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Fênix - Parte III
Meses depois, descobri que meus sentimentos por Fernando eram recíprocos, entretanto, não tínhamos coragem de admitir e, mais uma vez, a vida encarregava-se de nos separar.
Logo, chegou os dezoito anos de Fernando e com ele o alistamento militar, obrigatoriedade para qualquer garoto desta faixa etária. Mas para Fernando era mais que isso, era o prazer de proteger a sua pátria, de dar seu sangue por ela. E, foi este mesmo sentimento que o convenceu a entrar para a Marinha quando fora convocado.
Lembro-me com exatidão daquele sorriso caloroso de felicidade, que quase se equiparava a uma manhã ensolarada e que me contagiava plenamente, me fazendo esquecer a má notícia que com ele viera.
Fernando havia ficado tão maravilhado com a idéia de ser marinheiro que nem pensara nas consequências, mas, então, descobrira que deveria servir um ano em outro estado.
Santa Catarina... O lugar no qual pretendíamos ter o nosso sítio. Não que planejássemos casar. Não, isso não foi cogitado em momento algum. Quer dizer, pelo menos, não foi verbalizado. Mas, ele iria para lá, há quilômetros de mim. E no nosso tempo não tínhamos a facilidade da internet como temos hoje.
Será que ele não pensava em mim? Em como eu morreria de saudades? Ou pior. Será que ele não sentiria saudades?
Pensar assim me magoava mais do que a distância que enfrentaríamos. Mas, poderíamos enfrentá-la? Bem, eu tinha as minhas dúvidas, afinal nos conhecíamos há anos e nenhum dos dois havia pronunciado sequer uma palavra sobre o assunto.
Eu queria ir até ele e assumir que o amava, porém, eu não tinha coragem para confessar. E, embora, eu soubesse que deveria praticar tal ato para tê-lo o mais perto o possível, eu só conseguia sentir o desespero se alastrando pelo meu corpo gélido.
Uma ansiedade estranha fazia um cala frio correr dentro de mim, revirando meu estômago como se um buraco fosse se abrir ali. E eu sabia exatamente o que era aquilo. Era o medo de perdê-lo para sempre!
Fernando foi-se no verão seguinte, sem que nada fosse dito em relação ao que sentíamos e tudo o que me restou foi um bilhete que ele me entregara na despedida, acompanhado de um abraço tão forte que mais parecia um adeus, fazendo-me jurar que só o leria em casa e eu tive de concordar.
Ao chegar a meu lar, sentei-me em meu quarto aos prantos e abri o bilhete que dizia: “Querida Úrsula, desculpe-me por ter de deixá-la. Juro que se soubesse que teria de ir para tão longe não teria optado por este caminho tão doloroso. Peço que me perdoe. Voltarei dentro de um ano. Por favor, espere por mim. De seu tão amado amigo, Fernando.”
Ao alcançar o seu nome, notei o papel manchado pelas lágrimas e culpei-me por não ter feito o mesmo por ele. Por não ter escrito uma carta para consolá-lo, assim como ele havia feito por mim. E, ternamente grata, adormeci sobre o bilhete, desejando tê-lo, ao menos, em meus sonhos.