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Fênix - Parte IX

Estávamos em um corredor escuro, que era iluminado, somente, por uma luz fraca que vinha do final deste.

Eu corria atrás dele, ao mesmo tempo, que eu gritava-o. Mas, Fernando ignorava-me, embora eu soubesse que ele me via, pois de minuto em minuto ele olhava para trás como se me desafiasse.

Continuei gritando por seu nome e percebi que ele ria de mim, enquanto mantinha sua corrida em um ritmo frenético.

Quanto mais eu corria, mais longe dele eu ficava. Sentia-me tentando andar sobre a areia movediça. Eu olhava para minhas pernas ordenando-as a me mover, porém, nenhum esforço era o suficiente.

Por fim, minha voz não saía. E Fernando fugia de mim, até que o perdi do meu campo de visão. Ajoelhei-me, abatida pelo cansaço e vi que estava afundando. Algo começou a sufocar-me e eu não conseguia mais gritar por ajuda.

Subitamente, senti que alguém me puxava pelo cabelo. Eu já respirava melhor. Forcei-me a abrir os olhos e tive de firmá-lo por duas vezes antes de abri-los completamente.

O lugar era claro demais, entretanto eu não o reconhecia, até que o cheiro de éter inundou minha narina fazendo-me lembrar que eu estava no hospital.

Dei-me conta de que tudo havia sido um sonho. Eu estava tão preocupada com Fernando, com medo de que não conseguisse vê-lo com vida novamente, que acabara reproduzindo isso em meu pesadelo.

Obriguei-me a levantar, percebendo que estava na mesma posição na qual adormeci. Meu pescoço estava dolorido e tive de fazer uma força maior para sustentá-lo. Notei, então, que algo realmente se movimentava no meu cabelo e que esse pequeno detalhe havia influenciado no meu sonho, fazendo-me despertar.

Olhei para o alto e fitei um semblante triste acompanhado de um sorriso abatido. Era Fernando quem alisava meus cabelos.

Eu não pude conter-me, a alegria que eu sentia, por tê-lo acariciando-me e sorrindo para mim, não cabia em meu peito.

— Meu amor, como você está? — Perguntei beijando toda a extensão de seu rosto.

— Melhor. — Ele quase sussurrou.

— Estava acordado há muito tempo?

— Não sei te dizer. Estou te olhando dormir desde que acordei e parece que o tempo passou tão rápido. — Ele se esforçou para sorrir. — Não sei como, mas você me parece ainda mais bonita dormindo, se é que isto é possível. — Completou com dificuldade.

— Seu bobo! Há quanto tempo você sabe disso? — Perguntei trocando de assunto.

— Disso o quê? — Fez-se de desentendido.

— Da sua doença!

— Nós não precisamos falar nisso... — Ele fechou os olhos.

— Você sabe disso desde quando você foi me visitar no Rio Grande do Sul, não é?

— Sim. — Ele assentiu de má vontade.

— Por que você fez isso? Não podia ter-me escondido uma coisa dessas! Olha quanto tempo perdemos afastados um do outro!

— Não briga comigo! — Ele fez beicinho.

— Você tinha que ter dito a verdade! — Ignorei sua brincadeira e continuei a falar sério.

— Eu queria me despedir sem te fazer sofrer. Eu não queria que você me visse nesse estado. — Ele abaixou os olhos.

— Eu te entendo. — Parei de falar por um segundo. — Posso te fazer uma pergunta?

— Claro, todas as que você quiser!

— Cadê a Catarina?

— Ela me abandonou assim que descobriu a minha doença. Acho que ela já tinha deixado de gostar de mim há algum tempo. — Ele riu ironicamente.

— E você sente a falta dela, não é? — Balancei a cabeça em sinal de reprovação. — Ah! Desculpe-me! Isso deve ser meio óbvio. Além de ser desnecessário de perguntar. Perdoe-me, não precisa responder. Eu sei a resposta.

— Não! — Ele gritou. — Você não sabe!

— Não?

— Lógico que não! Eu nunca a amei e tenho certeza de que isso era recíproco. Úrsula, eu sempre quis viver ao seu lado! — Ele segurou minha mão.

— Então, por que se casou com ela?

— Pois, pensei que eu nunca mais te veria. Imagina a minha situação... Passei dois anos fora do estado e quando pensei que a veria, descobri que você havia se mudado e não tinha nenhum endereço onde eu pudesse procurá-la... — Ele respirou antes de prosseguir. — Naquele dia, que eu te encontrei na casa dos meus pais eu fiquei louco. Você não sabe como me arrependi de ter me casado.

— E você nem suspeita quanto ciúme eu senti.

— Meu amor, se Catarina não houvesse aparecido, eu tenho certeza de que seria impossível me controlar, pois ficar ao seu lado sem poder tocá-la é, definitivamente, o meu pior castigo. — Iniciou-se uma tosse incessante e ele teve dificuldade de recomeçar a falar.

— Não fala, não. Você vai acabar se cansando. — Minha testa vincou de preocupação.

— Não me importo! Úrsula, eu só queria que soubesse que você foi a única que amei. E se eu pudesse ter uma segunda chance, eu faria tudo diferente. Eu jamais teria saído do seu lado!

— Meu amor... — Eu disse chorando. — Você também foi o único que amei!

Eu aproximei-me de Fernando para beijar seu pálido semblante e ao afastar-me percebi que ele adormecera novamente.

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Atualizado em: Qui 10 Jan 2013

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