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FACA (tristeza e lamento)

Fecho os olhos e consigo enxergar algo mais distante,

aquilo que seja, espero, o ungüento que traz conforto.

Excêntrico engano, mais uma vez também vem morto

o antídoto ao lamento, essa nítida e fria virose mutante.

 

Se tiver que fugir, tenho que primeiro encontrar a porta

desta enxovia lodosa e úmida onde o tempo é inteiro,

até mensurar exatamente o quanto custa em dinheiro

livrar-me, enfim, desta miserável faca que muito corta.

 

Sei que Deus nunca quebrou o prato onde eu comia,

quis somente mostrar  à fome o quanto estava sujo

aquele recipiente, embora tão atrativo, mas em cujo

o difícil era saber a procedência do que se consumia.

 

Em fila agrupam-se os lagos, os mares e os oceanos,

tenho, inevitavelmente, que atravessá-los a nado,

estou obrigado a de forma alguma sentir-me cansado,

ainda que seja essa penitência o maior dos enganos.

 

Agora não sei como girar em torno de mim mesmo,

perdi a referência, o equilíbrio, o tempo do equinócio,

nem penso que meu espelho consiga mostrar o fóssil

que sou, incrustado na rocha de um mundo a esmo.

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Atualizado em: Qua 20 Abr 2011

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