person_outline



search
  • Contos
  • Postado em

Minissérie Tudo Pode Acontecer - Segundo Capítulo

Na aula de Química, Trace estava completamente absorto em seus pensamentos. Recordações de um tempo que ele era feliz. Ou quase.

Lembro como se fosse hoje. O primeiro dia de aula na minha nova escola em Nova Iorque. Mamãe já havia se mudado três vezes em dois anos e meio. Não suportava mais aquela vida. Convenci mamãe que o melhor era ficarmos ali. Pelo menos até papai não nos achar. Papai sempre foi um monstro total para mim. Mamãe me fazia acreditar que os gritos que eu ouvia do quarto eram da tevê. Mas um dia a vi chorando e toda cheia de feridas. Do outro lado do quarto, papai com as mãos sangrando, e obviamente muito bravo com ela. Ele a obrigava a ficar trancada. E ela se sentia sozinha e triste. Coitada, me poupava disso. Papai era cruel em tudo que fazia. Mamãe ficava calada. Até que decidiu dar um basta. Já era demais. Agora ele a obrigava a se bater. E me mostrava aquilo. Eu fiquei completamente horrorizado. Num dia em que ele chegaria mais tarde, porque ficaria com a sua amante (é, ele falava isso na nossa cara), mamãe fez o plano de fuga. Saí da escola, e lá estava ela com duas malinhas prontas. E assim começou a maior das viagens que já fiz. Morávamos numa casinha no interior do Canadá. Foi difícil. Com o dinheiro que pediu emprestado, partimos e ficamos sem dinheiro quando chegamos lá. Mas nos abrigaram e vivemos lá dos meus 10 anos até anteontem. Hoje estou com 16.

Neste instante, o sinal de recreio ensurdecedor tocou. Trace pegou uma maçã na mochila. Olhou em volta procurando alguém com quem conversar. Mas parecia que ele era um doente. Ninguém chegou perto. Como sempre foi ultra-popular, pensou que podia se juntar devagarzinho com os jogadores de basquete. No intervalo, todos iam pra quadra, garotos que jogam e garotas que torciam ou olhavam. Quem ficava de fora eram os nerds. Ele entrou na quadra disposto a jogar. Chegou perto de um que lhe pareceu amigável. Erro fatal. Era o capitão do time, Jack. Era conhecido como arrogante, lindo e cruel. Trace sorriu e disse:

- E aí. Meu nome é Trace. Posso jogar?

Jack o olhou com piedade e ódio.

- Olá. Olha aqui um garoto que quer jogar!

- Sim. Eu gosto muito de basquete e já fui a vários campeonatos.

-Aham. Menino, dá o fora. Aqui é lugar de homem. Você não sabe jogar nem a metade do que eu sei. Se liga, meu. Vazaa.

Trace saiu, furioso. Prometeu que mostraria quem é que sabe jogar. E também queria descobrir quem era exatamente esse cara. Não era vingança, era mais raiva. De ser desprezado.
Pin It
Atualizado em: Sáb 4 Jul 2009

Deixe seu comentário
É preciso estar "logado".

Curtir no Facebook

Autores.com.br
Curitiba - PR

webmaster@number1.com.br