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Cúmplices de Uma Paixão - cap. 1/ Vendaval
Tesão. Era o que Constância sentia antes mesmo de as mãos escorrerem sobre seu corpo e a deixarem mais acordada. Os dedos se alojaram entre suas pernas e massagem em movimentos circulares fez sua respiração ficar ainda mais profunda e o calor do seu corpo se intensificou. O que veio subindo de seus pés foi eriçando cada pelo de seu corpo e fugindo entre seus dentes cerrados, transbordou dos seus lábios o gemido manhoso que definhou num único supro cheio de prazer, Uuuuu.
Primeiro veio um, e depois dois dedos deslizaram sem pressa, recuando e entrando, sendo completamente encobertos por sua umidade. A mão que restara beliscava e puxava os bicos enrijecidos, alisava e apertava os médios seios e quando seu frenético bamboleio deixou claro que seu corpo já estava ficando satisfeito, Constância mascou o lábio inferior sentindo a razão desprender de seu corpo e leva-la a uma súbita inconsciência, enquanto vinha mais um, outro e mais outro espasmo de gozo até que estivesse completamente relaxada depois de se livrar de todo fôlego.
Segundos depois, o suor ainda lhe escorria sobre a testa quando Eduardo surgiu no quarto encoberto por um roupão e toalha no pescoço.
— Achei que ainda estivesse dormindo. — Eduardo parou junto ao cabideiro tripé e pendurou a toalha ali. Em seguida, alcançou o lado que lhe pertencia no roupeiro.
— E eu queria que ainda estivesse na cama. — Constância atirou as cobertas para o lado e sentou na beira do colchão.
— Tenho um dia cheio pela frente, Coni. — Eduardo abriu as portas do móvel e retirou as vestes lá de dentro. — Não posso me dar ao luxo de ficar na cama o quanto eu quiser. — Depositou tudo no encosto da cadeira, junto da sua maleta, e voltou-se para o centro do roupeiro, onde estavam as gavetas.
— Claro. Eu que posso. — Constância deixou a cama e parou em frente ao espelho da penteadeira. Avaliou as olheiras.
— Não foi o que eu disse. — Eduardo catou as meias e sentou-se a peseira da cama. Depois de vesti-las, desfez-se do roupão e voltou para junto da cadeira. — Mas temos obrigações diferentes. E meus compromissos exigem que...
— Sim, sim, Eduardo. Sei disso melhor do que ninguém. — Constância cortou num tom desinteressado e cheio de tédio. — Só achei que tivesse alguma vantagem em ser o dono desse negócio.
— Mas tem. — Eduardo acabando de vestir as calças. — E adivinha quem está desfrutando disso?
— Quem? — Constância soltou um riso forçado enquanto embolou os cabelos loiros num coque grosso e cravou nele um graveto.
— Ora, Connie. Seja razoável. — Vestindo a camisa, observou sua esposa indo em direção a porta que dava no banheiro. — O que espera que eu faça?
Em frações de segundos lhe surgiram na cabeça uma porção de sugestões, mas preferiu mantê-las com sigo.
— Nada, Eduardo. — Ela respondeu com calma. — Não espero mais nada. — E sumiu sem esperar resposta.
Constância desfez-se do pijama e entrou no box e puxou o acrílico sobre o trilho. Ligou a ducha e a água quente bateu em seu rosto, retirando todo suor do corpo.
Eduardo atravessou o quarto e parou junto a porta do banheiro. Tudo o que conseguia enxergar agora era a imagem distorcida de sua esposa por trás da fina parede fosca. O vapor da água quente começou a se espalhar lentamente dentro do box até que Constância estivesse completamente envolvida pela neblina.
— Quem sabe resolva se eu me tonar outra pessoa. — O silêncio dela o fez perder a paciência. — Coni... se não me disser o que há de errado com você...
— Comigo? — Surpresa. — E essa agora. — Escorreu por toda sua pele a pedra de sabão até que estivesse totalmente ensaboada.
De olhar rasteiro, Eduardo deduzir o que aquilo significava.
— Então é isso? — Ele voltou dizendo.
Por um momento, ambos permaneceram apenas escutando o estalido da água que salpicava o chão.
— Não! — Constance quebrou a quietude. — Já deixei bem claro que não tem nada a ver com isso. — Girou embaixo do chuveiro retirando toda espuma e evitando que o cabelo fosse molhado. — Se fosse um problema, podíamos muito bem adotar uma criança. Sabe disso.
— Mas não seria a mesma coisa. Seria? — Eduardo quase que num resmungo.
Constância desligou o chuveiro e empurrou o acrílico novamente para o lado. Deu de mão na tolha e afogou o rosto nela.
— Amor. — Voltou a fita-lo escorado ao marco da passagem. — Pela última vez. — Enxugando o corpo. — Não é isso que importa.
— Claro que importa. — Ele insistiu. — Tudo o que faço é sempre pensando em você; onde moramos, o que temos conquistado... Só quero que esteja feliz. Não está?
Constância preencheu os pulmões com uma longa porção de fôlego e soltou todo ar de uma só vez. Assim que lançou a toalha para dentro do sexto de roupa suja, parou junto de seu marido e acolheu o rosto dele entre suas mãos. Recuperou a paciência de antes.
— Estamos bem assim; só nós dois. — Buscou os olhos dele, ligeiramente esteiros atrás dos óculos. O observou por um segundo. Os cabelos aparados, o maxilar bem barbeado não lhe dava uma aparência mais jovem, era possível até mesmo enxergar as linhas de expressão que só vinham depois dos quarenta, ainda assim, ali estava, o homem por quem se apaixonara. — E seja como for, eu te amo, e sempre vou estar do seu lado. — Deu um beijo nos lábios dele para atestar o que dissera antes de retornar nua para o quarto.
— Tem razão. — Eduardo abotoou o resto da camisa. — Ando com a cabeça tão cheia...só quero ter certeza de que tem tudo o que precisa. — Foi vestir os sapatos.
Constância abriu o seu lado do roupeiro, puxou uma saia cinzenta e a largou sobre a cama amarotada, em seguida abriu a gaveta de onde colheu calcinha e meia calça.
— Café? — Mesmo sabendo a resposta, ela sugeriu para trocar de assunto trazendo uma blusa florida num cabide.
— Na empresa. — Eduardo vestiu o paletó. — Já tenho que ri. — Aproximou-se de sua esposa e deixou um beijo nos cabelos dela.
— Nos vemos à noite então. — Vendo Eduardo agarrar a maleta e pegar a saída do quarto, Constância decidiu corresponder com um sorriso compreensivo.
A transportadora de valores que Eduardo levantara do zero, com alguns tostões que recebera do próprio pai, deixara o casal, financeiramente seguro. E ainda que não tivesse contato direto com os negócios do marido, Constância sabia que a empresa de carro-forte estava em expansão, e com isso, também o fardo dele. Até entendia que aquela rotina o mantivesse apressado, preocupado, mas era impossível evitar a frustração de sentir-se cativa a condição que a colocava diariamente em segundo plano. Foi por essa razão que ela arranjara um emprego. Manter a cabeça ocupada evitava que se sentisse tão sozinha.
Minutos depois, praticamente pronta para seguir sua rotina, Constância abriu a gaveta da penteadeira e retirou de dentro dela uma pequena caixa de camurça, preta. Aquele fora primeiro presente que Eduardo lhe dera de noivado; um par de brincos que carregavam uma pedrinha de brilhante pendurada. Só quero que esteja feliz. Não está? recordou colocando um de cada lado. Se tivesse dito a verdade, provavelmente, a discussão ainda não teria acabado.
Ela não era hipócrita e sabia perfeitamente que, de certa forma, a sua insatisfaço estava ligada a esterilidade de seu marido. Afinal de contas, o que mais desejava era que resgatassem a paixão que havia no início da relação, que tivessem uma conexão que os mantivessem profundamente unidos, mas isso estava, na melhor das hipóteses, muito longe de acontecer. Tudo dependia de Edward superar a própria frustração e sobre isso, havia nada que ela pudesse fazer.
Constância finalizou prendendo os cabelos num coque baixo que lhe escondia a nuca e encobrindo-se com um casaco cinza que caía até os joelhos. Quando deixou sua casa, deparou-se com um vento enfurecido. Tentando manter no lugar o que conseguia de sua cabeleira, correu para o taxi que estacionara em frente a varanda. Depois disso, também seguiu para o seu trabalho.
Atualizado em: Seg 9 Dez 2024