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Fênix - Parte XX
Ao ver Leandro dobrar a esquina, sumindo de meu campo de visão, meu corpo foi inundado por uma onda de medo, pois agora eu estava sozinha naquele lugar em que só havia escuridão e silêncio e temia continuar assim depois que Fernando partisse.
Entrei em casa e o mesmo sentimento me perseguia. Atravessei os cômodos dando uma olhada em como as coisas estavam e tudo o que encontrei foram lugares impecavelmente limpos e sem vida. Pela hora Margarida, a governanta que eu contratara desde que cheguei ao Rio, já devia estar dormindo. Ela sempre me fazia companhia, quando Fernando passava o dia adormecido, porém desta vez, provavelmente ela não imaginara que eu passaria por aqui.
Eu queria ter companhia, porém tinha de contentar-me com as paredes. Fui até ao escritório. Remexi algumas contas que haviam sido pagas e as guardei separando-as por pasta.
Ignorei aqueles papéis antigos virando-me de costas para a escrivaninha decidida a contemplar, através da ampla vidraça, a infinda escuridão que se espalhava sobre o jardim.
Sentia-me inteiramente deslocada, como se aquela não fosse a minha casa. Eu não conseguia reconhecer nada ali.
Eu sentia falta de ter com quem conversar, afinal, eu não tinha amigos nem parentes, a única pessoa que fazia parte da minha vida era Fernando e como seria viver sem ele? Será que eu seria uma boa mãe para essa criança que estava por vir? E ela, será que sentiria a falta de ter um pai?
Eu fazia-me esses questionamentos, mas no fundo eu sabia a resposta de todos eles.
Com quem eu dividiria minhas frustrações e preocupações eu não sabia dizer, mas como dizia minha mãe: “o tempo cura tudo.” E eu sabia que as coisas certas aconteceriam cada uma há seu tempo, sem que nada precisasse ser feito.
O telefone tocou, interrompendo meus pensamentos. Não o atendi, afinal eu já falara com Fernando e eu sabia que ele estava bem. Disso eu tinha certeza, havia apenas alguns minutos que tínhamos nos falado... não podia ter acontecido nada!
Continuei a contemplar a triste beleza da noite. E o telefone não voltou a tocar.