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SONATA (00h10)
E tento decifrar todos os aromas das dezenove
desta noite escura que criou um colar de ocres,
contornada pela sombra nova da nuvem cobre.
Sinto o bouquet — terra, refogado e monóxido
que vêm do cano silencioso do motor das horas,
quando da varanda, decanto o morro que orna
a paleta degradê espelhada e de borda a borda:
o verde-breu, o âmbar, o marrom e o petróleo.
O vento corre ansioso sobre o tutano dos polos
das vinte e três e quatro e leva e traz mais notas
mescladas com os agouros da pandemia inglória,
porque a cerâmica futura do amanhã me comove.
O galho preto hospeda os passarinhos lá de fora;
e eles já compuseram a sonata púrpura da aurora.
Atualizado em: Seg 9 Ago 2021