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Fênix - Parte XII

Um rio de água límpida e cristalina cortava a clareira onde estávamos. A brisa era leve e as árvores balançavam à sua vontade. Enquanto, a tempestade de raios da manhã perfurava o bloqueio das folhas, banhando a face de Fernando que a encarava de olhos fechados. Ele parecia-me corado como há muito eu não via, eu só não sabia dizer se aquele colorido era devido à felicidade que sentia ou ao calor daquela luz que dava um ar mágico ao lugar.

— Muito obrigado! — Ele disse recostando sua cabeça em meu ombro. — Você não sabe como isso me deixa feliz.

— Por que você quis tanto vir aqui? — Perguntei curiosa.

— Esse lugar é uma história antiga.

— Conte-me, temos muito tempo!

— A história não é longa, só é antiga, minha coisa linda! — Ele riu, piscando para mim.

— Diga-me então! — Eu disse brava com o jeito com que ele estava me enrolando.

— Esse é o lugar aonde eu vinha para pensar em você, pensar no por que a vida era tão injusta, o porquê ela sempre nos separava. Às vezes eu vinha aqui durante a noite, deitava no gramado e ficava observando a lua, imaginando onde e com quem você poderia estar. Sabe, este lugar presenciou todos os meus momentos de tristeza e eu queria levar comigo uma lembrança feliz daqui. — Engoli a seco.

Fitei o chão. A grama era de um verde intenso, o que lembrava a cestas entupidas de comida, toalha xadrez vermelha e branca e, sobretudo, crianças correndo livres com seus bichinhos de estimação, enquanto seus pais as observavam rindo de suas peraltices. Mas, nós não possuíamos nada disso. Éramos, apenas, nós e o barulho da água corrente.

Pensei no quanto a vida durava pouco, no quanto perdíamos tempo com coisas inúteis, deixando as verdadeiramente importantes de lado. Nós podíamos ter construído uma família juntos, porém havíamos deixado as dificuldades nos impedir e agora não tínhamos a ninguém. Éramos inteiramente sozinhos e, no momento, só podíamos contar um com o outro.

Entretanto, a saúde de Fernando era instável e, logo, ele me deixaria. Como eu ia viver? Ele era tudo o que me restava.

Subitamente, minha visão tornou-se embaçada e uma gota escorreu de meus olhos.

— Promete-me uma coisa? — Perguntei com a voz entrecortada.

— Tudo o que eu puder. — Ele disse segurando minha mão direita entre as suas.

— Prometa-me que não vamos complicar demais as coisas. Que vamos ignorar as barreiras que surgirem. Afinal, meu amor, você sabe que, infelizmente, o nosso tempo é curtíssimo e nós não podemos alterar o nosso roteiro.

— Úrsula, não se preocupe com isso, porque tudo o que eu mais quero é tornar as coisas fáceis. Eu sei melhor do que ninguém o quão curto é o nosso tempo e eu quero aproveitá-lo ao máximo do seu lado. E nada irá atrapalhar-nos, meu amor, pois meu coração é e sempre será seu.

— É muito bom ouvir isso, meu anjo, pois eu nunca pensei que seria capaz de amar alguém como eu o amo. E, olha, não importa o que aconteça, eu só quero que saiba que você sempre terá alguém aqui esperando por você.

— Eu sempre soube disso! — Ele disse amavelmente.

Deitamo-nos no gramado e passamos o resto do dia abraçados, admirando o céu de um azul profundo.

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Atualizado em: Dom 28 Jul 2013

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