- Crônicas
- Postado em
Sobre a covardia literária
Eu tinha parado de escrever. Fazia tempo que eu não sentava com um copo de café e algumas frases malucas na cabeça e despejava tudo por aqui. Mas agora escrever me parece tão vital que eu não sei como pude ficar um dia sem fazê-lo.
Cheguei a conclusão que eu escrevo quando nada mais adianta. Que eu escrevo pra fugir da coisa que mais me incomoda no mundo: eu mesma. Escrevo quando não me aguento, quando tudo e todos falham.
Acho que escrever se tornou para mim o que Deus é pra muitas pessoas: um refúgio desesperado quando se perde toda a esperança em qualquer outra coisa. Uma última chance de fazer seus demônios irem emboa, seus problemas desparecerem como fumaça. Algo para o qual se recorre quando se é fraco demais para se enfrentar suas merdas sozinho.
Andei sem inspiração. Isso quer dizer que estive bem, estive ocupada, tinha muito o que pensar e pouco pra sentir. Sou uma pessoa melhor assim, quando sinto pouco, porque o pouco que eu sinto sempre se torna muito, o muito se torna mais do que eu posso aguentar e então eu desmorono. Que bela merda.
Sempre me fiz de durona, passei a vida agindo como se nada pudesse me atingir porque eu sei que quando algo me atinge, de verdade, eu mal posso respirar.
As vezes eu sinto que devo ter algum problema, é sério. Não ligo para coisas que deveriam me incomodar, mas pequenos fenônemos, frases, sorrisos, olhares quebram todas as minhas juntas. Eu me machuco com o improvável. E eu sei o quão ridículo isso é.
Sempre me considerei alguém forte e racional, mas hoje vejo o quão covarde eu fui. Eu achava que não me aproximava das pessoas porque elas me cansavam, me subtraiam, porque EU não precisava delas, mas na verdade tudo o que eu tenho é medo. É, medo. Medo que elas me machuquem, que me deixem, que não me aceitem... Covarde, eu disse. Me sinto como uma formiga atrás de um muro de concreto. Meu exterior é muito forte, mas uma vez que algo invada minhas defesas eu fico assustadoramente vulnerável, exposta.
Fui pessimista para que quando o ruim viesse eu, pelo menos, não estivesse surpresa. Covarde.
Estou tentando raciocinar agora sabendo de tudo isso, tentando entender se eu estou mudando, se estou melhorando. Mas acho que não, afinal olhe onde eu estou. Não estou lá fora enfrentando meus medos ridículos, estou sentada na frente do computador de novo, meu maldito café esfriou e eu não dei um gole. Estou aqui de novo, no lugar onde sempre venho quando me sinto assim, e talvez seja o lugar que eu continue vindo. Talvez isso seja certo pra mim. Certas coisas não mudam.