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Anjo Ferido

O barulho do carro parando na porta de casa. O som da porta batendo, o som no volume médio, enquanto a rua silenciosa dormia profundamente. Mas Karina não consegue dormir! Debaixo das cobertas ela treme de frio e de medo, morde a boca, aperta o travesseiro contra o seio, enrola e desenrola os cabelos com os dedos, suar frio.
Já são altas horas da madrugada e ela ouve o portão da garagem se abrir e ao mesmo tempo sente o coração se fechar de angústia, seu padrasto está chegando do trabalho, ou quem sabe de um boteco qualquer, ou uma casa onde vivam prostitutas ou quaisquer tipos de vagabundas que existam por aí.
No quarto ao lado o irmão mais novo dorme profundamente, tão pesado que dá para ouvir o chiado do peito do menino. No quarto na parte de baixo, dorme a mãe, profundamente igual ao irmão mais novo, mas em vez de um simples chiado o que se ouve é um ronco ensurdecedor, de estremecer todas as estruturas da casa.
Mas o que a fez realmente estremecer foi o barulho da porta da cozinha se abrindo, dos passos arrastados de chinelos sujos, e da tosse carregada de catarro do peito peludo e nojento do padrasto. A porcaria da porta de seu quarto não tranca por dentro. Esconder-se-ia debaixo da cama na vã esperança de que ele desistisse, pelo menos naquela noite de tentar algo com ela, porém seria em vão.
Toda via ela até tentaria, mas fracassaria em uma tresloucada tentativa. O barulho de mais uma lata de cerveja se abrindo, mais uma, pois, com certeza ele já abrirá várias por aí.
E foi ouvir o passo arrastado do chinelo subindo as escadas que fez seu coração parar de bater e voltar numa arritmia medonha, tristonha; de fazer o coração pulular num vazio medonho.
Quando o padrasto se aproximou de sua porta seu peito inflava e inchava. E quando a maçaneta girou seu mundo rodopiou fazendo capotar toda a fé que ainda existia dentro dela.
- Oi, Karina. – Ele disse.
Seu sorriso era horripilante. Sua boca de hálito podre tentava beijar os lábios quase virgens de Karina. E ela lutou, em vão.
E ele se satisfez. Como um animal faminto devorou sua presa, e sem pressa vestiu-se enquanto e enteada com a roupa rasgada, acuada nada fazia.
E uma lágrima escorreu em seu rosto. O padrasto de pênis ereto na calça sorria enquanto ela chorava.
- Amanhã tem mais. – Ele disse.
Karina começou a se desesperar por dentro. Numa prece agoniada pediu que deus a levasse para bem longe dali e que protegesse a mãe e os irmãos daquele monstro.
Na manhã seguinte com o barulho da porta do quarto se abrindo Karina dormia feito um anjo que ela havia se transformado... FIM...
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Atualizado em: Seg 24 Jul 2023

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