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Duas faces entre as mãos
Cada vez que te digo adeus,Me passo e repasso na filmadora,
Me vejo agonizando num cocho de sal,
Cavalos e bestas trotando ao redor,
Arfando-se, rinchando, lambendo
Em mim o sal, suprindo-se de vida.
Estavas a pouco ali e agora não
Mais. Ocupavas um lugar só teu,
Quase perto, quase distante, mas havia.
Quem há de haver senão tua sombra
Viva a iluminar meus passos cansados,
Fatigados de tanta procura vã.
Tolice querer-te compreender, ousar-te
Comprimir, tentar-me expressar;
Se o máximo que possuo são duas
Faces entre as mãos e duas bocas
Indomáveis, são olhos que não
Piscam, que se perseguem espantados.
E se te pedisse perdão não
Coubesse, mais caberia a solidão,
Isolar-me em tua fraternidade frasal,
Empoderar-me de teus gestos ainda
Frescos, a desenhar no ar infinitas
Interrogações, duvidosa desse tanto amor.
E porque na madrugada incompleta
Arrasto os grilhões que forjei, por
Mim mesmo, atado aos desejos impos-
síveis, a desejar que teu anseio mudo
contamine tua garganta e que de
pungente dor, grite de ímpeto - és tu!
Assim, não mais me afogarei nos rasos
Montes de areia que esse vento forte
Dragou, amando essa brisa que acalenta
Esse rosto macio, esse sorriso
Mais brio, essas lágrimas tão doces,
Jubilosas de nosso eterno amor.
Atualizado em: Dom 26 Out 2008