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Fênix - Parte VII

Fernando se foi, porém minha vida nunca mais voltou a ser a mesma. Eu deixei de aceitar os convites dos meus amigos, deixei de visitá-los e acabei largando até meu jardim, coisa que eu adorava fazer. Preferia passar todos os dias deitada no sofá, tentando encontrar o cheiro dele ali e me frustrava quando eu percebia que aquela fragrância deliciosa não estava mais impregnada no estofado.

Tentei evitar pensar nele e reverter minhas tristezas em prol das outras pessoas. Candidatei-me a voluntária numa instituição próxima à minha casa e passei a gastar todas as horas do dia lá.

À noite, quando eu tinha que ir para casa e ele me vinha à cabeça, eu procurava maneiras de me convencer de que eu poderia estar errada e que ele me amava como dissera. Nesse tempo, eu questionava-me o porquê ele havia dito ADEUS e não um até breve. Mas, se eu não conseguia nem entender como ia convencer-me? 


Exatamente uma semana, após a ida de Fernando, decidi-me voltar ao Rio de Janeiro e reconstruir minha vida lá.

Eu não poderia viver a vida toda fugindo desse fantasma que trazia tantas recordações, eu tinha de enfrentá-lo.

Despedi-me de meus amigos, vendi minha casa e retornei a minha cidade natal.

Para minha sorte eu havia encontrado uma casa na rua na qual Fernando morava. Levei um tempo até arrumar as minhas coisas e consegui um carro. Porém, assim que pude fui visitar meu “velho amigo” – como ele dissera.

Ao chamá-lo, Fernando apareceu de pronto, mas não me convidou para entrar, apenas demonstrou-se surpreso a me ver.

— Está morando por aqui? — Ele perguntou depois que afirmei que não voltaria para o Rio Grande do Sul.

— Sim, nesta rua. — Ele espantou-se e perguntou em qual casa, após obter sua resposta, bateu a porta prometendo passar por lá mais tarde.

Estranhei seu comportamento e imaginei que Catarina estivesse em casa. Então, me despedi e fui embora.

Horas depois, Fernando chamou-me à porta.

— Entre! – Disse feliz. – Que bom que voc...

— O que te deu para vir morar aqui de novo?! — Ele disse rudemente, interrompendo.

Espantei-me com seu tom de voz.

— Qual é o problema, Fernando? — Eu estava incrédula.

— O que você veio fazer aqui?! — Ele repetiu gritando.

— Olha, se você não está satisfeito com minha presença aqui, vá embora! Eu não me importo com o que você pensa! Sai da minha casa! — Agora era eu quem gritava.

Ele não falou nada, continuou paralisado à minha frente.

— Você acha que eu tenho que te pedir autorização para morar aqui? Só pode estar louco! Esqueceu-se que eu sempre morei neste lugar? Sai daqui Fernando! — Continuei.

De repente, seus olhos, que ainda me observavam, encheram-se d’água. Fernando aproximou-se de mim e segurou meus pulsos com força o suficiente para avermelhá-los.

— O que foi? Vai me bater também? Já não basta a agressão psicológica? — Perguntei indignada.

 — Você não sabe o que está dizendo! — Ele disse com sofreguidão, como se estivesse sentindo uma dor física.

Neste instante, ele chegou sua face para junto da minha, alisando minha pele com a ponta do seu nariz, enquanto suas lágrimas misturavam-se as minhas.

— Perdoe-me, Úrsula. — Ele pediu. — Mas, não volte a me procurar. — Ele disse ainda com sua testa colada a minha.

— Sai daqui! Vá embora! — Eu disse chorando ainda mais.

Entretanto, ele ainda me mantinha junto dele e, agora, eram seus lábios que percorriam meu rosto. Até que estes tocaram os meus. Porém, a raiva que eu sentia dele, não permitia que eu o deixasse beijar-me. Então, o empurrei.

— Tudo bem, Úrsula, mas você ainda vai se arrepender disso. — Ele disse virando-me as costas.

— Isso nunca! — Discordei.

E foi deste jeito que nos falamos pela última vez naquele mês, permanecendo assim pelos próximos dois meses.

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Atualizado em: Qui 10 Jan 2013

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