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Fênix - Parte XIX
Andávamos a passos lentos pelo estacionamento. O ar frio da noite tocava o nosso rosto e dava aos meus cabelos uma leve movimentação.
Um arrepio cortou o meu corpo fazendo-me estremecer e meus lábios batiam-se um contra o outro. Eu estava morrendo de frio.
Leandro percebeu que eu estava encolhida demais.
— Está com frio, não é?
— Quase congelando. – Meu queixo bateu mais uma vez e uma rajada de vento chocou-se contra meu corpo. Uma nova tremedeira surgiu.
— Nossa! Seus lábios estão roxos e eu não tenho nem um casaco para te oferecer. – Ele admitiu envergonhado.
— Não tem problema... Eu é que devia ter me lembrado de trazer um.
— Se você não se importar eu posso... – Ele esticou o braço envolvendo-me ao seu lado. – Se importa?
Eu queria dizer que sim, entretanto eu estava com muito frio e o calor que irradiava de seu corpo era muito convidativo.
— Não! – Ele sorriu satisfeito e me guiou para o carro.
Leandro estacionou o carro na garagem.
— Obrigada! Sua companhia foi adorável!
— Faço de minhas as suas palavras. – Ele sorriu dando uma piscadela. – Já que você precisa descansar, eu vou indo... – Ele disse de má vontade.
Eu sentia que ele não queria ir, enquanto eu queria que ele ficasse.
— Não. Fica mais um pouco. – Choraminguei. – Que tal um café?
— Você está falando sério? – Ele não acreditava no que ouvia.
— Seriíssimo. – Confirmei. Leandro Jogou-se contra o meu corpo agarrando-me num abraço de urso e me girando no ar.
— Obrigado, muito obrigado. – Ele havia me pegado desprevenida e eu fiquei sem reação.
— Já pode me soltar. – Brinquei.
— Ah! É verdade! – Ele coçou a cabeça e seu rosto avermelhou-se.
— Vamos entrar?
— É claro!
Leandro falava sem parar durante o tempo em que eu fazia café, porém, por um instante, eu deixei de ouvi-lo. Meus pensamentos estavam longe. Em Fernando, para ser mais exato. Eu precisava saber como ele estava.
— PSIU! – Ouvi chamarem. – Olá, tem alguém aí?
— Hã? – Disse virando-me. Leandro estava bem atrás de mim e me surpreendi ao ver o quão perto ele estava.
— No que você estava pensando? – Sua respiração quente varreu meu rosto. Quase não havia espaço entre nós. Dei um passo para trás instintivamente, mas minhas costas bateram na pia e eu me desequilibrei. Ele me laçou pela cintura com o braço esquerdo apoiando sua mão direita sobre a pia. Deixando-nos numa aproximação perigosa.
Desvencilhei-me dele.
— Eu estava pensando em Fernando. – Respondi sem jeito buscando por ar.
— Ãn... – Ele bufou desapontado. – Você está preocupada, não é?
— Estou. – Assenti.
— Eu devia ter imaginado... Por que você não liga para o quarto dele? Acho que isso te deixará mais tranquila...
— Eu pensei em fazer isso, porém se ele estiver dormindo eu posso acabar acordando-o.
— Acho que eu posso dar um jeito nisso... – Leandro pôs a mão no bolso frontal de sua calça branca puxando um celular. Discou um número e aguardou.
Eu nunca havia notado em como ele era alto, devia medir 1,95m aproximadamente e era extremamente forte, o que fazia com que ele parecesse ainda maior. Leandro trajava uma camisa pólo verde água e calça de linho branca – assim como os sapatos – ambas justas ao seu corpo.
“Não acredito! Eu estou admirando-o? É isso?”
Meu pensamento causou-me repulsa. Eu realmente devia estar enlouquecendo. Grávida do homem que eu amava, entretanto, dando atenção a um estranho enquanto meu marido morria.
“Como eu podia ter aceitado seu convite? Pior... Como pude desejar sua companhia por mais algum tempo? Como pude permitir-me convidá-lo para entrar?”
Isso não estava certo!
Desviei meu olhar dele para a janela, observando o jardim no quintal dos fundos – Eh! Velhos hábitos nunca mudam, eu ainda amava jardinagem.
— Oi, querida! – Ouvi-o dizer. – Está tudo ótimo! Eu só liguei porque preciso de um favor... Não! – Ele riu. – É lógico que eu também queria saber como você está, doçura! – Um nó formou-se em meu estômago. “Ah! Qual é? Ciume é um pouco demais!” Pensei. – Eu queria saber como está um paciente... Eu não quero acordá-lo, foi por isso que te liguei. Imaginei que, talvez, você pudesse ir até ao quarto ver como ele está... É o Fernando Lopes... Sim, sim. Se ele estiver acordado eu quero falar com ele... Tudo bem, eu aguardo. Beijo, até! – Ele desligou.
— E aí? A sua “doçura” – ironizei – vai fazer o quê? – Perguntei casualmente, voltando a encará-lo.
— A minha “doçura” – ele repetiu do mesmo modo que eu havia proferido tal palavra – vai até ao quarto e retornará a ligação para nos dar notícias. Mudando um pouco de assunto, eu acho que senti uma pontada de ciume vindo daí. – Ele apontou em minha direção. – Estou certo?
— Mais errado impossível?! – Trinquei os dentes e me virei novamente para a janela.
— Se você diz, eu acredito. – Ele usou o mesmo tom sedutor que usara no estacionamento do restaurante ao dizer que era o nosso primeiro encontro e foi aproximando-se sorrateiramente de mim.
Eu estava de costas para ele, porém eu podia sentir seu calor cada vez mais próximo de mim e ouvi seus passos lentos e firmes. Não me movi, queria fingir que nada estava acontecendo. Quem sabe ele não desistiria?
Não desistiu.
Suas mãos seguraram meus ombros com firmeza girando-me suavemente até que eu o fitasse. Com o movimento, um cacho do meu cabelo deslizou parando de fronte ao meu rosto. Leandro retirou a mecha do lugar passando-a por detrás de minha orelha e trouxe-me para mais perto de si. Seus olhos percorreram minha face examinando-a minuciosamente e pousaram sobre meus lábios. Um sorriso iluminou seu semblante enquanto ele mantinha-se concentrado em sua observação. De repente seu rosto estava perto demais, quente demais e convidativo demais. Seu nariz tocou minha pele traçando o mesmo caminho de seus olhos, deixando uma trilha formigante por onde passava, até que seus lábios pairaram gentis no canto esquerdo da minha boca e... Seu celular tocou.
— Droga! – Ele murmurou irritado. – Alô! – Atendeu de mal humor. – Ah! Tudo bem. Pode passar. – Ele entregou-me o telefone. – Ele está acordado.
— Alô? – Disse a fraca voz de Fernando do outro lado. – Doutor?
— Não! Sou eu, meu amor! Como você está? – Meus olhos lacrimejaram.
— Eu estou bem e você e o nosso filhote?
— Estamos ótimos! Já estou morrendo de saudade!
— Eu também, mas você precisava mesmo descansar. – Ele deu uma pausa e sua respiração tornou-se pesada. – O pessoal daqui é louco! – Ele riu.
— Por que você diz isso?
— Porque me disseram que era o Dr. Leandro quem queria falar comigo.
— Ah! – Senti um frio na barriga. O que ele acharia dessa situação? Eu não podia mentir! – Eles não estão loucos. É que foi o Dr. Leandro quem ligou. – Admiti. Leandro olhava-me com reprovação e eu sabia que era apenas por causa da sua mania idiota de corrigir-me toda vez que o chamava de doutor.
— Ele ligou? Você está com ele? – Fernando não parecia irritado, só confuso.
— Sim. Ele convenceu-me de que eu deveria ir jantar e descansar. Eu não queria sair daí, queria ficar contigo. Mas, ele insistiu me propondo companhia e eu aceitei. Eu estava desanimada, precisando de alguém para me obrigar a dar a primeira garfada. – Ri.
— Que bom! – Ele parecia realmente feliz. – Pelo menos alguém para te tirar desse quarto!
— Você está desprezando minha companhia? – Fingi-me irritada.
— Claro que não, meu anjo! É que você não pode esquecer-se de cuidar de vocês. Estando aqui, você esquece-se de suas necessidades e preocupa-se demais comigo.
— Tudo bem. Você quer que eu vá para aí te fazer companhia? – Perguntei.
— Não tem necessidade! Logo, eu dormirei. Você precisa passar a noite numa cama confortável.
— Você tem certeza?
— Tenho! Vá lá! Descanse e venha me ver amanhã!
— Está certo. Beijos, se cuida e sonhe comigo, viu?
— Você também, tenha uma ótima noite! E quanto a sonhar contigo, é só o que eu tenho feito. Cuide do nosso filhote e agradeça ao doutor. Diga-lhe que estou muito grato por ele ter cuidado de você. Beijos.
— Pode deixar, tchau.
— Tchau.
— Obrigada. – Agradeci ao Leandro, entregando-lhe o aparelho.
— Estou as suas ordens. – Ele disse.
— Fernando pediu para agradecer-te por ter cuidado de mim. – Sussurrei de má vontade e morrendo de vergonha.
— O quê?! Acho que não ouvi. – Ele riu, divertindo-se com a minha cara.
— Você ouviu o que eu disse e não vou repetir só para satisfazer o seu ego! – Finquei pé.
— Você fica uma gracinha brava desse jeito. – Ele disse afagando meu rosto.
Ignorei a piada e retirei sua mão de mim.
— Já está tarde... Acho melhor você ir... Eu preciso descansar!
— Está me mandando embora?
— Agora estou! – Disse duramente.
— Tudo bem, então. – Ele fez beicinho.
— É sério! Obrigada por tudo! Por me fazer rir, comer e por me ajudar a falar com o Fernando. Muito, muito obrigada mesmo. Não sei o que teria sido da minha noite sem você... – Me aproximei e o envolvi em meu abraço.
— Se todo beicinho obtiver esse resultado, eu usarei essa tática mais vezes. – Ele disse correspondendo ao abraço. – Agora, falando sério, sempre que precisar é só me chamar! Não se preocupe em me incomodar, pois é um imenso prazer poder te ajudar.
— Pode deixar, eu te chamarei. – Assenti.
O levei até ao portão, onde ele se despediu de mim com um beijo na testa e partiu.