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Fênix - Parte VI
Estávamos na sala da minha casa, assistindo a um filme, quando Fernando, que estava ao meu lado, pegou no sono. Ele deslizou no sofá e pousou sua cabeça sobre o meu colo. Agora, eu é que não conseguia resistir e pus-me a acariciar seus cabelos fartos e macios, enquanto eu inspirava o perfume que sua pele exalava, embriagando-me. Confesso que vê-lo adormecer aqui, tão perto de mim, reacendeu aquele velho sentimento que estava enterrado em meu peito. Mas eu sabia que aquilo não era bom, afinal Fernando partiria dentro de duas semanas e provavelmente nunca mais nos veríamos. E, apesar disso tudo, eu não conseguia ter um motivo para odiá-lo, o que tornava tudo mais difícil.
Mais tarde, ao passo que jantávamos, aproveitamos para conversar um pouco. O assunto em pauta era a minha vida, pois falar sobre a dele era quase proibido. Cheguei a perguntá-lo o porquê ele havia vindo até aqui, entretanto ele, simplesmente, ignorava-me respondendo com outras perguntas, fazendo-me desistir de interrogá-lo e eu sentia que havia algo de errado que ele não queria me contar.
Amanheci com o brilho fosco do sol despontando no céu entre nuvens, inundando o meu quarto com aquela luz pálida. Levantei-me depressa, a fim de encontrar Fernando dormindo no sofá. Porém, ele não estava lá. Percorri todos os cômodos e, lá estava ele, de pé em frente a pia da cozinha, passando um café.
— Bom dia, minha flor! — Ele disse energicamente.
— Bom dia! — Respondi ainda sonolenta.
— Você estragou toda a minha surpresa... — Ele disse estalando a língua e acenando a cabeça em sinal negativo.
— Surpresa? — Perguntei confusa.
— Exato. — Ele disse apontando-me uma bandeja sobre a mesa.
— Você fez comida para um batalhão! — Franzi a testa.
— Tinha me esquecido o quão exagerada você é. — Ele riu dando de ombros. — Eu pretendia levar ao seu quarto, mas já que você desceu, sente-se que vou te servir! — Ele ordenou.
— Tudo bem, as suas ordens, senhor! — Bati continência.
Iniciamos o café da manhã em silêncio, até que eu o quebrei.
— Fernando, você já pensou como eu vou ficar depois que você for embora? — Quis saber.
— Olha, é sempre bom reviver os velhos tempos e estes dias aqui com você foram ótimos! Juro que se eu pudesse passaria toda a minha vida neste lugar, mas não posso e você terá que se acostumar a viver sem mim, assim como eu terei que me acostumar a não te ver mais.
Eu insisti que não poderia viver sem ele. Então, ele pegou o jornal que estava sobre a mesa, rasgou um pedaço e anotou seu novo endereço.
— Tome isto e me procure quando quiser. — Eu assenti.
Os dias seguintes passaram-se rápido demais. E, logo, Fernando despedia-se de mim, novamente.
Desta vez, levei-o até o aeroporto e, por um momento, senti-me tendo dezoito anos de novo. Os mesmos sentimentos davam piruetas dentro do meu corpo – o medo, a angústia, a raiva, o ciúme e, sobretudo, o amor. Eu nunca havia o esquecido. Eu ainda o amava com a mesma intensidade e, constantemente, tentava encontrá-lo em outros homens – creio que, por isso, nunca tenha sido feliz de verdade. E deixava-o partir, sem fazer nada para impedi-lo.
Fernando envolveu-me em seu abraço, tão forte que eu desejava que ele jamais me soltasse e a única coisa que eu sabia é que eu não queria perdê-lo. Mas, ele já estava indo embora. Foi, então, que ele segurou meu rosto com as duas mãos e me olhou nos olhos.
— Adeus, Úrsula. — Ele disse beijando meu rosto suavemente. — Nunca se esqueça que eu te amo mais do que a mim mesmo!
— Vai ser impossível esquecer! Até por que, eu também te amo demasiadamente, Nando! — Eu o abracei novamente. — Fica! Por favor! — Implorei.
— Entenda, eu não quero e nem posso te fazer sofrer... Eu nunca me perdoaria por isso! — Ele beijou minha tez. — Adeus, meu amor!
— Até breve.