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A Nevoa
Sentado sobre minha confortável cadeira de madeira − que outrora foi nobre, mas nos atuais tempos vividos era nada mais que medíocre – pude ver a nevoa aproximando-se tenebrosa e lentamente. Como seu acompanhante (ou talvez mestre) o gélido vento também chegava, contudo este – menos paciente – vinha-me em passos largos e rápidos, de fato ele não via a hora de tocar minha pele, claro, eu sempre o aceitei como um querido parente que há tempos não visitava.
A esta altura a nevoa já se fazia notar, e assim como eu não conseguia ver o horizonte de solidas modernas construções civis, sabia que os moradores daquele lugar, não tão distante quanto parecia, também não podiam mais me ver, mas claro que eles não deveriam perder tão precioso tempo deslumbrando o horizonte de cores mortas e noturnas.
Era interessante admirar o comportamento das minúsculas partículas da consistente nevoa contra a iluminação do poste. Pobrezinhas das inumeráveis, tão leves e frágeis não podiam, se quer, escolher o rumo de suas − quase instantâneas – vidas. Com o frio e forte vento sempre mudando de sentido, elas, por força, iam ao seu favor servindo-lhe como escravas descartáveis, sempre se espatifando contra o feroz devorador asfalto, e assim, por fim, morriam.
Em algumas horas a nevoa desaparecerá totalmente, mas sei que ela reaparecerá revigorada na mesma hora amanhã, única e soberana consistente, mas ainda assim escrava do vento...