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FACA (tristeza e lamento)
Fecho os olhos e consigo enxergar algo mais distante,
aquilo que seja, espero, o ungüento que traz conforto.
Excêntrico engano, mais uma vez também vem morto
o antídoto ao lamento, essa nítida e fria virose mutante.
Se tiver que fugir, tenho que primeiro encontrar a porta
desta enxovia lodosa e úmida onde o tempo é inteiro,
até mensurar exatamente o quanto custa em dinheiro
livrar-me, enfim, desta miserável faca que muito corta.
Sei que Deus nunca quebrou o prato onde eu comia,
quis somente mostrar à fome o quanto estava sujo
aquele recipiente, embora tão atrativo, mas em cujo
o difícil era saber a procedência do que se consumia.
Em fila agrupam-se os lagos, os mares e os oceanos,
tenho, inevitavelmente, que atravessá-los a nado,
estou obrigado a de forma alguma sentir-me cansado,
ainda que seja essa penitência o maior dos enganos.
Agora não sei como girar em torno de mim mesmo,
perdi a referência, o equilíbrio, o tempo do equinócio,
nem penso que meu espelho consiga mostrar o fóssil
que sou, incrustado na rocha de um mundo a esmo.