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Fênix - Parte IV

 Em dezembro do ano seguinte, Fernando voltou, porém eu pude notar que ele estava diferente. Eu sentia falta daquele sorriso contagiante, das suas brincadeiras fora de hora e eu percebia que havia algo errado, só não sabia o quê.

Passaram-se duas semanas desde a sua chegada, quando Fernando, finalmente, teve coragem de me contar qual era o seu problema. O qual não era, apenas, dele, mas, meu também, pois ele deveria voltar para Santa Catarina para servir durante mais dois anos. Enchi-me de tristeza, enquanto Fernando deixava-me novamente.  E, desta vez, retribui a gentileza que ele me fizera no ano anterior.

“Querido Fernando, você não sabe o quanto esperei pela sua volta e saber que terei de esperá-lo por mais dois anos entristece-me demasiadamente. Desejo que volte a me escrever em breve e saiba que estarei te esperando por toda a minha vida, se necessário. Da sua tão amada amiga, Úrsula.”

Durante os dois anos em que Fernando passara longe, ele escreveu-me todos os meses, o que supria parte da falta que eu sentia dele.

Veio o ano no qual Fernando estaria volta e eu estava muito feliz, pois o veria. Porém, após a morte do meu pai, minha mãe entrou em depressão... Ela não queria mais se alimentar e já havia tentando o suicídio várias vezes, até que ela conseguiu o que tanto tentara.

 Entrei em desespero, quando dei por mim que meu lar feliz, que desconhecia qualquer sentimento de dor e tristeza havia caído de vez, como um castelo de cartas que cai ao mínimo sopro do vento.

 Dias depois ocorrera o enterro da minha mãe e, ao fim deste, tive de ir morar com uma tia numa cidade distante.

Eu tinha vinte anos, então, e minha única parenta viva era a tia Júlia, a quem eu desejava muito bem, mas a saudade que eu sentia de Fernando era irremediável. E, infelizmente, por aquele ano, eu não tive mais contato com ele.

Após meu aniversário de vinte e cinco anos voltei a morar em meu antigo lar. Minha vontade de ver Fernando era imensa, mas descobri que ele voltara para Santa Catarina quando soube que eu havia me mudado. Minhas expectativas de revê-lo estavam desaparecendo, eu já havia me conformado com a nossa separação e sabia que isso poderia ser permanente. Mas, subitamente me vi tendo uma segunda chance.

Era um dia chuvoso. Eu me encontrava no jardim da casa dos pais de Fernando, após uma visita, quando o reencontrei. Meu ser encheu-se de uma alegria súbita. Ele estava tão mudado, tão mais bonito. Seu físico estava extremamente desenvolvido e sua pele adquirira um lindo bronze dourado. E, apesar disso tudo, ele continuava o mesmo Fernando, o seu sorriso inocente era tão encantador quanto antes e o seu jeito lembrava o mesmo menino de tempos atrás. Eu fiquei sem ar e não pude controlar as minhas emoções. Parti em sua direção e me joguei contra seu corpo com tanta vontade de envolvê-lo em meu abraço que nem percebi seu leve cambalear, só notei o que estava acontecendo quando já estávamos rolando no chão em meio às gargalhadas.

De repente paramos de rolar. O meu corpo estava sobre o dele e Fernando olhava-me sério. Eu sentia que ele analisava cada traço de minha face e eu fazia o mesmo. Nossos rostos aproximavam-se e eu esperava, há muito, pelo que estava por vir, quando fomos interrompidos por uma voz feminina nada familiar. Ele levantou-se de pronto, totalmente desajeitado e foi neste momento que meu mundo desmoronou com as palavras que saíram de sua boca. “Oi, essa é a minha irmãzinha Úrsula.” Ele disse abraçando-me ao seu lado. “Úrsula, essa é a minha esposa Catarina.” “Oi.” Ela disse sorrindo. 
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Atualizado em: Sáb 28 Jul 2012

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