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Bora pintar um Pollock?

Bora já deixar avisado: o texto de hoje é continuação do da semana passada! Então, a gente sugere, aconselha, indica e orienta a leitura em ordem cronológica pra poder conhecer a história completa. Mas, se quiser viver só o agora, cai pra dentro, que o texto tá a sua cara...

- Pollock? 
- Quem é esse cara?
- Nunca ouvi falar!
- Nunca vi um quadro desse cara!
- Pintava o quê, esse maluco?
- Jackson Pollock, meninas e meninos! Um dos criadores - e considerado O Top - do Expressionismo Abstrato! O Diferentão! O cara que bolou um jeito de pintar totalmente fora da curva!
- Aê, Professor! Sem novidade! Todo pintor que você bota na banca pra gente contextualizar é fora da casinha! Qual é a do cara?
- Tá certo, Presidente! O Professor só envolve nóis com os extraterrestre mesmo! 
- Pior que cada um é de um planeta, Mano! 
- E esse? Veio de onde, Professor?
- Ah, meus queridos! Vocês é que são de outra galáxia! Vou mandar uma real pra vocês: Educador Social ganha pouco, mas essa resenha tem um valor inestimável! Isso é o puro creme da realização!
- Mas não é o que há, Brô? Vai vendo quem a gente já pintou: Renoir, Volpi, Kandinsky, Cézanne, Tarsila, Monet, Portinari, Van Gogh, Anita Malfatti, Degas! Tudo gênio! Tudo de outro mundo, Tio!
- Verdade mesmo, Djow! Todos diferenciados! Cada um deles com seu estilo, cada um deles com sua marca pessoal, cada um deles único...
- Então, Professor! Qual é a do tal do Pollock, aí?
- Ah, Witney! Pollock foi além! Transcendeu na maneira de pintar! Pra começar, abandonou o cavalete! A tela ficava no chão, na horizontal! 
- Então ele pintava deitado?
- Pior que não! Ele usava a técnica do Gotejamento, o Dripping! Derramava a tinta sobre a tela, criando composições imprevisíveis!
- E a gente vai fazer essa fita também? 
- Só vão! E vão com tudo! No mesmo grau do Pollock, dentro das nossas possibilidades, é claro! Porque os quadros do cara eram enormes - dois, três, quatro metros - e isso a gente não vai ter como igualar...
- Dá nada não, Professor! A gente se joga nas nossa telinha do mesmo jeito! Com tudo e mais tudo! 
- Falou tudo, Berenice! Se jogar! Porque era isso mesmo que o Pollock fazia quando pintava! Por causa do tamanho da tela, ele tinha que literalmente entrar na obra! Tinha que caminhar sobre o quadro, pra poder espalhar a tinta por toda a superfície! 
- E como ele fazia? Jogava a tinta com pincel? Ou com a mão mesmo?
- Ele usava o pincel, mas daqueles monstros, no naipe das brochas dos pintores de paredes! Mas também fazia furos no fundo das latas de tinta! E aí, andando pelo quadro, ia preenchendo os espaços com o vazamento gradual do líquido...
- Que louco, Véio!
- E tem mais! O principal instrumento que Pollock usava pra pintar era o seu próprio corpo! Ele fazia movimentos amplos, ritmados, tinha todo um ritual de gestos pra fazer os pontos, as linhas, as texturas! Essa técnica acabou sendo chamada de Action Painting - Pintura de Ação!
- Fala sério, Professor! O maluco pintava dançando! E dentro do quadro!
- Pra jogar todo o seu sentimento na tela! Sem planejamento prévio! Sem cálculo matemático! Sem pensar em nada! No impulso! Pra retratar a sensação do agora! É ou não é o puro creme do Expressionismo Abstrato?
- E a gente vai fazer essa fita também?
- Só vão! E vão com tudo!
- Caramba! Que maneiro! Ele devia ficar todo pintado também, né?
- Pois é! Quando terminava as obras, ele fazia fotos que mostram bem o estado do cidadão depois do baile!
- Ah, queria ver esse cara em ação, fazendo a parada ao vivo...
- Então, Perfume! Em tempo real não tem como, mas vocês todos vão poder ver o Pollock pintando! É que tem o filme! Ed Harris foi indicado ao Oscar de melhor ator vivendo o Pollock na telona! E olha que coincidência: vai passar amanhã aqui no Projeto...
O filme causou!
As duas turmas assistiram sem piscar! E se envolveram com a história do cara! 
Se encantaram com a catarse de Pollock ao pintar! Se sensibilizaram com as inúmeras derrotas, tentativas de recuperação e recaídas na batalha contra o álcool e as drogas!
Se decepcionaram e se revoltaram com a ingratidão do pintor, que traiu a esposa - Lee Krasner - também pintora, que praticamente abriu mão da própria carreira pra fazer tudo e mais tudo pra mostrar pro mundo o talento de Pollock!
E se emocionaram com a cena do acidente! E se derreteram com a cena do acidente! Pensa numa choradeira...
- Aí, Professor! De repente tô até viajando mais que o Pollock nas pintura dele, mas, assim, aqui na minha mente, tô meio que achando que essa trombada aí foi por querer, não foi não?
- Então, Kerolaine! Pelo contexto da história, dá a entender mesmo que ele partiu pro suicídio quando caiu na real que a Lee não ia mais voltar pra ele, né?
- Mano! Pensa num cara Vida Lôka! Aí multiplica pelo infinito ao cubo: vai dar o Pollock!
- É, pessoal! Tô vendo que já tá todo mundo bem mais que preparado e com o tanque bem cheio de sentimento pra extravasar! E aí, bora pintar um Pollock?
- Demorou, Professor! Bora pra ação!
- Bora pra Pintura de Ação!
- Ah, já tava quase esquecendo! Vocês viram no filme que o Pollock usava vidro moído pra dar aquele talento nas texturas, né? Mas seria loucura desse Educador pedir pra vocês trazerem vidro pro Projeto...
- Será, Professor? Pra quem ficou com a gente nessa sala, em condições totalmente precárias, naquele temporal de terça? Qual o B.O. do vidro?
- Opa, parou! Paz no coração! O que já passou, passou! Ficou pra trás! Vidro não vai rolar mesmo, não! Mas, vindo pra cá, vi que tem uma obra ali na rua de cima, com um monte de areia lavada na calçada...
- Já é, Professor! Só pegar o balde ali com a Josélia e a gente faz o corre pra pintar com a areia, tá ligado?
- Depois de pedir pro dono da casa, né Tá Ligado?
- Claro, Professor! Tá achando que eu tenho cara de quem chuta areia lavada da obra dos outros? Lógico que a gente só vai pegar a parada se o dono der condição, tá ligado?
- Lógico, Tá Ligado! É lógico! 
- Lógico, né Professor...
- Então pessoal, só mais uma coisa pra lembrar: amanhã, todo mundo com aquela roupa que vai ser usada pela última vez! Por motivos óbvios...
A Oficina de Emoções em que os Feras Contextualistas contextualizaram Jackson Pollock foi a mais emocionante de todas...
O Educador e os adolescentes tiraram da Sala da Fase II - aquela, ela mesma, em condições totalmente precárias - tudo o que deu pra tirar! 
E espalharam as telas pelo chão! E se jogaram pra dentro com tudo e mais tudo!
E pintaram com Gotejamento! Como não tinham latas de tinta pra furar, usaram as mãos mesmo! Enfiavam nos potes de guache e deixavam escorrer nas telas! No puro creme do Dripping-raiz!
E fizeram movimentos amplos, ritmados! Todo o ritual de gestos pra fazer os pontos, as linhas, as texturas! E pintaram dançando! No puro creme do Action Painting!
E jogaram tudo e mais tudo que é sentimento na tela! Sem planejamento prévio! Sem cálculo matemático! Sem pensar em nada! No impulso! Pra retratar a sensação do agora! No puro creme do Expressionismo Abstrato!
Quando terminaram, a Sala da Fase II - aquela, ela mesma, em condições totalmente precárias - tava repleta de obras expressionistas abstratas!
Ah, tinha muito mais que obras expressionistas abstratas na Sala da Fase II!
A Sala da Fase II se transformou numa obra expressionista abstrata! E ficou em condições totalmente extraordinárias!
O chão da Sala da Fase II, as paredes da Sala da Fase II, o teto da Sala da Fase II e até o ventilador da Sala da Fase II - aquele, passando da terceira pra quarta reencarnação, giando numa rotação de cinco voltas por minuto - se transformaram em obras expressionistas abstratas! Tudo virou Pollock!
Inclusive os adolescentes! E o Educador também! Ah, vá! Tá achando que o Educador ia deixar passar a chance de pintar um Pollock? Pintou foi dois! Um com cada turma!
Vai vendo só o que eles fizeram...

















































Dali em diante, pintar um Pollock passou a ter um significado diferente, passou a ser o carimbo de aprovação, o selo de qualidade, concedido pela  unanimidade dos adolescentes, pra feitos excepcionais, pra invertidas espetaculares, pra sacadas geniais, pra conquistas gloriosas, pra avanços improváveis, pra vitórias expressivas...
Pintar um Pollock passou a ser marca registrada de quem pensasse alguma coisa fora da caixinha ou fizesse alguma coisa fora da curva...
Pintar um Pollock virou sinônimo de transcender!
Tirou dez na prova de química que era o puro creme do cálculo estequiométrico? Pintou um Pollock!
Defendeu três pênaltis na decisão da medalha de ouro do futsal na Olimpíada do Programa do Atleta do Futuro, em Rio Claro? Pintou um Pollock!
Passou no processo seletivo da Fundação Mirim? Pintou um Pollock!
Ganhou do Educador nas Damas? Pintou um Pollock!
Encenou uma peça no Teatro Municipal Procópio Ferreira, na Mostra de Teatro Estudantil Timochenco Whebi? Pintou um Pollock!
Deu aquela aula, em plena Fundação Casa de Franco da Rocha, contando como Erastótenes de Cirene mediu a circunferência da Terra, duzentos anos antes de Cristo, com base na sombra de um simples graveto? Pintou um Pollock!
Conseguiu arrancar um empate do Educador, com um gol no último lance, no futebol de botão? Pintou um Pollock!
Conseguiu completar todas as etapas do processo de formação da Fundação Mirim, com notas azuis em todas as matérias na escola, com frequência de pelo menos noventa porcento nos cursos, adquirindo conhecimentos e desenvolvendo habilidades, mergulhando de ponta no empreendedorismo, exercendo liderança e promovendo engajamento nas atividades comunitárias? Pintou um Pollock!
Pintou um Pollock? Pintou um Pollock!
E aí, bora pintar um Pollock?
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Atualizado em: Seg 14 Abr 2025

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