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Fênix - Parte I
PARTE I – PRÓLOGO
O telefone tocava insistente, enquanto eu relutava em atendê-lo.
Limitei-me em contemplar, através da vidraça de meu escritório, o jardim de minha casa amplamente iluminado pelo luar da meia-noite.
Ainda sentada em minha confortável poltrona de couro, observei rapidamente os cômodos já apagados pela velha governanta. E durante um pequeno instante mantive-me olhando a pálida luz do abajur na escrivaninha, agradecendo por estar só, neste momento, em que as lágrimas teimavam em se derramar de meus velhos e abatidos olhos.
O telefone voltou a tocar.
Eu não queria atendê-lo e isso era irrevogável. Irrevogável. Temia ter uma má notícia.
Meus olhos, mais uma vez, vasculhavam o jardim, o teto, a escrivaninha e meus livros. Entretanto, minha visão turva pelas lágrimas não me permitiam ver detalhes. Mas, para que eu quereria saber de detalhes? Eu já conhecia tudo ali. Sabia o nome de cada livro que continha nas estantes, a cor de cada detalhe do grande afresco do teto e cada flor que habitava aquele lugar, agora, monótono à minha frente.
O telefone ainda tocava.
E se realmente fosse uma má notícia? E se fosse minha única chance de vê-lo? Escorreguei meus dedos pela borda do móvel pegando o telefone, ainda indecisa. Foi quando confirmei minhas tristes expectativas.
Eu tinha de vê-lo! Pulei da poltrona, corri até o carro e dirigi o mais rápido que pude pelas estradas escuras e sinuosas. Ansiava por tê-lo em meus braços, tocar seus cabelos e segurar suas mãos débeis. Tinha pleno conhecimento de que não me ouviria, porém eu falaria mesmo assim. Contaria a ele sobre toda a minha frustração por tê-lo naquele estado, dir-lhe-ia quantas lágrimas haviam sido derramadas e quantos telefonemas havia negado-me a atender. Mas, isso não importava tanto. O que realmente queria era falar-lhe dos meus sentimentos. Sentimentos tão avessos devotados a ele: o amor e o ódio.
Sei que o que digo agora é uma grande antítese, mas creio que logo hão de me compreender.