- Prosa Poética
- Postado em
Nada
Às vezes me veem assim de canto, escorada, e perguntam: - Que foi? Que é que cê tem? - respondo sem hesitação alguma: - Nada. - Mas é aí que me faço mais incompreensível. O nada é tudo de mais angustiante. Quando você vai à um médico, te perguntam o que você tem e sua resposta é tosse, febre ou qualquer outra coisa, te receitam remédio, soluções para se segurar ou soltar da vida. É visível, tangível.. É confortante. Mas o que receitar ao nada? O nada não se resolve com nada. Com o nada não se faz nada, por julgarem não ser nada demais. Besteira. Negar o nada é quase como negar a tudo. tudo que se é, é no fundo nada. Que fazer com esse nada? Esse que surge do nada ou que talvez nem surja, esteve sempre lá. Está sempre aqui. O que fazer quando ele ocupa quase tudo? Ocupar o armário com roupas? Encher a casa com móveis? Inútil. Tentar preencher o nada não dá em nada. O nada é nada. Digeri-lo é nada fácil, na verdade o estômago é incapaz de digerir o nada, inclusive, reclama dele. Ruminamos o nada para então engolir de volta e cá está ele outra vez: dentro. Nem sempre é assim, por vezes o nada nos engole para então tornamo-nos nada por completo. Poderia vincular tudo isso à minha resposta, mas me tornaria ainda mais incompreensível. Diriam que digo nada com nada e teriam toda a razão. Então sintetizo minha resposta que serve para todas as perguntas: Que é que eu tenho? Que é que foi? Que é que é? Que é que será? Respondo sem hesitação alguma: nada.
Atualizado em: Qui 24 Jan 2019
Comentários