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Quando eu era nada

Eu era só madeira, assim que me chamavam: madeira. Estava destinado a ser algo, talvez uma
mesa, uma cadeira, um minhaeiro bem enfeitadinho e cheio de moedas, poderia também ser
apenas prateleiras e se o fosse preferia segurar livros, os acho extremamente geniais. Porém,
eu vim a ser algo que a princípio pensei ser mais livre, contudo, enganei-me.

Tornei-me um boneco, mais precisamente uma marionete, pensei que com pernas eu poderia andar, com mãos
poderia aplaudir, e poderia ser como meu criador, que demorou muito em fazer-me e isso
frustrou-me, pois achei que nunca seria algo, por ora ainda acho que não sou. Fui iludido a
pensar que era alguma coisa e a cada esculpida achei que me tornaria único que só haveria uma
versão única de mim, estava enganado, haviam outros de mim pintados diferentes, porém em
essência éramos os mesmos.

Quando finalmente achei que um dia andaria como os que pensava serem meus semelhantes,
puseram-me cordas. Cordas! Como puderam prender-me? O que eu fiz? Não pedi para estar
aqui e agora me condenam. Eu sabia que estar preso não era algo bom, já que eles viviam
dizendo que eram livres e falavam sobre liberdade e eu também quis tê-la, mas roubaram de
mim e agora estou preso com cordas. Cordas! Elas sustentam-me, se alguém não me segurar
eu caio e ainda me fazem com tais vozes terríveis e nasaladas. Tentei fugir, contudo fora em
vão, pois estava preso com cordas.

Cordas! Cordas? Cordas. Tive que aceitar minha condição.

Colocaram-me em um lugar que chamam de palco e fizeram-me fazer e falar um monte de
baboseiras e humilharam-me, várias mini pessoas riram de mim, coisas escorriam das suas
janelas, os olhos, pareciam estar fechados, pois não viam que eu estava sofrendo ali, senti-me
diminuído, pequeno, algo insignificante, senti-me novamente uma madeira, desejei novamente
ser uma madeira , não queria mais ser algo ou nada, cansei. Todavia, eu ainda era só cordas,
que controlavam meus movimentos e eu tentava retroceder, era tudo em vão. Tanto esforço
para nada e nada. Eu dei para eles muitos daqueles troços coloridos que fazem os olhos deles
brilharem, mas logo eles chegaram com mais madeiras e umas colocaram para queimar e eu
desejei ter sido uma delas, desejei que minha esperança com eles acabasse ali, em cinzas.
Desejei nunca ter conhecido ser algo ou nada.

Agora eu parei de ser o que queriam, muito pó se encontrava em mim, eles torturaram-me e
largaram-me em cima de uma prateleira e novamente eu queria ser madeira. As outras madeiras
viraram novos “eus” e mais coloridos e mais estranhos, pareciam iguais, porém não eram,
estavam falsamente diferentes e então olhei para mim e eu estava falsamente eu. E uma corda
partiu, meche um braço, um braço! Um braço? Sim, um braço. Fiquei feliz, porém por pouco,
logo pegaram-me e balancei para minha saída eu retrocedi e agora que não precisavam mais de
mim, que me humilharam, que me colocaram cordas, que elas arrebentaram, que me
diminuíram, mataram-me.
Morri! Morri? Morri. Virei mais pó do que os que tinham em mim.
Fiquei feliz, não tinha mais cordas. Contudo, eu queria ter sido algo ou nada, mas não me deram
uma coisa: Oportunidade e então eu retrocedi e deixei até de ser madeira como era. Agora
restou pó, pude andar e bater palmas na minha mais doce ilusão de Pinheiro.
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Atualizado em: Sex 25 Ago 2023

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