- Prosa Poética
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Abandono
O instante do abandono não é o momento da partida.
Ocorre, de fato, ao mais leve desejo de afastamento.
Quando a presença agita e perturba o espírito.
E respirar o mesmo ar torna-se sufocante.
O instante do abandono é quando o passado parece não ter existido.
E ao futuro se nega qualquer oportunidade.
Quando as dívidas não saudadas não mais incomodam.
E colecionar prejuízos fica mais atraente.
O instante do abandono é quando fala mais alto a matéria.
Salve-se quem puder; desde que seja eu.
Quando a pressa mascara a realidade e ajusta o tom da desculpa.
E, apagar da consciência a figura,
O mais urgente.
O instante do abandono é quando nos aceitamos mesquinhos.
Confiando que alguém venha se encarregar da cura.
Quando, quem era santo, vira falso profeta.
E, rejeitar a doutrina,
Outrora aceita,
E não mais relevante.
Somos todos descartáveis!
Abandonamos e somos abandonados.