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Fênix - Parte XV

Caminhei até a cama na qual Fernando estava aproximando-me ao máximo de seu corpo inerte.

Observei atenta ao aparelho do seu lado, que monitorava cada rastejar de seu coração que tanto se contrastava ao ritmo desordenado do meu.

Seu peito mal se movimentava sob as cobertas e eu vivia cada segundo de aflição que me fazia pensar ver um movimento ali e outro aqui, mesmo sabendo que, possivelmente, ele só acordaria no dia seguinte.

Eu precisava falar e tê-lo como ouvinte. Precisar... Não sei bem se esta é a palavra certa. Entretanto, contar-lhe o que estava acontecendo e o que eu estava sentido tinha uma importância quase vital. Era como se eu, realmente, dependesse daquilo para sobreviver.

“Será que ele me ouviria?” Pensei. “É claro que não! Eu só podia estar ficando louca!” Repreendi-me. “E se ele pudesse me ouvir?” Uma vozinha, lá no fundo, cochichou meio tímida.

Foi, então, que a voz doce de minha mãe veio à minha mente.

“Úrsula, minha filha, peque pelo excesso, mas nunca pelo medo de tentar ou de parecer tola. Pois, um dia você pode acabar arrependendo-se.”

Minha mãe estava certa. Eu não sabia se ele me ouviria, porém eu contava que sim. Não me importava se pareceria idiota, contanto que ele soubesse denossofilhoe do quanto eu estava feliz por ter uma família.

  Abaixei-me perto de sua face deslizando meus dedos por cada centímetro dela. Analisei cada detalhe daquele rosto tranquilo, sem qualquer expressão de dor, gravando-o em minha memória. Percorri sua testa passando pelas sobrancelhas espessas e pouco arqueadas descendo pelo seu nariz perfeitamente delineado e, por fim, traçando seus lábios fartos e macios como seda.

Ele era lindo, mesmo abatido pelo cansaço dos últimos meses. Ainda assim, ele era tão belo quanto no dia em que o conheci há vinte e quatro anos atrás.

— Oi, meu amor! Como eu queria estar olhando em seus olhos agora... – Eu disse deixando que uma lágrima escapasse. – Não sei se já te disse, mas na primeira vez que o vi, eu me perdi aí dentro. – Toquei seus olhos. – Eu havia acabado de acordar de um desmaio e parecia que a força que vinha deles me impedia de desmaiar novamente. Eu sei que parece bobagem, porém foi neles que eu me segurei e desejei nunca mais soltar. Nando, eu sempre quis viver ao seu lado e construir uma família contigo, entretanto, a vida foi nos jogando para lados opostos e agora que eu te tenho aqui, pretendo não deixá-lo partir. Poxa, tudo o que eu sempre sonhei se realizou nesse mês e meio e hoje quando descobri que nós íamos tero nossoprimeiro filho eu fiquei maravilhada, porque tudo estava indo tão bem que eu pensei que iria continuar assim. Podia até imaginar a sua cara de felicidade com essa notícia. Tínhamos um ao outro e o nosso filho, não estávamos mais sozinhos. Sei que você vai ficar feliz, mas você precisa acordar logo! – Exigi, observando-o. Nenhum movimento.

Entreguei-me ao cansaço e deixei-me cair ao seu lado na cama estreita.


— Bom dia! Pensei que você gostaria disso. – Alguém disse. Eu não conseguia reconhecer a voz.

Abri os olhos com cautela para que eles se acostumassem com a claridade do ambiente. Levantei-me e meus olhos encontraram com os do dono daquela voz.

— Bom dia! – Eu disse ao médico com quem eu falara no dia anterior.

— Aceita um café? – Perguntou-me, passando o copo plástico que estava em sua mão estendida.

— Aceito sim, obrigada. Eu estava mesmo precisando.

— Eu sei. – Ele riu. – Você está bem? – Ele parecia preocupado.

— Sem contar a dor de cabeça, eu estou bem sim. – Tomei um gole do café, que estava forte sem muito açúcar. Ideal para meu estado. – Obrigada! – Indiquei-o o copo.

— Não precisa agradecer.

— Me desculpe. Qual é o seu nome? – Franzi a testa, tentando lembrar-me se ele já havia me dito.

— É verdade, nem me apresentei. Prazer em conhecê-la, Leandro. – Ele esticou a mão para cumprimentar-me.

— Úrsula. O prazer é meu. – Eu disse retribuindo o gesto.

Olhei para Fernando.

— O senhor acha que ele vai demorar a acordar?

— Creio que mais uma ou duas horas.

Esse tempo parecia-me uma eternidade.

— Você pode ir para casa comer alguma coisa, trocar de roupa, qualquer novidade eu te ligo. – Ele disse gentilmente.

— Não! Eu preciso estar aqui quando ele acordar. – Rejeitei sua sugestão.

— Como quiser... – Ele deu de ombros. – Só não se esqueça de cuidar desse garotão aí.

— Garotão? Quem disse que é um menino? Está muito cedo para saber.  Só tenho quarenta e cinco dias de gestação. – Falei tudo rápido demais.

— Eu sei disso. É, apenas, um palpite. – Ele deu de ombros. – Já pensou no nome?

— Ainda não. – Admiti.

— Acho que vocês dois deveriam escolher junto um nome feminino e um masculino. Que tal? – Talvez, se outra pessoa falasse isso eu a acharia inconveniente, mas vindo do tom carinhoso de sua voz, eu não era capaz de ter a mesma opinião.

— Nós vamos fazer isso. – Meus olhos brilharam. Eu nunca havia pensado que em tempos como esses nós estaríamos pensando em nomes.


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Atualizado em: Dom 28 Jul 2013

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