Úrsula, quem acabava de chegar.