- Romance
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Olhe para dentro de si, veja o que irá encontrar.
Te escrever essa carta é como tentar colocar um carro em um corredor escolar, meus sentimentos borbulham, talvez pelo tempo que estou sem te ver, mais ainda o tempo que não conversamos. Ainda naquela época, era monótono te observar da sacada, chegando para mais um dia de intermináveis aulas, mesmo que não estivéssemos conversando. Era um deleite para meus olhos, ver seus cintilantes fios de cabelo sendo banhados pelo sol, seu olhar sempre olhava em minha direção, mas não na angulação correta. Era isso que rasgava meu peito. Pela minha cabeça a ideia de ir e conversar com você se passou inúmeras vezes, já a de te esquecer, nenhuma. Os dias chuvosos eram os mais interessantes, além de estar frio você sempre chegava atrasada, sabe o que isso significava? Que teríamos o silêncio inteiramente para nós dois. Silêncio esse que começava quando seu ônibus estacionava e terminava quando batia a porta da sala de aula, eu já sabia onde você sentava, mas não fazia questão de olhar. Eu sabia que você me olhava, mas eu não fazia questão de demonstrar que estava sendo notada. Com lembranças visuais de vocês, corria para o banheiro, tentava, de forma irreprimida, despejar a minha ânsia sobre a pia. Mas nada saia, além de minhas lágrimas. Talvez seja nesse momento que eu poderia ouvir as borboletas, se as pessoas não falassem isso de forma fantasiosa.
Mas é importante te contar, através dessa carta: talvez um dia você sinta saudade como eu senti, mas não procure por aquele vaso que havia te dado, não procure pelo banco leve e de madeira sobre o qual sentávamos a tarde e conversávamos olhando para o rio. Também não procure minha fragrância por esse mundo afora, pois já troquei de perfume. Todas as nossas lembranças estão enterradas, mas ainda existe uma parte que não foi, e nem será, queimada, a parte... Que dentro do seu coração ficou. E pode ser que, por incrível que pareça, você me ache vivo dentro dele.
Atualizado em: Seg 5 Mar 2018