- Contos
- Postado em
A Torre e os Enamorados
Não me recordo exatamente do meu início... Consigo apenas lembrar de quando já me considerava ser algo. Comecei como um aglomerado de rochas incandescente, sendo forjado pelo fogo que transmuta. Em um estado bruto, rústico e primitivo, ainda encontrava-me em minha nebulosa familiar, meu ponto de origem, e com os adventos das radiações cósmicas, dos ventos solares entre outras intervenções naturais, fui me formando.
Possuo anéis de alegria ao meu redor, eles deslumbram e me protegem de turistas inoportunos, detesto turistas - até porque não sou a Disney. Tenho oceanos de sentimentos, com zonas abissais tão profundas e indesbraváveis quanto a subjetividade de um ser, rios de vivências que marcam minha derme - com leitos vívidos -, em que na queda de cada um há a força de minhas cachoeiras, onde abriga o início e o fim dos novos ciclos.
Um dia - por loucura - acabei indo orbitar um corpo celeste desprovido de luz. Por consequência, toda vida que havia em mim foi se esvaindo... Foi uma fase de infortúnios e solidão, nunca imaginei que aprenderia a ser só, mesmo estando acompanhado. Minhas atmosferas já não davam conta de me manter habitável, meus vales foram ficando secos, todo o sentimento que fluía estava se perdendo no espaço, já não via mais promessa de continuidade, pois não podia se quer achar um arco-íris em qualquer canto, independente do quanto procurasse. Com tudo isso fui aumentando a minha órbita, desvencilhando-me naturalmente, para não me destruir. Meus anéis já não tinham brilho, eu não me via, mas sabia que não estava bem.
Coabitando a mesma localização e girando a uma distância de dias luz, segui, segui sem a esperança de mudança, em um estilo bem Clariciano.
Passei algumas poucas vezes por um certo corpo celeste, até que resolvi ir conhecê-lo. Ele era lindo... Uma estrela diferente de todas as outras que habitam o céu, seus raios era suaves e intensos, suas tempestades eram de doçura e atenção, a radiação transmitia reciprocidade, composto de carinho, que queimava paixão.
Extasiado por seu encanto, mesmo distante, comecei a orbita-lo. Adentrando uma rota sem volta, lancei-me nessa empreitada. Pedi o respaldo de minhas luas, que não foram muito claras, mas explicitaram que ali era o meu lugar.
Em uma térmica ascendente, fui mais rápido que um cometa, até que fiquei próximo a ele, parei a minha atenção, não queria perder um só segundo da volúpia de estar na sua companhia. Entre olhos fitados, havia apenas o silencio da imensidão, para que nada interrompesse a linguagem incompreensível a mente que o sentimento do olhar tem. Senti todo o calor do seu afeto, suas palavras fizeram ressurgir a vida em mim, meus campos floriram, meus bosques reavivaram-se, as borboletas voltaram a pairar com os beija-flores e as cachoeiras recuperaram sua força.
Ele era uma estrela solitária, ao meu ver, disse-me que eu era a "Lux da sua vida". De início eu ri, pois ele tinha um jeito bobo de falar, mas, mal ele sabia que a luz que ele via em mim era reflexo dele mesmo. Foi um magnetismo inesperado, senti que pertencia a ele e ele a mim, como se meu espaço já estivesse ali, esperando-me. A consumação de todos meus anseio, de meus desejos e aflições.
Por mais que eu queira estar sempre próximo dele, a vida ainda não permitiu, minha rota elíptica é ovalada, onde só tenho um contato próximo de tempos em tempos, mas, o encanto é que não perdemos nossa ligação, pois independente da distancia posso sentir o calor do seu afeto.
Por ser composto de carinho, em seu núcleo há algumas instabilidades, o que faz com que ele transpareça medo em sua coroa, mas nada que não seja recondicionado e estabilizado com reflexos visíveis de amor.
Viciado em estar em rotação plena e inebriado por tudo isso, fui convidado a dançar. Ele me escolheu para ser seu par e nos concedemos o direito dessa dança cósmica que haverá de durar até o final da eternidade desse amor.