O TERMINAR DOS PRIMÓRIOS

Todos os que me antecederam
que estavam quando aqui cheguei
já não existem mais
apenas as mesmas árvores
do Parque Treze de Maio
onde minha infância brincava de criança
continuam a presenciar os escorregos
os bancos, as estátuas e os balanços
em que brincam os novos garotos
que jamais haverão de saber
do meu longevo e persistente menino

A Humanidade mudou de rosto
não tem agora aquela mesma face
que meus olhos miúdos e pequenos
conheceram quando ela me olhava
e soava coisas que não entendia nada

Quem haverá daí em diante
de contar minhas histórias
que não guardei na memória
e como eram meus pais
nos anos em que não eram pais?

Um mundo inteiro de gente
enterrei com minha pré-história
no dia em que minha última tia morreu

Hoje sei o que sentem os galhos
quando pelo tempo se desprendem
do tronco de suas árvores

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