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Diários de caça - Capítulo 5 – Bicho do mato
Fazia tempo que não saltava daquele ônibus, após longas 6 horas de viagem, para a estação rodoviária da central. Creio que 4 anos me separavam da última visita a casa dos meus tios.
Quando criança, vinha todas as férias, mais por pressão de meus pais do que por iniciativa própria. Nada contra meus tios ou primos, mas infelizmente o lugar me entediava fácil.
Quando criança, vinha todas as férias, mais por pressão de meus pais do que por iniciativa própria. Nada contra meus tios ou primos, mas infelizmente o lugar me entediava fácil.
Uma ironia, eu sei. Uma vez que uma parte de mim não via a hora de largar minha cidade natal sem olhar pra trás, outra queria voltar correndo quando ficava muito tempo afastado. Querendo ou não, eu era filho de minha terra e haviam laços ainda que me prendiam lá. Laços esses que foram bruscamente rompidos, em uma história que lhes contarei mais adiante.
O fato é que a cidade, naquele época, não me oferecia grandes atrativos, além dos carros. E ficar com dois primos sedentários era ainda pior. Eles passavam horas sentados na frente do videogame, enquanto comiam as coisas que minha tia trazia. Os jogos eram até legais, mas eu enjoava deles rápido. Acabava que eu ia sozinho para a rua, brincar com as outras crianças, mas para todas eu era como um bicho do mato. Não sei se meu jeito as espantava ou elas simplesmente não aceitavam o fato de eu vencer qualquer uma facilmente em qualquer jogo que exigisse esforço físico.
Da família, o único com quem ainda tinha alguma distração era meu Tio Mauro. Policial como meu pai, ele ainda tentava ter uma vida ativa. Quando eu estava lá, gostava de levantar cedo para ir se exercitar comigo, correndo no parque. E de noite, ele me ensinava xadrez, jogo do qual gostava mais do que os eletrônicos de meus primos. Normalmente eu encerrava minhas noites no quarto com meus primos, lendo uma revista nova sobre carros que meu tio fazia questão de comprar de véspera a minha chegada, enquanto meus primos jogavam seus jogos eletrônicos.
Mas meus primos, por alguma razão, gostavam demais de minha presença, mesmo naqueles parâmetros. Foram eles que, após inúmeros telefonemas, me convenceram a pegar aquele ônibus. Prometeram que tinham excelentes planos, queriam ir à praia, às baladas e tudo mais. Duvidei de tamanha oferta, mas como meu pai gostava quando eu visitava o irmão, aceitei.
Olhei o relógio e meu ônibus chegou antes do previsto. Talvez precisasse esperar um pouco minha carona.
Lucas, o mais velho, tinha acabado de completar 18 anos e tirado a carteira de motorista. Então fez questão de ir me buscar. E Thales, dois anos mais novo, o acompanharia. Eu tinha 17 na época.
Notei que dois rapazes vinham em minha direção. Não os reconheci, então continuei olhando as placas enquanto aguardava. Mas ao perceber que eles vinham direto para mim, cerrei os punhos. Acho que como todo o morador do interior, eu tinha certo receio das histórias de violência urbana. E talvez, um rapaz sozinho como eu pudesse parecer um alvo fácil para ladrões ocasionais.
Me preparei para o pior, enquanto os dois sorriram e pareceram vir me abraçar.
Dei um passo atrás até reconhecer a voz de Lucas saindo do maior.
- Caramba primo, quase não te reconheci
Thales ao seu lado dava tapas no meu ombro, ambos parecendo bastante animados. Eu olhava de um a outro tentando reconhecer, e com muito esforço fui identificando traços de meus primos nos dois caras ali. A diferença era gritante. Os dois, muito gordos anos atrás, agora eram verdadeiras máquinas de músculos. Lucas era mais alto que eu, tinha ombros largos, cabeça raspada e deixara a barba crescer. Thales, menor, era mais socado, braços grandes e conservava boa parte da cara de garoto, causando uma combinação estranha entre seu corpo e seu rosto.
- Caramba - tentei disfarçar a surpresa - Vocês estão irreconhecíveis.
- Tomamos vergonha na cara - Thales riu, mostrando o braço forte.
- Mas você também, Fábio. Que carcaça é essa - e deu um soco em meu peito que eu tive forte vontade de revidar. - Olha isso. Parece um armário. Tem academia na sua cidade?
Eh, o bom e velho preconceito das grandes cidades. Estava demorando.
Meus primos não eram pessoas ruins, mas eram meio limitados com relação ao mundo fora da cidade em que cresceram. Basicamente, eles imaginavam que eu morava em alguma roça esquecida por Deus, sem acesso a energia elétrica, onde eu caçava minha comida enquanto minha mãe lavava as roupas, batendo com elas em uma pedra na beira de um rio.
- Claro que sim - achei graça - embora não goste
- Que isso. Esse corpo todo e não malha. Se malhasse, ia ficar top - Thales comentou, apertando meus braços e minha barriga.
Eu queria saber quando aquele excesso de toques ia acabar.
- Vai ver só. Papai vai matricular você na nossa academia pra você ir essa semana que vai ficar aqui. Vai adorar. Você sempre gostou de se exercitar.
Eu concordei, apenas na esperança de eles pararem de me bater e apertar sem motivo. Fomos para o carro, onde fiz questão de sentar no banco de trás, longe de seus dedos. Nunca os vi tão agitados na vida, as coisas realmente haviam mudado.
Foram falando o caminho todo, detalhando os planos para minha estadia.
Chegando lá, minha tia nos recebeu com um abraço carinhoso e um bolo de cenoura. Comemos e conversamos mais e acreditei que começava a me adaptar aos novos Thales e Lucas. Pelo menos imaginava que sim.
De tarde, eles fizeram questão de me levar a tal academia, que era muito bem equipada. Me emprestaram roupa, já que eu não havia vindo preparado para aquilo. Tenho de admitir que gostei do lugar, bem equipado. Tinham uma piscina grande e tudo.
Eles insistiram que eu fizesse a aula de crossfit com eles. O esforço físico não era o problema, mas eu tinha de me adaptar aos movimentos, então fiquei com um estagiário que passou os princípios para mim e uma senhora que também era iniciante.
No futuro, academias seriam meu novo hábitat urbano, uma vez que fiquei muito longe das matas e devo dizer que aquele primeiro contato foi muito positivo. O clima de competição, de superação dos limites. Gostei da energia e aceitei os hábitos estranhos dos caras dali de tirarem a camisa toda hora, os gritos fora de contexto e o excesso de um pó branco que passavam na mão e sujavam toda a roupa.
O estagiário que nos acompanhou era claramente gay. O que estranhei de cara. Uma vez que em minha cidade ninguém jamais aceitaria alguém falando tão fino quanto ele. Mas ali, naquele ambiente, tudo parecia bem normal. Fui muito elogiado por ele, o que me deixou sem saber se minha técnica era realmente boa ou se o estagiário estava me dando algum mole.
- Olha só essa mobilidade - falou atrás de mim, enquanto eu fazia um agachamento com a barra.
Minha bunda ficava empinada pra trás no processo, o que lhe dava um ângulo de visão privilegiado. Aquilo me deixou desconfortável. Pior foi Thales chegar e encorajar.
- Isso ai, Fábio,. Vai lá, seu gostoso.
Ele havia me chamado de gostoso no meio de tudo mundo? O que diabos acontecia naquela cidade?
Ninguém parecia estranhar. Só eu. Então, segurei a onda e torcia pra minha cara não expressar as coisas estranhas que se passavam pela minha cabeça.
- Mais uns agachamentos desse e vai ficar com o maior bundão - dessa vez foi Lucas, que estava atrás de mim, ao lado do estagiário.
- Bunda ele já tem - o estagiário comentou. - Mas o que me inveja mesmo é a panturrilha dele.
- Nem fala - Lucas entoou - eu malho a dois anos e as minhas não crescem
- É assim mesmo. Panturrilha, ou você nasce com, ou morre sem - e riram.
Um lado meu deu graças ao deus de minha mãe por aquilo ter acabado, embora deva admitir que o exercício foi muito bom.
Dali, fomos para a musculação e eu continuava me surpreendendo em ver como meus primos se tornaram dedicados. E lá eles eram tão sociáveis quanto no Cross. Falavam com todos. Mulheres muito bonitas e homens muito fortes. E como eles gostavam de levantar as blusas e mostrar o corpo uns para os outros. Ali, em meio a todos.
Tive de ser educado em dispensar um colega deles, que queria me passar um treino especifico. Dizendo que com a minha estrutura eu iria pegar corpo rápido.
Fomos ao vestiário e uma nova dificuldade em entender a mecânica dali. Pois eu simplesmente tirei a roupa para me banhar e só então percebi que fui o único. Os caras ali estavam de cueca e só se despiam depois de entrarem nas cabines. Esses mesmos caras que estavam praticamente tirando a roupa no salão, agora tinham pudores em um lugar onde era de se esperar ficar nu.
Senti os olhares de estranhamento e um ou outro que parecia denotar algo mais. Mas ninguém comentou.
Voltamos e jantamos. Meu tio chegou depois e me convidou a jogar xadrez, o que aceitei de bom grado por ter um pouco de normalidade. Eu e meu tio conversávamos sobre tudo, mas em especial ele gostava de ouvir as histórias de caçada que eu fazia com meu pai.
- Saudades da minha terra - se lembrava enquanto sua distração permitiu que eu cercasse sua rainha - Merda - praguejou quando percebeu.
Ao dormir, vi que eles tinham arrumado o quarto a moda antiga.
Eles dividam um grande quarto e cada um tinha uma cama de solteiro. Mas quando eu ia pra lá, eles levantavam as camas e as colocavam escoradas contra a parede, abrindo espaço no chão, onde enchiam de colchonetes e dormíamos ali.
- Sempre imaginei que depois de crescerem, um dos dois se mudaria para o terceiro quarto - comentei
- Já estamos acostumados - Thales falou - e lá é o escritório do nosso paí.
- Eh, mas ele nunca usa - ponderei e eles simplesmente deram de ombro.
Depois de toda a viagem e agitação do treino, eu estava cansado. Fiquei feliz quando anunciaram a hora de dormir.
- Mas amanhã, vamos te levar pra uma Pool Party - Lucas declarou - Vai ser foda.
- Ah legal - sorri sem graça, me perguntando onde estaria o botão de desligar daqueles dois.
- Trouxe sunga?
- Aham.
- Show.
E desligaram a luz. Como de praxe, dormi no meio. Todos de shorts, noite fresca, mas o ventilador de teto ligado estava ligado. Eles não dormiam sem esse barulho. Assim, caíram no sono pesadamente. Eu, como comum quando dormia fora de casa, demorei um pouco mais. E foi quando ia relaxando e sentindo o sono me puxar para longe, que sinto o braço pesado de Lucas sobre mim.
Olhei e ele estava virado em minha direção, com a mão apoiada em meu peito. Deve ter virado no meio da noite e ficado por cima. Eu, com cuidado, já ia tirando-o quando num movimentos rápido ele me puxa e me entrelaçou com o braço e a perna, me prendendo por completo.
- Que porra é essa? - falei, mas ele sequer se mexeu. Dormia pesado ainda - só o que me faltava - suspirei.
Fiquei pensando como eu sairia dali. Lucas me prendera muito bem e seu corpo forte era difícil de mover com delicadeza.
Pelo menos ele parecia se agarrar a um travesseiro ou algo do tipo, pois se eu o sentisse roçar o pau em mim, aí iria gritar.
E foi ali, refletindo como escapar, que comecei a observar melhor meu primo. A perna por cima de mim era bem forte, o seu rosto, relaxado do sono, era másculo e bem bonito. Só então me dei conta de que ele havia crescido e se tornado um cara bem atraente
Acho que estava tão habituado a imagem dos meus primos da infância que não consegui enxergar como eram hoje. Olhei para Thales, que dormia pesado de costas, e também era uma boa visão. As costas bem desenhadas, a bundinha protuberante.
Me aproveitei do sono pesado de Lucas e alisei sua coxa, observando se ele reagia. A carne era dura, deslizei até chegar a entrada do short pela fenda da perna, seguindo em direção a bunda. Nesse instante ele se mexeu e eu fingi dormir. Mas ele não acordou. Apenas virou de costas, me soltando.
Aquela ousadia leve me animou. Acho que a perspectiva de duas presas dormindo inocentes ao meu lado me encheu de ideias. Porém, achei melhor amadurecê-las antes de investir em algo. Afinal, ali era um terreno familiar, onde o cuidado era essencial.
No dia seguinte, a agitação de meus primos não apresentou sinais de fraqueza. De manhã, fomos a praia, onde me deu uma chance melhor de os estudar de sunga e confirmar a avaliação de que realmente eram ótimos espécimes para meus experimentos.
Na água, pude brincar um pouco com eles de luta, o que me permitiu uma agarrada ocasional em uma bunda ou outra. Adorava essas brincadeiras de héteros. Essa possibilidade de se agarrar com outro homem despudoradamente, desde que com um bom pretexto.
Dali, fomos ao shopping onde almoçamos algo leve antes de irmos a tal Pool Party.
Antes de sairmos, passei no banheiro para me aliviar. Entrei em uma cabine e quando sentei, ia começar a me concentrar, percebi um buraco na divisória de minha cabine. Pior, percebi que alguém bisbilhotava por ela.
Dei um salto e pus novamente as calças.
- Que porra é essa? - praguejei.
A pessoa do outro lado não pareceu se assustar com minha reação.
- Foi mal. Como você parou nessa cabine, achei que curtisse glory.
- O que? - a calma do garoto me deixou surpreso. Imaginei que sairia correndo.
- Glory, pô. Esse buraco aqui.
- E que merda vocês fazem com esse buraco - eu devia estar ficando maluco, conversando com alguém através de uma fenda numa cabine de banheiro.
- Você não é daqui, né? - ele pareceu achar graça.
- E o que tem isso? - tentei parecer mais intimidador, mas minha ignorância acabou por trair meu intento.
- Relaxa. A culpa foi minha. Mas se quiser que eu te mostro, enfia aqui.
- Enfiar o que?
Ele riu
- O pau, ora bolas.
- O que?
- Eh, enfia nesse buraco. Tô afim de mamar. Mas vai logo, antes que chegue alguém. Esse horário costuma ser cheio.
- Deixa pra próxima, parceiro - e fiz menção de sair
- Não tem que ter medo, não, cara. É só uma mamada. Se não curtir, tira e sai. Eu não mordo
Ele não me conhecia, e sem querer tocou em um ponto que era meu calcanhar de Aquiles: meu orgulho
- Não to com medo. Só... É esquisito
- Vem - riu - enfia, vai
Respirei fundo. Olhei meu pau e ele já estava duro. Volume inchado na calça. Traído pelos meus próprios hormônios.
Desistindo de fugir, arriei as calças novamente e enfiei. Na hora, senti sua boca envolver meu órgão. Uma chupada boa. Estar com a cara colada numa cabine de banheiro era ainda estranho, mas ao mesmo tempo interessante. Morria de medo de alguém entrar, mas a boca do moleque era tão eficaz que eu não queria tirar. Mamava tão bem quanto Breno, ou quase, pelo menos. Os garotos da cidade mamavam assim? Talvez eu tivesse julgado aquele lugar cedo demais.
- Que pirocão gostoso o seu. - o ouvi dizer, enquanto beijava a glande.- segura ai.
Eu não entendi, mas ele parou de mamar. Ouvi o estalo metálico da fivela do cinto caindo no chão. Então, senti uma mão segurar meu pau e o direcionar, encaixando em algo quente e macio.
- Nossa - gemeu quando enfiou tudo - caralho.
O garoto estava literalmente enfiando meu pau dentro de si, como se fosse um consolo. Rebolava e pressionava conforme gemia baixinho.
Eu estava prestes a gozar. Naquela posição e tensão de ser pego, não conseguia segurar.
- Vai me dar leitinho, bonitão? - perguntou, parecendo conseguir me ver - Vai, goza vai.
Não deu pra segurar e eu gozei
Então, tão rápido quanto uma lebre. Ele se vestiu e saiu, me deixando sozinho no banheiro. Limpei meu órgão e sai, com o rosto queimando de vergonha. Parecia que todos que passavam por mim sabiam o que eu tinha acabado de fazer.
- Caramba, primo. Demorou. Está habitável la dentro - Lucas me zoou.
- Foi mal - pedi - a comida não caiu bem. Vamos então?
Eu queria sair o mais rápido possível dali.
Pegamos um ônibus e chegamos ao local combinado. Uma casa enorme, com uma bela piscina. Na pista, música eletrônica tocando e jovens que pareciam estar ali desde a madrugada anterior. E uma coisa que estranhei logo de cara foi perceber que, apesar do nome, ninguém ficava na piscina. Todos vestiam roupas de banho, tinha uma piscina, mas as pessoas ficavam aglomeradas em sua volta e não entravam na água, apenas perdidos ao som da música eletrônica. Me parecia mais um pretexto para estar de roupa de banho do que qualquer outra coisa.
Percebi também que as mulheres eram poucas ali. A grande maioria eram homens e de corpos até bem feitos. Que dançavam meio alheios a tudo
Achei que seria difícil descolar uma ficante em meio a tanta concorrência, mas foi surpreendentemente fácil. Fiquei com duas garotas bem fogosas, que pareciam até mesmo ansiosas por dar uns beijos. Estranho não terem conseguindo descolar ninguém naquele mar de gente.
Mas a grande surpresa da festa foi lá para o final. Quando um garoto começou a dançar na minha frente, me olhando de cima a baixo, praticamente me devorando com os olhos.
Definitivamente eu não estava acostumado àquele assédio descarado. Por parte de nenhum dos sexos. O garoto se aproximou e eu senti dar um passo involuntário para trás. Nunca antes me senti assim. Estava habituado a ser o predador e me sentir como presa daquela maneira não me parecia certo. Então ele veio falar comigo, disse que me achou bonito e estava doido para me beijar.
Pela primeira vez na vida me senti um covarde e recusei. Educadamente menti e disse que não curtia caras
- Mas não quer nem experimentar? - e dançou, colado cara a cara comigo. Era um rapaz muito bonito, chupava um pirulito e tinha um sorriso contagiante.
- Não, obrigado - falei e ele saiu sem persistir mais.
Pela primeira vez na vida, senti raiva de mim mesmo
***
- Ué, por que não deu um beijo nele? - Lucas perguntou no ônibus que nos levava de volta pra casa naquela madrugada.
Eu não consegui articular uma resposta. Não esperava tal ideia.
- Nada demais beijar alguém numa festa assim - Thales deu corda - Só zoeira. Não vai ser rotulado por causa disso
- Se bem que você é do interior, né primo? Na sua terra as coisas devem ser diferentes.
Eu estava tão imerso em pensamentos que ignorei o comentário maldoso de Lucas. Pois talvez eles de fato estivessem certos e eu fosse mais bicho do mato do que gostaria de admitir.
Da família, o único com quem ainda tinha alguma distração era meu Tio Mauro. Policial como meu pai, ele ainda tentava ter uma vida ativa. Quando eu estava lá, gostava de levantar cedo para ir se exercitar comigo, correndo no parque. E de noite, ele me ensinava xadrez, jogo do qual gostava mais do que os eletrônicos de meus primos. Normalmente eu encerrava minhas noites no quarto com meus primos, lendo uma revista nova sobre carros que meu tio fazia questão de comprar de véspera a minha chegada, enquanto meus primos jogavam seus jogos eletrônicos.
Mas meus primos, por alguma razão, gostavam demais de minha presença, mesmo naqueles parâmetros. Foram eles que, após inúmeros telefonemas, me convenceram a pegar aquele ônibus. Prometeram que tinham excelentes planos, queriam ir à praia, às baladas e tudo mais. Duvidei de tamanha oferta, mas como meu pai gostava quando eu visitava o irmão, aceitei.
Olhei o relógio e meu ônibus chegou antes do previsto. Talvez precisasse esperar um pouco minha carona.
Lucas, o mais velho, tinha acabado de completar 18 anos e tirado a carteira de motorista. Então fez questão de ir me buscar. E Thales, dois anos mais novo, o acompanharia. Eu tinha 17 na época.
Notei que dois rapazes vinham em minha direção. Não os reconheci, então continuei olhando as placas enquanto aguardava. Mas ao perceber que eles vinham direto para mim, cerrei os punhos. Acho que como todo o morador do interior, eu tinha certo receio das histórias de violência urbana. E talvez, um rapaz sozinho como eu pudesse parecer um alvo fácil para ladrões ocasionais.
Me preparei para o pior, enquanto os dois sorriram e pareceram vir me abraçar.
Dei um passo atrás até reconhecer a voz de Lucas saindo do maior.
- Caramba primo, quase não te reconheci
Thales ao seu lado dava tapas no meu ombro, ambos parecendo bastante animados. Eu olhava de um a outro tentando reconhecer, e com muito esforço fui identificando traços de meus primos nos dois caras ali. A diferença era gritante. Os dois, muito gordos anos atrás, agora eram verdadeiras máquinas de músculos. Lucas era mais alto que eu, tinha ombros largos, cabeça raspada e deixara a barba crescer. Thales, menor, era mais socado, braços grandes e conservava boa parte da cara de garoto, causando uma combinação estranha entre seu corpo e seu rosto.
- Caramba - tentei disfarçar a surpresa - Vocês estão irreconhecíveis.
- Tomamos vergonha na cara - Thales riu, mostrando o braço forte.
- Mas você também, Fábio. Que carcaça é essa - e deu um soco em meu peito que eu tive forte vontade de revidar. - Olha isso. Parece um armário. Tem academia na sua cidade?
Eh, o bom e velho preconceito das grandes cidades. Estava demorando.
Meus primos não eram pessoas ruins, mas eram meio limitados com relação ao mundo fora da cidade em que cresceram. Basicamente, eles imaginavam que eu morava em alguma roça esquecida por Deus, sem acesso a energia elétrica, onde eu caçava minha comida enquanto minha mãe lavava as roupas, batendo com elas em uma pedra na beira de um rio.
- Claro que sim - achei graça - embora não goste
- Que isso. Esse corpo todo e não malha. Se malhasse, ia ficar top - Thales comentou, apertando meus braços e minha barriga.
Eu queria saber quando aquele excesso de toques ia acabar.
- Vai ver só. Papai vai matricular você na nossa academia pra você ir essa semana que vai ficar aqui. Vai adorar. Você sempre gostou de se exercitar.
Eu concordei, apenas na esperança de eles pararem de me bater e apertar sem motivo. Fomos para o carro, onde fiz questão de sentar no banco de trás, longe de seus dedos. Nunca os vi tão agitados na vida, as coisas realmente haviam mudado.
Foram falando o caminho todo, detalhando os planos para minha estadia.
Chegando lá, minha tia nos recebeu com um abraço carinhoso e um bolo de cenoura. Comemos e conversamos mais e acreditei que começava a me adaptar aos novos Thales e Lucas. Pelo menos imaginava que sim.
De tarde, eles fizeram questão de me levar a tal academia, que era muito bem equipada. Me emprestaram roupa, já que eu não havia vindo preparado para aquilo. Tenho de admitir que gostei do lugar, bem equipado. Tinham uma piscina grande e tudo.
Eles insistiram que eu fizesse a aula de crossfit com eles. O esforço físico não era o problema, mas eu tinha de me adaptar aos movimentos, então fiquei com um estagiário que passou os princípios para mim e uma senhora que também era iniciante.
No futuro, academias seriam meu novo hábitat urbano, uma vez que fiquei muito longe das matas e devo dizer que aquele primeiro contato foi muito positivo. O clima de competição, de superação dos limites. Gostei da energia e aceitei os hábitos estranhos dos caras dali de tirarem a camisa toda hora, os gritos fora de contexto e o excesso de um pó branco que passavam na mão e sujavam toda a roupa.
O estagiário que nos acompanhou era claramente gay. O que estranhei de cara. Uma vez que em minha cidade ninguém jamais aceitaria alguém falando tão fino quanto ele. Mas ali, naquele ambiente, tudo parecia bem normal. Fui muito elogiado por ele, o que me deixou sem saber se minha técnica era realmente boa ou se o estagiário estava me dando algum mole.
- Olha só essa mobilidade - falou atrás de mim, enquanto eu fazia um agachamento com a barra.
Minha bunda ficava empinada pra trás no processo, o que lhe dava um ângulo de visão privilegiado. Aquilo me deixou desconfortável. Pior foi Thales chegar e encorajar.
- Isso ai, Fábio,. Vai lá, seu gostoso.
Ele havia me chamado de gostoso no meio de tudo mundo? O que diabos acontecia naquela cidade?
Ninguém parecia estranhar. Só eu. Então, segurei a onda e torcia pra minha cara não expressar as coisas estranhas que se passavam pela minha cabeça.
- Mais uns agachamentos desse e vai ficar com o maior bundão - dessa vez foi Lucas, que estava atrás de mim, ao lado do estagiário.
- Bunda ele já tem - o estagiário comentou. - Mas o que me inveja mesmo é a panturrilha dele.
- Nem fala - Lucas entoou - eu malho a dois anos e as minhas não crescem
- É assim mesmo. Panturrilha, ou você nasce com, ou morre sem - e riram.
Um lado meu deu graças ao deus de minha mãe por aquilo ter acabado, embora deva admitir que o exercício foi muito bom.
Dali, fomos para a musculação e eu continuava me surpreendendo em ver como meus primos se tornaram dedicados. E lá eles eram tão sociáveis quanto no Cross. Falavam com todos. Mulheres muito bonitas e homens muito fortes. E como eles gostavam de levantar as blusas e mostrar o corpo uns para os outros. Ali, em meio a todos.
Tive de ser educado em dispensar um colega deles, que queria me passar um treino especifico. Dizendo que com a minha estrutura eu iria pegar corpo rápido.
Fomos ao vestiário e uma nova dificuldade em entender a mecânica dali. Pois eu simplesmente tirei a roupa para me banhar e só então percebi que fui o único. Os caras ali estavam de cueca e só se despiam depois de entrarem nas cabines. Esses mesmos caras que estavam praticamente tirando a roupa no salão, agora tinham pudores em um lugar onde era de se esperar ficar nu.
Senti os olhares de estranhamento e um ou outro que parecia denotar algo mais. Mas ninguém comentou.
Voltamos e jantamos. Meu tio chegou depois e me convidou a jogar xadrez, o que aceitei de bom grado por ter um pouco de normalidade. Eu e meu tio conversávamos sobre tudo, mas em especial ele gostava de ouvir as histórias de caçada que eu fazia com meu pai.
- Saudades da minha terra - se lembrava enquanto sua distração permitiu que eu cercasse sua rainha - Merda - praguejou quando percebeu.
Ao dormir, vi que eles tinham arrumado o quarto a moda antiga.
Eles dividam um grande quarto e cada um tinha uma cama de solteiro. Mas quando eu ia pra lá, eles levantavam as camas e as colocavam escoradas contra a parede, abrindo espaço no chão, onde enchiam de colchonetes e dormíamos ali.
- Sempre imaginei que depois de crescerem, um dos dois se mudaria para o terceiro quarto - comentei
- Já estamos acostumados - Thales falou - e lá é o escritório do nosso paí.
- Eh, mas ele nunca usa - ponderei e eles simplesmente deram de ombro.
Depois de toda a viagem e agitação do treino, eu estava cansado. Fiquei feliz quando anunciaram a hora de dormir.
- Mas amanhã, vamos te levar pra uma Pool Party - Lucas declarou - Vai ser foda.
- Ah legal - sorri sem graça, me perguntando onde estaria o botão de desligar daqueles dois.
- Trouxe sunga?
- Aham.
- Show.
E desligaram a luz. Como de praxe, dormi no meio. Todos de shorts, noite fresca, mas o ventilador de teto ligado estava ligado. Eles não dormiam sem esse barulho. Assim, caíram no sono pesadamente. Eu, como comum quando dormia fora de casa, demorei um pouco mais. E foi quando ia relaxando e sentindo o sono me puxar para longe, que sinto o braço pesado de Lucas sobre mim.
Olhei e ele estava virado em minha direção, com a mão apoiada em meu peito. Deve ter virado no meio da noite e ficado por cima. Eu, com cuidado, já ia tirando-o quando num movimentos rápido ele me puxa e me entrelaçou com o braço e a perna, me prendendo por completo.
- Que porra é essa? - falei, mas ele sequer se mexeu. Dormia pesado ainda - só o que me faltava - suspirei.
Fiquei pensando como eu sairia dali. Lucas me prendera muito bem e seu corpo forte era difícil de mover com delicadeza.
Pelo menos ele parecia se agarrar a um travesseiro ou algo do tipo, pois se eu o sentisse roçar o pau em mim, aí iria gritar.
E foi ali, refletindo como escapar, que comecei a observar melhor meu primo. A perna por cima de mim era bem forte, o seu rosto, relaxado do sono, era másculo e bem bonito. Só então me dei conta de que ele havia crescido e se tornado um cara bem atraente
Acho que estava tão habituado a imagem dos meus primos da infância que não consegui enxergar como eram hoje. Olhei para Thales, que dormia pesado de costas, e também era uma boa visão. As costas bem desenhadas, a bundinha protuberante.
Me aproveitei do sono pesado de Lucas e alisei sua coxa, observando se ele reagia. A carne era dura, deslizei até chegar a entrada do short pela fenda da perna, seguindo em direção a bunda. Nesse instante ele se mexeu e eu fingi dormir. Mas ele não acordou. Apenas virou de costas, me soltando.
Aquela ousadia leve me animou. Acho que a perspectiva de duas presas dormindo inocentes ao meu lado me encheu de ideias. Porém, achei melhor amadurecê-las antes de investir em algo. Afinal, ali era um terreno familiar, onde o cuidado era essencial.
No dia seguinte, a agitação de meus primos não apresentou sinais de fraqueza. De manhã, fomos a praia, onde me deu uma chance melhor de os estudar de sunga e confirmar a avaliação de que realmente eram ótimos espécimes para meus experimentos.
Na água, pude brincar um pouco com eles de luta, o que me permitiu uma agarrada ocasional em uma bunda ou outra. Adorava essas brincadeiras de héteros. Essa possibilidade de se agarrar com outro homem despudoradamente, desde que com um bom pretexto.
Dali, fomos ao shopping onde almoçamos algo leve antes de irmos a tal Pool Party.
Antes de sairmos, passei no banheiro para me aliviar. Entrei em uma cabine e quando sentei, ia começar a me concentrar, percebi um buraco na divisória de minha cabine. Pior, percebi que alguém bisbilhotava por ela.
Dei um salto e pus novamente as calças.
- Que porra é essa? - praguejei.
A pessoa do outro lado não pareceu se assustar com minha reação.
- Foi mal. Como você parou nessa cabine, achei que curtisse glory.
- O que? - a calma do garoto me deixou surpreso. Imaginei que sairia correndo.
- Glory, pô. Esse buraco aqui.
- E que merda vocês fazem com esse buraco - eu devia estar ficando maluco, conversando com alguém através de uma fenda numa cabine de banheiro.
- Você não é daqui, né? - ele pareceu achar graça.
- E o que tem isso? - tentei parecer mais intimidador, mas minha ignorância acabou por trair meu intento.
- Relaxa. A culpa foi minha. Mas se quiser que eu te mostro, enfia aqui.
- Enfiar o que?
Ele riu
- O pau, ora bolas.
- O que?
- Eh, enfia nesse buraco. Tô afim de mamar. Mas vai logo, antes que chegue alguém. Esse horário costuma ser cheio.
- Deixa pra próxima, parceiro - e fiz menção de sair
- Não tem que ter medo, não, cara. É só uma mamada. Se não curtir, tira e sai. Eu não mordo
Ele não me conhecia, e sem querer tocou em um ponto que era meu calcanhar de Aquiles: meu orgulho
- Não to com medo. Só... É esquisito
- Vem - riu - enfia, vai
Respirei fundo. Olhei meu pau e ele já estava duro. Volume inchado na calça. Traído pelos meus próprios hormônios.
Desistindo de fugir, arriei as calças novamente e enfiei. Na hora, senti sua boca envolver meu órgão. Uma chupada boa. Estar com a cara colada numa cabine de banheiro era ainda estranho, mas ao mesmo tempo interessante. Morria de medo de alguém entrar, mas a boca do moleque era tão eficaz que eu não queria tirar. Mamava tão bem quanto Breno, ou quase, pelo menos. Os garotos da cidade mamavam assim? Talvez eu tivesse julgado aquele lugar cedo demais.
- Que pirocão gostoso o seu. - o ouvi dizer, enquanto beijava a glande.- segura ai.
Eu não entendi, mas ele parou de mamar. Ouvi o estalo metálico da fivela do cinto caindo no chão. Então, senti uma mão segurar meu pau e o direcionar, encaixando em algo quente e macio.
- Nossa - gemeu quando enfiou tudo - caralho.
O garoto estava literalmente enfiando meu pau dentro de si, como se fosse um consolo. Rebolava e pressionava conforme gemia baixinho.
Eu estava prestes a gozar. Naquela posição e tensão de ser pego, não conseguia segurar.
- Vai me dar leitinho, bonitão? - perguntou, parecendo conseguir me ver - Vai, goza vai.
Não deu pra segurar e eu gozei
Então, tão rápido quanto uma lebre. Ele se vestiu e saiu, me deixando sozinho no banheiro. Limpei meu órgão e sai, com o rosto queimando de vergonha. Parecia que todos que passavam por mim sabiam o que eu tinha acabado de fazer.
- Caramba, primo. Demorou. Está habitável la dentro - Lucas me zoou.
- Foi mal - pedi - a comida não caiu bem. Vamos então?
Eu queria sair o mais rápido possível dali.
Pegamos um ônibus e chegamos ao local combinado. Uma casa enorme, com uma bela piscina. Na pista, música eletrônica tocando e jovens que pareciam estar ali desde a madrugada anterior. E uma coisa que estranhei logo de cara foi perceber que, apesar do nome, ninguém ficava na piscina. Todos vestiam roupas de banho, tinha uma piscina, mas as pessoas ficavam aglomeradas em sua volta e não entravam na água, apenas perdidos ao som da música eletrônica. Me parecia mais um pretexto para estar de roupa de banho do que qualquer outra coisa.
Percebi também que as mulheres eram poucas ali. A grande maioria eram homens e de corpos até bem feitos. Que dançavam meio alheios a tudo
Achei que seria difícil descolar uma ficante em meio a tanta concorrência, mas foi surpreendentemente fácil. Fiquei com duas garotas bem fogosas, que pareciam até mesmo ansiosas por dar uns beijos. Estranho não terem conseguindo descolar ninguém naquele mar de gente.
Mas a grande surpresa da festa foi lá para o final. Quando um garoto começou a dançar na minha frente, me olhando de cima a baixo, praticamente me devorando com os olhos.
Definitivamente eu não estava acostumado àquele assédio descarado. Por parte de nenhum dos sexos. O garoto se aproximou e eu senti dar um passo involuntário para trás. Nunca antes me senti assim. Estava habituado a ser o predador e me sentir como presa daquela maneira não me parecia certo. Então ele veio falar comigo, disse que me achou bonito e estava doido para me beijar.
Pela primeira vez na vida me senti um covarde e recusei. Educadamente menti e disse que não curtia caras
- Mas não quer nem experimentar? - e dançou, colado cara a cara comigo. Era um rapaz muito bonito, chupava um pirulito e tinha um sorriso contagiante.
- Não, obrigado - falei e ele saiu sem persistir mais.
Pela primeira vez na vida, senti raiva de mim mesmo
***
- Ué, por que não deu um beijo nele? - Lucas perguntou no ônibus que nos levava de volta pra casa naquela madrugada.
Eu não consegui articular uma resposta. Não esperava tal ideia.
- Nada demais beijar alguém numa festa assim - Thales deu corda - Só zoeira. Não vai ser rotulado por causa disso
- Se bem que você é do interior, né primo? Na sua terra as coisas devem ser diferentes.
Eu estava tão imerso em pensamentos que ignorei o comentário maldoso de Lucas. Pois talvez eles de fato estivessem certos e eu fosse mais bicho do mato do que gostaria de admitir.
Atualizado em: Qua 16 Nov 2022